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A reestruturação da Casa Branca: um passo adiante em direção ao governo autoritário

Patrick Martin
25 de agosto de 2017

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O anúncio de sexta-feira realizado pelo Presidente Donald Trump, removendo o chefe de gabinete da Casa Branca Reince Priebus e substituindo-o pelo General John F. Kelly, marca uma nova etapa na elevação dos militares como o poder politico decisivo em sua administração.

Com o Gen. Kelly como chefe de gabinete da Casa Branca, o Tenente General H. R. McMaster, um oficial da ativa, como conselheiro de segurança nacional, e o aposentado Gen. James Mattis como secretário da defesa, os militares agora ocupam três dos quatro cargos nomeados mais importantes no poder executivo.

A cobertura da mídia da troca do chefe de gabinete da Casa Branca tem se focado quase inteiramente nas escandalosas mensagens pelo Twitter de Trump e nos excessos vulgares de seu novo diretor de comunicação e ex-chefe de um fundo de investimentos Anthony Scaramucci. Uma avaliação sóbria das implicações políticas reais da troca na Casa Branca revela, no entanto, que os acontecimentos da semana passada marcam uma decisiva virada para a administração Trump e para a crise sobre o sistema politico dos EUA como um todo.

Trump demitiu Priebus, o ex-presidente do Comitê Nacional Republicano, que foi escolhido como chefe de gabinete para servir como elo entre Trump e a liderança Republicana no Congresso e o establishment do próprio partido. Ele o trocou por um general da Marinha aposentado sem nenhum histórico político e com um declarado e bem conhecido desprezo pelo controle civil dos militares – uma pessoa que, além do mais, como secretário do Departamento de Segurança Interna, supervisionou o programa da administração Trump de prisões em massa e deportações de imigrantes ilegais.

A remoção de Priebus veio acompanhada de uma repreensão pública contra os senadores Republicanos, incluindo o líder Mitch McConnell, por causa da tentativa fracassada na semana passada de passar qualquer versão que revogasse a reforma do sistema de saúde da administração Obama.

Trump respondeu com uma série de tweets dizendo que os senadores Republicanos “parecem tolos” e exigiu que McConnell passe por cima dos direitos do Partido Democrata no Senado e comece imediatamente a levar adiante as propostas da Casa Branca para reduzir impostos dos ricos e destruir programas sociais, como o Medicaid, programa de saúde para pessoas de baixa renda.

Trump apresenta-se cada vez mais como um governante acima dos capitalistas partidos Republicano e Democrata, enquanto procura se cercar de um público uniformizado. Depois de discursar para 40 mil escoteiros reunidos no Jamboree Nacional, na Virgínia Ocidental, ele falou na sexta-feira para a polícia em Long Island, Nova Iorque, onde defendeu o tratamento “duro” para imigrantes e outros presos, impulsionando os policiais ali reunidos a cantarem “EUA, EUA.”

Enquanto incitava a violência policial, Trump fez apelos diretos para a intolerante extrema-direita com um tweet que pedia a expulsão de militares transgêneros das forças armadas e novos passos legais pelo Departamento de Justiça contra os direitos democráticos dos homossexuais.

Soma-se a tudo isso a atmosfera podre que as intrigas palacianas deixaram na Casa Branca. Foi amplamente divulgado que os membros da família Trump desempenharam um papel decisivo na demissão de Priebus, com o genro Jared Kushner, a filha Ivanka Trump e a primeira-dama Melania Trump influenciando sua decisão.

Em todos esses acontecimentos sente-se o mau cheiro típico de uma ditadura. Trump está buscando uma definida estratégia política. Ele está procurando cavar para si, como representante da oligarquia financeira, uma posição de poder independente dos aparatos do establishment dos partidos políticos e das instituições tradicionais do governo burguês, como o Congresso, os tribunais e a chamada mídia tradicional.

Como todos os potenciais autocratas bonapartistas, Trump procura estabelecer um regime personalista com seus fundamentos no exército e na polícia. Seu uso do Twitter é um componente essencial desse esforço. Ele ignora a mídia tradicional e realiza o seu apelo diretamente aos militares e à polícia, ao mesmo tempo que procura agitar o chauvinismo nacional e todas as formas de atraso social e político. Ele procura assim estabelecer uma base que possa mobilizar independentemente dos partidos políticos.

Mas Trump não é uma aberração ou um acidente, um intruso nos recintos da até então intocada democracia americana. Ele é o produto de décadas de guerras ininterruptas, reação conservadora e decadência da cultura política da classe dominante e todas suas instituições oficiais, incluindo a academia - um processo que tem sido realizado pelos partidos Democrata e Republicano, ambos ligados às grandes empresas e negócios. Isso coincidiu com o surgimento de uma oligarquia financeira criminosa e um crescimento impressionante da desigualdade social em níveis incompatíveis com os preceitos democráticos.

O Partido Democrata, por sua vez, saúda a nomeação de Kelly. Sua oposição a Trump continua centrada nas exigências de um confronto cada vez maior com a Rússia. O Partido Democrata festeja qualquer sinal de que isso esteja sendo feito, como o anúncio da Casa Branca de que a Trump assinará o projeto de lei aprovado na semana passada praticamente de maneira unânime pelos dois partidos impondo novas sanções à Rússia, bem como ao Irã e à Coréia do Norte.

O Partido Democrata não teme menos do que os Republicanos o crescimento da oposição social e do sentimento anticapitalista na classe trabalhadora, e apoia o domínio dos militares sobre o sistema político como uma medida segura contra a ameaça de revolução social.

Nancy Pelosi, líder do Partido Democrata na Câmara, elogiou o general Kelly durante uma aparição no canal Fox News domingo, enquanto expressava o desejo de que ele melhorasse o funcionamento da Casa Branca sob o governo Trump. “Eu falarei com ele hoje e espero ansiosamente trabalhar com ele”, disse ela.

Em outro programa de entrevista do domingo, o “State of the Union” da CNN, a Deputada Democrata Barbara Lee foi questionada ao dizer que, ao colocar o General Kelly no cargo, “o presidente Trump está militarizando a Casa Branca e colocando nosso poder executivo nas mãos de um extremista.” Lee voltou atrás da insinuação de que ela era contra os militares, declarando: “Deixe-me dizer primeiro, eu venho de uma família militar ... E então eu respeito e honro os militares e reconheço os sacrifícios que todos os nossos homens e mulheres militares fazem, assim como o General Kelly e sua história e seus sacrifícios.”

O Senador Bernie Sanders apareceu no mesmo programa e nem ao menos fez uma referência à reestruturação da Casa Branca.

A concentração da riqueza nas mãos de uma minúscula oligarquia financeira, personificada por criminosos sociais como Trump e Scaramucci, é completamente incompatível com os direitos democráticos. A defesa dos direitos democráticos recai sobre a classe trabalhadora como um elemento central em sua luta pela abolição do sistema econômico baseado no lucro e pela reorganização socialista da sociedade.