Coro (música)

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O "Melbourne Chorale", coral sinfônico de Melbourne (ao fundo do palco).

Um coro (ou coral) é um grupo de cantores distribuídos por naipes segundo a tessitura de suas vozes.

Na música ocidental, um coro misto (de vozes adultas, masculinas e femininas) compõe-se de quatro naipes: Sopranos, Contraltos, Tenores e Baixos; incluindo, algumas vezes, as vozes intermediárias: Mezzo-soprano e Barítono, mais frequentemente ditas 2º Soprano e 2º Tenor (ou 1º Baixo), respectivamente, quando compõem um coro.

Canto coral ou orfeão (do francês orphéon) é o nome dado ao conjunto de atividades ligadas a um coro ou a uma capela.[1]

O termo coro pode também referir-se a um subconjunto de um determinado conjunto; assim, fala-se do "coro de sopros", "coro de trombones" de uma orquestra, ou de diferentes "coros" de vozes ou instrumentos em uma composição policoral . Nos oratórios e missas típicos do século XVIII ao XXI, geralmente se entende que coro ou coral implica mais de um cantor por parte, em contraste com o quarteto de solistas também apresentados nessas obras.

Ainda que afeito à música, o canto coral vai além das questões musicais e converte-se numa atividade que envolve a sociologia, a musicoterapia, psicologia, a antropologia, a fonoaudiologia e outras ciências afins.

Competição internacional de canto coral na Áustria em 2008

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História[editar | editar código-fonte]

Ninguém pode afirmar com exatidão quando o canto coral teve início. O que se tem são registros que nos fazem supor a sua antiguidade. Um dos mais antigos se encontra na Caverna de Cogul, na Espanha, datando do período neolítico. Essa imagem nos faz crer que existiam canto e dança coletivos já na pré-história e que, ainda que de maneira muito rudimentar, o canto coral já estava presente nessa época. Na Grécia Antiga, se faz referência a um coro ligado ao teatro grego. Acredita-se que, no século I, os cristãos em Roma já cantavam em coro. Os primeiros coros efetivos, porém, aparecem na Europa por volta do ano 1000 nos mosteiros e comunidades religiosas, numa herança do culto judaico.

"Dança de Cogul": imagem encontrada em El Cogul, na Espanha.

Com o desenvolvimento da linguagem musical, no século X, se tem registro em escrita neumática que sugere o canto coletivo.

No século XII, surgem os primeiros registros específicos de música feita para coro. Na atualidade, o canto coral é amplamente difundido e é praticado em universidades, escolas, igrejas, associações, clubes e empresas, além de grupos independentes que realizam um trabalho de grande aceitação.

Coro amador e coro profissional[editar | editar código-fonte]

A maioria dos grupos de canto coral (cerca de 90% no mundo todo em 1980)[2] se diz amador, em contraposição aos grupos profissionais, que são aqueles em que os cantores são contratados e têm o canto coral como trabalho. Nesta perspectiva, o canto coral pode ser considerado, segundo a sua natureza, profissional ou amador, sem juízo de valor qualitativo.

Os coros profissionais são mantidos por instituições públicas, governos e grandes teatros, dedicando-se, prioritariamente, ao repertório operístico e coral-sinfônico. Na Letônia, empresas privadas contratam cantores para atuar em seus coros, e apresentam repertório erudito (acadêmico) e folclórico. Os coros amadores, longe de serem tecnicamente inferiores aos profissionais, são mantidos por universidades, escolas, particulares, músicos, fundações e empresas.

Tipologia[editar | editar código-fonte]

No Coro do Tabernáculo Mórmon, é visível a separação dos cantores em naipes.

Sem levar em consideração a qualidade do coro, pode-se fracionar o canto coral nos seguintes tipos:[3]

  • coros profissionais oficiais: normalmente ligados a uma instituição pública da área da cultura. Secretarias de cultura, fundações etc. apresentam repertórios clássicos e os cantores são músicos. Regente, preparadores vocais, cantores e músicos co-repetidores são remunerados;
  • coros oficiais: são grupos de canto coral amadores, em que apenas o regente e pianista acompanhador são remunerados; os cantores são voluntários, não obstante serem músicos. Apresentam repertório de alta qualidade;
  • coros universitários: grupos formados em universidades e faculdades. A maioria desses grupos não é ligada ao departamento de música da referida universidade, são ligados às pró-reitorias de extensão e abertos à comunidade. O regente é um professor da instituição e os cantores são pessoas da comunidade. Os coros universitários apresentam repertório de alta qualidade e costumam sagrar-se campeões em concursos internacionais. É um dos tipos mais antigos de coro;
  • coros de igreja: o mais antigo tipo de coro, formado por religiosos, músicos ou não. Apresentam repertório sacro e religioso de altíssima qualidade e excelência musical. Giovanni Pierluigi da Palestrina e Johann Sebastian Bach escreveram para este tipo de coro;
  • coros de empresa: são corais formados por funcionários e colaboradores dos mais diversos tipos de empresa. As empresas investem na qualidade de vida de seus funcionários e obtêm resultados artísticos. Nos Estados Unidos e na Europa, existem ótimos coros de empresa que realizam repertório de música popular e folclórica. É nesse tipo de grupo que os regentes obtêm maior remuneração;
  • coros etários: notadamente os coros infantis e os coros de terceira idade. É o tipo de coro onde os cantores são escolhidos pela faixa etária. Funcionam como uma atividade social mais do que como uma atividade meramente musical. Os regentes são contratados por instituições que mantêm projetos nessa área e os cantores, normalmente, pagam para participar do grupo. Desde 1990, há um crescente aumento da participação deste tipo de grupo em festivais e encontros;
  • coros de gênero: são os coros onde os cantores são selecionados por seu gênero, masculino ou feminino. Muito repertório para esse tipo de coro foi produzido. Os coros femininos e masculinos normalmente cantam a três ou quatro vozes e apresentam repertório de excelência musical;
  • meninos cantores: tipo de grupo praticamente extinto, formado por meninos e homens, normalmente ligado à igreja Católica. Os meninos cantavam a parte de soprano e alto e os homens as partes de tenor e baixo. Muito repertório de qualidade foi produzido para esse tipo de coro. Atualmente, o coro da Pontifícia Capela Musical Sistina, do Vaticano, é um dos últimos remanescentes desse tipo de formação;
  • coros étnicos: os grupos se reúnem em torno da questão étnica. Normalmente, executam repertório de música folclórica de boa qualidade. Alguns grupos étnicos da África produzem repertório de excelência musical e realizam turnês internacionais. Na maioria dos casos, os regentes são remunerados e os cantores colaboram na manutenção do grupo;
  • coros com fins terapêuticos e sociais: recentemente (a partir de 1990), apareceram em festivais e encontros de corais grupos que se reúnem para utilizar o canto coral com fins terapêuticos, como na musicoterapia. Também têm se apresentado grupos ligados a instituições sociais voltadas a jovens e adolescentes em situação de risco. Nesses grupos, os regentes são contratados e assumem outros papéis;
  • coros independentes: os coros independentes são aqueles que se mantém por si próprios. Os grupos independentes normalmente apresentam repertório de alta qualidade e de todos os estilos. O grupo se mantém pela participação de cantores, regentes e comunidade. Um bom número de coros independentes se organiza sob a forma de organizações não governamentais.

Divisão de naipes[editar | editar código-fonte]

O Grande Coro com a orquestra.

Vozes adultas[editar | editar código-fonte]

Extensões vocais como as abaixo anotadas são consideradas indicativas para cantantes com voz educada (i.e treinada) e refletem os limites máximos típicos somente de tal voz. Este quadro também não mostra a possibilidade do uso de falsetto que iria estender a capacidade da altura da voz.

As vozes adultas masculinas estão assim divididas de acordo com a tessitura das cordas vocais – do mais grave para o mais agudo:

  • Baixos: do Fa1 ao Fa3 (sendo, 1 e 3, os números referentes às oitavas musicais do piano)---o C3 é o dó central, assim o F3 é o fá acima deste dó central.
  • Barítonos: do La1 ao La3.
  • Tenores: do Do2 ao Do4.

Por sua vez, as vozes adultas femininas se dividem em:

Voz de transição[editar | editar código-fonte]

Vozes infantis[editar | editar código-fonte]

  • Masculina
  • Tenorinos: do Sol2 ao Ré4
  • Contraltinos: do Si2 ao Fá4
  • Feminina
  • Pré-primária: do Do3 ao Mi4
  • Sopraninos: do Do3 ao Dó5
  • Contraltinos: do Si2 ao Si4

Perspectiva da Música[editar | editar código-fonte]

Os primeiros neumas, indicações para o canto das palavras. Fragmento de Laon, Metz, meados do século X.

Sob a perspectiva da música que um coro produz, o canto coral baseia suas atividades na execução de peças musicais escritas especialmente para coro ou arranjos para coro de canções folclóricas e populares. Com ou sem acompanhamento instrumental.[4]

Na Idade Média, o canto coral era uma atividade reservada aos homens: portanto, os compositores arranjavam sua peças no formato TBBx (tenor - barítono - baixo). Com o advento da Reforma Protestante no século XVI, as mulheres começaram a participar do canto coral e os compositores se adaptaram no sentido de escrever no formato SATB (Soprano, alto ou Contralto, Tenor e baixo), embora os corais luteranos sejam arranjos com variações melódicas de algum cantochão original do período da Idade Média. Todos os grandes compositores escreveram para coro e o canto coral teve seu período áureo sob os compositores Giovanni da Palestrina e Johann Sebastian Bach.

Já no século XV, a escrita musical aparecia assim

Um arranjo para coro tem a característica fundamental de um Arranjo Musical, e o Piano serve como o instrumento chave para o acompanhamento, quando necessário, aonde as quatro vozes do coro são representadas igualmente na partitura deste instrumento musical.

As canções populares e folclóricas se adaptam muito bem ao canto coral e seus arranjadores, não raro, têm o status de coautores da canção.

  • estilo "a cappella": no estilo "A cappella" (em italiano), um grupo canta sem acompanhamento de instrumentos. Cada naipe executa uma parcela da harmonia da canção: um deles pode ser responsável pela melodia de cada frase musical enquanto os outros fazem o acompanhamento; ou a linha melódica se desenvolve no próprio arranjo harmônico das quatro vozes que se intercalam ou revezam a parte da linha melódica.
Ver artigo principal: A cappella
Duerme negrito (a cappella) - Tradicional da fronteira entre Colômbia e Venezuela pelo Coro da Camerata Ars Música sob regência de Jayme Amatnecks
  • estilo antifonal: tradicionalmente, o estilo antifonal é em geral cantado durante uma missa quando dois coros cantam versos com um refrão, alternadamente, durante a leitura dos Salmos.
Ver artigo principal: Antífona
O Sapientia - das Antífonas do Ó pelo Coro do Mosteiro de São Bento de Olinda/PE/BR,
  • estilo responsorial: no estilo responsorial erudito e tradicional, que surge na música medieval, os solistas cantam os versos e o coro canta o refrão. Comum também noutros períodos, em cantatas e noutros estilos da música barroca, principalmente quando no uso de dois corais, e também em oratórios, e mais tarde nas óperas e até outros estilos na música popular quando há um coro, assim como em outros gêneros de obras para coro. Ainda é comum se referir ao estilo responsorial através das perguntas e respostas entre o cantor solista e o grupo coral, em que, a cada frase da melodia, eles intercalam o texto.

O conjunto de roque progressivo Pink Floyd apresentou, com o trabalho operístico de Roger Waters The Wall, o estilo responsorial em várias composições. Na música Another Brick in the Wall, Part II, por exemplo, o cantor solista canta o verso e noutro verso o coro infantil entra com a resposta. O verso do coro infantil é, melodicamente, o mesmo que o verso do cantor solista, fazendo a forma da música ser estrófica, mas a intercalação do coro ainda estabelece o estilo responsorial.

Perspectiva da Fonoaudiologia[editar | editar código-fonte]

Com o recente aperfeiçoamento da fonoaudiologia,[5] os agrupamentos de Canto Coral passaram a contar com essa ciência no trabalho em prol da beleza e longevidade vocal dos cantores. A relação entre a fonoaudiologia e o canto coral se estabelece no conceito de saúde vocal e os profissionais dessa área têm, no canto coral, um vasto campo para trabalho e pesquisa. A fisiologia da voz, a higiene e saúde vocal, o aquecimento e desaquecimento vocal, as técnicas vocais e as especificidades da voz cantada são pontos onde o canto coral e a fonoaudiologia se encontram.

Técnicas vocais[editar | editar código-fonte]

Não se pode falar em uma técnica vocal para o canto coral. Como a maioria dos coros apresenta repertórios ecléticos (eruditos, folclóricos e populares), os especialistas apontam para a aplicação de técnicas variadas e apropriadas ao repertório que o coro executa. Referem-se à técnica vocal como o modo, a maneira de cantar.[6]

Basicamente, a técnica respiratória para o canto se sustenta no apoio diafragmático para a emissão da voz e na respiração diafragmática-intercostal, muito embora no Oriente se apresentem técnicas respiratórias bastante diversas e de igual eficácia. Além das técnicas relativas à respiração, emissão, projeção, articulação e dicção, o canto coral também se utiliza de técnicas de relaxamento físico e psíquico.[7]

Perspectiva da metafísica[editar | editar código-fonte]

O canto coral, o canto coletivo, sempre fez parte integrante dos rituais místicos e religiosos do ser humano. O templo e os locais de adoração são o berço do canto coral.[8]

Regência coral[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Regência coral

A regência coral (em latim: ars choralis) é a arte ou técnica de condução e controle de coros, e uma das especialidades do canto coral.[9]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Wikcionário
O Wikcionário tem os verbetes coro e coral.
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Referências

  1. FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 1 232.
  2. «O Arruia. Informativo da Associação Coral Julia Pardini. Belo Horizonte. 1980. nº 126. Ano 10. p.06». Consultado em 13 de abril de 2017. Arquivado do original em 1 de abril de 2007 
  3. «Junker, David. Junker, D. B. (1990) Brazilian Choral Directors' Rehearsal conditions and attitudes toward choral methodology: survey analysis and recommendations. (Dissertação de doutorado, University of Missouri- Columbia, MO – USA). Dissertation Abstracts International.» (PDF). Consultado em 13 de abril de 2017. Arquivado do original (PDF) em 11 de junho de 2012 
  4. A História do canto coral. Informativo Espaço Aberto, USP. São Paulo. 2005
  5. Andrade, Simone Rattay; Cielo, Carla Aparecida. A ciência fonoaudiológica e a arte do canto coral / The science of speech-language therapy and the art of choral singing . 2005. p.59-68.
  6. «Coelho, Helena Wöhl. Técnica Vocal para Coros. Editora Sinodal, São Leopoldo, 1994.». Consultado em 13 de abril de 2017. Arquivado do original em 24 de outubro de 2009 
  7. Sartori, Denise. in Regência Coral: princípios básicos. Editora Dom Bosco, Curitiba 2000. p. 189
  8. Oliveira, Jelson. PONTON, O. Nietzsche – Philosophie de la légèreté. Berlin; New York: Walter de Gruyter, 2007. (Monografhien und Texte zur Nietzsche-Forschung, Band 53).[ligação inativa]
  9. GROVE, Dicionário de música. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed.,1994

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Bases de dados[editar | editar código-fonte]

Organizações profissionais[editar | editar código-fonte]

Recursos[editar | editar código-fonte]

Media[editar | editar código-fonte]

Estudo[editar | editar código-fonte]