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Tapas, castigos e broncas: disciplina à moda antiga funciona?

Criança de castigo
Foto: Thinkstock
Seu filho foi respondão pela enésima vez e essa foi a gota d'água. Não dá mais para segurar e você grita: "Já para o seu quarto!".

Momentos depois você percebe, em choque, que agiu igualzinho à sua mãe.

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Você não está sozinha nessa atitude. É normal que, numa reação impensada, quando nossos filhos se comportam mal, a gente faça com eles o que faziam conosco quando nós próprios éramos crianças.

A pergunta é: a disciplina à moda antiga ainda funciona? Veja a seguir o que dizem os especialistas consultados pelo BabyCenter.

Tapas, beliscões e puxões de orelha

Muitos pais e mães levaram tapas quando eram crianças e acabam fazendo o mesmo com os filhos, argumentando que foi merecido e que os tapas ajudaram a colocá-los na linha. Outro argumento é que um tapa no bumbum ou na mão é a única coisa que funciona quando já tentaram de tudo e a criança continua a fazer algo errado ou até perigoso.

O que dizem os especialistas
Para Carl Pickhardt, autor de "The everything parent's guide to positive discipline" (algo como Guia geral da disciplina positiva para pais), tapas só mostram à criança que quem é maior pode bater em quem é mais fraco. A agressão, não a oportunidade de aprender/entender, viram a mensagem.

Sal Severe, que também escreve sobre disciplina ("A educação pelo bom exemplo"), acredita que bater é uma solução temporária que causa mais danos do que ganhos, já que não promove a capacidade interna de a criança refletir e tomar decisões melhores no futuro.

Além disso, bater em uma criança tem efeitos colaterais: é humilhante e traz à tona pensamentos de raiva e de retaliação. Crianças que levam palmadas e surras muitas vezes se sentem inseguras e têm baixa autoestima, tornando-se tímidas ou agressivas. Vale lembrar também que, em 2014, foi sancionada a Lei da Palmada, que vai contra a aplicação de qualquer castigo físico em crianças e adolescentes.

Quando seu filho não consegue se acalmar sozinho, às vezes a contenção, inclusive física, é importante. "Se seu filho está brigando, batendo em alguém ou fazendo manha, você pode segurá-lo firme, obviamente sem machucá-lo, e entonar uma voz mais dura e assertiva, afirmando o quanto é inadmissível aquele comportamento e que você não vai tolerar", explica a psicóloga Simone Villas Boas. "Ele entenderá que ultrapassou todos os limites e se sentirá seguro com sua firmeza. Isso certamente o ajudará a se organizar novamente."

Algumas sugestões para lidar com a criança sem precisar bater são:

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  • Tirar privilégios (como um brinquedo, um passeio, o tempo de TV ou de qualquer eletrônico).
  • Consertar o erro (fazê-la reparar o que fez de errado para só então poder fazer outra atividade).

Tirando privilégios

Proibir a criança de fazer algo de que ela gosta -- como assistir a um vídeo ou brincar com os amiguinhos -- é uma tática muito usada por alguns pais.

A ideia de redenção -- de devolver à criança um determinado privilégio assim que ela admite que errou -- tem papel importante para diversas famílias.

O que dizem os especialistas
A dica é não abusar dessa técnica, e aplicar uma restrição que seja fácil de cumprir e de acompanhar, além de ser significativa para a criança -- como tirar brinquedos ou acesso a tecnologia --, explica Sal Severe.

Procure escolher uma sanção que esteja de acordo com o "crime" cometido: se seu filho ligou a TV quando você tinha dito para desligar, você pode eliminar a TV pelo resto da noite, ou, se o brinquedo ficou no chão, ele será "arquivado" por um dia.

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Cuidado para não tirar privilégios por tempo demais. Dois ou três dias já podem parecer uma eternidade para uma criança, e ela pode ficar zangada e querer se vingar, alimentando um ciclo de mau comportamento.

A ideia não é responder com uma "birra de adulto", e sim encorajar a criança a aprender a se comportar de forma adequada. Outro ponto é que esse tipo de pena realmente seja aplicado apenas para problemas que se repetem com frequência, não o tempo todo.

Restrições como deixar o filho sem TV ou eletrônicos não funcionam muito com crianças menores de 2 ou 3 anos, porque elas ainda não associam uma coisa à outra (o erro ao castigo).

Um outro jeito de resolver uma situação é incentivar a criança a consertar o que fez de errado, explica Jane Nelsen, da série "Disciplina Positiva" (editora Cultrix).

Se seu filho quebrar um objeto, por exemplo, você pode sentar com ele para colar os pedaços, desde que não haja pedaços cortantes. Este e muitos outros métodos que não envolvem castigos físicos demonstram respeito e são educativos.

Cancelar ou proibir passeios

Proibir a criança de ir ao parquinho ou a algum lugar que seja especial é uma prática também comum entre os pais. Assim como tirar privilégios, esse tipo de consequência tem algum efeito se a criança perde algo com que ela realmente se importa e desde que tenha idade para compreender por que não fará o passeio ou a saída de que tanto gosta (a partir de 2, 3 anos).

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O que dizem os especialistas
No caso de uma criança em idade escolar, a pena pode durar um dia e ser do tipo que a impede de sair de casa, a não ser para ir à aula ou a algum outro compromisso que envolva responsabilidade coletiva, como uma aula de esportes, um ensaio de dança, teatro etc.

Cuidado também para não exagerar no tempo de punição, que pode causar um efeito indesejado, como fazer a criança sentir-se perseguida ou estimular malcriações ainda piores. Pense também na logística da casa. Não adianta cancelar a ida à casa da avó por causa do castigo e depois não ter com quem deixar a criança para ir a compromissos ou até seu trabalho.

E ameaçar com uma consequência que não poderá ser implementada pode acabar levando a criança a não escutar você numa próxima ocasião.

A especialista Jane Nelsen considera ainda que crianças não precisam sofrer para aprender e que proibir passeios ou programas é simplesmente punição sem fins educativos. Segundo ela, os pais têm que buscar formas de resolver um problema de disciplina junto com a criança, não contra ela.

Dar broncas e gritar com a criança

Se você cresceu numa casa onde todo mundo gritava e caprichava nas broncas, há boas chances de você gritar com seu filho também.

Claro que levantar a voz uma vez ou outra não vai causar nenhum dano permanente, mas há especialistas que afirmam que gritar constantemente com a criança é tão ruim quanto bater nela, já que a agressão verbal não deixa de ser um tipo de agressão.

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A gente acaba gritando com o filho porque parece que ele não nos ouve, e porque estamos bravos, nervosos e não vemos outra forma de resolver a situação no momento.

Mas gritar é uma das atitudes que mais fazem mães e pais se sentirem culpados depois.

O que dizem os especialistas
Um lado ruim das broncas constantes e dos gritos é que o seu filho vai esperar você fazer isso para começar a achar que a coisa é séria. E ainda sente que tem o poder de irritar você.

Então, seja firme mas procure não se deixar levar pela emoção, diz o especialista Carl Pickhardt.

Se achar que está prestes a perder o controle, dê um tempo ou peça a outro adulto para interferir. Recuar não significa que você está desistindo.

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Outro ponto negativo dos gritos é que você passa a mensagem à criança de que está fora de controle, e ela pode até se sentir estimulada a testar você.

Esforce-se para manter um tom de voz normal, firme, respeitoso e sob controle. Expresse o que deseja ou o que incomoda você de maneira direta.

Além disso, ações passam uma mensagem mais forte do que palavras ditas com um tom de voz elevado. Em vez de gritar "Desligue logo essa TV!" pela terceira vez, vá até lá e desligue-a você mesmo.

Forçar a pedir desculpas

Você até quer que seu filho seja educado, mas será que um "desculpe" dito de má vontade ajuda? Ou só serve para deixar seu filho constrangido em público?

Há que compare um pedido de desculpas forçado a um elogio forçado, algo que quem recebe logo percebe não se tratar de algo sincero. Por outro lado, há quem defenda que pedir desculpas é um aprendizado como qualquer outro que precisa ser ensinado e estimulado desde cedo.

O que dizem os especialistas
Em vez de só forçar a criança a pedir desculpas, é preciso ajudá-la a entender a relação entre o mau comportamento e o pedido.

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Primeiro pergunte: "O que aconteceu?", e depois, "Como você acha que o Pedrinho se sentiu quando você tirou o brinquedo dele?".

Quando a criança entender as consequências de suas ações e criar uma empatia com a outra, você pode perguntar: "O que você pode dizer a ele, para ele se sentir melhor?".

O ideal é que a iniciativa de pedir desculpas saia de seu filho.

Pedidos sinceros de desculpas são importantes porque envolvem duas partes vitais da disciplina: consciência e autocorreção, diz Carl Pickhardt. A criança precisa aprender a expressar o remorso verdadeiro.

Pais que se recusam a admitir erros encorajam os filhos a fazerem o mesmo. Por isso, você pode dar o exemplo a ele. Às vezes, é preciso dizer à criança: "Desculpe se fui grosseiro. Eu estava nervoso e não entendi o que você queria."

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Se seu filho tem dificuldades em pedir desculpas verbalmente, ele pode escrever um recado, com sua ajuda, fazer um desenho ou um dar um presente ou um gesto de carinho para quem ele deve as desculpas.

Frases humilhantes

"Que menina feia!". A frase pode ser quase automática quando sua filha bate no amiguinho, mas pense bem. Se você fala assim com a criança, possivelmente ouviu as mesmas coisas dos seus pais na infância e não gostou nada.

Outros exemplos são: "Você não tem jeito mesmo!", ou "Que menino malcriado!". Até a ironia assusta e magoa a criança: "Que bela porcaria você sempre faz!".

Crescer ouvindo observações humilhantes, constrangedoras ou que inferiorizam pode afetar a autoestima, provocar raiva, levar a falta de autocontrole, impaciência, ansiedade e depressão.

Em vez de usar frases negativas assim, procure formas de elogiar e ressaltar as qualidades boas da criança. E, na hora do mau comportamento, critique o comportamento, não a criança.

É comum os pais nem perceberem que estão abusando das palavras. Tente dizer exatamente o que quer que seu filho faça (ou não faça). Se ele insiste em cutucar o irmão na hora do jantar, diga "Pare de fazer isso" ou "Não incomode o seu irmão", em vez de falar "Por que você tem que ser uma peste?" ou "Por que você nunca para quieto?".

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Você é a autoridade máxima na vida do seu filho. Se você diz que ele é feio, malcomportado, agitado demais ou malcriado, ele vai acreditar.

Em dúvida sobre como lidar com mordidas, tapas e chutes? Veja também o que você pode fazer se a criança está falando palavrões.

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