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quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Uma jornada musical colossal, além de ambiciosa e de extrema riqueza, sendo executada com excelência do começo ao fim.

Los Canarios - Ciclos (1974)

Inspirados nas Quatro Estações de Vivaldi, Los Canarios traduz o ciclo verão-outono-inverno-primavera para a vida humana. Ópera, fusion, progressivo, e claro, alguns ritmos latinos que não podem faltar, se misturam para entregar para o ouvinte uma peça poderosa, com arranjos que fazem o ouvinte imaginar alguma ópera-rock protagonizada por muitos personagens, como, deuses, Mãe Terra, androids entre outros. É nítido que mais do que um cover ou homenagem à Vivaldi, a banda quis produzir um remake com grande ênfase em maravilhosos arranjos de teclados e guitarras surpreendentes.  

Considerar Ciclos o auge absoluto do progressivo espanhol não é nenhum devaneio, muito pelo contrário. Assim como a obra do compositor clássico italiano, a banda espanhola também dividiu em quatro longas partes – entorno ou acima da marca de 17 minutos - cada uma das estações. Ciclos é uma interpretação solta da magnum opus de Vivaldi que utiliza aspectos familiares e depois improvisa novas avenidas criativas dentro de uma estrada progressiva sinfônica, distribuindo assim todo o potencial do mellotron, vibrafones, guitarras elétricas, um coro clássico completo e muito mais.  

Por mais que o disco possa ser visto “apenas” como uma mera adaptação sinfônica progressiva do músico barroco, Ciclos pode ser visto também por meio de uma ótica mais complexa, que utiliza Vivaldi muito mais como uma tela solta sobre a qual pinta um enredo bastante nebuloso que retrata a história da humanidade desde o big bang, quase que principalmente em forma instrumental, com vocais que adicionam apenas mais textura à paisagem sonora. A diversidade da música é enorme, pois atravessa não apenas o barroco clássico e o rock progressivo sinfônico, mas também o jazz, o soul, o folk tradicional e o rock mais cru, porém, nunca se perdendo, se mantendo sempre coesa. O papel principal no geral fica por conta dos teclados, que desenvolvem um protagonismo em relação ao campo melódico do disco, trazendo à tona uma sensação de Emerson, Lake & Palmer. Alguns sons suplementares são extremamente ricos e permitem que Ciclos exista em um mundo próprio.  

Esse disco costuma dividir as pessoas em dois grupos, onde de um lado temos aqueles que o apontam como uma verdadeira obra-prima, enquanto que do outro temos os que o acham uma obra pretensiosa e arrogante, devo admitir que embora eu me veja mais no primeiro grupo, consigo entender aqueles que se encontram no segundo. Eu entendo, mas não concordo, pois vejo Ciclos como uma jornada musical colossal, além de ambiciosa e de extrema riqueza, sendo executada com excelência do começo ao fim, elevando o nome da banda a um nível completamente novo em termos de complexidade musical.  

Assim como grandes álbuns de magnitude impressionante, estamos diante de um registro que precisa ser degustado por um bom período de tempo para que realmente seja compreendido tudo o que acontece. Mesmo que algumas partes do disco não funcionem tão bem quanto outras, é impossível deixar de amar esse disco do começo ao fim, com a sua sonoridade única e bombástica vindo de um dos cantos muitas vezes esquecido dentro da cena da música progressiva europeia. Se você quer conhecer um dos gigantes musicais dá época, Ciclos jamais deve ser ignorado, pois ele colocou com muito louvor, uma Espanha – naquela época, bastante atrasada – dentro do mapa da música progressiva. Não tem como falar sobre cada uma das faixas separadamente, apenas o ponha para tocar e se deixe levar pelos seus pouco mais de setenta e três minutos de uma verdadeira massagem sonora das mais relaxantes e satisfatórias possíveis.


Contato: progrocksociety85@gmail.com


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