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quinta-feira, novembro 23, 2023

SOUND + VISION Magazine
— Beatles, FNAC Chiado [9 dez.]

A data foi alterada, mas o tema mantém-se: Now and Then, a "última canção dos Beatles" é o ponto de partida para revisitarmos a herança do quarteto de Liverpool, redescobrindo memórias visuais e sonoras.

>>> FNAC Chiado, 9 de dezembro (17h00).

sexta-feira, novembro 10, 2023

SOUND + VISION Magazine
— Beatles, FNAC Chiado [dia 18]

Alterámos os planos para a nossa próxima sessão na FNAC. De facto, tendo em conta a actualidade das imagens e dos sons, decidimos mudar o tema inicialmente anunciado (que, naturalmente, fica sempre em agenda...).
Assim, no dia 18, às 17h00, estaremos na FNAC Chiado para celebrarmos A Última Canção dos Beatles — será preciso escutar Now and Then... e um pouco mais.

sábado, novembro 04, 2023

Now and Then, o teledisco

E aí está o teledisco de Now and Then, a última canção dos Beatles. Dito de outro modo: a última vez em que ainda foi possível construir uma canção com a colaboração de John, Paul, George e Ringo — Peter Jackson realizou. Em baixo, o video que esclarece como tudo aconteceu.
 


quinta-feira, novembro 02, 2023

A última canção dos Beatles

Do país difuso da memória, a herança dos sons superou as agruras do tempo e a última canção dos Beatles aí está — para já, para ouvirmos a beleza do seu legado, com a voz ausente, aliás, presente de John Lennon.

terça-feira, janeiro 10, 2023

A felicidade segundo Billie Eilish

Billie Eilish, personagem do nosso tempo acelerado

Que significa dizer “eu” perante uma câmara de filmar? Afinal, que sabemos (ou não sabemos) da nossa identidade? — este texto foi publicado no Diário de Notícias (25 dezembro).

Sinais do tempo… Mapas de uma civilização… Porque é que o facto de fazermos pose ou falarmos directamente para uma câmara (do nosso telemóvel, por exemplo) passou a ser encarado — e, mais do que isso, infinitamente multiplicado — como um automático bilhete de identidade para consumo dos outros? E porque é que consideramos “natural” essa compulsão de nos expormos ao olhar dos outros? Afinal de contas, no Instagram, no momento em que escrevo este texto, fazendo uma pesquisa com a referência #selfie, podemos encontrar mais de 450 milhões de imagens…
Billie Eilish, nascida em Los Angeles a 18 de dezembro de 2001, por certo um dos maiores (e, a meu ver, mais fascinantes) talentos da actual música popular, tem sido protagonista regular de um desses exercícios de exposição individual. Assim, desde 2017, sempre no dia 18 de outubro, a Vanity Fair entrevista-a, colocando-lhe uma série de perguntas sobre a vida pessoal e profissional. As respostas de cada novo ano dão origem a um video (o mais recente dura 21 minutos, está disponível no site da revista e também no YouTube) pontuado por diversos paralelismos com as respostas, e respectivas imagens, de anos anteriores.
Duas perguntas servem para lançar a última gravação: primeiro, qual a idade de Billie Eilish, suscitando um painel de seis imagens em que começamos por vê-la e ouvi-la dizer que tem 15 anos (em 2017) até à entrevista mais recente, com 20 anos (faltavam dois meses para celebrar 21); depois, qual o número dos seus seguidores no Instagram — de 257 mil no primeiro registo até mais de 106 milhões na actualidade (entretanto, já passou os 107 milhões).


Escusado será dizer que não estamos perante uma derivação audiovisual do “estilo” pueril, muitas vezes tristemente anedótico, de muitas selfies. Para lá da sofisticação da apresentação e montagem do video, a inteligência de Billie Eilish faz com que as respostas, mesmo às perguntas mais banais (“O que comeu hoje? Como está decorado o seu quarto?”), surjam tocadas por um misto de gravidade e humor.
Deparamos com uma genuína performance. Entenda-se: no sentido mais literal (e, precisamente, mais genuíno) que a palavra “performance” pode envolver. Billie Eilish tem óbvia consciência do dispositivo teatral, ou teatralizado, através do qual comunica connosco, ao mesmo tempo entregando-se a tal dispositivo com a disponibilidade de quem procura um auto-retrato estável.
Ou talvez não. A certa altura, nas imagens de 2019 fala-nos da “manutenção da minha felicidade” como algo que “já não sentia há muitos anos”… O que nos garante que, ainda antes de completar 18 anos, ela se via (e representava para nós) como alguém a perseguir uma felicidade que lhe tem escapado durante “muitos anos”. Assim mesmo: “muitos anos”…
Seria fácil considerar que esta aceleração dos modos de viver (e pensar o viver) reflecte uma qualquer crise da juventude. Acontece que ser jovem e chamar-se Billie Eilish é uma excepção absoluta que não pode confundir-se com a existência dos milhões que a seguem e vivem no mais radical anonimato. Rotular Billie Eilish como mero símbolo “juvenil” seria mesmo ceder ao mais obsceno paternalismo mediático, supondo que há uma fronteira nítida e, mais do que isso, intransponível, entre o seu modo de ser e a identidade de alguém (seja quem for) de qualquer outra geração.
Nesse passado muito próximo, a crise que Billie Eilish diz ter atravessado condensava-se numa frase eloquente: “Não sei se me sinto ligada a mim própria.” Um ano mais tarde, já com um novo ponto de vista, reconhece que andava a “fingir ser Billie Eilish”. E ainda: “Sentia-me como uma paródia de mim própria.”
Esta é, afinal, a cantora/compositora que editou dois álbuns cujos títulos vale a pena traduzir: “Quando todos adormecemos, vamos para onde?” (2019) e “Mais feliz do que nunca” (2021). O primeiro assombrado por uma inequívoca pulsão de morte — ouça-se a canção Bury a Friend e veja-se o respectivo teledisco; o segundo numa missão de resgate da ideia de felicidade.
A certa altura, surge um segmento “tradicional”, quase sempre deprimente, deste tipo de videos: responder a algumas perguntas de fãs… Billie Eilish sabe ser directa e sintética, não alimentando patéticas ilusões de intimidade. Quando lhe perguntam se já fumou erva e se quer ter filhos, responde da forma mais austera, sucessivamente: “não” e “sim”. Sem esquecer que há pelo menos uma resposta que desmancha qualquer possível barreira geracional — a pergunta é: “Qual a sua banda preferida?”; a resposta: “Os Beatles”.

segunda-feira, dezembro 12, 2022

Os Beatles por Brad Mehldau

Your Mother Should Know, a canção dos Beatles incluída no álbum Magical Mistery Tour (1967), serve de título ao novo álbum de Brad Mehldau, com lançamento agendado para 10 de fevereiro de 2023. Mais precisamente: Your Mother Should Know: Brad Mehldau Plays The Beatles. Para já, temos Mehldau a falar sobre o lugar dos Beatles na história do seu gosto e da sua prática musical, no final oferecendo-nos a sua versão da canção — uma breve e fascinante lição de escuta.

sexta-feira, dezembro 09, 2022

Here, There and Everywhere, 2022

A reedição de Revolver (1966) continua a ser pretexto para uma actualização do "visual" da algumas das suas canções — aí está, em animação deliciosamente pop, Here, There and Everywhere, uma criação do estúdio britânico Trunk.

quarta-feira, novembro 02, 2022

Beatles, 1966
— a arte do sono

Momento fundamental, de viragem (se é que a palavra não perdeu valor), na prodigiosa evolução dos Beatles ao longo da década de 60, aí está a muito aguardada reedição do álbum Revolver (1966). Com uma prenda preciosa: um teledisco de I'm Only Sleeping, percorrendo os enigmas do sono, entre pintura a óleo e recriação digital, com assinatura de Em Cooper — em baixo, o trailer da nova edição.



segunda-feira, outubro 31, 2022

Finneas no estúdios de Abbey Road

Um ano depois do aparecimento de Optimist, o seu álbum de estreia, Finneas relança-o numa edição DeLuxe. Para lá de algumas novas versões das canções originais, e também de uma cover de The Fool On The Hill dos Beatles, a edição propõe-se também divulgar a acção da Earth/Percent, entidade apostada em canalizar os apoios da indústria da música a diversas organizações que trabalham no sentido de as comunidades fazerem frente às urgências climatérias. Como complemento, temos um novo registo do espantoso tema The Kids Are All Dying, agora com Finneas ao piano em gravação nos estúdios de Abbey Road.

segunda-feira, março 07, 2022

Quatro Beatles e dois polícias

Londres, 30 de janeiro de 1969:
protagonistas de um "concerto no telhado"

Rever os Beatles numa sala IMAX é qualquer coisa de arrebatador: são memórias transfiguradas e enriquecidas pela tecnologia — este texto, motivado pelas sessões especiais de The Beatles: Get Back - The Rooftop Concert, foi publicado no Diário de Notícias (13 fevereiro).

Como responder às convulsões do mercado cinematográfico, em especial como defender as salas face aos modos de consumo caseiro que todos praticamos? Eis uma interrogação comercial e cultural. Aliás, vale a pena evitar a boa consciência política que fala de “cultura” como se fosse uma abstração neutra gerada por um qualquer paraíso prometido. A saber: qualquer factor comercial envolve sempre componentes e escolhas culturais.
Alguns pequenos grandes acontecimentos permitem-nos perceber as limitações — e, nessa medida, também as potencialidades — do nosso pensamento comercial da cultura (e, por isso mesmo, do pensamento cultural do comércio). Falo de The Beatles: Get Back - The Rooftop Concert, filme de Peter Jackson programado em salas IMAX (Lisboa, Cascais, Matosinhos) apenas durante três dias [11, 12 e 13 fevereiro] — um espectáculo arrebatador, realmente diferente!
Como se prova, a imponência da imagem (e do som) do IMAX não tem que ser um exclusivo das aventuras de super-heróis que vão desbaratando as potencialidades do formato — filmar aos trambolhões, como se se estivesse a usar um telemóvel, é um disparate visual e narrativo que, para mais na grandeza de um ecrã IMAX, faz com que, não poucas vezes, o espectador só tenha para ver uns riscos a passar no ecrã acompanhados por uma banda sonora ensurdecedora.
Que fez, então, Peter Jackson? Pois bem, criou uma derivação tão breve quanto fascinante (dura 65 minutos) da sua mini-série The Beatles: Get Back (Disney+). O objectivo é revisitar um episódio lendário na história dos Beatles, precisamente esse “concerto no telhado” que o subtítulo refere — foi a 30 de janeiro de 1969, no topo do edifício da editora Apple, em Londres, incluindo várias canções do alinhamento de Let it Be (1970), derradeiro álbum de estúdio do quarteto de Liverpool.
As dimensões físicas do ecrã não são o único elemento definidor das potencialidades figurativas do IMAX. Em boa verdade, nem sequer se podem considerar uma novidade, já que os antigos ecrãs de 70 mm (quem se lembra do velho Monumental, no Saldanha, em Lisboa, tristemente deitado abaixo em 1984?) eram tão grandes ou maiores — sem esquecer que há técnicos que consideram que a definição das imagens de 70 mm continua a ser superior às das câmaras IMAX. Peter Jackson compreendeu que o formato lhe permitia revisitar o concerto dos Beatles num novo território visual — o ecrã IMAX, precisamente — que, por assim dizer, apela a novas variantes narrativas, nomeadamente, em alguns momentos, através da coexistência (na mesma imagem) de registos obtidos em simultâneo.
A esse propósito, importa recordar que os materiais utilizados por Peter Jackson, não apenas neste filme, mas em toda a mini-série, são as “sobras” (mais de 50 horas!) do filme Let it Be (1970), de Michael Lindsay-Hogg, sobre as sessões de gravação do álbum, na altura lançado entre nós com o subtítulo, não muito feliz, de Improviso. Inéditos, e muito curiosos, são os momentos do início do filme em que acompanhamos o realizador e os seus técnicos a colocarem as câmaras para registar o evento — são imagens tanto mais sugestivas quanto, como uma legenda recorda no final, o concerto ficaria para a história como a derradeira performance ao vivo dos Beatles.
Apesar do frio de Londres (6 graus!), a performance é exuberante, a ponto de o registo de três das canções interpretadas — I’ve Got a Feeling, One After 909 e Dig a Pony — ter sido considerado melhor que as respectivas gravações de estúdio, acabando por integrar o alinhamento do álbum. Alguns detalhes que agora emergem, por vezes “multiplicados” pela sábia montagem das várias imagens que preenchem o ecrã, são deliciosos: Lennon a queixar-se da dificuldade de tocar a sua guitarra, de tal modo o frio lhe paralisa os dedos; o olhar gélido e indecifrável de Yoko Ono; a toalha com que Ringo cobre um dos tambores da bateria, etc. De qualquer modo, os protagonistas mais inesperados são os dois simpáticos e surpresos polícias que, cordialmente, visitam as instalações da Apple, dando conta que receberam algumas dezenas de queixas por causa do barulho…
The Beatles: Get Back - The Rooftop Concert resulta, assim, uma tocante memória transfigurada pelos recursos de uma moderna tecnologia, além do mais corrigindo a ideia segundo a qual o filme de Michael Lindsay-Hogg não passava do registo fúnebre de uma despedida. Como ele disse em recente entrevista ao Variety (10 dezembro 2021): “Let it Be não era um filme sobre uma separação. Terminámo-lo muito antes de as coisas se complicarem. É um filme alegre, do tempo em que eles se sentiam felizes por estarem a tocar num telhado.”

terça-feira, dezembro 07, 2021

Let it Be
ou a banda que desapareceu

Cartaz publicitário de 1970

Na base da série de Peter Jackson sobre os Beatles estão as imagens recolhidas para um belo documentário, Let it Be, assinado por Michael Lindsay-Hogg — este texto foi publicado no Diário de Notícias (26 novembro).

Em Portugal, na distribuição cinematográfica, existe uma longa e sugestiva tradição de títulos mais ou menos bizarros, “adaptando” de forma delirante os originais. Afinal de contas, a estreia cinematográfica dos Beatles, A Hard Day’s Night (1964), sob a direcção de Richard Lester, chegou às salas como Os Quatro Cabeleiras do Após-Calipso (foi mesmo esse o artigo definido utilizado: “os” e não “as” quatro cabeleiras).
Let it Be (1970), o filme de Michael Lindsay-Hogg cujos “excedentes” (perto de 60 horas de imagens…) servem de base à série Get Back, de Peter Jackson, é um dos casos mais curiosos dessa saga de títulos de bem disposta criatividade. Assim, o documentário sobre as sessões daquele que seria o derradeiro álbum da banda foi lançado no mercado português como… Improviso.


Em boa verdade, na altura da estreia, não creio que a questão do título português tivesse suscitado a nossa atenção, muito menos alterado a percepção do filme: tendo em conta que o álbum homónimo já estava nas lojas, o filme era “apenas” a confirmação amarga e doce de que a saga dos quatro de Liverpool tinha chegado ao fim.
Ainda assim, há que reconhecer que, com o passar das décadas, a palavra “improviso”, apesar de redutora, adquiriu um valor sintomático. Ali estavam quatro rapazes entregues a uma deriva criativa algo angustiada mas, apesar disso (ou por causa disso mesmo), susceptível de gerar uma espantosa colecção de canções — entre as menos divulgadas, ouça-se, por exemplo, For You Blue, da autoria de George Harrison.


O filme de Lindsay-Hogg resultou, afinal, de uma série de sobressaltos que, não definindo exactamente um esquema criativo de improvisação, obrigou a várias adaptações mais ou menos dramáticas. Tratava-se, na origem, de gravar e filmar um conjunto de canções em estúdio, de alguma maneira reencontrando o espírito “ao vivo” que, em qualquer caso, os Beatles tinham abandonado (depois da digressão americana de 1966).
Diversos incidentes, incluindo o momento em que Harrison ameaçou deixar a banda, foram contaminando o frágil projecto, e tanto mais quanto os lendários estúdios Twickenham não seriam, à partida, o ambiente mais acolhedor para a “invenção” de um álbum (as gravações continuaram no edifício da editora Apple, onde seria filmado o lendário “concerto no telhado”). Resumindo: “sobraram” as muitas horas que agora podemos descobrir (Let it Be, o filme, dura apenas 80 minutos).
O novaiorquino Lindsay-Hogg (actualmente com 81 anos) acabaria por se tornar um especialista em registar performances musicais, quase sempre para televisão. Aliás, cerca de um ano antes, tinha já realizado The Rolling Stones Rock and Roll Circus (cujo registo permaneceu inédito até 1996). Para todos os efeitos, e apesar de ter desaparecido de circulação, Let it Be/Improviso é uma invulgar proeza documental, conduzida por um olhar que, na presença da música, sabe observar as nuances dos músicos, suas palavras e silêncios. Ironicamente, na cerimónia dos Oscars referentes a 1970, realizada a 15 de abril de 1971, o filme valeu aos Beatles (que já não existiam) a estatueta dourada referente a melhor canção (Let it Be) — na ausência dos quatro, o prémio foi recebido por Quincy Jones.

segunda-feira, novembro 22, 2021

Beatles na FNAC
— memória da sessão SOUND + VISION


Na nossa sessão de sábado, 20 de novembro, na FNAC Chiado, a série Get Back, de Peter Jackson (a partir do dia 25, na Disney+), serviu de pretexto para uma revisitação dos Beatles, em particular do período final da banda, com as edições de Abbey Road (1969) e Let it Be (1970) — eis algumas das imagens que integraram o nosso encontro, lembrando, desde já, a próxima sessão:

Sessão SOUND + VISION
Regressando a West Side Story
FNAC Chiado / 18 dezembro, 18h00

>>> O "concerto do telhado", em Londres, na sede da Apple Corps (30 janeiro 1969).


>>> What Is Life, de George Harrison (teledisco de 2014).


>>> Mother, de John Lennon (teledisco de 2003).
 

sábado, novembro 20, 2021

* Beatles 2021
— SOUND + VISION na FNAC [hoje]

A edição de novembro do magazine Sound+Vision tem como tema central o regresso dos Beatles. Regresso? Mas algumas vez eles desapareceram?... A série Get Back, de Peter Jackson, serve de mote — memórias e actualidades, canções, cinema e televisão. Local e horário:

* BEATLES 2021
FNAC Chiado
20 de novembro, 18h30

domingo, outubro 17, 2021

SOUND + VISION na FNAC
— James Bond & etc.

Sábado, dia 16, ao fim da tarde, estivemos na FNAC/Chiado: Bond, James Bond foi o tema central — não apenas o recente 007: Sem Tempo para Morrer, mas algumas memórias, filmes e canções de uma saga que começou em 1962, com Dr. No/Agente Secreto 007. E também outras marcas cinematográficas da vida e morte dos espiões. Aqui ficam algumas imagens e sons dessa sessão, lembrando a próxima:

SOUND+VISION Magazine
O regresso dos Beatles
FNAC/Chiado, 20 novembro 2021 (18h30)

>>> Goldfinger (1964), Shirley Bassey.
 

>>> A View to a Kill (1985), Duran Duran.
 

>>> The Conversation/O Vigilante (1974), Francis Ford Coppola.

terça-feira, maio 18, 2021

"Ram", 50 anos

Foram tempos de conflitos vários entre os elementos dos Beatles — que já não existiam, entenda-se. Dito de outro modo: faz agora 50 anos que Paul McCartney lançou Ram, o seu segundo álbum a solo (a 17 de maio de 1971 no Reino Unido, alguns dias mais tarde nos EUA). Co-assinado com Linda McCartney, a sua colecção de contrastes reflecte um espírito genuinamente experimental, movido por uma sensibilidade intransigentemente poética.
Três momentos, para celebrar um verdadeiro clássico: Monkberry Moon Delight, Heart of the Country e Another Day (single também de 1971, autónomo, que seria incluído como bónus na reedição de 1993).
 




sábado, dezembro 26, 2020

Para acabar com os anos 60
— "Gimme Shelter" & etc.

Mick Jagger, Gimme Shelter (1970)

O documentário Gimme Shelter, realizado pelos irmãos Maysles, completou meio século de existência (foi lançado a 6 de Dezembro de 1970): nele se regista o lendário e trágico concerto de Altamont, na Califórnia, com os Rolling Stones como protagonistas — este texto foi publicado no Diário de Notícias (5 dezembro). 

A pandemia impediu que chegasse este ano às salas de cinema o filme The Beatles: Get Back, de Peter Jackson — teve estreia marcada para 4 de setembro, está agora agendado para 27 de agosto de 2021. O seu ponto de partida é outro filme, Let it Be (1970), de Michael Lyndsay-Hogg, sobre as sessões de gravação do álbum homónimo dos Beatles, o derradeiro da banda de Liverpool. Jackson teve acesso a todo o material filmado por Lyndsay-Hogg (55 horas!), podendo assim recontar uma despedida simbolicamente indissociável das convulsões culturais da década de 60. 
Através da música, e muito para lá da música, importa voltar a questionar a visão simplista segundo a qual os sixties descobriram a ideia de “liberdade”, tendo sido vividos como um catálogo de êxtases pueris, aqui e ali pontuados por alguns excessos mais ou menos caricatos… Como se as vidas de tempos tão complexos e fascinantes pudessem ser reduzidas a essa liofilização mediática. 
As memórias do filme dos Beatles são vibrantes e paradoxais. Numa época de sensibilidade potencialmente trágica, sem o moralismo quotidiano das redes (ditas) sociais, a sociabilidade das notícias envolvia outras durações e diferentes modelos de percepção. Assim, o fim dos Beatles não surgiu como manchete abrupta de determinado dia — mesmo se sabemos que foi a 10 de abril de 1970 que Paul McCartney declarou publicamente que não via hipótese de renovar a dupla criativa Lennon-McCartney —, para desaparecer poucos dias depois na voragem de outras “notícias” sobre coisa nenhuma. 
Dir-se-ia que a irreversível decomposição dos Beatles se instalou, não apenas como ruptura temporal, mas também como desafio às próprias medidas do tempo. A pulsão utópica que o quarteto protagonizou (a par de muitas outras figuras da época) esvaziava-se como uma epopeia a que alguma força maligna teria roubado a redenção de um capítulo final. 
A narrativa de “fim de um tempo” parece ter contribuído para que o filme Let it Be desaparecesse, até mesmo do mercado do DVD, como se o pressentimento do desenlace artístico que nele se expõe fosse mitologicamente intolerável. Seja como for, está prevista a sua reposição em paralelo com a estreia do filme de Jackson. Para já, em algumas lojas virtuais, embora mantido no catálogo, surge acompanhado por um esclarecimento bizarro: “Não sabemos quando, ou se, este item voltará a estar disponível.” 
Mesmo invisível, vale a pena lembrar que Let it Be possui a capacidade simbólica de condensar alegrias e dores de uma conjuntura que, de modo exemplar, foi apropriada pelo cinema, ou melhor, também vivida através dos filmes. Igualmente emblemático dessa dinâmica é outro título estreado no mesmo ano, há precisamente meio século: Gimme Shelter, lançado a 6 de dezembro de 1970. 
Trata-se de um momento fundamental na obra documental dos irmãos Albert e David Maysles, neste caso associados a Charlotte Zwerin. O título provém da canção dos Rolling Stones que serve de abertura ao álbum Let it Bleed (1969), mas o contexto é totalmente diferente daquele que gerou o filme dos Beatles: este é o registo do lendário e trágico concerto de Altamont, na Califórnia, realizado a 6 de dezembro de 1969 (um ano antes, portanto, do lançamento do filme dos Maysles). 
Musicalmente exuberante, o evento ficou marcado por diversos episódios de violência. Num deles, junto ao palco, envolvendo elementos dos Hells Angels encarregados da “segurança” do concerto, morreu Meredith Curly Hunter, jovem afro-americano que completara 18 anos há pouco mais de um mês. Numa das sequências mais perturbantes de Gimme Shelter, vemos os elementos dos Rolling Stones a assistir pela primeira vez às imagens registadas pelos Maysles, silenciosos e estupefactos perante a confusão que, em boa verdade, na altura, não conseguiram decifrar [video]. São momentos reveladores de um poder cinematográfico cuja pertinência não se perdeu: não a produção de manchetes sensacionalistas para usar e deitar fora, antes a contemplação de uma realidade irrecusável. Para muitos, os anos 60 acabaram aí — no calendário e na mitologia. 

terça-feira, dezembro 22, 2020

"Get Back" — à espera do filme

Foi assim há 50 anos (um pouco mais...). Agora, Get Back é também o título de um filme que Peter Jackson está a montar a partir de mais de 50 horas inéditas de filmagens dos Beatles, em grande parte ligadas a Let it Be (1970), o documentário de Michael Lyndsay-Hogg rodado durante as gravações do álbum homónimo. Atrasado por causa da pandemia, o projecto deverá chegar ao público em 2021 — para já, Jackson partilha algumas imagens preciosas. 

sexta-feira, novembro 27, 2020

Paul McCartney
— o passado e o presente

Enquanto aguardamos McCartney III, eis a apresentação oficial daquele que será o 18º álbum de estúdio de Paul McCartney. E como a promoção inclui algumas imagens da família de Paul e Linda McCartney que remetem para a época do prodigioso Ram (1971), aqui fica também o teledisco de um dos seus temas, Monkberry Moon Delight



quinta-feira, julho 23, 2020

Beatles, contracultura & cinema

Pouco tempo antes da ruptura:
Ringo Starr, Paul McCartney, George Harrison e John Lennon (e também Yoko Ono)
no estúdio de gravação de Let it Be
As memórias cinematográficas de Let it Be, o álbum final dos Beatles, vão ser revisitadas pelo realizador Peter Jackson: será o reencontro com um tempo em que os filmes e a música rock mantinham uma riquíssima relação criativa — este texto foi publicado no Diário de Notícias (18 Julho).

Correm mundo as notícias sobre o adiamento das estreias das grandes produções norte-americanas que estavam agendadas para esta temporada de Verão. E compreende-se que assim seja: está em jogo toda uma temporada de distribuição/exibição.
Podemos (e creio que devemos) repensar, de forma crítica e construtiva, o estado das coisas nos mercados cinematográficos. Seja como for, não será possível satisfazer tal desígnio sem reconhecer que a globalização gerou uma interdependência perversa: a rentabilização dos maiores investimentos dos estúdios dos EUA tornou-se indissociável dos países estrangeiros; o que quer dizer também, de acordo com as regras vigentes, que a maior parte das salas desses países necessitam dos títulos americanos para garantir a sua sobrevivência.
Vasta e complexa questão, sem dúvida, que vale a pena observar e continuar a discutir. Em todo o caso, podemos também lembrar que não foram apenas os chamados “blockbusters” (incluindo a nova realização de Christopher Nolan: Tenet) a serem atingidos pela reconversão dos calendários de distribuição imposta pela pandemia. Um dos exemplos a reter será The Beatles: Get Back, o documentário sobre as gravações do álbum Let it Be, dos Beatles, refeito por Peter Jackson — inicialmente marcada para 4 de Setembro, a sua estreia foi transferida para 27 de Agosto de 2021.
Documentário refeito? Enfim, é uma forma de dizer. O que sabemos é que Jackson, por certo bem distante da lógica criativa e industrial que o levou a produzir e realizar a trilogia de O Senhor dos Anéis (2001-2003), fez um trabalho que será uma espécie de versão alargada de um outro filme que se chama, justamente, Let it Be, realizado por Michael Lindsay-Hogg e lançado na maior parte dos países europeus há precisamente meio século, no Verão de 1970. Aliás, está prevista a sua reposição, em cópia restaurada, a par do lançamento de The Beatles: Get Back.
Obviamente, Let it Be, o filme, ficou indissociavelmente ligado ao luto pelo fim dos Beatles, vivido na avalanche do ano de 1970: o lançamento de Let it Be, o álbum, a estreia do filme e o aparecimento do primeiro álbum a solo de Paul McCartney (aliás, repetindo um “desvio” já consumado pelos outros elementos da banda), tudo isso aconteceu no espaço de poucas semanas. O filme foi mesmo encarado por muitos, e antes do mais pelos próprios Beatles, como o registo incómodo de uma separação.
Convenhamos que tal visão é discutível, não só pelo carinho com que Michael Lindsay-Hogg filma o quarteto, mas também porque o filme inclui o célebre mini-concerto no telhado dos estúdios Apple, numa tarde fria de Janeiro de 1969. O certo é que, com o passar dos anos (em que Let it Be nem sequer teve direito a uma edição em DVD), os sobreviventes dos Beatles foram encarando a hipótese de fazer alguma coisa com o material filmado que não foi utilizado. Na prática, garantem as notícias, são 55 horas de película (além de 140 horas de audio) que Jackson teve à sua disposição.
O regresso a Let it Be, através de The Beatles: Get Back, será uma revisitação de um tempo em que o cinema, e não a televisão (faltava mais de uma década para nascer a MTV), mantinha uma relação forte com o universo do rock. Basta lembrar que 1970 foi também o ano de dois marcos dessa relação. O primeiro, Woodstock, de Michael Wadleigh, já teve a sua efeméride. O outro, Gimme Shelter, tem assinatura dos irmãos Albert e David Maysles, em colaboração com Charlotte Zwerin, e regista a digressão americana dos Rolling Stones em 1969, culminando no célebre e trágico concerto de Altamonte.
São referências cinematográficas que participam desse imenso movimento da década de 60, recheado de energias contraditórias, que entrou para a história como “contracultura”. E se é verdade que as suas singularidades não admitem qualquer paralelismo automático com dados do nosso presente, não é menos verdade que estes são filmes capazes de nos ajudar a reflectir sobre um tema fascinante. A saber: as potencialidades de relação entre o cinema e as convulsões da música popular.

segunda-feira, abril 13, 2020

50 anos depois do fim dos Beatles
— memórias e nostalgia

Foi a 10 de Abril de 1970 que o mundo ficou a saber que não haveria mais nenhum álbum editado pelos quatro de Liverpool: meio século depois, as memórias cruzam-se com a possibilidade de voltarmos a poder ver o filme sobre as gravações de Let it Be, o disco final — este texto foi publicado no Diário de Notícias (10 Abril).

Acertemos o calendário: os Beatles acabaram há 50 anos. E se há assunto em relação ao qual podemos e devemos aceitar as dores da nostalgia, esse assunto é os Beatles.
Afinal de contas, nos pátios de liceus e escolas secundárias, mas sobretudo através dos fundamentais gira-discos caseiros, o ano de 1970 foi vivido como uma longa e amarga viagem de decomposição do quarteto de Liverpool, repartida por episódios paradoxais, entre as ilusões da adivinhação e a contundência dos factos. Se necessitamos de uma espécie de ponto de fuga emocional para que a história faça algum sentido (se é que continuamos a acreditar que há um sentido para a história…), encontramo-lo no dia 10 de abril desse ano. Paul McCartney respondia a uma dúvida que pairava como um assombramento: “Consegue antecipar um tempo em que a dupla Lennon-McCartney volte a funcionar como uma aliança activa na composição de canções?” Desafiando os oráculos da música e da mitologia, McCartney respondeu em tom de cruel minimalismo: “Não”.
Meio século depois, sabemos também que nada mudou. Que é como quem diz: o património musical legado pela genial aliança de John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr persiste como um dos mais belos capítulos da história da música popular do século XX, mesmo se não podemos deixar de revisitar, em tom de resgate afectivo, as convulsões desse ano de 1970.
A resposta negativa de McCartney entrou para a história como o fim oficial dos Beatles (e, na prática, como tal funcionou), mas nem sequer foi dada numa intervenção pública em que se abordasse tal possibilidade. Em boa verdade, tratou-se daquilo que o marketing costuma chamar uma “auto-entrevista”: McCartney pediu a Peter Brown, da editora Apple, que lhe preparasse um questionário, não exactamente sobre o futuro dos Beatles, antes para divulgar o seu primeiro álbum a solo, intitulado McCartney. O seu lançamento estava marcado para uma semana mais tarde, 17 de abril — e assim aconteceu.
Na prática, a aventura discográfica de McCartney sem os outros Beatles estava longe de ser um acto isolado. Em finais de 1968, Lennon já lançara Unfinished Music No. 1: Two Virgins, o seu primeiro registo experimental com Yoko Ono, seguindo-se Unfinished Music No. 2: Life with the Lions e Wedding Album, ambos em 1969. Harrison também assinara dois álbuns a solo: Wonderwall Music (1968) e Electronic Sound (1969), enquanto Ringo, cerca de duas semanas antes do “anúncio” de McCartney, se estreara com Sentimental Journey. Isto sem esquecer que, em finais de 1970, Harrison e Lennon editariam ainda, respectivamente, All Things Must Pass e John Lennon/Plastic Ono Band, obras decisivas na sua afirmação independente.
Convenhamos que já andávamos todos inquietos com a energia criativa dos Beatles — sendo, neste caso, a inquietação um sinónimo de redobrado fascínio. O lendário “Álbum Branco”, lançado em finais de 1968, impôs-se como esplendorosa expressão de tal conjuntura artística e mitológica. Com um primeiro paradoxo que, também ele, ficou para a história: a designação “Álbum Branco” resultou tão só da austeridade da sua capa, de uniforme branco leitoso, mas o seu verdadeiro título era… The Beatles.
Como vivia, então, o quarteto? Em ambiente de muitos conflitos, explícitos ou latentes, contaminados por dois peculiares eventos: primeiro, a agitada e, em muitos aspectos, frustrante viagem à Índia para conhecerem um santuário de meditação transcendental; depois, o crescente envolvimento de Yoko Ono na vida e na obra de Lennon (casaram-se em 1969).
O “Álbum Branco” é um duplo LP nascido de tal ambiente. Nele encontramos uma incrível colecção de disparidades, da alegria pop de Ob-La-Di, Ob-La-Da ao intimismo de While My Guitar Gently Weeps, passando pelo experimentalismo de Revolution 1 e Revolution 9 [video]. Mais tarde, Lennon diria mesmo que “não há música dos Beatles” no álbum, já que cada canção foi surgindo como uma criação “individual”, segundo a fórmula: “John e a banda, Paul e a banda, George e a banda” (Ringo terá sido o mais ausente).


Este estado de coisas reflectiu-se, inevitavelmente, nos dois álbuns finais dos Beatles: Abbey Road e Let it Be. De tal modo que a sua chegada às lojas não correspondeu à agenda de gravação da maior parte das suas canções: o primeiro surgira a 26 de setembro de 1969; Let it Be, quase todo registado antes de Abbey Road, passou por um atribulado período de misturas e remisturas, com intervenção do produtor americano Phil Spector (suscitando o veemente desagrado de McCartney), e foi posto à venda a 8 de maio de 1970 — um mês antes, McCartney tinha-nos feito saber que aquela banda já não existia…
Let it Be esteve para se chamar Get Back, a canção editada como primeiro single do álbum [video], posto à venda a 11 de abril de 1969 — chegou mesmo a existir um projecto de capa como Get Back, mas com o envolvimento de Spector prevaleceu a designação Let it Be. O derradeiro single dos Beatles, lançado a 11 de maio, seria The Long and Winding Road, título que adquiriu a inesperada força de um encerramento simbólico (à letra: “A estrada longa e sinuosa”).
O certo é que o capítulo final da discografia dos Beatles nascera pontuado por uma ideia de renovação e relançamento, isto é, pela possibilidade de a banda regressar aos concertos ao vivo. A sua derradeira actuação pública ocorrera nos EUA, a 29 de agosto de 1966, no estádio de Candlestick Park, em São Francisco. McCartney, em particular, mostrava-se seriamente empenhado em tal possibilidade — rezam as crónicas que os outros três, sobretudo Harrison, estavam longe de partilhar o seu entusiasmo.
Ironicamente, Let it Be ficaria associado ao mais peculiar concerto de toda a história dos Beatles, uma performance francamente atípica, cuja sedução a passagem do tempo apenas reforçou. Acabou por ser uma maneira de resolver as desencontradas opiniões sobre um possível local para o reaparecimento do grupo ao vivo: aconteceu a 30 de janeiro de 1969, no telhado dos estúdios Apple, em Londres, com o quarteto a ser acompanhado nas teclas por Billy Preston, que já participara nas gravações em estúdio.
Foi um agitado princípio de tarde, marcado pela atmosfera invernosa e , a certa altura, o aparecimento de elementos da central de polícia de West Wend, alertada pela multidão que começava a formar-se em frente ao nº 3 da Savile Row. Os Beatles interpretaram nove temas, incluindo cinco versões de Get Back; as “takes” de I’ve Got a Feeling, One After 909 e Dig a Pony foram mesmo escolhidas para integrar o alinhamento final do álbum [video: Don't Let me Down].


Para a história, o concerto no telhado da Apple ficou registado em filme pelo americano Michael Lyndsay-Hogg, ele que era já um especialista de performances musicais, tendo gravado vários pequenos filmes (a noção de “teledisco” só surgiria no começo da década de 80, com a MTV) para canções dos Beatles e Rolling Stones. Lyndsay-Hogg tinha por missão acompanhar com as suas câmaras as gravações do álbum — o que aconteceu, desde logo, nas sessões nos estúdios (cinematográficos) de Twickenham —, visando a elaboração de uma longa-metragem destinada às salas escuras. Do seu trabalho nasceu o filme Let it Be, lançado no Reino Unido a 20 de maio de 1970 (entre nós exibido com um título bizarro: Improviso).
Se Let it Be, o álbum, veio a adquirir o peso simbólico de um involuntário testamento, Let it Be, o filme, possui o ambivalente fascínio de um genuíno documento sobre o trabalho musical: por um lado, nele descobrimos as canções em estado nascente, incluindo uma tocante “take” de Let it Be (não usada no álbum), interpretada por um admirável Paul McCartney, ao piano, em pose de transparente tristeza; por outro lado, pelos olhares e gestos, mesmo nos momentos de maior harmonia musical, circulam sinais dispersos das clivagens interiores que o futuro próximo iria confirmar.
Let it Be é um dos títulos mais esquecidos da filmografia dos Beatles (há muito desaparecido dos circuitos de difusão), eles que inventaram o seu próprio modelo de musical cinematográfico, graças à direcção do magnífico Richard Lester nas longas-metragens A Hard Day’s Night (1964) e Help! (1965). A boa notícia é que Let it Be deverá reaparecer em paralelo com um outro filme dirigido por Peter Jackson. O novo projecto, intitulado The Beatles: Get Back, será construído a partir das gravações do álbum, ou seja, nada mais nada menos que 55 horas de material filmado por Lyndsay-Hogg e mais de 140 horas de audio.
O projecto envolve a reposição de Let it Be, em cópia restaurada, logo a após a estreia de The Beatles: Get Back, prevista para 4 de setembro. Será que a situação de pandemia, que tem afectado todos os domínios da actividade cinematográfica, vai permitir cumprir tal calendário? Ninguém sabe… De uma maneira ou de outra, são intensas e indeléveis as memórias dessa época em que ficámos a saber que já não poderíamos comprar um novo disco dos Beatles. Resta-nos esperar, pacientemente. Ou, como se canta em Let it Be, “sussurrar palavras de sabedoria”.

>>> Let it Be (remasterização de 2009).


>>> Paul McCartney com James Corden (Junho 2018).


>>> Os Beatles na Enciclopédia Britânica.