Ansiedade, insegurança e medo em crianças pequenas

Criança agarrada na perna da mãe
Thinkstock
Todos nós já sentimos ansiedade em determinados momentos da vida, e as crianças não são exceção, especialmente por ainda compreenderem pouco sobre o mundo.

Muitas vezes seu filho não consegue entender direito as próprias emoções ou não tem as palavras certas para expressá-las. Isso pode levar uma criança a agir de forma mais agressiva ou medrosa. Outros sinais de ansiedade em crianças pequenas incluem:

  • Apego ou carência fora do habitual: de repente a criança fica agarrada demais aos pais
  • Maior tristeza ou choro que de costume
  • Mudanças no padrão de sono: começa a dormir mal, muda os horários
  • Mudanças no apetite (comer mais ou menos que o de costume)
  • Regressão no desfraldamento, se já tiver saído da fralda
  • Irritabilidade constante: está sempre bravo, com ataques muito mais frequentes de birra que o de costume
Também não é incomum que os pais sejam pegos de surpresa quando filhos mais aventureiros e curiosos ficam "grudentos" e inseguros.

Ao que parece, do nada, ela passa a chorar desesperadamente se você sai da sala por um minuto, se esconde entre suas pernas na presença de estranhos, reclama para ficar na escola ou pula de susto quando escuta um barulho.

Esse tipo de ansiedade às vezes assusta os pais, mas pode ser apenas sinal de uma evolução normal das crianças pequenas. Há boas chances de que se trate da chamada ansiedade (ou angústia) de separação, uma etapa esperada do desenvolvimento cognitivo e emocional de toda criança.

Por que crianças tão pequenas podem ficar ansiosas e inseguras?

Tente, por um minuto, ver as coisas do ponto de vista infantil: o mundo lá fora é grande e misterioso. Assim, cada passo que seu pequeno toma em direção à independência vem acompanhado de medo em relação ao desconhecido.

À medida que seu filho explora o ambiente, ele também descobre que nem tudo é perfeito: o gato arranha, o amiguinho lhe tira o brinquedo das mãos, e os pais muitas vezes discutem.

Ele desenvolve também a capacidade de imaginar uma série de possibilidades em relação a objetos conhecidos (como o aspirador de pó e o ralo da banheira) ou supostas ameaças (como o monstro debaixo da cama). Quanto mais seu filho vai se conectando ao mundo, mais ele reage aos "perigos" que meses atrás desconhecia.

Da mesma forma que os receios e as apreensões de um adulto raramente se limitam a uma só área, as crianças ficam ansiosas por muitos motivos diferentes.

Seu filho pode, por exemplo, começar a não querer ir no colo de pessoas que não conhece bem, agora que percebe melhor a diferença entre os rostos familiares e não familiares. Seu filho pode também ter medo de algumas coisas mais específicas, como insetos ou água.

No caso de um medo repentino, muitas vezes ele está ligado a algum acontecimento que, em um primeiro momento, nem parece tão sério. Uma situação clássica é a criança começar a ter pavor de cães depois de ter sido derrubada por um filhote brincalhão, ou começar a ter medo do banho depois de o xampu ter caído no olho.

As crianças pequenas também têm dificuldade de separar o mundo imaginário do mundo real. Isso significa que a ansiedade pode ser desencadeada pela própria imaginação do seu filho ou surgir a partir da leitura de uma história na escolinha ou mesmo na hora de dormir.

A boa notícia é que todos esses medos são completamente normais em crianças pequenas, e devem desaparecer à medida que seu filho amadurecer e ganhar mais controle sobre seus sentimentos e entendimento de como as coisas funcionam.

O que fazer para amenizar os medos infantis?

Se algo apavora seu filho, não pense duas vezes em fazer aquilo que, instintivamente, você tem vontade de fazer: abraçá-lo e confortá-lo. Mas não pare por aí. Use a criatividade para ajudar seu pequeno a superar os medos. Tente as seguintes estratégias:

Reconheça o medo do seu filho

Alguns dos temores do seu filho, como o de perder você, são bastante concretos, e negá-los não é realista. Rir é pior ainda. Assim sendo, o simples ato de ver você desaparecer por alguns minutos (quando você vai ao banheiro, por exemplo) já é suficiente para deixar seu filho transtornado.

Em vez de aproveitar um minuto de distração para dar uma "escapadinha", conte antes o que vai fazer para preveni-lo. "Eu sei que você fica preocupado quando não vê a mamãe, mas a mamãe sempre deixa você em um lugar seguro. Agora preciso ir ao banheiro e já volto".

Negar medos ou tentar convencer uma criança de que não há qualquer motivo de preocupação geralmente tem efeito contrário e pode deixá-la ainda mais chateada. Portanto, se o medo é de se separar de você, procure reforçar, por exemplo, como é gostoso quando vocês se reencontram.

Se o medo é de algo mais real, como um cachorro, você pode dizer algo como "Eu sei que você está com medo do cachorro, então vamos passar por ele juntos".

Converse, converse, converse

As crianças pequenas contam com muita imaginação e poucas palavras, então não é de surpreender que tenham dificuldade para expressar o que sentem. Auxilie seu filho a botar as emoções para fora, conversando sobre elas. Use palavras simples e diretas. Conversas longas e complicadas só aumentam a confusão.

Quando seu filho começar a ficar triste porque você está prestes a sair para trabalhar, por exemplo, diga "Eu sei que você está chateado porque eu vou sair. O que você está sentindo é saudade. Eu também sinto isso".

"Em alguns casos, tudo o que uma criança precisa é uma maneira de expressar seus medos. Ensiná-la o nome do que ela está sentindo ajuda a reduzir a ansiedade", afirma o psicólogo Donald Freedheim, diretor do Centro de Estudos Infantis Schubert, nos EUA.

Se o que o apavora é um ser imaginário que mora dentro do armário, por exemplo, tente investigar o que, exatamente, o assusta: "Como é esse monstro? Tem pés grandes, muitos dentes, faz um barulho terrível?". A intenção é ajudar seu filho a achar as palavras para descrever seus medos, e oferecer seu apoio para tentar acalmá-los.

Prepare a criança para situações novas

Se ela fica acanhada sempre que vai a um lugar diferente ou quando encontra alguém que não conhece, tente diminuir a ansiedade antes do encontro ou da saída. Antes de ir a uma festinha de aniversário, por exemplo, fale sobre as pessoas que estarão presentes e mencione de forma positiva as conhecidas que ela vai rever.

Mas não é necessário ter esse tipo de conversa semanas antes do evento, o que pode aumentar a ansiedade mais ainda. Um papinho horas antes já é suficiente. Não deixe de mencionar que você acha que vai ser uma situação gostosa.

Uma estratégia é deixar seu filho levar um brinquedo favorito ou um objeto de apego. Uma vez que vocês cheguem ao local, dê um tempo para que ele se situe e não force para que vá brincar se ele não quiser.

Pode ser que prefira passar alguns momentos no seu colo ou pertinho de você, observando as outras crianças, até que se sinta pronto para brincar também.

"Muitas vezes, os pais ficam constrangidos quando chegam a uma festinha e o filho não desgruda deles. O ideal é que os pais esperem o tempo de adaptação da criança ao ambiente novo, acompanhem no escorregador, na piscina de bolinhas e, somente quando a criança estiver mais segura, deixem com os amiguinhos ", observa a psicóloga Simone Villas Boas.

"Mas nunca saia de perto sem avisar a criança e mostrar onde você estará. Ela precisa saber onde achar os pais quando precisar", acrescenta a especialista.

Vá com calma nas transições

Mudanças e transições são difíceis para todos, e mais ainda para as crianças pequenas. Tente apresentar as mudanças aos pouquinhos. Não empurre seu filho para dentro de um ambiente desconhecido nem deixe que uma pessoa que ele não conhece se aproxime demais.

Se ele "congela" quando chega ao parquinho, primeiro sente-se com ele na areia e deixe que ele brinque no seu colo. Quando ele estiver mais à vontade, passe alguns minutos brincando ao lado dele, depois afaste-se um pouco (sempre conversando tranquilamente) e termine ficando em um banco a poucos metros de distância.

"Ensaie a separação"

Ensine a criança a tolerar sua ausência na base da brincadeira. Quando ela estiver descansada e de bom humor, marque um minuto no cronômetro do celular e saia da sala. Diga para ela ficar de ouvido atento ao barulhinho do tempo e apareça de novo assim que o timer apitar.

Se ela não tolera ver você sair da sala, faça o contrário, e diga para ela sair enquanto você espera.

Aos poucos, conforme a criança se sentir mais segura, aumente o tempo da separação. Esse exercício ajuda seu filho a entender a sequência. Assim, da próxima vez que vocês se separarem, ele conhecerá a ordem dos acontecimentos: você sai, passa um tempinho fora, e depois volta. Sabendo o que esperar, ele tende a lidar melhor com os momentos de separação.

Dê tchau na despedida

Se seu filho abre aquele berreiro sempre que você vai embora, você pode achar que é mais fácil sair sem que ele veja, enquanto ele está distraído. Não caia nessa tentação. Isso só vai fazer com que ele fique ainda mais grudado em você, pois aumentará o medo de que você desapareça quando ele não estiver olhando ou menos esperar.

Em vez de "fugir" para evitar a despedida, dê um tempinho para que ele se acalme, depois se despeça rápida e alegremente. As despedidas dramáticas e prolongadas, do tipo "mamãe também vai morrer de saudades", ou "papai também não queria ter que sair", só dificultam as coisas.

Não se esqueça de dizer a seu filho quando você vai voltar, com palavras que ele possa entender. Algo como: "Preciso sair agora, mas vou voltar depois que você almoçar e tirar uma soneca".

Ofereça um objeto de segurança

Paninhos, bichinhos de pelúcia e outros objetos de transição costumam ajudar crianças a tolerar melhor as separações e os medos noturnos.

Se seu filho tem um boneco ou objeto especial, incentive esse apego. O mundo lá fora parecerá menos assustador quando ele estiver abraçando o seu bichinho favorito.

Acalme os temores noturnos

Se seu filho morre de medo dos monstros que moram debaixo da cama, tranquilize-o dizendo você vai se encarregar de manter os danados longe dele.

Faça do quarto dele um lugar aconchegante e confortável. Compre luzinhas para iluminar os cantos onde pode haver sombras estranhas. Coloque um cartaz na porta do armário escrito: "Monstros não entram!" Você pode também colocar no pé da cama um bichinho de pelúcia ou brinquedo favorito como "guarda". E procure não deixar seu filho assistir filmes ou ouvir histórias à noite que possam assustá-lo.

É importante, também, criar uma rotina para dormir -- deixando tempo suficiente para um banho relaxante, uma história e um colinho antes de apagar as luzes -- e segui-la todas as noites, pois a sequência de acontecimentos previsíveis reforça a sensação de segurança na criança.

Outra dica para que seu filho vá para a cama mais tranquilo é tentar manter o fim do dia o mais calmo possível (essa não é a hora de entrar em discussões domésticas, por exemplo).

Leia e entenda o que são os terrores noturnos, diferentes do simples medo antes de dormir.

Ajude seu filho a entender os pesadelos

Os pesadelos são relativamente raros entre as crianças pequenas. Mas, se seu filho tiver um, faça o possível para explicar que não foi real, por mais realista que tenha parecido. E fique com ele até que ele tenha se acalmado o suficiente para voltar a dormir.

Se o pesadelo se repete, converse sobre isso durante o dia (quando a lembrança não é tão assustadora).

Depois de identificar o que aconteceu no sonho, pergunte a seu filho: "O que você acha que você pode fazer no sonho para se defender (ou se ajudar)?". Se ele sonha que alguém o persegue, por exemplo, sugira que ele "pegue" um cachorro para afugentar o perseguidor.

Leia mais sobre os pesadelos em criança pequena.

Conte uma história

Uma ótima maneira de explicar coisas assustadoras e acalmar seu filho é contando histórias. Por exemplo, se seu pequeno se apavora durante um temporal, invente uma historinha sobre um passarinho que também está assustado com a chuva, mas acaba se acalmando quando a mãe dele o protege bem pertinho do corpo dentro de um buraco no tronco de uma árvore.

Preste atenção para que a história tenha elementos de humor e de conforto, e não situações que agravem o medo.

Comemore os feitos e não ria dos medos

Aplauda todas as realizações de seu filho, mesmo os menores feitos, como ter empilhado bloquinhos de brinquedo, e nunca zombe de seus medos (isso só aumenta fobias).

Estimule a autoconfiança da criança festejando sua coragem de enfrentar as profundezas da banheira, por exemplo, e pode ser que da próxima vez ela até resolva entrar na piscina com você.

Não exija coragem

Alguns pais obrigam os filhos a enfrentar seus medos, porque querem que eles sejam independentes, mesmo quando ainda não estão prontos para isso. Só que essa estratégia quase nunca dá certo.

Se você forçar uma criança apavorada a descer o escorregador de qualquer jeito, ela não só se sentirá mal, mas passará a ter medo de você, além de do escorregador. Permita que seu filho desenvolva naturalmente sua autonomia, ao seu próprio ritmo.

Seja um bom exemplo

Seu filho aprende observando você. Se você pula quando escuta um trovão, nunca se afasta enquanto ele brinca, prolonga demais as despedidas, ou larga um "agora que a mamãe chegou vai dar tudo certo" sempre que ele enfrenta um desafio, você reforça a ideia de que há muitas coisas assustadoras na vida e que você é a única pessoa capaz de protegê-lo.

Mas, se você enfrenta situações desconhecidas com calma e confiança, com o tempo ele aprenderá a se comportar da mesma maneira.

Procure trabalhar suas próprias ansiedades. Se você demonstra horror de ir ao médico, é muito possível que seu filho passe a ter também. Isso não quer dizer que você não possa comentar que, apesar de não ser seu lugar preferido no mundo, você vai porque sabe que é importante cuidar da saúde e estar bem. Pode também comentar que, quando criança, por exemplo, também sentiu medo de vacinas, mas que isso passou com o tempo.

Quando uma criança percebe que não é a única a ter medos e que até você já teve, ela aprende que é possível superar temores.

De modo geral, porém, as fobias de uma criança pequena só se tornam preocupantes se elas chegam a imobilizá-la, atrapalham seu sono, ou a impedem de curtir a companhia de amigos e parentes. Se você não está conseguindo acalmar os medos do seu filho, mesmo cobrindo-o de atenção e apoio, é bom consultar o pediatra.

Consulte outras informações sobre como ajudar seu filho a enfrentar o medo e veja também como lidar com chiliques, birras e acessos de raiva

Acompanhe o desenvolvimento do seu bebê

Cadastre-se já para receber boletins grátis sobre sua gravidez e o desenvolvimento do seu bebê.
Tentando engravidar?
Para oferecer a melhor experiência, o site e os emails do BabyCenter usam cookies e sistemas de rastreamento similares para personalizar o conteúdo e os anúncios que mostramos a você. Usamos sua informação de saúde para tornar o site ainda mais útil. Ao clicar no botão, você concorda com as nossas políticas e com o recebimento de emails enviados por nós.
Política e termos de privacidade  •  Termos de uso