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quinta-feira, 7 de setembro de 2023

Apocalypse é diferente dos dois primeiros discos, mas é emocional, poderoso e progressivo.

Mahavishnu Orchestra - Apocalypse  (1974)

John McLaughlin e a sua Mahavishnu Orchestra atingiram um sucesso impressionante após lançarem em um período de dois anos duas obras-primas, The Inner Mountain Flame e Birds Of Fire, trazendo nelas toda a destreza do rock progressivo junto das progressões multicoloridas dos acordes do jazz, folk cigano e música clássica indiana com um toque de funk e psicodelia. Podemos dizer que aquela formação dos sonhos que contava além de McLaughlin, com Jerry Goodman, Jan Hammer, Billy Cobham e Rick Laird foi surpreendida pelo excesso de sucesso, pois até mesmo para aquela época, eles achavam seus discos complexos e intrincados demais para figurar, por exemplo, em um lugar tão alto da Billboard. Com isso, mais a intensidade da turnê, pressão da fama e as disputas internas, acabou fazendo com que a banda se separasse antes que um terceiro álbum já planejado pudesse ter virado realidade.  

Para ouvir algo novo com essa formação, a público iria ter que esperar mais de duas décadas, pois a banda lançaria só no ano de 1999 seu The Lost Trident Sessions, material gravado em estúdio do mesmo nome em Londres entre os dias 25 a 29 de Junho, para o terceiro álbum que a banda lançaria, porém, essas fitas ficaram “perdidas” até 1998. Mas John McLaughlin, mesmo estando sozinho, não só não colocou fim na Mahavishnu Orchestra, como teve que reinventar o projeto com uma formação completamente nova que contava com Gayle Moran no teclado e vocais, Jean-Luc Ponty no violino, Ralphe Armstrong no baixo e vocais, além de Michael Walden na bateria, percussão e vocais. Após a nova formação se consolidar, McLaughlin decidiu que o estilo central da banda ia ser mantido, mas também tinha algo mais ambicioso para ser entregue, assumindo em Apocalypse a sonoridade jazz-rock usual dos discos anteriores, só que também adicionando elementos de progressivo sinfônico e uma participação especial da Orquestra Sinfônica de Londres, com Michael Tilson Thomas como maestro. 

“Power Of Love” dá início ao disco de uma forma bastante suave, mostrando um arranjo orquestral encantador liderado pelo violão lento e doce de McLaughlin. Achei essa uma belíssima peça de introdução. “Vision is a Naked Sword” é o tipo de música que segue a “regra”, onde cada um dos membros possui o seu próprio turno. Começa com um trabalho orquestral poderoso, mas que logo sai de cena para dar lugar para a banda entrar e fazer o que eles fazem de melhor, ou seja, tocar um jazz-rock da melhor qualidade. Já nessa faixa, a banda resume muito bem o que essa formação foi capaz de produzir. Jean-Luc Ponty, com o seu violino elétrico sob a orquestra é brilhante, enquanto a guitarra de John fica por cima. Michael Walden é um baterista muito técnico e imprevisível, sendo exatamente esse tipo de bateria que ele entrega aqui, Ralph possui umas linhas de baixo muito interessantes e Gayle ataca com alguns teclados jazzísticos típicos. John, com um wah-wah, ataca o ouvinte com um solo frenético e maravilhoso. Tudo vai sempre acontecendo com a Orquestra Sinfônica desempenhando o papel de tocar o tema central de uma forma cheia de vigor.  

“Smile Of The Beyond” começa bastante doce, assim como já havia ocorrido com “Power of Love”, com um trabalho suave de orquestra ao fundo, dessa vez, acrescentando os vocais adoráveis de Gayle Moran. Quando a música passa dos quatro minutos, a atmosfera onírica dá lugar a um festival de jazz-rock extremamente estimulante com McLaughlin e Ponty assumindo a liderança com alguns solos de tirar o fôlego. A música então entra novamente em um túnel de sonoridade introspectiva até chegar ao fim.  

“Wings Of Karma” mantem o disco na mesma linha, tendo sua parte introdutória feita pela Orquestra Sinfônica, enquanto que a principal atração fica por conta dos instrumentistas que entram na peça após o segundo minuto. Essa partitura sinfônica belíssima dá lugar a uma sensação jazzística com a guitarra e o violino fornecendo as principais melodias. McLaughlin e Ponty passeiam de maneira incrível sobre a orquestra enquanto desempenham com grande frenesi suas funções. A linha sinfônica de abertura então regressa e permanece até tudo chegar ao fim.  

“Hymn To Him”, com mais de dezenove minutos, é a faixa mais longa do disco, sendo também a que o encerra. Se o que você procura é uma peça que mistura música clássica, jazz e rock de uma extraordinariamente bem e original, então esse é o lugar certo. A sinfonia fornece um fundo fácil de ouvir, enquanto o violão e o violino adicionam notas floridas que sobem e descem. A orquestra começa a tocar um tema que vai crescendo até que McLaughlin vai soltando suas primeiras notas de guitarra, entregando a sua intensidade característica. “Hymn to Him” tem de tudo, além de seções incríveis de jazz e seções orquestrais magníficas, também tem um duelo alucinante entre McLaughlin e Ponty, linhas de baixo junto da bateria cheia de tecnicidade que criam uma seção rítmica impecável e invertidas certeiras de teclado. Pouco antes dos quinze minutos, a orquestra ataca a música com toda a força, criando um fina apoteótico para o disco.

No fim das contas, Apocalypse acaba sendo uma verdadeira erupção de musicalidade muito excitante. Mas é bom deixar claro, você precisa ser do tipo de ouvinte que não tem problema com uma orquestra no meio da música, pois aqui, ela tem um papel principal como tema e definidor de clima do álbum. Diferente dos dois primeiros discos, mas emocional, poderoso e progressivo

Contato: progrocksociety85@gmail.com


quarta-feira, 6 de setembro de 2023

Progressivo cheio de criatividade, diversão, emoção, complexidade e virtuosismo.

 Transatlantic - Bridge Across Forever (2001)

Não é exagero falar que boa parte dos supergrupos são espécies de farsas bem intencionadas, afinal, não são muitos que realmente conseguem criar algo duradouro, mas quando ouvi pela primeira vez que Mike Portnoy, Neal Morse, Roine Stoit e Pete Trewavas haviam se juntado para criar um novo projeto, na minha cabeça não havia probabilidade alguma de isso dar errado. Eles não soam exatamente como quatro “super” indivíduos, em vez disso, o espírito generalizado de colaboração de todos por um é uma das qualidades mais atraentes da banda. Bridge Across Forever é o segundo, e pra mim, o melhor disco da banda até o momento em que escrevo essa resenha. Ao escutá-lo, fica-se a sensação de que havia um forte senso de profissionalismo, confiança e admiração mútua mantendo-os focados no trabalho em mão.

Existe algo em gravações progressivas modernas que eu já percebi incomodar um pouco aqueles mais saudosistas, que são faixas excessivamente longas, onde elas parecem soar forçadas e muito gordurosas, podendo ter muito mais minutos do que parece necessário por quem às ouvem. Mas aqui, este tipo de problema não existe e a banda consegue manter facilmente o interesse do ouvinte durante os seus cerca de setenta minutos. Qual a explicação disso? Simples, a banda sabe muito bem como acrescentar melodias memoráveis em suas músicas. Cada uma das seções durante todo o álbum consegue ter melodias cativantes e que ficam presas facilmente de maneira agradável na cabeça do ouvinte. 

“Duel with the Devil” é por onde o álbum começa, por meio de um épico maravilhoso e que passa por vários movimentos. Começa com uma abertura sinfônica de cordas – e que mais tarde será revisitada. Em seguida, o piano emerge e toda a banda entra em ação para compor uma introdução impressionante e de tirar o fôlego. O primeiro momento onde aparecem os vocais, percebemos claramente um estilo clássico de Neal Morse em uma seção cheia de linhas dramáticas. Isso então passa para uma seção onde os vocais são liderados por Roine Stoit. A partir disso, a música se move entre seções de um rock mais pesado e outras que possuem algumas pinceladas até mesmo jazzísticas que são muito legais. Isso tudo leva a música para o seu grande final, onde Morse canta muito emocionalmente, enquanto Stoit faz um solo que chega a causar arrepios. Músicas assim nos mostram o porquê não ficar preso ao passado quando falamos de rock progressivo, pois ela apresenta o melhor que o gênero pode oferecer. 

“Suite Charlotte Pike” é aquele momento que a banda parece estar se divertindo e tocando despretensiosamente. É uma faixa que é bastante inspirada pelos Beatles – tanto que em alguns shows a banda costuma incluir partes do Abbey Road dentro dela. Esta faixa passa por várias seções que conseguem ser igualmente divertidas, pois a banda toca bem dentro do estilo de uma de suas grandes influências. Aquele tipo de música que flui muito bem, além de ser deliciosa de se ouvir. 

“Bridge Across Forever” é a faixa título, e curiosamente, a mais curta e também a menos progressiva de todo o álbum. Porém, isso não significa em momento algum que não seja igualmente maravilhosa. É uma balada brilhante que consegue tocar e conectar emocionalmente de forma fácil qualquer ouvinte que se deixe levar por ela. É basicamente um piano e voz de Neal Morse, mas uma ótima pausa entre todas as faixas épicas.

“Stranger in Your Soul” é em minha opinião, a melhor música já composta pela banda entre todas do seu rico catálogo. Ela possui simplesmente tudo aquilo que eu gosto em um épico progressivo. Começa com a mesma melodia de “Duel with the Devil” antes que a bateria e baixo passem a emergir, fazendo com que a adrenalina aumente. A música sempre passa muito bem de seções pesadas para baladas emocionantes nunca perdendo a sua coerência. Não sei exatamente se estou certo, mas essa música é uma metáfora para a vida e o que nós, como humanos passamos em nossas vidas. Nascemos como estranhos e passamos a vida tentando descobrir quem nós somos. Tentamos descobrir isso olhando para o nosso passado e nos apegando a coisas que não têm nenhum valor. Essa busca para encontrar nosso verdadeiro eu é o que nos move e pode, em última instância, nos levar a despertar aquele estranho em nossa alma, para descobrir quem realmente nós somos e qual é o nosso potencial.  Não há como negar que a banda realmente conquistou algo aqui por meio de ótimas melodias, muito rock, arranjos absolutamente lindos, vocais compartilhados e um impacto duradouro no ouvinte. Mas o que eu realmente considero o momento que torna essa música a minha favorita, é o clímax final, sem dúvida, um dos finais musicais mais bonitos e apoteóticos que eu conheço.

Este é daqueles álbuns que eu recomendo para qualquer um que seja fã de rock progressivo, pois ele possui exatamente tudo que supre as necessidades de um ouvinte do gênero por mais exigente que seja. Tem tudo o que você poderia imaginar, ou seja, criatividade, diversão, emoção, complexidade e virtuosismo. Eu fico simplesmente maravilhado cada vez que escuto este disco e nunca me canso dele, o que pra mim, é a verdadeira marca do que podemos chamar de obra-prima

Contato: progrocksociety85@gmail.com


Em Rajaz a raiz progressiva do grupo está em extrema evidência, mostrando um trabalho criativo, inspirado e uma banda em sua melhor forma no período pós 70's.

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