– Não tanto assim. – Ben respondeu com um balançar leve de cabeça. Era verdade que ele preenchia seus dias com muitas atividades, desde o trabalho, os estudos, o clube de debate, ser um torcedor fiel dos Tea Defenders e presidente do fã-clube de Linda Adormecida. Mas havia pouco que ele não cancelaria na hora se ela chamasse. Bénigne não pôde deixar de rir baixo ao perceber que, ao ser deixada sozinha no banco de bar, Anne tinha provavelmente perdido a noção do quanto tinha bebido para se distrair. – Bem, não sei sobre ser o melhor. Talvez um top 20? – Ele sugeriu, erguendo uma das sobrancelhas.
– Sério? Ah. Sinto muito. – Ben tocou a mão dela com conforto, dando dois tapinhas leves. – Você tem muitos pesadelos? – Não era mais tão comum que Ben os tivesse, mas costumava tê-los bastante, principalmente no ensino médio. Pesadelos sobre ir aos mais variados lugares e esquecer os objetos necessários para estar lá (esquecer a mochila ao ir para o colégio, o passaporte para ir a algum lugar, ou os documentos para ir ao Castigo), ficando preso ou sendo humilhado de alguma maneira. – Sabia que pode ser o que você come antes de dormir? Ou a posição que você dorme na cama.
Ele balançou a cabeça para indicar que não tinha debatido o dia todo - pelo menos não academicamente. – Foi tudo bem. Eu peguei o turno de abertura da panificadora, então estava de pé às 5h. Mas esses são bons, porque consigo sair meio dia. Daí fiz um post para Spellgram o fã-clube e atualizei o grupo de fãs do MagicTelegram com as últimas notícias. Estudei um pouco antes de ir para a aula de Habilidades. Depois Criaturas Mágicas. Clube de Debate. E… Agora estou aqui. E o dia já está bem melhor.
Ben riu, dando de ombros. – Bem… O ponto é o debate. O que a gente decidir não importa. O que importa é como você faz a pesquisa e como você estrutura seus argumentos. Os non-maj fazem isso desde a Roma Antiga. Eles consideravam absolutamente importante que um líder saiba debater e discursar. E é por isso que eu resolvi criar o clube. Para os futuros líderes de amanhã. E também porque Arthurian não ganha nada virando o rosto para assuntos importantes invés de discutir eles.
“Top 1! O primeiro para mim!” Anne Marie respondeu para o amigo, porque provavelmente tinha prestado atenção na sentença mais curta mesmo. “Sabe porque eu tenho pesadelos?” Se aproximou ao falar em tom conspiratório, como se fosse compartilhar um grande segredo. “Não é nada disso! É porque eu durmo sozinha.” Manteve os olhos fixos no rapaz, esperando que ele pudesse entender sua deixa…. Mas então desistiu, porque era Bénigne ali. Anne pensava que provavelmente seus flertes tradicionais não teriam efeito algum ali e apenas o deixariam tímido. Ela suspirou então, meio triste, porque demoraria muito até que pudesse dormir abraçada a Ben. Quem sabe a presença brilhante dele pudesse espantar os pesadelos? Mas então suspirou de novo, não querendo colocar tais expectativas no rapaz. Eram seus pesadelos, deveria lidar com eles sozinha. O resto das coisas que Bénigne começou a falar foram como um borrão para ela, porque prestou atenção em pouca coisa. Ao invés disso, focava em como os olhos dele pareciam brilhar enquanto falava do que gostava e como os lábios se movimentavam a cada pronúncia. Achou que ele tinha falado alguma coisa sobre Arthurian e assuntos importantes, porém tudo o que Anne conseguiu fazer foi gemer e abaixar a cabeça, a testa contra o frio da madeira da mesa.
“Não, política não. Não quero debater. E daí que vão jogar tomates em vilões?” Tinha que admitir, Anne achava a prática um pouco triste. Feria a dignidade… Mesmo que ela achasse que os vilões não tivessem muita. “Sem política, Ben. Ou debates. Você gosta do clube de debates, mas eu…” Nem sabia se gostava, porque sequer tinha participado de alguma reunião. Ela levantou a cabeça, voltando os olhos novamente para o loiro. “Eu estou sofrendo.” Uma única lágrima, saída do olho esquerdo, escorreu pelo rosto de Anne. Não estava tão triste assim, embora de fato estivera sofrendo. Decidiu tomar mais um gole de sua bebida, usando um guardanapo próximo para limpar o rosto. “Estou sentindo como se o meu coração estivesse trincado.” Era mais ou menos isso, porque a recusa de Axel em ser seu amigo tinha partido seu coração, mas não podia explicar para Ben sobre isso. Não ainda. “Eu preciso saber como você está. Seu dia parece que foi tãooooo cheio. Você já se alimentou? O que quer comer?” Novamente, mesmo quando não estava em seu perfeito juízo, existia aquela necessidade de cuidar de Bénigne.