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Depressão pós-parto: como identificar e como tratar

Mulher asiática segura bebê e olha pela janela
Foto: iStock

A depressão pós-parto é uma condição séria e bem mais comum do que você pode pensar. Estima-se que, no Brasil, 25% das mulheres1(Fiocruz, 2016) que tiveram filhos vão desenvolver a condição até 18 meses após o parto. Além de se atentar aos sintomas, buscar ajuda profissional é um passo essencial para a cura.

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Sem tratamento adequado, os sintomas dificilmente vão embora. Afinal, a depressão é uma doença que exige cuidados específicos, como remédios e terapia. Nos casos de depressão pós-parto, muitas mães ainda se sentem culpadas e acreditam que a doença diz respeito à sua capacidade de cuidar do bebê. Apesar de não ser verdade, isso dificulta a busca por ajuda, o que pode ser bem perigoso.

Pensando nisso, o BabyCenter separou todas as informações que você precisa saber sobre a depressão pós-parto, desde sintomas de alerta, tratamento e possíveis causas para a doença. Confira!

O que é depressão pós-parto?

A depressão pós-parto é uma doença relacionada à saúde mental materna, que causa sintomas como tristeza profunda, choro, sensação de vazio, ansiedade, falta de energia e mudanças no padrão de sono e de alimentação que não passam.

Esse tipo de depressão pode começar a se manifestar dias, semanas ou meses depois da gestação. Mas também é comum que mulheres com depressão pós-parto já apresentem sintomas ainda na gravidez.

Sabe-se que a doença está ligada às mudanças hormonais que ocorrem no organismo feminino durante a gestação, mas há outras influências importantes, como fatores ambientais, psicológicos e genéticos, que vão além do controle de qualquer pessoa.

A maioria das mulheres sente alguma tristeza nas primeiras semanas depois do parto, no chamado blues puerperal ou baby blues, mas é uma melancolia passageira. No caso da depressão pós-parto, a tristeza e o desânimo não melhoram conforme o tempo passa. Pelo contrário, podem piorar.

Outro ponto que merece atenção é que homens também estão suscetíveis à depressão pós-parto. Assim como no caso das mulheres, a ansiedade com a mudança de estilo de vida, além do medo de não ser capaz de cuidar do bebê, são alguns pontos que podem deflagrar a doença nos pais.

Sintomas de depressão pós-parto

Os sinais da depressão pós-parto costumam seguir alguns padrões. Veja a seguir uma lista de alguns sintomas mais comuns:

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  • Tristeza constante e desânimo;
  • Choro excessivo;
  • Sensação de que nada de bom vem pela frente;
  • Sensação de culpa e de responsabilidade por tudo;
  • Irritabilidade e falta de paciência;
  • Exaustão permanente, mesmo quando consegue descansar um pouco;
  • Dificuldade de dormir à noite ou dificuldade para ficar acordada e sair da cama durante o dia;
  • Sensação de que não dá conta de cuidar do bebê;
  • Dificuldade de se divertir com o que antes lhe dava prazer e dificuldade de se conectar com as coisas;
  • Falta de concentração e de capacidade de decisão;
  • Grandes variações de humor;
  • Perda ou excesso de apetite;
  • Falta de vontade de estar com parentes e amigos;
  • Culpa exacerbada;
  • Medo de tudo em relação ao bebê;
  • Sensação de que o bebê é um estranho e não seu filho;
  • Pensamentos negativos em relação a você ou ao bebê (como, por exemplo, de que pode machucá-lo);
  • Vontade de fugir, de sumir;
  • Pensamentos suicidas.

Faça um teste para ter uma ideia se você está sofrendo de depressão pós-parto.

Muitas mães sentem um ou mais dos sintomas descritos acima em algum momento do pós-parto. É normal ter dias ruins de vez em quando. Mas, se você está tendo esses sentimentos na maioria dos dias, e não parece estar melhorando, você pode estar com depressão pós-parto e deve procurar orientação profissional, nem que seja do pediatra do bebê ou do obstetra que acompanhou sua gravidez, para começar.

Também é importante lembrar que, às vezes, familiares e amigos podem notar os sintomas antes de você mesmo. Se sua rede de apoio se mostrar preocupada, encare como um sinal de alerta e não tenha medo de pedir ajuda.

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Em casos raros, podem aparecer sintomas psicóticos, que podem colocar em risco a integridade da mãe e do bebê. Se tiver pensamentos negativos extremos, procure ajuda médica imediatamente. A psicose pós-parto ou puerperal é uma condição mais rara, mas que pode ser muito grave.

Quando começa e quanto tempo dura a depressão pós-parto?

É comum que a depressão pós-parto apareça nos primeiros meses depois do parto, especialmente nas primeiras cinco semanas. Mas ela também pode surgir a qualquer momento ao longo do primeiro ano do bebê.

Em alguns casos, a mulher está se sentindo bem e se adaptando à vida de mãe, e a depressão aparece. Em outros, ela já estava deprimida durante a gravidez, e a chegada do bebê agrava ainda mais o quadro.

A duração da condição também vai variar, seja por características pessoais da paciente ou até pela facilidade ou rapidez em buscar tratamento. De maneira geral, os sintomas podem durar meses, mas estudo norte-americano2(NIH, 2020) já prova que, em alguns casos, a depressão pós-parto pode continuar até mesmo três anos após o nascimento do bebê.

Causa da depressão pós-parto e fatores de risco

Os especialistas ainda não sabem exatamente por que certas pessoas ficam deprimidas após a chegada do bebê e outras não, mas existem vários fatores que podem contribuir para o surgimento da doença. A alteração hormonal, privação de sono, alimentação inadequada, sedentarismo e falta de um sistema de apoio familiar são alguns motivos. O vício em drogas também pode contribuir para o surgimento da depressão pós-parto.

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No caso dos homens, a mudança radical na rotina, além de aumento das responsabilidades e sensação de despreparo para cuidar do bebê, podem ser gatilhos para desenvolver transtornos de ansiedade e depressão após a chegada do filho.

Além disso, há alguns fatores de risco que parecem aumentar o risco da pessoa desenvolver uma depressão pós-parto. São eles:

  • Já ter passado por uma depressão antes ou algum outro problema de saúde mental;
  • Ter tido depressão durante a gravidez atual ou uma gravidez anterior;
  • Ter mãe, irmã ou algum familiar próximo que tenha sido diagnosticada com a doença;
  • Não ter família por perto ou algum outro sistema de apoio no dia a dia;
  • Ter sido vítima de abuso físico, emocional ou sexual na infância ou vida adulta;
  • Ser portadora de doença crônica ou de outro problema médico;
  • Ter passado por um parto difícil ou complicações de saúde no pós-parto;
  • Ter tido um bebê prematuro ou com problemas de saúde;
  • Dificuldade em amamentar;
  • Perda de um ente querido, recentemente ou no passado — o nascimento do bebê pode despertar lembranças dolorosas.

Lembre-se de que esses fatores são de risco e não causam depressão pós-parto. Muitas mulheres com vários fatores de risco nunca desenvolvem depressão ou ansiedade, enquanto outras com um só fator — ou até nenhum — acabam sendo diagnosticadas com a condição.

Diagnóstico da depressão pós-parto

O diagnóstico da depressão pós-parto é feito principalmente com a observação de sintomas clínicos. Caso você note sinais da doença ou até tenha ouvido preocupações recorrentes de familiares e amigos, é essencial buscar ajuda profissional. Você pode, neste primeiro momento, consultar o ginecologista obstetra que te acompanhou durante a gestação. Caso necessário, o médico te encaminhará para um especialista, como um psiquiatra.

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O psiquiatra poderá descartar outros transtornos, como ansiedade, e por isso, é essencial contar com o suporte e observação de um profissional da área. Se você já teve algum transtorno mental, como a própria depressão ou ansiedade, antes da gravidez ou se são condições presentes em sua família, é interessante avisar ao médico obstetra, para que haja uma observação mais atenta desde o início, levando ao diagnóstico precoce. Com isso, o tratamento é potencializado e, às vezes, acelerado.

Tratamentos para depressão pós-parto

O tratamento para depressão pós-parto é semelhante ao da depressão em qualquer fase da vida. Costuma envolver tratamento psicoterápico, antidepressivos ou ambos, dependendo da gravidade dos sintomas. Vale lembrar: fazer terapia, consultar um psiquiatra ou tomar remédio não é sinal de fraqueza! Muito pelo contrário, indica que você está disposta a fazer tudo o que for necessário para ficar saudável e manter seu bebê saudável e seguro.

Além disso, uma depressão pós-parto que siga sem tratamento pode ser uma experiência solitária, confusa e até assustadora. Muitas mulheres com depressão pós-parto sentem vergonha e culpa. A doença não tratada pode também, com o tempo, levar a risco de vida, ocasionando episódios de suicídio ou, em casos mais raros, de infanticídio.

É muito importante também se tratar pelo bem do bebê. Ter uma mãe com depressão não tratada está associado a uma série de possíveis problemas sociais, emocionais e comportamentais da criança.

Com ajuda, você vai se sentir melhor! Leia a seguir mais informações sobre os diferentes tipos de tratamento para a depressão pós-parto.

Terapia

Embora conversar com uma pessoa de confiança da família ou de seu círculo de amizades ajude, é provável que eles achem difícil de entender o que está se passando com você, já que não são treinados para isso. A terapia ou psicoterapia é uma forma de tratamento que envolve sessões individuais ou em grupo — com outros que estejam passando por experiências semelhantes.

Há muitos tipos de terapias. Há, por exemplo, a Terapia Comportamental Cognitiva (TCC), que auxilia o paciente a romper o ciclo de pensamentos negativos ou não realistas que contribuem para a depressão. Há também a terapia mais voltada a explorar problemas nos relacionamentos com outras pessoas, que podem alimentar a depressão, a ansiedade e a sensação de incompetência.

Independente da escolha de linha terapêutica, o importante é que você procure alguém certificado para o trabalho específico com depressão e outros distúrbios psicológicos. Não hesite em experimentar diferentes tipos, até encontrar algum que você se adapte bem.

A terapia pode ser suficiente para reverter o quadro de depressão, mas, em muitos casos, é necessário associar ao tratamento alguma medicação — que só pode ser prescrita por médicos psiquiatras. Não se intimide em procurar ajuda especializada e encare isso como um ato de amor pelo seu bebê.

Para usuárias do SUS, pergunte sobre os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) na Unidade Básica de Saúde da sua região, para receber orientações de como encontrar um especialista ou uma equipe para possa te ajudar. Universidades também costumam oferecer tratamento psicológico de baixo custo ou gratuito.

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Antidepressivos

Os antidepressivos servem para reequilibrar as substâncias químicas no cérebro. Eles atuam para melhorar o seu humor, ajudar no sono e fazer com que você se sinta menos irritada ou frustrada.

Esse tipo de tratamento exige disciplina com horários e costuma levar de duas a quatro semanas para fazer efeito. Não desista por achar, no começo, que ele não está melhorando em nada sua situação.

Lembre-se de que pode demorar um pouco para que seu corpo se adapte à medicação (ou a uma combinação de remédios) e tenha em mente que, às vezes, a dose ou o tipo do remédio precisam de ajustes conforme a reação do organismo.

Nunca interrompa o tratamento sem conversar com seu médico antes, mesmo se achar que já está melhor, porque a depressão pode voltar de repente. Parar de uma hora para a outra também pode provocar sintomas de abstinência, especialmente para quem toma remédio faz tempo, mesmo que a medicação não seja viciante.

Se um antidepressivo tiver sido recomendado para o seu caso e você estiver amamentando, saiba que há no mercado remédios compatíveis com o aleitamento materno e até esquemas para garantir que o bebê não receba leite com substâncias diferentes das que precisa. Caso note alguma diferença no comportamento do seu bebê depois do início do tratamento, mencione para o médico que receitou o remédio ou para o pediatra.

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É verdade que nem todos os antidepressivos funcionam para todo mundo, e pode haver efeitos colaterais para a própria pessoa, porém a maioria desses efeitos se resolve com o tempo. Ainda assim, relate para o especialista qualquer mudança que incomode você no dia a dia.

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Eletroconvulsoterapia

Para casos mais graves de depressão ou de psicose puerperal, que não respondem aos medicamentos, existe a alternativa da eletroconvulsoterapia, que é feita com sessões de estimulação elétrica no cérebro, sempre no hospital e sob anestesia.

O que mais fazer para superar a doença?

Além de buscar ajuda profissional, veja a seguir algumas outras providências para auxiliar no tratamento da depressão pós-parto:

  • Mantenha uma alimentação saudável: Caso não tenha apetite, procure fazer pequenas refeições regularmente, para que os níveis de açúcar no seu sangue não caiam, o que pode afetar diretamente o seu humor. Você precisa de energia, assim como seu sistema imunológico, para não ficar exausta e desanimada.
  • Descanse bastante: Durma quando conseguir ou simplesmente relaxe. Se alguém puder cuidar do bebê para você por algumas horas, aproveite para tirar uma soneca durante o dia, tome um banho bem relaxante ou escolha uma boa leitura e curta alguns momentos de preguiça. Procure descansar sempre que o bebê estiver tirando uma soneca também e esqueça a lista de obrigações domésticas menos urgentes. É mais fácil falar do que fazer, mas encare seu bem-estar como prioridade.
  • Exercite-se: Pode ser a última coisa que você tenha vontade de fazer neste momento, mas fazer alguma atividade física regularmente vai te ajudar a se sentir melhor, tanto mental como fisicamente.
    Você pode entrar em alguma aula de ginástica, mesmo que seja online. Se não for possível ou você não tiver vontade desse tipo de exercício, só de sair para uma caminhada todos os dias já fará toda a diferença.
  • Encontre-se com outras mães: A vida de uma mãe recente pode ser bastante solitária e o sentimento de solidão é pior ainda quando se convive com a depressão. Procure conhecer outras mães que estão na mesma fase de vida — é bom saber que não é só você que vive determinadas situações, como o cansaço e desânimo para cuidar do bebê.
  • Julgue menos: Quem está com uma virose precisa de tempo e espaço para se recuperar. O mesmo vale para quem está com depressão pós-parto. Não se sobrecarregue de tarefas domésticas que não sejam urgentes e adie as grandes decisões por enquanto. Permita-se alguns “mimos” e não se cobre em sentir o que é o “certo” para as mães, afinal, isso é totalmente relativo.
  • Aceite ajuda: Deixe que amigos e familiares façam tarefas por você, e peça ajuda especialmente ao seu parceiro ou outras pessoas próximas de confiança. Contar com um sistema de apoio é essencial para qualquer um que esteja enfrentando o pós-parto, e isso é ainda mais importante em casos de depressão.

Como prevenir a depressão pós-parto?

A verdade é que não se sabe se é possível prevenir a depressão pós-parto. Alguns médicos podem receitar antidepressivos imediatamente depois do parto, em casos de risco. Tratar a depressão durante a gravidez também pode colaborar para evitar ou abrandar uma eventual depressão pós-parto.

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Caso você já tenha tido depressão pós-parto uma vez, avise o profissional de saúde que acompanha a sua gestação ainda durante o pré-natal. Há chances de você não desenvolver a doença de novo, mas, se tiver, poderá procurar ajuda mais cedo.

Caso queira apenas conversar sobre o que está sentindo, você pode contactar o Centro de Valorização da Vida (CVV) pelo telefone 188 ou pelo site da organização. Você falará com voluntários treinados, de maneira totalmente gratuita e sigilosa.

Leia mais sobre a melancolia pós-parto ou blues puerperal e sinais de alerta no pós-parto.

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1. Fiocruz, Depressão pós-parto acomete mais de 25% das mães no BrasilAbrir uma nova janela. 2016. Acesso em setembro 2023.

2. National Institutes of Health (NIH). Postpartum depression may last for yearsAbrir uma nova janela. 2020. Acesso em setembro 2023.

3. BRASIL, Ministério da saúde. Depressão pós-partoAbrir uma nova janela. Acesso em setembro 2023.

Luísa Silveira

Luísa Silveira é jornalista, responsável pelo site BabyCenter Brasil. Apaixonada por conteúdos de saúde, está na Webedia desde 2021.