Amamentando na prática: os primeiros dias

Recém-nascido mamando no peito da mãe
iStock.com / RuslanDashinsky
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Posições para amamentar
Os primeiros dias da amamentação são de aprendizado, tanto para a mãe como para o bebê. É normal se sentir perdida. Acontece com todo mundo, e até com quem já amamentou antes -- afinal, cada bebê é diferente.

Nos primeiros dias, o peito produz gotinhas de colostro, um líquido meio transparente, precioso para o bebê. É essencial nesta fase fazer com que o bebê abocanhe bem a aréola para aprender a sugar de forma eficiente e estimular a produção de leite.

Conte com toda orientação especializada que você possa receber, principalmente no hospital. Peça à equipe que atende você que examine a posição do bebê no peito e a pega (fala-se "péga"), para ver se estão boas, e que ajude a encaixar o bebê em seu peito. Esclareça todas as dúvidas que tiver e deixe claro seu desejo de amamentar.

O bebê nasce com uma reserva de energia e pode ficar preguiçoso para mamar nos primeiros dias. Colocá-lo no peito o quanto antes, de preferência na primeira hora após o parto, estimula o bebê a mamar . O contato pele a pele e o cheiro da mãe ajudam no processo. Vale também mexer nele, conversar, fazer carinho, para que fique mais desperto.

O uso de chupeta, mamadeira ou bico intermediário de silicone não é recomendado, principalmente nesta fase inicial, porque atrapalha o aprendizado do bebê e a pega, além de fazer com que o peito seja menos estimulado -- o que, por sua vez, reduz a produção de leite.

Como posicionar o bebê no peito

Leve o bebê ao peito, e não o peito ao bebê. Procure se posicionar de forma confortável, com a ajuda de almofadas para apoiar os braços, se achar mais fácil.

Nos primeiros dias você pode usar a posição tradicional, barriga com barriga, e conforme se sentir mais segura pode experimentar outras posições.

Se você pressionar um pouco a mama e espalhar pelo mamilo o líquido que eventualmente sair, pode ajudar o bebê a encontrar o bico pelo cheiro do leite.

Como ajudar o bebê a fazer a pega no peito

Para que a amamentação dê certo, o bebê precisa abocanhar toda a aréola ou boa parte dela, e não só o bico do peito. A parte inferior do lábio e a língua da criança precisam chegar ao peito primeiro. Um truque é aproximar o queixo do bebê do mamilo e, quando ele abrir a boca, preencher o máximo que der da aréola lá dentro.

bebê abrindo a boca para fazer a pega
David Browne para o BabyCenter



Para conseguir que o bebê abocanhe toda a aréola, aproveite o reflexo que o recém-nascido tem, de "procurar" o peito com a boquinha, e, quando ele abrir bem a boca, ofereça o seio. Faça isso sempre que ele demonstrar sinais de fome ou inquietação.

Fazer uma pinça com o seu indicador e polegar, em forma de C, pode ajudar a aréola a entrar inteira (ou quase inteira) na boca do bebê. Puxar levemente o queixo do bebê para baixo também colabora para que ele abra mais a boca.

O bebê tem de ficar com boca de "peixinho" ou seja, com os lábios virados para fora, principalmente o de baixo. Dessa forma, além de não ferir o mamilo, a sucção é muito mais eficaz e o bebê fica mais satisfeito ao final da mamada.

Como saber se a pega está correta

Um dos sinais de que o bebê está abocanhando bem o peito é que a parte escura da mama (a aréola, em torno do mamilo) apareça o menos possível, em especial na parte de baixo.

pega correta do bebê na amamentação
David Browne para o BabyCenter


Outros sinais de que o bebê fez a pega correta são: lábio inferior virado para fora, bochechas arredondadas, queixo encostando na mama e nariz livre.

posição do mamilo dentro da boca do bebê na amamentação
David Browne para o BabyCenter


Se a amamentação estiver doendo, provavelmente o bebê está sugando apenas o mamilo. Caso isso aconteça, recomece.

Não é normal sentir dor durante a amamentação. Coloque seu dedo mindinho no canto da boca do bebê para que ele solte o mamilo sem machucar você e, então, reinicie o processo de colocá-lo no peito.

Quando o bebê faz a pega errada, ele não recebe leite suficiente, não se satisfaz e, consequentemente, não ganha peso. Além disso, seu mamilo fica machucado. Com menos estímulo da sucção do bebê, seu peito pode não produzir a quantidade de leite suficiente.

Por quanto tempo dar de mamar, e com que frequência

Deixe o bebê mamar à vontade, até ele soltar naturalmente o peito ou dormir. Depois que ele soltar, você pode colocá-lo para arrotar por alguns minutos.

Não há regra fixa sobre oferecer um peito ou os dois peitos a cada mamada. Troque de peito se sentir que sua mama ficou mais leve. Na mamada seguinte, comece pelo lado em que o bebê mamou por último (ou não mamou, se só tiver pego um lado).

Ofereça o peito sempre que o bebê demonstrar sinais de fome (inquietação, procurar o peito com a boquinha, colocar a mão na boca, lamber os lábios). Não espere que ele chore: é mais difícil acertar a pega com um bebê nervoso.

De modo geral, não é preciso controlar o tempo das mamadas nem a frequência (a menos que o pediatra passe alguma orientação específica para o seu bebê). É a chamada amamentação por livre demanda. Até a primeira consulta com o pediatra, porém, ou até o pediatra confirmar que o bebê está ganhando peso bem, não deixe o recém-nascido mais de três horas sem mamar, mesmo que tenha de acordá-lo.

O estômago de um recém-nascido é muito pequenininho e não tem como armazenar uma quantidade muito grande de leite, por isso ele precisa mamar muitas vezes. E o peito precisa de estímulo frequente para ativar os hormônios e a produção.

Depois da primeira consulta com o pediatra, siga a orientação do profissional de saúde sobre acordar ou não o bebê para mamar.

De toda forma, se você sentir suas mamas pesadas e incomodando por excesso de leite, pode acordar o bebê e oferecer o peito.

O que fazer para evitar dor nos mamilos?

Depois de toda mamada, passe um pouco do seu próprio colostro ou leite na aréola. O ideal é deixar o seio secar ao ar livre, e só depois de seco colocá-lo em contato com o absorvente de seio ou sutiã. O excesso de umidade pode predispor uma infecção por cândida.

Você não precisa passar nenhum tipo de pomada para prevenir fissuras. Em caso de uso de pomada de lanolina pura, a quantidade tem de ser mínima, somente no lugar que já esteja irritado, se achar necessário. A pomada pode atrapalhar a pega, porque a boca do bebê escorrega.

Conchas de amamentação não são um consenso. Alguns a recomendam por evitar o contato do mamilo com o tecido ou absorvente, mas outros a criticam pelo risco de proliferação de fungos. O leite que ficar acumulado na concha não pode ser aproveitado para o bebê.

Outra ponderação sobre a concha é que em algumas mulheres também pode estimular demais a produção do leite ou favorecer o entupimento de ductos.

Uma estratégia é fazer uma "rosquinha" de tecido enrolado e colocar dentro do sutiã, evitando o contato do bico do seio com o sutiã. Absorventes, rosquinhas e sutiãs precisam ser trocados se estiverem molhados, porque o ambiente úmido favorece a infecção por microorganismos.

Como saber se tenho leite

Nos primeiros dias depois do parto, ocorre a apojadura, que é o preparo da mama para a descida do leite. Antes de o leite descer, o peito produz apenas gotinhas de colostro, que em geral são suficientes para o bebê ficar satisfeito e hidratado.

É natural o bebê perder até 10 por cento do peso do nascimento na primeira semana de vida.

Entre o segundo e o quinto dia pós-parto, em média, o leite "desce". A mama pode ficar pesada e cheia -- às vezes cheia até demais. É possível ter mal-estar e até febre. Uma febre de mais de 38 graus Celsius pode, porém, indicar mastite.

Peito que produz leite não precisa ficar sempre "cheio", já que o leite é produzido durante a mamada. O melhor jeito de saber quanto leite a criança está tomando é observando o bebê, que deve fazer no mínimo 5 a 6 xixis em 24 horas.

O recomendado é levar o bebê ao médico de família ou pediatra para uma primeira consulta entre 7 e 10 dias depois do parto. O médico vai pesar a criança para saber se ela está engordando.

Aproveite para levar ao profissional de saúde todas as suas dúvidas sobre a amamentação (uma dica é ir anotando conforme as perguntas surgem na sua cabeça, para não correr o risco de esquecer algo).

Os bancos de leite públicos também oferecem aconselhamento e apoio à amamentação, e de forma gratuita, mesmo que não vá haver doação de leite. Você pode encontrar o banco de leite mais próximo na página da rede nacional de bancos de leite humano. Telefone antes para se informar. É preciso levar o bebê com você, para melhor avaliação.

Problemas e soluções da amamentação

Entre os possíveis problemas comuns nos primeiros dias de amamentação estão:

  • Dificuldade de o bebê fazer a pega: Peça para especialistas (equipe de enfermagem do hospital, pediatra, banco de leite, consultores de amamentação) avaliarem a pega e o posicionamento do bebê. Pergunte na maternidade se o bebê foi submetido ao teste da linguinha, porque se ele tiver o freio da língua curto a mamada pode ficar mais difícil, e às vezes é necessário fazer uma pequena intervenção. Tenha muita paciência: o bebê está aprendendo a fazer algo totalmente novo para ele (assim como você), e precisa de tempo para se acostumar.
  • O bebê só dorme, não acorda para mamar: Mexa no bebê, faça carinho nos pezinhos, atrás da orelha. Se não for suficiente, tire a roupinha do bebê para que ele fique mais desperto, e em último caso dê um banho. Coloque-o em contato direto com a sua pele por bastante tempo. Os médicos podem querer medir a glicemia do bebê para saber se o desinteresse é justamente porque ele está fraco demais (com hipoglicemia).
  • Mamilos sensíveis: Confira se a pega está correta. Os bicos do peito podem ficar um pouco sensíveis pelo atrito. Passe colostro ou leite neles e deixe secar naturalmente, evitando abafá-los com tecido.
  • Mamilos feridos: Busque logo atendimento especializado para corrigir a pega do bebê se estiver com o bico do seio machucado ou rachado. Passe o próprio leite após as mamadas. Se o mamilo sangrar, o bebê pode continuar mamando.
  • Peito duro, com leite demais: Quando o leite desce, pode vir em grande quantidade, enquanto a produção não se ajusta às necessidades do bebê. Isso faz com que o peito fique ingurgitado. Fica mais difícil o bebê fazer a pega, porque o peito está duro e não entra fundo o suficiente na boca dele. Faça uma massagem antes de colocar o bebê no peito. Se não resolver, ordenhe um pouco de leite, só o suficiente para amaciar o peito.
  • Bebê desidratado, com febre ou hipoglicemia: Em alguns casos, dependendo das circunstâncias de saúde, o recém-nascido pode precisar de alimento extra, receitado pelo pediatra. Se houver necessidade de o bebê tomar leite materno do banco de leite ou fórmula (leite artificial), o recomendado é que o complemento seja dado num copinho ou colher, e não numa mamadeira, para não atrapalhar a amamentação.
  • Bebê nervoso, chorando muito: Quando o bebê fica com muita fome, pode ficar nervoso demais e ter dificuldade de pegar o peito. Caso isso aconteça, acalme primeiro o bebê com sua voz, e o coloque próximo ao seu tórax. Sempre procure oferecer a mama antes de o recém-nascido ficar bravo, aos primeiros sinais de fome.
  • Bebê regurgitando ou vomitando: É absolutamente normal o bebê regurgitar algum leite. Vômitos muito intensos e frequentes nos primeiros dias de amamentação precisam de avaliação do pediatra o quanto antes.
  • Dor intensa no peito, febre: Quando o peito fica vermelho, quente e a mãe sente um mal-estar geral ou calafrios e temperatura ao redor de 38 graus Celsius, pode ser mastite. Busque atendimento médico o quanto antes. Você pode continuar amamentando normalmente. Massageie e tire um pouco de leite para obter alívio temporário.
Há ainda outros problemas que podem ocorrer na amamentação, como candidíase no peito (que causa dor forte após as mamadas), hiperlactação (excesso de leite), impressão de ter pouco leite e ductos entupidos, mas eles não costumam aparecer logo nos primeiros dias.

Procure se lembrar de relaxar os ombros quando estiver dando de mamar, e de tomar bastante líquido, antes, durante e depois das mamadas.

Conte com o apoio de quem puder, seja companheiro, mãe, familiares, amigas que são mães, especialistas do hospital ou do banco de leite, enfermeira, pediatra, obstetra, consultores de aleitamento. Essa fase inicial da amamentação é cansativa e cheia de dúvidas, mas com apoio e carinho tudo fica mais fácil.

Veja o que o parceiro pode fazer para participar da amamentação.

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Fernanda Ravagnani sorrindo
Fernanda é apaixonada pelo jornalismo de serviço e de saúde, o que a levou a capitanear a abertura, em 2008, do BabyCenter Brasil. Atua também como tradutora e ama decifrar as tendências em nomes de bebê.

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