YNH – Cap 06 – Black Scorpios (Part 02)

O mundo é algo vasto.

Vasto demais para a compreensão de todos.

 

Eu vou conseguir Princesa.

Eu vou conseguir.

 

Espere por mim, só mais um pouco.

 

            — Vocês ouviram?

            — O que houve?

            — A Princesa Stevani… Aprisionada novamente.

            — Oh não…!

            — Ah, mas ela bem que merecia, por não ter se casado com o Shimamura… Não acham não? Ela resolveu se casar com um… gaijin.

            — Um gaijin que a enche de mimos comparado com um plantador de arroz que sonha em ser samurai. É lógico que ela ia escolher o gaijin.

            — Nunca pensei que ela fosse tão fútil… E de pensar que ela é a herdeira do feudo de Himeji…

Katsumi passeava por ali quando ouviu a conversa, e aproximou-se:

            — Com licença… Mas… Não pude deixar de ouvir a conversa das senhoras…

            — Ah, Não é nada de importante, Hime-sama. Estávamos apenas fofocando sobre a Stevani-hime.

            — Stevani-hime?

            — Sim, ela foi levada ontem da loja de flores… Parece que ela só foi porque o mordomo estava sendo ameaçado de morte! Imagine!! Agora ela está tendo um caso com o mordomo da casa!

            — Que ultraje…

            — Ah… Entendo.. – Sorriso – Bom, eu preciso ir senhoras… Desculpem-me incomodar… ^^

            — Não foi nada Hime-sama… Por favor, cuide-se.

            — Ah, obrigada, que os Deuses lhe ouçam. ^^

Ao se afastar, Katsumi caminha a passos rápidos para a floricultura. Souji estava varrendo a frente e distribuindo sorrisos para quem passava.

            — Souji-kun~~!!

            — Ah? Katsumi-san! – Sorriso de príncipe – Bom dia!

            — Ahn… e… Bom… Bom dia…. – corando muito – Ah!! Não, eu preciso falar com o senhor!! É muito importante!!!

            — Hm? Do que se trata?

            — Ano… Podemos conversar lá dentro? É sobre a Hime…

            — Ah? ah sim, claro, venha, eu tenho uns espécimes aqui dentro que podem ser o que você procura…

Souji a leva para dentro da casa, onde a Companhia Masquerade está de papo para o ar, afiando e polindo suas armas…

            — Ah? Dae coelhinha ^^

            — Ahn… o… olá…

            — Souji, que é isso?? Já tá trazendo a moça pra dentro de casa?

            — Ah, bem… é que ela tem algo a falar sobre a Hime…

            — Que é que deu??

            — O Stevani tá vendendo ela??

            — Não!!! – Vermelha até a ponta dos dedos do pé – É que… Eu ouvi umas senhoras falando que ela foi aprisionada novamente… 

            — Ah sim, ela foi levada ontem… Cara, aquele mordomo é muito inútil, Jesus Cristo! Agora a gente tem que tirar o Logan da cadeia pra que ele venha e complete o plano… ¬¬0 – Diz Mila, um pouco entediada.

            — Nem esquenta com o maninho, Domadora. – Diz Bryan, sempre de bom humor. – Tenho certeza que o Valete não vai deixar as coisas assim.

            — Valete?

            — Sim. O Valete. Que nem aquele do baralho, sabe? XD

            — Ah… De qualquer forma… Como vamos ajudar o Logan-sama??

            — Nem é tanto por isso. A pergunta é: Por que não podemos fazer as coisas sozinhos?? Por que sempre temos que esperar por ele?

            — Pois é… Por quê?

            — Porque ele…

Mas Bryan foi interrompido por um senhor cabisbaixo que entra na loja.

            — “Flores muito bonitas…”

            — “São as melhores da nossa loja.” – Responde Souji com um sorriso.

Depois que o senhor entra na casa e sobe para os quartos, todos esperam pelas instruções.

            — Lembrem-me de achar um disfarce melhor que este. – Tirando a maquilagem e arrumando-se. – Tenho informações. – Mostrando um pequeno pássaro de papel.

            — Logan!! – Mila levanta-se – Por que sempre temos que esperar por você??

            — Por quê…? Na verdade… Eu nunca disse que vocês precisavam esperar por mim, não é…?

            — … Então por que já não deu a ordem de ataque??

            — Porque… Não haveria porque acabar com ele agora.

            — Maldito…!!! Agora a princesa voltou para o cárcere!!! Tudo por culpa sua!! você a entregou quando se entregou à polícia!!

            — Um contratempo que não podia ser contornado… Nada que não possamos resolver. Tudo poderá ser resolvido esta noite ainda. – Entrega o pequeno pássaro para Mila. – Aprontem-se e preparem um belo espetáculo.

Mila desdobra o pássaro e vê uma nota promissória de um devedor à Stevani. Não há nada de mais naquela nota, pensam todos. Mas eis que Pami, a Dançarina, nota que há algo escrito no verso da nota, e é um endereço.

 

Horas mais tarde, Uma seda vermelha destacava-se com dificuldade entre tanto ouro e brilho… Mais uma festa enfadonha com pessoas ignorantes e tão tediosas… Realmente, Stevani tinha a quem puxar. Reiko sentia como se todas as pessoas horríveis do mundo tivessem se concentrado em uma família, e aquela família era a Hesselhoff. Os anfitriões Nikolas e Aurora Hesselhoff Van der Kitsch mereciam um premio por sua falsidade mal velada e seu mal gosto pela decoração da festa…

Stevani sentia-se a estrela da festa, contando aos que queriam ouvir sobre suas peripécias e aventuras (aumentadas e todas estreladas por ele, claro), enquanto Reiko passeava pela casa despreocupada, sendo o alvo de muitos e vários comentários maldosos… Ela sentia-se tão sozinha que achou que era uma ilusão quando viu uma linda gueisha a se aproximar…

            — ….Tenshi-sama…?

Os sussurros foram mais audíveis ainda, e um pigarro também. Estava na hora do recital de piano de Aurora. A moça tocava tão mal que eles acharam que quebrar o piano seria um bem à humanidade. Algumas pessoas tinham tiques nervosos ao ouvir a 9th symphony de Beethoven ser tão mal tocada… Quando a tortura acabou… Começou a valsa. Stevani tirou Reiko para dançar, e novamente, impressionou a todos com sua habilidade, mas a moça deixou a desejar. Ela não dançava bem, e com Stevani, fazia menos questão ainda de fazer melhor. Ele reclamou:

            — Pelo menos finja que está gostando.

            — Minha performance não está agradando?

            — Reiko, convenhamos… Eu sei que você não sabe fazer nada… Mas não me envergonhe. – Sibilou, ameaçadoramente.

            — Casou-se comigo porque achou que eu não sei ser uma dama?

            — Casei-me com você porque eu a amo.

            — Sabe o quanto isso é injusto?

            — Sei. Mas você precisa de mim Reiko. Sozinha você é um nada. Sozinha você não sabe fazer nada.

            — É mentira!!!

            — Olhe para você Reiko… Nem dançar você sabe. Você só sabe brincar com papéis. Qualquer pessoa pode fazer isso.

            — Mas… O Hiro-kun me disse que… As pessoas são assim… Elas… Elas precisam ser trabalhadas…

            — Se elas precisam ser trabalhadas, então você é um papel intocado não é mesmo Reiko…? Um papel tão bonito que as pessoas têm medo de dobrar e estragar. Então o deixam sem dobrar… O esquecem em cima do armário… E essa beleza é deixada para trás. Mas eu não quero deixar essa beleza para trás.

Ela soltou-o no meio da valsa e saiu correndo para o jardim. As pessoas notaram a ausência de Reiko, mas ela já havia corrido para longe.

Reiko correu para o jardim, que parecia uma densa floresta. Ela chorava, aquelas palavras doíam muito, e Stevani sabia que doíam… Por isso lhe jogava na cara… Ela sentiu um leve toque em seu ombro, e não acreditou em quem viu ao se virar… Os cabelos vermelhos que eram agraciados pelo sabor do vento… Os olhos vermelhos que lhe encaravam com certa piedade.

            — O que… Você… – Balbuciou ela.

            O que ele fez para você…?

            — Eu… Eu não agüento mais…

            Não sei até quando você poderá me

conceder tal graça, mas…

Por favor, agüente mais um pouco.

 Eu virei salvar você… Eu prometo.

            — Youkai-sama….

Nisso, ouviram-se passos. Stevani e guardas estavam à procura da Princesa. O Youkai havia desaparecido e Reiko recebeu um estralado tapa no rosto.

            — Nunca mais… Fuja desta maneira!!! Entendeu bem???

            — ….

            — Não precisa gritar, senhor… – As vozes…

            — Ela já entendeu bem o que quis dizer… – Que ela já havia ouvido…

            — O que??? Quem é?? Onde estão???

            — Ela já entendeu o que você quis dizer… – Um rapaz vestindo um smoking e usando uma máscara vitoriana pegou Reiko pela cintura e correu com ela pela floresta.

            — Kyaaaaaa!!!!

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YNH – Cap 06 – Black Scorpios (Part 01)

            — Ir com você?

            — Sim, Hime. Viajaremos para Hokkaido, para um lugar melhor do que aqui… Longe dessa sua realidade.

            — Longe… De todos?

            — Isso lhe incomoda, Hime?

            — Eu não gostaria de abandonar a Masquerade…

            — Faz-se necessário, Reiko. – Diz Logan. – Se continuar aqui em Kyoto, Stevani irá lhe aprisionar novamente.

            — Está bem… Eu irei… – Olhando para o sekirei que cantava a mesma triste melodia. – E você… irá comigo, não irá…?

O pequeno sekirei pulou do galho de árvore e pousou no indicador de Reiko. Tenshi sorriu e Logan também. O mundo na Masquerade era muito diferente de seu pequeno reino. Um mundo de sonhos e de esperanças. E na manhã que viria a seguir… Ela iria com Tenshi para Hokkaido, com seu pequeno sekirei, que ficava em seu ombro.

            — Oujou-sama… Não é melhor coloca-lo em uma gaiola?

            — Não Soujirou-san… Ele escolheu estar comigo, mas eu não quero prendê-lo a mim… Ele é livre para ir e vir… Quando ele desejar, ele pode ir embora, mas enquanto não… É bom que esteja comigo…

Souji sabia o quanto ela entendia dessa liberdade. Algo que para muitos parece tão supérfluo… Quanto o direito de ir e vir… Para aquela princesa lhe era negado. Quantas outras não viviam na mesma situação…?

            — Soujirou-san?

            — Ah… hai, Oujou-sama?

            — Parece que o sekirei gostou de você ^^

Ao perceber, o sekirei estava no ombro de Soujirou, encarando-o. Mas tão logo pousou no ombro do rapaz, saiu e voltou para o ombro de Reiko.

            — Oujou-sama, fique aqui dentro.

            — …? Por que?

            — Ele… Descobriu.

Stevani estava à frente da loja de flores, observando. Souji deixou a caixa de lado e assumiu pose de batalha.

            — Vai proteger a princesa proibida com seus dentes, cachorrinho?

            — Ela me disse… O quanto você é insuportável. Deve ser mesmo.

            — Então ela resolveu chorar as pitangas para você…? Que gesto fútil. Reiko, eu sou seu único porto seguro. Ou você acha mesmo que eles estão protegendo você? Todos eles só querem o mesmo que eu… O seu amor.

            — Não é verdade!!!

            — Oujou-sama!

            — Condessa!!! – Kobayashi a chama. Estava rendido pela polícia e várias armas apontadas para ele. – Está bem?? Não está ferida??

            — Hiro-kun!!! Solte o Hiro-kun, maldito!!!

            — Ele está assim porque não obedeceu à minha ordem de cuidar de você. Ele permitiu que você fugisse e ele não foi atrás de você.

            — …. Quando este deveria ser o seu papel, Stevani.

            — Logan-sama…!

            — Assuma seu posto. Uma vez que ele descobriu que sua princesa está conosco, não podemos fazer muito. Reiko… Agüente mais um pouco. Eu sempre estarei com você.

 

“As mesmas palavras… As mesmas palavras dele…”.

 

            — E então Reiko…? Vamos? – Oferecendo-lhe a mão.

            — Stevani… Solte o Hiro-kun…

            — Então se importa mesmo com o proletário? Ótimo, eu o soltarei, mas em troca… Você tem que me prometer que não vai mais fugir…

            — Dou-lhe minha palavra.

            — É tudo o que eu queria ouvir. – Sorriso triunfante. – Soltem no. Agora já sabem quem é o verdadeiro culpado. Prendam esse desgraçado do Stephens!!!!

            — Condessa… Está mesmo bem…?

            — Sim Hiro-kun… Estou bem… Obrigada por se preocupar…

Os policiais agem rápido e algemam Logan, que não reage. Ao passar perto de Kobayashi, murmura:

            — “Agiu bem, valete. Estarei esperando para ver seu próximo ato.”.

            — “Eu sinto muito… Mas não sei do que está falando.”. – Diz, cabisbaixo.

Os policiais levam Logan para a charrete, e Soujirou somente assiste a tudo, atônito. Alguém havia vazado a informação para Stevani. Mas quem poderia ser? Tão logo Reiko é levada para seu reino; a rua volta ao seu movimento normal. E, aparentemente, o ambiente da Masquerade também volta ao normal, exceto por Souji:

            — E o que fazemos parados aqui ainda??? Temos que ajudar o Logan-sama!

            — Ele já é grandinho, piá, nem esquenta.

            — Mas…

            — O Logan não é o líder dessa organização à toa, ok Souji? – Diz Bryan, num tom muito mais sério que o normal. – Agora sossega o facho aí.

 

Ao chegarem em casa, Stevani nota o pequeno pássaro no ombro de Reiko. Ele o espanta e diz:

            — Não traga essas coisas sujas para dentro de casa. Não se sabe o que esses bichos aí podem ter comido, ou por onde eles podem ter passado…

            — Sekirei…

            — Não importa o nome desse bicho. Fique aí e pense muito bem no que fez. – Joga-a dentro do quarto e a tranca lá.

Reiko ouve Stevani praguejar algo, e logo o pequeno sekirei está de volta à sua janela.

            — Oi amiguinho… – Sorriso. – Cante algo, por favor…

 

Enquanto esperavam o jantar ser servido, Reiko brincava com um pedaço de papel, fazendo um pássaro. Stevani lia o jornal, e achou uma graça a esposa dobrando o pedaço de papel… Se aquele não fosse uma nota promissória…

            — O QUE PENSA QUE ESTÁ FAZENDO??? – Tirando o papel da mão dela.

            — Origami…

            — ISSO É UMA NOTA PROMISSÓRIA! SEM ISSO EU NÃO POSSO COBRAR DINHEIRO DAQUELES QUE ME DEVEM!

            — Culpa sua que deixou isso aí jogado por aí… Se fosse um pouco mais organizado eu não teria dobrado…

            — Toma! – Dando-lhe um pedaço de rascunho – Brinca com isso.

            — Agora não quero mais.

Nisso, Kobayashi entrou na sala e anunciou o jantar. Stevani jogou o origami no lixo, afinal aquela nota não valia mais, não naquele estado. Ainda bem que havia cópias. Ela levou o papel rascunho para a mesa, e o deixou embaixo do prato. Enquanto Stevani se vangloriava de sua mais nova aquisição, Reiko brincava de distraidamente dobrar o pedaço de rascunho. Ao terminar o jantar, Reiko subiu para o quarto dela, e logicamente que Stevani não gostava disso, e todas as noites tentava dissuadi-la a vir para o quarto que ele havia preparado para o casal. No momento, ele a encurralava na porta:

            — Ah… Deixe-me em paz, Stevani…

            — Não até você vir comigo.

            — Eu não quero você.

            — Quer quem então?? Prefere o proletário ao invés de mim?? Como você é ingênua Reiko… Prefere a aquele pé-rapado a ficar comigo… Eu posso realizar seus sonhos. Eu posso lhe dar tudo o que quiser. Eu posso lhe dar uma vida estável.

            — Saia daqui Stevani. – Falou a menina em tom baixo – Eu não vou repetir.

            — Sabe… Talvez meus parentes tenham razão. – Abrindo a porta. – Talvez eu não tenha feito a melhor escolha me casando com uma pessoa inútil que finge saber de tudo… Mas no fim não sabe de nada.

Essas palavras feriram-na de forma pior do que um tapa no rosto ou um chute. Assim que ele saiu, Reiko trancou a porta, e sentou-se na cadeira com o rosto entre os joelhos.    

Nisso, Kobayashi arrumava a mesa lá embaixo e encontrou um lírio de papel ao lado do prato de Reiko. Tão delicado… Ele o guardou dentro do bolso, e deixou os pratos na cozinha. Disse:

            — As senhoras podem tratar disso daqui em diante?

            — Sim, Kobayashi-sama.

            — Bom, então eu vou levar o chá para a Condessa. Após terminarem de limpar a cozinha, estão dispensadas por hoje.

            Oyasuminasai, Kobayashi-sama.

            — Oyasuminasai.

Kobayashi leva a bandeja com o chá de flores e frutas silvestres que a mestra tanto gostava, talvez em mais uma tentativa de fazê-la feliz… Bateu à porta e Reiko o recepcionou de kimono. Pediu para ele deixar a bandeja na mesinha q ela tomaria depois. Ele viu um vaso vazio ao lado à cama, era o mesmo vaso que ela havia colocado as rosas champagne que havia ganhado da família Hesselhoff na noite anterior. As rosas murcharam na tarde seguinte.

            — O que foi Hiro-kun…?

            — As rosas que a senhora ganhou… Murcharam esta tarde.

            — Não tem problema… Se o presente é dado sem a intenção de fazer a pessoa feliz, então ele padecerá mais cedo que as demais.

            — Mas a senhora gosta de rosas.

            — É verdade… Mas já era de se esperar que eles não gostassem de mim Hiro-kun… Eu acredito que se eu tivesse mandado a Amélie no meu lugar, eles teriam adorado-a. Ela é uma linda bonequinha não é…?

            — Condessa…

            — Por mais que eu não goste deles… Fico triste em saber que eu não os agradei. Será que é a minha aparência…? Ou será que foi por que sou muito mirrada…? Talvez seja porque sou estabanada… Eu não sei fazer nada… Hiro-kun… Eu me sinto um nada…

            — Não se pode agradar a gregos e troianos, minha senhora. – Retirando o lírio do bolso – Mas saiba que… Assim como há aqueles que não a admiram… Há também aqueles que a admiram e muito… E lhe querem bem.

Kobayashi mostrou-lhe a pequena flor de papel. Ela pegou a peça delicada das mãos dele e disse:

            — Achei que… Você iria jogar fora… É só um pedaço de papel…

            — Somos todos assim no princípio. Meros pedaços de papel. Mas, a partir que somos envolvidos e tratados por mãos habilidosas, devagar vamos tomando forma. Pacientemente e passo a passo… Para no fim nos tornarmos essas lindas peças, assim como esta que você construiu.

Reiko estava com os olhos marejados, e olhava para aquele pequeno lírio sem conseguir manter as lágrimas. Kobayashi percebeu que ela chorava então lhe disse:

            — Nunca diga que é “um nada”… Se o fosse… Eu não estaria aqui… Aquelas crianças não haviam lhe seguido até aqui… Nem mesmo essa linda flor estaria aqui…

            — Hiro-kun… Você gosta de lírios…?

            — Eu adoro lírios… Principalmente lírios brancos.

Reiko sorriu para o mordomo, que lhe serviu uma xícara de chá e a fez dormir. Ele lhe acariciava os cabelos enquanto ela adormecia, e lhe sussurrou:

            — O castitatis lilium… (O lírio de castidade…)

 

Lírios brancos.

Virgindade e pureza.

Morte.

YNH – Cap 05 – Delightful Carnival (part 03)

Mais um show perfeito, performance perfeita da Companhia Masquerade. Enquanto os trapezistas terminavam seu espetáculo, “Last Hallucination”, o Mestre de Cerimônias pedia aplausos enquanto os outros membros da equipe pediam doações aos presentes.

— Senhorita, poderia doar uma pequena quantia a esses artistas?

— Ah, mas é claro… – Tenshi abre sua pequena bolsa e coloca algumas moedas no chapéu do Violinista. – Foi um belo show.

— Obrigado senhorita. Por favor, “volte outra vez”.

— “Eu com certeza retornarei. E trarei meus amigos comigo.” – Disse a moça com um sorriso encantador.

— “Todos ficam muito agradecidos.”. – Responde ele com um sorriso enquanto torna a caminhar entre os pagantes.

Já era madrugada quando a loja de flores ainda estava acesa. Os que lá dentro estavam, jantavam alegres e riam a toa. Reiko não estava entre eles, já havia se recolhido para a viagem que viria a seguir.

— Senhores e senhoritas… – Começa Logan, após terminar o vinho de sua taça – Um ótimo show, como sempre.

— Logan… sabe muito bem que não fazemos isso só porque gostamos.

— Vocês irão receber o justo pelos seus serviços, minha cara Madam Ice.

— Logan-sama… Por que aquela menina?

— Você ainda não havia entrado na Masquerade, Souji. Mas creio que você saiba quem ela é.

 — Não senhor, não é a Sra. Stevani, esposa do Count of Rubis?

— Não só, meu caro. Antes de ela se tornar Sra. Stevani, ela era Reiko Yokoyama, filha de Yokoyama Etsuo, daimyou do feudo de Himeji. Uma vez que a família que governava foi assassinada, o feudo ficou sem quem os governasse. Parentes próximos da família Yokoyama assumiram o governo, mas o povo clama pela volta da princesa. Pois acreditam que ela fará um governo tão justo quanto o de seu pai.

— Ta, e qual é exatamente o seu interesse nisso?

— Bem colocado, meu caro irmão, bem colocado. É fato que o feudo de Himeji é muito bem quisto por causa de seus grandes lucros na produção de grãos e nas recentes descobertas de pequenas minas de diamantes. Além disso, o feudo de Himeji é um local bastante tranqüilo para começar…

— Começar o que?

— A dominação do Japão, é claro. Todos silenciaram antes de explodirem em risadas. Logan não estava rindo, ao que parecia ele falava sério.

— Logan, fala sério!!

— Por que eu estaria brincando?

— Como assim?

— Quero as riquezas deste país para mim. Este é um país muito rico e muito próspero, e se governado com as mãos certas, será com certeza uma grande potência no futuro.

— Ta esperto, e depois?

— Como assim, e depois?

— Ora… Ce acha que um país se torna uma grande potência com tão pouco tempo?

 — Eu sei que não. Mas com a influência dos Black Scorpios, poderíamos acelerar o processo.

— Com licença senhores… Vou vigiar a princesa.

— Não precisa Souji senta aí e relaxa! Ela não vai fugir!

— Até eu iria querer ficar aqui se vivesse com o pau de vira-tripa do Stevani…

— Mas…

— Deixa pra espiar ela quando ela estiver no banho meu!

— BRYAN-SAN!!!! – Explode de vergonha.

— Ah é, esqueci que o Wanko é virgem… u.u

— WANKO JA NAI!!!! OMAE WA URUSAI DA YO! (NÃO SOU CACHORRINHO!!! VOCÊ É IRRITANTE!!)

— Urusakunai yo! XD Ore wa totemo tanoshii da yo! (Nem sou irritante! XD Eu sou é muito divertido!)

— Hmpf! Mattaku… ¬¬ – E sai da sala. (Hmpf! “Não creio”… ¬¬) Porém, nesta hora, a campainha anuncia que havia visitantes. Souji foi atender e deparou-se com um anjo.

— Tenshi-sama… – Chega a ruborizar um pouco.

— Okamura-san, será que eu posso falar com Stephens-sama?

— Ah, por favor, entre Tenshi-sama… Eu… irei anunciar sua chegada.

— Obrigada pela gentileza, Okamura-san. Tsubasa, por favor, meu casaco.. — Por favor! – Diz o garoto, pegando-o e colocando-o no cabide. – Queira acompanhar-me, Tenshi-sama.

Souji abriu as portas do salão e ainda estava havendo uma festa. Tenshi entra e sorri para Logan, que levanta sua taça de vinho.

— Seja bem vinda… Srta. Tenshi.

— Rogo-lhe que me perdoe pelo atraso… Mr. Gladstone gosta muito de conversar…

— Não precisa se preocupar quanto a horários, meu caríssimo anjo. Por favor, uma cadeira para o anjo. – Estrala os dedos e logo uma maid trás uma cadeira para o anjo. Tenshi começa a falar:

— Stephens-sama, eu trago boas novas.

— O que se passou após o desaparecimento da princesa?

— A Nobreza está em polvorosa. O Conde principalmente. Mandou toda a polícia trás da Princesinha.

— Ah… e… alguma pista que ligue o sumiço a nós?

— Não Stephens-sama… O segredo está muito bem guardado, e graças à ela própria. Ao que parece, a princesa fugiu naquela mesma noite da apresentação, e nem precisamos seqüestrá-la.

 — Melhor do que a encomenda! – Diz Bryan, com certo ar de satisfação.

— Mas ainda é bom que tomemos certas providências para que não haja problemas para nós. Amanhã, ela vai viajar com você, Tenshi, para as terras do Norte, onde você se apresentará. Lá, haverá agentes da BS para cuidar dela até que a segunda parte do plano esteja completa.

Nishi no Tenshi – 2º Ato – Battle Flower (Parte 05)

Adendo para Merchan Barato:

Oi, amiguinhos! Antes de mais nada, quero faazer uma propagandinha báscia aqui.

Acho que todo mundo já deve saber dos nossos planos insanos de, quem sabe um dia, transformar esses textos aqui em quadrinhos de verdade. Então, eu quero mostrar os primeiros passos que a nossa querida Camila deu rumo à criação de coneúdo visual para as nossas histórias. Aqui está…

A Galeria de Imagens das Nishi no tenshi Series!

São poucas imagens ainda e estão em uma página dentro do meu blog. Mas se a Mila permitir, eu faço a galeria aqui na IF também, e vou atualizando assim que novas imagens forem aparecendo!

Obrigada, Mila-chan! Continue assim!!

E agora, fiquem com mais um capítulo de Nishi no Tenshi!

 

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2° Ato – Battle Flower (Parte 05)

 

Horas depois de deixarem Gunkyo, lá estava o esquadrão dos ninjas Hua Long em tocaia na estrada que levava até Hakone, e por onde o bandido Igarashi e seu bando haveriam de passar em questão de pouco tempo…

 

        Os homens do posto avançado avisaram que o alvo está se aproximando rápido. Os arqueiros nas árvores vão tentar eliminar o maior número possível e fazê-los se dispersarem; nós em terra vamos emboscá-los nos dois lados da estrada e perseguir os que fugirem. – Explicou Gaku-san para Isamu

        Perfeito, Gaku-dono, como sempre. – Respondeu o mestre satisfeito

        Como alguém que estava tão bêbado consegue traçar um plano desses?? Será que sake ajuda mesmo a pensar?? – Pensou Nick incrédula lembrando-se do estado de bebedeira em que Gaku-san se encontrava horas atrás

 

De repente, ouvem-se ao longe sons de galope e carroças, e os arqueiros confirmaram que era Igarashi e trataram de avisar os ninjas em terra.

 

        Está na hora. Nós dois vamos atacar juntos e, não importa o que aconteça, fique do meu lado sempre, entendeu?? – Recomendou Sakurai-sensei para Nick

        Hai. – Respondeu ela sentindo o coração bater descompassado

 

Takuma, que estava liderando os arqueiros, deu o sinal e eles choveram flechas sobre a caravana lá embaixo. Só nessa manobra muitos do bando já haviam sido eliminados; no entanto, os remanescentes trataram de se preparar para a batalha. De dentro da floresta, saíram os ninjas cercando a tropa pelos dois lados da estrada; os arqueiros também desceram das árvores de modo que, em questão de segundos, estava armado um verdadeiro inferno.

 

Da sua parte, Nick demonstrou ter aprendido perfeitamente o que lhe fora ensinado: conseguiu manter-se calma e mostrou-se extremamente hábil na hora de lutar. Não matou nenhum adversário, mas soube feri-los de modo a deixá-los fora de ação e, como Isamu havia mandado, não saiu de perto dele em momento algum.

 

Seguiram-se longos instantes de carnificina. O  bando inimigo estava em menor número, mas a força do líder e a habilidade dos guerreiros vitimaram alguns ninjas naquela noite. Quanto à tropa inimiga; depois de uma honorável resistência, os que não haviam fugido após a emboscada e sobreviveram à chuva de flechas haviam sido dizimados pelos ninjas. No entanto, o grupo de Yuan teve uma péssima surpresa: nenhum dos homens conseguiu matar Igarashi que, como cartada final, pegou Nick como refém.

 

        Idiotas… Pensaram que eu não saberia que haveria uma menina, neta daquele maldito Yuan, entre vocês?? – Zombou estrangulando a garota com um braço e apontando a espada para o rosto dela

        Você já foi derrotado! Os que restaram da sua corja fugiram! Entregue a garota e podemos negociar uma punição honrosa! – Argumentou Gaku-san

        Um animal como esse não merece misericórdia nenhuma!!! Solte Nick-sama e eu garanto que o mato num só golpe!!! – Ameaçou Iasmu furioso

        Não leve isso para o lado pessoal, Isamu… – Sussurrou Gaku ao ver o quanto o amigo estava perturbado

        Já me basta ter perdido Ryouji… Não vou arriscar perdê-la também… – Respondeu o mestre

        Hum… Então seu nome é Nick… Eu me chamo Toshi Igarashi… – Apresentou-se o homem, na verdade um rapaz de vinte e tantos anos – E sabe o que eu farei se os seus amigos continuarem a testar minha paciência?? Vou abrir você da garganta ao umbigo e arrancar o que tiver dentro…! – Ameaçou baixinho no ouvido da garota apavorada enquanto roçava de leve a espada na bochecha dela – Espere… Deixe-me vê-la de perto… – Disse virando-a de frente e mantendo-a imóvel – Mas olhe só que coisinha mais graciosa você é! Ainda não passa de uma pirralha, mas não deixa de ser interessante… – Comentou malicioso cheirando o pescoço de Nick

        NÃO SE ATREVA, IGARASHI!!!! – Ameaçou Gaku perdendo a paciência

        Não está em condição de me ameaçar, velho! Vocês escolhem: ou ela morre, ou nós dois vamos embora, o que acham?? – Sugeriu Toshi achando graça

        FAÇA ALGUMA COISA, NICK-SAMA!! – Mandou Sakurai-sensei desesperado

 

Nick estava apavorada. Por mais que tivesse treinado até a exaustão, aquela situação bizarra não podia ser prevista em nenhum treinamento. Lógico que ela estava furiosa pelos companheiros mortos, por Igarashi não ter morrido e agora estar grudado em seu pescoço, mas temia que alguma reação sua pusesse em risco a vida de seu mestre e dos demais ninjas que assistiam ao show de horror sem poder fazer nada. Entretanto, ao ouvir passos vindos da floresta e ver vultos que pareciam ser os comparsas do inimigo, os quais haviam fugido, mas agora estavam voltando e pretendiam atacar seus amigos pelas costas, a garota lembrou-se da conversa que tivera com Isamu antes da festa, na qual prometeu que não hesitaria se tivesse que tomar uma atitude extrema. Agora, parecia ser esse o caso.

 

O olhar de desespero de Sakurai-sensei, implorando para que ela reagisse, eliminou qualquer dúvida. A garota acertou uma joelhada no estômago de Igarashi, em seguida, desembainhou suas espadas e, por fim, cravou-lhe uma delas no peito e com a outra lhe abriu a garganta.

 

Tudo aconteceu tão rápido que a menina só realmente se deu conta do que havia feito quando o sangue do homem esguichou em cheio no seu rosto; na mesma hora, ela arrancou a espada do corpo do oponente, que agonizou longos instantes até morrer afogado em uma lameira do próprio sangue.

 

Aquele líquido vermelho e pegajoso escorrendo pelo rosto da garota exalava um cheiro que a deixou atordoada. Agora era um fato: Nick havia matado um outro ser humano; alguém que, bem ou mal, estava disposto a deixá-la viver, mas ela não tivera piedade. Começou a tremer enquanto seus olhos vertiam lágrimas e ela deixou as armas caírem ao chão. O cheiro do sangue subitamente deixou a menina nauseada, e ela correu para detrás de uma árvore, onde colocou para fora o sake e o pouco que conseguira comer naquela noite…

 

        Nick-sama, se acalme, está tudo bem agora. – Consolou Sakurai-sensei indo acudir a aprendiz

        Não, não está!! Eu o matei!!!! – Chorou ela limpando a boca

        Você fez o que deveria fazer. Não há por que se culpar. – Explicou Gaku-san preocupado com o estado dela

        Senhorita, nós recapturamos os fugitivos, o que faremos com eles?? – Perguntou Hiroshi que acabara de chegar

        Eu não sei. Decidam vocês, para mim pouco importa… – Respondeu a garota escorando-se na árvore

        Não, Nick-sama. A senhorita tem poder de decisão dado diretamente por Yuan-sama; somente a senhorita pode decidir o que fazer com os prisioneiros. – Explicou Isamu

        Por favor, Sensei… Eu não agüento mais… – Negou ela chorosa

        É a sua obrigação. – Insistiu o mestre

        ……. Coloque os infelizes em fila na estrada. – Mandou ela para Hiroshi

 

Ela então se recompõe um pouco e vai até os prisioneiros, pega do chão a espada de Toshi e, enquanto a exibe, lhes diz friamente:

 

        Aqui está a arma do seu mestre. Eu o matei e portanto, vocês, lacaios dele, me pertencem. Não tenho interesse algum em mantê-los vivos e também me importa se morrerem. Sendo assim, lhes dou a opção de viverem e tornarem-se nossos servos jurando-me lealdade, ou tirarem a própria vida com o pouco de honra que lhes resta. A decisão cabe a vocês.

 

A resposta foi óbvia, nenhum guerreiro jamais se sujeitaria a virar um reles servo do inimigo, ainda mais sob comando de uma garota. Todos sem exceção sacaram suas espadas e se suicidaram diante dos olhos de seus adversários vitoriosos.

 

        Sua atitude foi muito digna, Nick-sama. – Elogiou o mestre

        Podemos ir para casa agora?? Esse cheiro de sangue está me fazendo mal. – Queixou-se Nick mal conseguindo falar

        Sim, vamos para casa. – Concordou Gaku-san mortificado por causa dela

 

O retorno foi bastante triste, apesar das poucas baixas e da vitória do esquadrão. Sakurai-sensei em especial estava ao mesmo tempo aliviado por sua aprendiz ter sobrevivido e também muito preocupado com a repercussão que o primeiro assassinato teria em uma menina tão jovem.

 

Chegaram a Gunkyo ao nascer do sol e sem fazer alarde. Foram direto reportar o resultado da missão a Yuan. Nick, que carregava a espada de Igarashi como ícone da batalha vencida, pediu para se ausentar da audiência com o avô, pois se sentia mal… Os demais ninjas estavam preocupados com a profunda apatia que tomara conta da menina. Ela nem esperou a permissão de Isamu, apenas deu as costas e foi embora; não escutou o mestre chamar, estava mergulhada no silêncio doentio de sua mente perturbada.

 

(…)

 

        É realmente lamentável que as circunstâncias tenham levado o objetivo principal a ser executado por uma criança… – Lamentou Yuan após ouvir o relatório dos ninjas – E, ainda assim, ela deixou que os prisioneiros decidissem o que fazer?

        Isso mesmo. Assim que chegamos, eu entreguei Nick-sama a Airi-dono; ela deve estar descansando agora, por isso não a trouxe. Creio que não seria bom para ela. – Explicou o mestre

        Eu imagino o quanto minha neta deve estar perturbada… Tirar a vida de alguém vai contra qualquer ensinamento… Mas, ainda assim, pelo que você me contou, Isamu, ela me pareceu muito mais preparada do que o irmão, Tatsu, quando o mesmo aconteceu com ele. – Comentou Yuan pensativo

        Eu me lembro… Ele teve um rompante, massacrou os inimigos sobreviventes e demorou meses até que ele conseguisse empunhar uma espada outra vez… – Lembrou o Sensei – Mas e quanto a ela?? Tatsu-sama explodiu sua dor; ele sofreu, mas tornou-se invencível. Nick-sama está guardando tudo dentro de si e isso me preocupa.

        Nick só é frágil por fora. Acredite, em menos tempo do que esperamos, ela vai superar isso e tornar-se muito mais forte do que eu e você podemos imaginar. – Disse o avô otimista

        Eu espero que esteja certo, Yuan-sama do fundo do meu coração, eu espero. – Concordou o mestre

 

 

Youkai no Hime – Cap 05 – Delightful Carnival (part 02)

Despiu o seu casaco e a cobriu. Ao ouvir passos, tornou-se um pássaro e fugiu para a copa das árvores.  

            — Tem certeza de que ela veio para cá?

            — Absoluta. Souji, continue procurando.

            — Sim senhor…

Logo, Souji a encontrou, estava deitada numa clareira, parecia muito cansada e dormia como se estivesse em sua cama, naquele mundo de mimos e brilhos… Aquele casaco, porém… Não parecia ser de uma princesa, ainda mais com todas aquelas correntes e detalhes em metal… Fora o cheiro de sangue que ele exalava.

            — É ela?

            — Sim senhor.

            — Está viva?

            — Sim senhor. Ela só está dormindo.

            — Ótimo. Traga-a.

            — Senhor… Este casaco…

            — Traga-o junto. Alguém a encontrou antes de nós. Mas agora, precisamos levá-la para um lugar seguro.

Souji assentiu com a cabeça, e a pegou nos braços. Eles a levaram para a floricultura, onde Reiko ficou deitada numa cama e Logan pediu:

            — Por favor, cuide dela.

            — Eu sei cuidar de uma mocinha, Logan. – Respondeu uma mulher de cabelos cacheados acobreados.

            — Eu sei que você sabe… Lovely Dancer.

            — Não precisa me chamar pelo codinome enquanto estamos seguros em nossa fortaleza.

            — As flores… São um bom artifício para desviar a atenção. Ainda bem que temos esta loja de flores à nosso favor…

            — Souji, por favor, traga água quente e panos limpos.

            — Sim senhora.

Algumas horas depois, o sol já despontava e Reiko acordou. Ela notou que estava em uma casa, e que alguém havia trocado suas roupas. Ela ouve batidas na porta.

            — Pode entrar…

            — Ah! – Souji entra no quarto – Que bom que acordou, Princesa. Estávamos ficando preocupados.

            — …Okamura-san…?

            — Por favor, pode me chamar de Soujirou. – Sorriso – Ah, sim, eu e Logan-sama estávamos procurando algumas espécies diferentes na floresta quando a encontramos desmaiada, Princesa. – Deixando uma refeição na mesinha – Por favor, coma um pouco e descanse… É cedo ainda.

            — Ano… Soujirou-san…

            — Hm?

            — Eu… estava sozinha?

    Sim, estava… Bom…

            — Hum?

            — Na verdade, Princesa… Havia isto com você.

Soujirou mostra um casaco, que ainda estava manchado de sangue, apesar de estar molhado, o que indicava que havia sido lavado.

            — Apesar de lavado… ele ainda mantém as manchas de sangue. Princesa, por acaso sabe a quem isto pertence?

            — Mas… Ele parecia mais um lince…

            — Perdoe-me?

            — Não… Nada… ^^ Acho que estou divagando novamente…

            — Por favor, alimente-se. Logo, Logan-sama deverá estar de volta. Eu preciso voltar para a loja…

            — Soujirou-san… Por favor… Fique…

            — ….? – Sorriso – Está bem.

Soujirou sentou-se ao lado de Reiko, e a acalmou um pouco. Ela lhe pediu o casaco do Youkai, mas Soujirou rebateu, delicadamente:

            — Perdoe-me, Princesa… Mas aquele casaco ainda está molhado, então é melhor esperar que ele seque… E então poderemos devolver ao respectivo dono… – Olha pela janela – Olhe… Um sekirei.

            — Um sekirei…

Mas aquele pequeno pássaro não era comum. Ele não cantava, como os outros sekireis que estavam ao redor. Aquele pássaro somente observava… Com cuidado.

            — O que foi amiguinho? – Pergunta Soujirou, com um sorriso – Não quer cantar para a Princesa?

Como se entendesse o que Soujirou quis dizer, o pequeno sekirei pôs-se a cantar. Uma melodia tão triste… Que chegava a cortar o coração. Sua música fora interrompida pelo baque da porta se abrindo violentamente e uma moça de fartos cachos negros presos em um rabo baixo e jogados ao ombro aparecendo na porta:

            — Dae, a princesa acordou?

            — Ah, Srta. Domadora. – Sorriso – Seja bem vinda.

            — Domadora…?

            — Devia me agradecer pelo Zheng ter salvado você pirralhinha.

            — Ah… Muito obrigada então! ^^ Sou muito grata pelo seu tigre ter salvo minha vida! ^^ Ele é lindo!

            — Tsc… Princesa, cê é muito esquisita…

            — Desculpe-me…

— Ela é bizarra, já curti! – Entra um rapaz loiro no quarto.

            — Lo… Logan-san?

            — Logan? Nada!!! Meu nome é Bryan, milady! ^^ Sou o irmão bonito!

            — Você??? Bonito??? Pffff!!!! – Ri a Domadora.

            — Ora Mila, eu sei que você só tem olhos para o Engolidor de fogo… Mas po, eu sou de tirar casquinha né?

            — Ô! Tanto que tá solteiro e ninguém quer pegar! auahuauahauauhuahuha!

            — Poxa, também não zoa o barraco, vai?

A discussão amigável rendeu boas risadas, e logo o violinista juntou-se aos outros integrantes:

            — Bom dia Princesa.

            — … Dr. Senar?

            — Descobriu-me em meu hobby, que lástima… Espero que isso permaneça um segredo entre nós, ok?

            — Ah… Claro!

            — He he! Já está cantando a menina com a sua vida secreta é?

            — Ora essa… Vendo uma moça tão bela eu não vejo por que não, uma vez que a Domadora de Feras já está incendiada pelas chamas do Engolidor de fogo…

            — Parem com isso!!! – Deixando a moça sem jeito

            — É… fala aí Domadora… o fogo dele arde mesmo??

            — Seus porcos!

            — Auhauauuauhauahuuauahuauhuahuauahua!!! – Riem os dois amigos.

Aquele ambiente era tão parecido… Mas aquelas eram lembranças que não iriam mais voltar… E isso ela já havia aceitado. Logo, os integrantes da Masquerade deixaram a princesa descansar, e deixaram Soujirou cuidando da princesa.

            — O rapaz acabou de entrar na Companhia e já aprendeu as técnicas?

            — Mas é bóvio! – Responde Mila – Ainda mais quando se segue as ordens do Logan… Esse cara só pode ser cego, pra seguir o seu irmão, Bry…

            — Vixi nossa, mas nem fale!! E ultimamente o Logan anda meio… Cês sabem.

            — Mas falando sério agora… O que vocês acham que vai acontecer?

            — Não sei… Mas se meu irmão está tramando algo, podem crer, boa coisa não vai ser, e pior: vai pegar pro nosso lado.

            — Por que é que ele nunca pega no pesado hein??

            — Porque toda a virilidade veio pra mim, ué!

Ryan e Mila se entreolharam e explodiram em risadas. Foram caminhando pelo casarão entre risos e comentários. No quarto, no entanto, Soujirou mostrava a cidade para Reiko:

            — Ali, é o gyunabe-ya. Servem um cozido muito bom ali, é da Sayuri-san. Mais para lá, é o Dojo do Sensei Yuan, de vez em quando eu vou lá treinar um pouco. Umas quadras ali atrás, é o Mercado Municipal. Tem de tudo lá, e é bem divertido também, poderíamos passear lá quando você se sentir melhor, Ohime-sama.

            — Ah, não sou Hime… Por favor, não precisa me chamar assim…

            — Hum, nesse caso… A senhorita é a Oujou-sama, está bem assim? – Sorriso

            — Ah… tá bom.. Soujirou-san.

            — Ano… Oujou-sama…

            — Hm?

            — Desculpe, mas… Poderia me dizer um pouco sobre você?

            — Sobre… mim?

            — É… Sobre você. O que gosta de fazer?

Ela baixou o olhar, e Soujirou achou que perguntou o que não devia. Mas logo, ela levantou a cabeça e olhou para a janela:

            — Gosto de… ver as pétalas caindo com o vento… E gosto de… Rosas vermelhas…

            — Soo ka? – Sorriso – Eu também…

            — Não achou… que é inútil…?

            — De maneira alguma. Admirar a natureza em sua plenitude não é nem de longe algo inútil.

            — … Ele sempre disse que… é inútil..

            — Quem?

            — Stevani…

            — Ah… Seu marido?

            — Infelizmente…

            — Oujou-sama… Se é tão sofrido viver ao lado dele… Por que permanece nessa situação?

            — Eu… – Hesita – Mesmo que eu quisesse fugir… para onde eu iria, Soujirou-san? Não havia para onde ir…

            — Não havia, Oujou-sama. Agora há. Você sempre poderá voltar para cá.

            — …. Obrigada Soujirou-san…

Logan ouvia do lado de fora. Tudo era uma questão de tempo, bastava ter um pouco de paciência…

Raposa Mafiosa – Cap.05 Brothers and Sisters (parte 01)

A Terra. Caos.”

Na superfície escória hipócrita.”

“Algo de dimensões inimagináveis está acontecendo lá fora. Não me importa. Eu não tenho responsabilidades, o meu único e exclusivo interesse é na família.”

Capítulo V – Brothers and Sisters

BAM BAM BAM!

Teresa pára assustada. Tinha acabado de pegar o nano computador que furtara, mas o põe de volta no bolso da saia
surrada. Quem seria aquela hora? Esperou.

BAM BAM BAM!

Estava tudo escuro lá fora. As luzes da cidade subterrânea já tinham sido apagadas. Já estava na hora de recolher? Mas a mama – Dona Maria Teresa – ainda nem tinha chegado! O que estava acontecendo?

BAM BAM BAM!

– <Parece que não tem ninguém!>

– <Então vamos invadir!>

    A garota ouve duas pessoas conversando em japonês e como já é gato escaldado, segue sorrateiramente para o quarto tentar sair pela janela. Contudo não consegue. Acaba se escondendo no quarto que pertencia a Marcello, pois dois orientais armados adentram a sala. O quarto não possuía janela o jeito era esperar a oportunidade certa.

    O quarto dela era o último, antes o dividia com a irmã, o dos pais eram o quarto do meio e o de Cello era o primeiro do corredor. Seria uma difícil missão chegar até o único quarto com janelas da casa. Procurou a saída de ar do quarto do irmão que se encontrava o chão. Talvez fosse mais difícil de ser pega por ali…

    Na sala os dois japoneses conversavam em sua própria língua e davam ares de agressividade.

    CRASH!

    Teresa ouve o que parece ser a sua ex-futura-janta se espatifar contra a parede e mais gritos. Era hora de decidir o que fazer.

    ***

    – Capitão Klinsmann, chegou a autorização para a entrada em Loba. Mas o alto escalão só autorizou um grupo de no
    máximo cinco pessoas além do senhor.

    – CINCO? – Michael berrou – Eles tão achando que eu vou pro Vaticano fazer milagre?

    – É só o que pôde ser negociado com as autoridades legais…

    – Que com certeza devem ser da Família! Mas deixe estar vamos com nossos melhores homens… Pelos menos aqueles
    que estão em condições. Vou mandar minha assistente cuidar do caso do soldado Layer. – E desligou o telefone.

    – Como é que é? – pergunta Katarina boquiaberta – Eu vou me encarregar do Layer???

    • Isso que você ouviu novata. Mas antes você
      vai organizar para mim uma lista com os melhores cadetes
      disponíveis. Preciso de 4 homens peritos em investigação,
      disfarce e infiltração. Mande que façam a Simulação de nível 5
      da sala de treinamento. Quem fizer um mísero barulho naquela sala
      fica de fora da equipe.

    • Sim, senhor. – Ela sai e se dirige a própria
      mesa da qual pega vários formulários das gavetas e uma lista de
      espera da última missão com os quem saíram sem nenhum arranhão.

    Katarina vai até a sala
    do café e coloca um aviso sobre as vagas, também adentra o
    escritório geral onde dá o recado, bem como na academia e nos
    espaços de treinamento. Muitos se entusiasmaram com a chance que
    parecia de ouro, vários pediram o formulário de inscrição quase
    que imediatamente. E outros também o fizeram, mas para tentar passar
    uma cantada da provável Capitã-assistente. Os testes seriam
    realizados naquela noite mesmo dia. Segundo o Capitão, o tempo era
    curto e ele não tinha tempo para os azarados nem para os que
    duvidam.

    ***

    Home – a nave
    dos integrantes da Família – adentrou fundo a terra e finalmente
    chegava às proximidades de Loba. A cidade secreta tinha sido fundada
    pelos avós de Antonieta na época da Quarta Guerra. O fizeram junto
    com muitos humanos refugiados que aproveitavam os subterrâneos
    desativados, como muitos outros pelo mundo. Hoje em dia essas cidades
    estavam sendo registradas pelo atual governo mundial, por motivos de
    segurança e higiene – segundo os mesmo – além do projeto de
    reintegração social entre Humanos e Genomianos. Tal projeto
    obviamente nunca saíra do papel.

    Param à pouca distância
    da escola que Teresa estudava e Antonieta notou que as luzes das ruas
    tinham se apagado. Verificou o relógio e percebeu que não estava na
    hora do toque de recolher. Ao olhar para a direção da Igreja onde
    sua mãe ultimamente ficava até tarde, viu que apenas o bruxulear
    das velas no altar. Uma enorme massa negra de pessoas começou a sair
    do pequeno e simples templo no escuro aos burburinhos. Isso era mal.
    Alguém desativou a fonte de energia central da cidade. Seria a WP
    que identificou o paradeiro do último computador? Não tinha tempo
    para pensar na causa e sim no problema.

    • Gabrielle – chamou a Raposa em tom de ordem
      muito enérgica – preciso que você fique aqui com o Alan e
      espere por contato meu ou avise caso você veja qualquer coisa
      suspeita. Seja a WP ou o que lhe parecer ruim. A cidade não parece
      estar tranqüila.

    • Pode deixar aguardarei instruções, Raposa.

    • E se possível peça para que Charles e Edwin
      sigam para cá o mais rápido possível acho que precisarei dele. –
      e a pilota faz um aceno leve e determinado com a cabeça. –
      Elleanor, preciso que você vá atrás da minha mãe o mais rápido
      possível. O provável é que ela esteja naquela capela ali e que
      seja a última a sair. Quando a encontrar traga-a o mais rápido
      possível para a nave e depois vá até minha casa, talvez eu
      precise de reforço.

    • Certo, sua mãe se importa de vir de moto?

    • Sim, mas diga que eu te mandei e depois eu
      explico.

    Elle fez um gesto entre
    encolher os ombros e balançar a cabeça afirmativamente e depois
    rumou para a garagem, da qual em pouco tempo saiu de moto com um
    capacete sobressalente nas mãos.

    • Chiyeko, você e Luís virão comigo. Vou
      dizer o que faremos aqui na nave, pois é óbvio que não poderemos
      nos comunicar em voz alta. Vamos até a minha casa. Nos
      aproximaremos sorrateiramente para descobrir quem…

    Antonieta deu instruções
    a todos e se preparou para a infiltração na sua própria casa. A
    mesma que visitava cada vez mais raramente desde que assumiu o posto
    do pai.

    ***

    Passara o resto do dia
    no hospital descobrindo com Marcello o que tinha em comum e o que ele
    sabia sobre ela. Parecia quase irreal que ele lembrasse de muita
    coisa que nem ela mesma recordava que tinha dito. Após muitas
    risadas e algumas fotos (que ele insistiu tirar) com uma pessoa que
    parecia que se conheciam desde sempre, a repórter foi expulsa por um
    enfermeira estabanada porém confortante. Ela lhe garantiu que
    poderia vir quando quisesse e que o hospital estava aguardando a
    resposta que um Médico Neurologista famoso para cuidar do caso de
    Marcello. Dominique ficara apreensiva de que seu atual melhor amigo
    pudesse virar objeto de pesquisa, apesar de saber que o caso nunca
    fora registrado antes e se fosse para estudá-lo preferia que ao
    menos fosse ela

    Além disso, “ele tem
    uma família…” pensava Dominique largada na poltrona de casa.
    Depois da grande surpresa de Marcello ter finalmente acordado,
    Dominique não pensava em outra coisa senão o que fazer agora que
    ele acordou. E apesar do laptop em cima da mesinha a encarar
    furiosamente dizendo “Você tem um porrada de trabalhos para
    entregar!!!!”, ela o ignorava conscientemente.

    Seu dilema agora era
    o que fazer com um paciente acordado… Ainda mais um que ela
    adoraria estudar o caso enquanto estudante de medicina. Mas como uma
    jornalista investigativa com consciência social ela pretendia
    localizar a família dele e deixar aos cuidados da mesma.

      • Hunf… eu
        localizo a família dos outros, mas a minha tenta me matar¬¬” –
        pensou alto.

    Como se tivesse
    ouvido a reclamação da dona o computador que linha desligado a tela
    , liga de novo e mostra justamente a imagem congelada de Eleanor na
    moto. Os cabelos longos e ruivos tingidos chicoteando o ar. sob o
    capacete, Dominique podia imaginar o sorriso sádico da irmã que
    tanto adorava, e agora não podiam nem conviver.

    Depois de algum
    tempo pensativa Dominique resolveu ao menos ler aos e-mails do
    Editor-chefe. E para sua surpresa havia um trabalho realmente
    interessante. A possível cidade subterrânea controlada pela
    Família…

    Youkai no Hime – Cap 05 – Delightful Carnival

    As ruas estavam barulhentas naquele dia. Reiko estava tentando desenhar quando ouviu os sinos e os risos. Largou seus pincéis e seus lápis e correu para frente da casa.

                — Hime!! – Disse Kobayashi, preocupado. – Não fuja assim!

                — Hiro-kun, é um circo!!

                — Circo?

    A princesa estava certa, era um circo. Com todas as suas cores, palhaços faziam crianças rirem, os acrobatas impressionavam com seus movimentos e ainda havia outras bizarrices, como a mulher barbada (sua barba era maior do que a de qualquer homem!) ou o homem-elástico (até onde será que ele estica?). Entre esses artistas, havia um violinista. Ele usava uma máscara, e tinha longos cabelos vermelhos.

                — … Será???

    O violinista viu a pequena princesa e aproximou-se do portão da casa. Ao ver que o valete a protegia, simplesmente sorriu e reverenciou a princesa, fazendo aparecer do lado de sua orelha um botão de rosa. Reiko sorriu e o aplaudiu; então ele era o mágico. Kobayashi no entanto não gostou anda da mágica. O violinista voltou para o público com uma pirueta, e jogou a rosa para Reiko, que a pegou e sorriu.

                — Um circo?

                — Hai, Stevani-san! Um circo!! – Muito empolgada – Havia malabaristas, equilibristas, leões e até mesmo um mágico!! ^^

                — E… você quer ver o espetáculo, não é?

                — Eu quero!!! Vamos, por favor!! ^^ É um espetáculo fechado para pessoas da corte esta noite… – carinha de raposa abandonada – Seria uma pena se você perdesse a oportunidade de fazer novos contatos…

                — Tem razão minha amada esposa! Eu vou!

                — Eu também quero ir… ó.ò

                — Desde que não saia do meu lado.

                — … Está bem.

     

    Naquela noite, toda a elite de Kyoto estava lá para prestigiar o espetáculo. Reiko estava ansiosa como uma criança, e nem ouviu os comentários maldosos nas mesas ao redor. Algumas outras pessoas também estavam lá, como o Major Winters e a oiran Tenshi.

     

    As luzes se apagam.

    Apenas uma fraca luz ao fundo está acesa.

    Sombras se movem.

    Os cabelos vermelhos se aproximam dela.

    Segreda-lhe algo no ouvido. “you’re not alone”.

    E o espetáculo começa.

     

    Numa imensidão de cores e formas, A Companhia Itinerante Masquerade começa seu espetáculo. As malabaristas demonstram habilidade com os acessórios de palco, jogando-os para cima e pegando-os. O Ilusionista que faz uma bola de cristal flutuar em suas mãos. A Dançarina que a todos encanta. As ginastas, com seus movimentos e piruetas. O Pierrot e o Arlequin, além do Violinista, com sua música…. Havia o Mestre de Cerimônias.

                — Boa noite!!! Sejam todos muito bem vindos ao nosso espetáculo!!! Fiquem à vontade e aproveitem nossa arte!! – Disse ele com entusiasmo.

    Durante o espetáculo, as mais variadas habilidades fantásticas. Eles impressionavam o público com seus estranhos fascínios, e recebia aplausos e algumas moedas como agradecimento. Reiko sempre fez sua doação quando o Pierrot passou por ela, e ele era estranhamente muito parecido…

                — Para o meu próximo número… – Disse O Ilusionista – Eu vou precisar de uma voluntária! Quem se arriscaria??? Seria a senhora? Ou talvez, une belle mademoiselle…?

    Reiko levantou a mão, e Stevani tornou a baixá-la. Porém, O Ilusionista já havia visto-a:

                — A senhora!!! Por favor, aproxime-se!

    Reiko levantou-se e foi até o Ilusionista, cujos traços aparentavam que ele era francês. Os olhos dele não lhe eram estranhos… O público silenciou ao vê-la entrar na caixa, e o Ilusionista a fechou. Com um estralar de dedos, apareceu uma espada em sua mão. Algumas pessoas se espantaram, acharam que era bruxaria, magia negra. E então, o Ilusionista fez seu truque: trespassou a caixa, e ouviu-se um grito.

                — REIKO!!!!

    Mas quando a caixa se abriu… Não havia nada lá. Não havia ninguém, a caixa estava vazia!! As pessoas aplaudiram, impressionadas com o truque.

                — Devolva minha esposa seu… Seu… Seu charlatão!

                — Como ousa desafiar meus poderes, seu grande incrédulo??

                — Se quer mesmo provar seus poderes… Traga-a de volta!

                — Não preciso.

                — Como assim, não precisa??

                — Ora, não é a sua esposa, ali no trapézio?

    Todos olham para cima, e lá está Reiko, sendo jogada de um lado para o outro, segura nas mãos dos trapezistas. Os olhos daquelas pessoas não lhe eram estranhos… De maneira alguma, eram estranhos… Mas… Onde?

                — … Você é…?

    O trapezista apenas sorriu, e soltou a princesa em queda livre. Enquanto caía, ouvia os gritos das pessoas ao redor, algumas riam, outras ficaram apavoradas, havia ainda aqueles que até aplaudiam, achando que tudo não se passava de parte do espetáculo. Eis que, antes de cair no chão, um grande tigre albino salva a princesinha.

                — Muito bem!!! – Aplaude o Mestre de Cerimônias – Todos aplaudam a grande Domadora de Feras e seu fiel escudeiro, o Tigre Zheng!

    Grandes aplausos foram ouvidos, e Reiko pode até mesmo acarinhar o grande felino, que parecia estar gostando da moça. A Domadora então chamou o tigre de volta, e Reiko pôs de pé novamente. Despediu-se do animal e então sorriu e agradeceu a todos, que a aplaudiam pela exímia coragem e determinação.

    Stevani, que estava emburrado em seu canto, somente aplaudiu por respeito à apresentação, que apesar de tudo, ele precisava admitir que fora perfeita. Agora… Como foi que Reiko foi parar lá em cima?

                — Como foi que ela foi parar lá em cima?

                — Um Ilusionista jamais revela seus truques, meu caro Conde.

                — Como sabe que sou um conde?

                — Eu não seria um integrante da Masquerade se não soubesse quem são nossos melhores contribuintes, meu bom e nobre Conde.

    Com uma exagerada reverência, e com a ajuda dos Pierrot e Arlequin, Stevani foi levado ao seu lugar novamente, enquanto sua esposa continuava no palco, e agora dançava com a Dançarina, que brincava de enfeitiçar com suas sedas e brilhos. Reiko foi envolvida em uma dessas sedas, e com a ajuda do Ilusionista, logo seus trajes pesados foram transformados em um belo traje de dança do ventre, com véus quase transparentes, e lantejoulas vermelhas contrastando com o alaranjado do traje.

                — Mas ela não está linda assim?? Muito melhor do que com aquele vestido pesado! Palmas para a nossa Dançarina Oriental!

    Muitas palmas foram ouvidas por causa do novo truque do Ilusionista. A Dançarina também sorria, e logo que a música recomeçou, dançava com Reiko e seus cachos acobreados reluziam refletidos nos cristais. Até mesmo a princesinha se sentiu atraída por aqueles cachos… Tudo naquele universo era tão lindo e tão mágico… Que Reiko desejou perder-se nele para sempre…

    Mas assim como tudo tem um início,

    Tudo tem um final.

    Ela acordou e estava em seus trajes antigos, e a Companhia Masquerade já se despedia.

    Na volta para casa, Reiko exibia um largo sorriso que imediatamente se apagou no momento que pisou em casa. Stevani virou a mão em seu rosto:

                — Como você se atreveu a se exibir daquela maneira?

                — Eu quis me apresentar! Eu me senti livre, Stevani… Eu senti como se pudesse fazer qualquer coisa! Eu quero me sentir assim outra vez!!! Solte-me dessa gaiola dourada!!!

                — Nunca senti tamanha desonra. – Fingiu não ouvir.

                — Você nunca vai entender como eu me sinto aqui dentro!!!

                — Eu só queria proteger você minha boneca de porcelana. Jamais quis que seus belos dotes fossem desejados por outros além de mim. Você me pertence Reiko. Jamais se esqueça disso.

                — Eu não pertenço a você!!!

                — E para onde você pretende ir então? A porta está aberta. Vai fugir de mim novamente? Já esqueceu o que aconteceu da última vez que você fugiu?

                — Pare!!!

                — Não se esqueça que o fogo acaba com tudo… Você vai continuar fugindo de mim? Então eu vou continuar queimando todas as suas memórias, meu amor… Até que a única que reste seja eu. Somente eu estarei em suas memórias. Eu!

                — Nunca!!

    Reiko sai correndo para lugar nenhum, nem mesmo ela sabe para onde. Correu por muito tempo, até sentir que seus pés não agüentavam mais. Então olhou ao seu redor, e notou que estava em uma floresta.

                — Eu… eu me lembro daqui…

    Um arrepio percorreu sua espinha, mas ela avançou. Aquela era a Floresta que os aldeões diziam estar infestada de demônios, e que humano algum seria aceito naqueles limites. Porém, para a princesinha, qualquer lugar era melhor do que aquele lugar… Enquanto caminhava pelo árduo caminho, ela rasgou seu vestido, e notou então que estava descalça. Caminhou por muito tempo, e a floresta se tornava cada vez mais densa e perigosa.

    — Olhe irmão.

    — Uma princesa.

    — Que belo quitute.

                — Vamos nos fartar.

    Reiko parou embaixo de uma árvore para descansar um pouco. A realidade então começou a fazer sentido. Ela estava sozinha, sem dinheiro e sem ninguém. O que ela iria fazer? Ela se assustou com os barulhos que vinham das moitas, e levantou-se em seguida. Poderiam ser bandidos…!

                — Quem está aí???

    Não teve tempo de responder.

    Foi atacada e sentia o bafo quente em seu rosto.

    Iria morrer?

     

    Outro ataque. O demônio lhe soltou. A princesa correu e se escondeu.

     

    Um gato? Não, é maior que um gato.

    Duas caudas… é bonito…

    Até parece um lince…

    Será que é você…? Youkai…

    — Tsc… O que é você?

    — Vão embora e deixem-na. É minha presa.

    — Chegamos primeiro youkai.

    — Venham então. Eu não vou soltar.

    Uma batalha difícil. Não pode ficar parada.

    Ele vai morrer se não o ajudar.

    Faça alguma coisa!

    Faça alguma coisa!

    Faça alguma coisa!

    Faça alguma coisa!

    Faça alguma coisa!

    Faça alguma coisa!

    Faça alguma coisa!

    FAÇA ALGUMA COISA!!!

    Reiko pegou um galho resistente e atacou um demônio. A criatura, que ficou atordoada, deu chance para o youkai atacá-la e acabar com ela. Os olhos do estranho animal apreciam cegos, e ele aproximou-se de Reiko. Ela imediatamente largou o galho e foi ao encontro do youkai. A voz dele ecoava em sua cabeça… Exatamente como das outras vezes…

    — Princesa…

    — Está ferido…! Como eu… posso lhe agradecer…?

    — Não precisa… Eu vou… ficar bem…

    — Não!!! Deve haver algo que eu… possa fazer…!!!

    O animal pareceu esboçar um sorriso. Deitou a cabeça no colo de Reiko e ali permaneceu. Reiko o abraçou e murmurou:

                — Obrigada… youkai… Mais uma vez você me salvou…

    O animal não respondeu, somente continuou adormecido e Reiko a lhe acarinhar. Ela fechou os olhos e acabou adormecida também. Logo, o Youkai acordou, e sacudiu-se como um cachorro espantando a água depois da chuva. Olhou para a princesa, estava tão serena dormindo… Parecia exausta. O youkai mudou de forma, deixou um leve beijo nos lábios de sua amada princesa e sussurrou:

           — Agora… estamos ligados… ore no hime.     

    Nishi-no-Tenshi – 2° Ato – Battle Flower (Parte 04)

    Dois meses depois…

     

    Era o fim de mais um dia de treinamento e Sakurai-sensei resolvera levar Nick para conhecer sua casa. Desde a morte desastrosa de Ryouji, ambos andavam mais tristes, calados, mas ainda assim, muito mais unidos.

     

            Misato! Temos visita! – Avisou Isamu entrando na casa

            Mas olhe que bela mocinha! – Elogiou uma senhora muito amável vindo receber Isamu e a menina – É esta a netinha de Yuan-sama que você está treinando?? – Perguntou

            Sim. Essa é Nick-sama, deve se lembrar do irmão dela, “Tatsu”… – Respondeu o homem

            Ah, sim! Ele, Ryouji e Kai eram tão amigos! – Concordou a mulher – Ah, seja bem vinda, Nick-sama, eu sou Misato Sakurai! – Apresentou-se

            É um prazer conhecê-la! E por favor, me chame apenas de Nick, sim?? – Pediu a garota sorrindo

            Onde está Kai?? – Perguntou o mestre para e esposa

            Foi para Edo novamente. Ele foi promovido a Capitão, lembra-se?? – Respondeu ela

            Capitão?? – Quis saber Nick

            Sim. Lembra-se de que eu lhe disse que samurais têm outras profissões: médicos, engenheiros, etc? – Explicou o sensei – Ryouji e Kai, assim como eu, servem ao Exército; eu sou general reformado, Ryouji era major, e agora meu filho mais jovem, Kai, foi promovido a Capitão. – Concluiu orgulhoso

            Isso é lindo! – Disse Nick admirada

     

    A garota então reparou que Misato olhava fixamente para ela, como se a estudasse minuciosamente…

     

            Há algo errado comigo, Misato-sama?? – Perguntou tímida

            Oh, não! Só estava reparando na sua aparência, com todo o respeito. A senhorita tem olhos grandes e mais claros, também é mais alta do que as outras meninas e até que os meninos, por que será?? – Questionou curiosa – E me lembrei do seu irmão: um rapagão de olhos azuis!

            Misato! – Chamou o mestre em tom de repreensão – Desculpe a indiscrição dela, Nick-sama…

            Mas não há problema, a senhora tem razão. É que minha mãe, filha do Ojii-ue, casou-se com meu pai, que era estrangeiro. – Explicou a menina – Por isso eu nasci assim.

            Uma menina muito linda! – Elogiou Misato – Não acha que Kai diria o mesmo se estivesse aqui, Isamu??

            Não sei… Ele mudou tanto desde que… Desde que tudo aconteceu… – Respondeu Isamu entristecido

            Eu vou buscar o chá… A senhorita gostaria de ficar para jantar, Nick-sama?? – Perguntou a esposa mudando de assunto

            Seria um prazer, Misato-sama! – Respondeu Nick sorrindo

     

    Pouco antes do jantar Airi apareceu procurando por Nick. Airi e Misato pediram por favor que ela e ela assim o fez.

     

    Depois de muito procurar, foi encontrar Sakurai-sensei sozinho em um dos quartos da casa rezando diante de um altar. A garota, mesmo sem querer, acabou espiando durante muito tempo através da porta entreaberta…

     

            Pode entrar, Nick-sama… Ele vai gostar de vê-la aqui… – Disse o mestre, que há muito tempo havia se dado conta de que ela o observava

            Como sabia que eu estava aqui? – Perguntou envergonhada

            Ninjas são treinados para serem silenciosos, para serem um com o ambiente. E também para respeitarem o silêncio absoluto e saberem identificar qualquer perturbação nele. Eis aqui mais uma lição para você… – Explicou o mestre ainda de olhos fechados e em posição de oração

            Este era o quarto de Ryouji-sensei, não era? – Perguntou ela entrando e vendo a placa com o nome do rapaz no altar rodeado de incensos e flores – O senhor ainda não conseguiu superar… Imagino o quanto dói… – Comentou ajoelhando-se para rezar ao lado do mestre

            Não existe castigo maior para um homem, um pai, do que sepultar um filho. É contra o curso natural da vida que os mais jovens deixem este mundo primeiro. A sensação que tenho é de vazio, agora que uma das crianças que eu devia encaminhar e proteger desapareceu dos meus braços… – Desabafou Isamu deixando a emoção transparecer na voz – Não desejo essa dor nem ao meu pior inimigo… A senhorita não imagina o quanto é terrível…

     

    Diante daquele desabafo Nick não conseguiu impedir que suas palavras fluíssem…

     

            Sabe… Eu não sei como é perder um filho, mas sei como é ficar sem pai. É uma impressão de desamparo, como se a mão que estava lá para me segurar, os braços para onde eu podia sempre voltar tivessem sido roubados de mim. Ainda que seja natural que as árvores morram e as sementes fiquem, é um pedaço da origem que se vai, é uma estrela guia que se apaga. O senhor tem outro filho, não é? Não deixe que ele se torne um órfão como eu… Não, muito pior, um órfão de pai vivo… É triste demais…

     

    Nicholle então se levantou para sair. Isamu permaneceu quieto; não que não a tivesse ouvido, pelo contrário, estava pensando no que ela dissera e reconheceu que estava deixando-se engolir pelo próprio sofrimento. Reparou em como a aluna se despira da própria dor em busca de algo reconfortante para lhe dizer. Sorriu para si mesmo ao perceber a mágica do destino: em um momento em que ele parecia não ter alguém a quem proteger, e de quem cuidar, surgiu em seu caminho uma pessoa que não tinha quem a protegesse nem cuidasse dela. E quando o destino proporciona tais circunstâncias, convém não ignorá-las…

     

            Eu sempre quis uma filha menina, sabia? – Disse a tempo de pegar Nick na porta do quarto

            É mesmo? Eu achei que com dois filhos homens no Exército o senhor já teria motivos de sobra para se orgulhar. – Respondeu Nick

            A vida só me deu dois garotos, mas eu gostaria muito que houvesse existido uma menininha para dar um pouco mais de delicadeza e beleza à minha vida de guerreiro… – Continuou o mestre se levantando

            Qualquer menina gostaria de um pai como o senhor… – Comentou a garota

            A senhorita gostaria?? – Perguntou ele abrindo a porta para que ambos saíssem

     

    Ela ficou surpresa com a pergunta, mas logo em seguida abriu um grande sorriso. A vida escreve cenas de alegria e dor; aproxima pessoas de tão longe e, na falta dos pais e filhos de sangue, sempre há os pais e filhos do coração.

     

    Seis meses depois

     

    Era um dia como outro qualquer, sem nada de muito especial. Yuan convidara Sakurai-sensei para o almoço, assim poderiam conversar…

     

            Então, Isamu… O que me conta sobre minha neta?? – Perguntou Yuan dando um gole em seu copo de sake

            Ela certamente tem o sangue do Dragão correndo nas veias. Muito habilidosa, vai evoluir em pouco tempo e lhe trará muito orgulho… – Respondeu Isamu satisfeito – Entretanto…

            Entretanto o quê?? – Quis saber o avô – Somos amigos, não minta para mim. Se Nick não tiver jeito para essa vida eu a mando de volta e poupamos ela e nós mesmos.

            Não é isso, Yuan-sama, talento ela tem e muito. O que quero dizer é que nossa menina é muito sensível… – Explicou o mestre

            Por que diz isso?? – Questionou Yuan

            Eu a levei em algumas missões menores como o senhor havia mandado. Ela é ágil, silenciosa e sabe se disfarçar tão bem quanto a mãe, até de menino já se vestiu, mas… Percebi que após a euforia de entrar em ação ela se ressentia um pouco… – Explicou o mestre

            Quer dizer que ela se arrependia??

            Não. Nick-sama tem consciência de para que está sendo educada, apenas me preocupo quanto ao dia em que ela experimente uma situação mais extrema… – Ponderou Isamu

            Seja claro, Isamu. – Reclamou o avô impaciente e preocupado

            Preocupo-me quanto ao dia em que ela precise matar alguém. Nick-sama é jovem demais. Todos aqui começaram aos quinze anos de idade no mínimo; ela por ser sua herdeira iniciou mais cedo e agora, sem saber, ela é uma assassina e mal completou treze. – Lamentou o homem – É um fardo muito pesado e cruel para uma criança.

     

    O avô pensou alguns instantes, e então ordenou:

     

            Vamos resolver isso logo. Quero que a leve hoje à noite para a emboscada que armamos para Igarashi e seus homens na estrada para Hakone.

            O quê?! O senhor não prestou atenção no que eu disse, Yuan-sama?! – Questionou o mestre

            Por isso mesmo. Vamos descobrir de uma vez se minha neta consegue transpor a barreira do primeiro assassinato enquanto ainda há tempo de mandá-la de volta para casa. – Explicou Yuan

            O senhor sabe e eu sei, que a primeira vítima não é a pior… E se ela enlouquecer, aí sim não haverá como ela viver longe de nós; terá que ficar aqui o resto da vida… – Comentou Isamu sério

            Mas em algum momento Nick precisa começar. E se eu a perder, tenha certeza de que cuidarei dela para sempre… – Garantiu o avô

     

    Final de tarde…

     

    Dizem que o tempo voa quando nos divertimos. E isso é verdade, ao menos era para Nicholle, que encarava seus treinos, aulas de japonês, caligrafia, dança e tudo o mais como um grande divertimento. Já havia se passado mais de meio ano desde a morte de Ryouji e era fato que a convivência e o laço entre ela e Sakurai-sensei foram cruciais para que ele e ela superassem a dor e se tornassem mais fortes do que nunca.

     

            Uma emboscada?? E o que vamos fazer quando pegarmos esse tal Igarashi e seu bando?? – Perguntou Nick amarrando a parte de cima do uniforme ninja – Finalmente me arranjaram um desses! – Comemorou feliz referindo-se à roupa que há muito ela queria usar

            Nós vamos… Neutralizá-los… – Respondeu Sakurai-sensei engolindo em seco

            O senhor está estranho. Aconteceu alguma coisa?? – Questionou a aluna preocupada

            Não posso mentir para a senhorita. Por favor, me escute com atenção: essa não é uma missão qualquer. Quero que esteja preparada para o pior… – Disse o mestre um pouco ansioso

            O senhor está me assustando, Sensei… – Respondeu a menina

            Não quero que a senhorita entre nisso sem saber os riscos que corre. É uma missão importante e perigosa… A senhorita pode morrer esta noite e para que isso não aconteça… Talvez a senhorita precise… – Estava ficando cada vez mais difícil para ele falar

            Precise…? – Perguntou ela já ansiosa também

            Matar. – Disse ele finalmente

            O quê?! Eu?? Matar alguém?! – Questionou ela espantada

            Entenda: estamos lidando com gente da pior espécie, que mata pessoas, saqueia, pilha e destrói cidades. Os Tokugawa pediram a Yuan-sama que assassinasse o bando de Igarashi antes que eles aterrorizassem e dizimassem mais cidades e aldeias. A senhorita compreende, não é? Eles não hesitariam em assassinar a herdeira do pior inimigo deles com requintes de crueldade. Eu preciso que a senhorita esteja pronta para se defender. Não suportarei perder outra de minhas crianças, já me basta ter perdido Ryouji. – Explicou Isamu

     

    Nicholle ficou calada; não era fácil para uma garotinha se ver de repente cogitando a possibilidade de assassinar alguém, ainda que fosse um bandido desclassificado. Mas se era para isso que ela havia treinado desde que deixara a Inglaterra, era melhor que se acostumasse com a idéia…

     

            Talvez esteja mesmo na hora de provar que o treinamento que o senhor e Ryouji-sensei me deram deu certo! – Disse sorrindo confiante – Não se preocupe, Sensei, se eu estiver em perigo, não vou hesitar em fazer o que deve ser feito!

            Os ninjas designados para hoje estarão reunidos com seu avô daqui a pouco. Vamos jantar e nos divertir um pouco. Posso contar com a sua presença? – Convidou o mestre tentando descontrair

            Olhe para mim! Acha que eu, EU, perderia uma festa?!

     

    E de fato naquela noite Nick foi se reunir com seus companheiros ninjas na companhia de seu avô Yuan. Assim que chegou à porta, ouviu música e conversas e foi logo se animando.

     

            Ah!! Aí está ela!! Entre, senhorita! – Disse Gaku-san, um dos ninjas, ao ver a garota atrás da criada que abrira a porta da sala

            Konbawa, shitsurei isshimasu… – Cumprimentou ela tímida entrando

            Fique à vontade, criança, a casa é sua! – Disse Yuan percebendo que a netinha estava tímida

            Então, Nick-sama, pronta para se divertir?! – Perguntou Gaku-san, o sake já estava deixando o homem bastante espirituoso

            Eu tenho treinado para isso desde que cheguei aqui, não é? – Devolveu a garota um pouco mais à vontade

            Ótima resposta!!! Ela tem carisma, Yuan-sama!! – Elogiou o ninja

            Eu sei que tem! – Concordou o avô que também estava bem alegre, leia-se embriagado

            Mas pode ficar tranqüila, hoje a senhorita não vai brigar, só vai brincar… A menos que alguém queira brigar, nesse caso a senhorita usa suas espadas para abrir alguns buracos nele! – Recomendou Gaku

            Nick-sama, quer conhecer seus companheiros de missão?? – Perguntou Sakurai-sensei segurando o riso

            Quero sim! – Respondeu a menina

            Bom… Esse que já está completamente bêbado é Gaku Namikiri… – Apresentou o mestre

            É uma honra acompanhá-la em combate, senhorita! – Disse o homem virando mais um copo se sake

            A honra é toda minha, Gaku-san! – Respondeu Nick sorrindo

            Aquele ali é Kyo Watanabe, ao lado está o filho dele, Hiroshi, depois vem Takuma Hasegawa… Continuou Isamu apresentando os homens presentes a quem a menina saudou com muito gosto

     

    Eis aqui uma das poucas coisas boas da prerrogativa de uma batalha realmente perigosa: os guerreiros sempre eram tratados como reis, afinal, sabe-se lá quantos deles voltariam. Yuan mandara dar uma pequena festa em sua própria casa, como era seu costume, e tendo sua neta como convidada e combatente a celebração ganhava mais brilho, ainda que por outro lado o avô estivesse nervoso como nunca estivera antes.

     

            Tome, Nick-sama! Vai deixar a senhorita menos tensa na hora da diversão! – Disse Gaku-san quase jogando um copo cheio de sake no rosto da menina

            Mas eu não posso ficar bêbada agora!! – Negou a garota

            Escute o que ele diz, Nick-sama. Às vezes um pouquinho de sake ajuda a relaxar, ainda mais na primeira missão… – Explicou Sakurai-sensei – Só não precisa beber até cair como o Gaku-san aqui.

            Eu nego! Até cair não!! – Protestou Gaku com a voz enrolada e o nariz vermelho e lustroso – Eu bebi só um pouquinho assim… – Argumentou mostrando a medida com os dedos

            Eu posso mesmo, Ojii-ue?? – Perguntou Nick ainda apreensiva

            Não só pode como deve! – Respondeu Yuan

            A Obaba não vai gostar nada se souber que o senhor me deixou beber! – Riu a neta

            Mas quem disse que a Yume precisa saber?? Fica sendo nosso segredo, segredo de ninjas! – Respondeu o avô divertido. Chegava a ser surreal ver um homem austero e inexpressivo como o chefe da Hua Long japonesa tão embriagado e até perdendo um pouco a compostura

            Nesse caso… – Concordou a menina levando o copo à boca

            Tem que tomar numa virada só!!! – Avisou Gaku-san

            O quê?!!! – Duvidou ela

            São as regras, Nick-sama. Respire fundo e beba tudo. – Mandou Isamu contendo o riso

     

    Nicholle então virou o copo enquanto os demais companheiros gritavam encorajando-a Ao conseguir beber tudo, foi aplaudida com fervor!

     

            Waaaaaaa!! Lembrem-me de nunca mais beber assim!!! – Disse a garota sentindo a garganta queimar e com o rosto mais vermelho que uma cereja

            NICK-SAMA, NICK-SAMA, NICK-SAMA!!!!! – Clamavam os ninjas orgulhosos da façanha de sua companheirinha

     

    Mas infelizmente a festa não podia durar a noite inteira.

     

    Youkai no Hime – Cap 04 – Other Way (Part 2)

    Naquela manhã, o major Winters foi ao local estipulado na carta.  Era um dos quiosques de enguias assadas, iguarias estranhas, porém muito saborosas, e apreciadas pelos estrangeiros.

                — Então… é aqui que está se escondendo agora?

                — Talvez…

                — Sabe muito bem que no que depender da polícia, você está morto.

                — Não é do interesse deles me ver morto agora, Winters. Não agora, pelo menos, em que estamos cooperando.

                — Qual o assunto que deseja tratar comigo?

                — Relaxe… Não quer um assado de enguia? Por minha conta.

                — Qual é exatamente o gosto disso…?

                — Não pergunte tanto, meu caro Winters. Apenas saboreie e experimente o novo…  – Saboreando a iguaria.

                — Stephens, você é estranho.

                — Eu sei.

                — Você não sente nojo?

                — Não. Deveria?

                — Não são todos que conseguem comer enguias.

                — Frescuras do povo ignorante… Se está aqui, é para ser deleitado.

    Logo, o assado terminou e Logan deixou o pagamento em cima do balcão. Gerard e Logan caminharam mais um pouco até chegarem numa casa.

                — Tadaima. (Estou de volta)

                — Ah, irrasshaimasen, Rogan-sama! (Ah, seja bem vindo, Logan-sama!)

                — Ogenki desu ka, oba-san? (Tudo bem, senhora?)

                — Ah, okagesama de, genki de gozaru. Anata no tomodachi wa….? (Ah, tudo bem, graças a Deus. E seu amigo é…?)

                — Ah, sumimasen, oba-san. Watakushi wa Winters Gerard desu. Doozo yoroshiku onegai shimasu. (Ah, perdoe-me Oba-san. Sou Gerard Winters. É um prazer conhecê-la.)

                — Ah, ware wa Hikarimoto Sumie de gozaru. Kochira koso yoroshiku onegai shimasu. (Ah, eu sou Sumie Hikarimoto. Também é um prazer conhece-lo.)

                — Eetto… Oba-san, eu e meu amigo precisamos de uma sala.

                — Ah, perfeitamente, Rogan-sama. Por aqui, por favor…

    O local era iluminado por lanternas de papel, dava uma impressão ainda maior da longevidade do local. Logo, Gerard era convidado a entrar num salão, no último andar da casa, com uma mesa de centro e duas cadeiras. Tão logo se acomodaram nas cadeiras, sakê fora servido, juntamente com uma porção de sushis.

                — Stephens… o que significa tudo isso?

                — Minhas boas vindas, é lógico, o que mais seria?

                — Nunca sei o que posso esperar de você, Logan.

                — Isso é verdade. Mas sabe Winters… eu tenho algo que pode lhe ajudar e você tem algo que pode me ajudar.

                — Do que está falando?

                — Está aqui por causa das acusações acerca do famigerado…. Earl of Rubis, não é mesmo…?

                — Como…?

                — E, eu imaginei que seria algo do tipo. – Tomando o sakê – O Conde não é flor que se cheire e está começando a me incomodar com aquele falso discurso…

                — Uma vez que descobriu minha missão, não vejo por que mentir a você. Sim, estou aqui no Japão em busca de Earl of Rubis.

                — Porém, algo me intriga… Por que justo um major da Marinha Americana estaria envolvido neste caso?

    Gerard se cala diante da perspicácia do jardineiro. Logan continua a sorrir de seu jeito irritante, porém superior, quando a Oba-san serve uma barca de sashimis para eles, juntamente com uma porção de enguias assadas. Enquanto Logan saboreia os sashimis, Gerard prova da estranha iguaria.

                — É realmente saboroso. – Diz o Major.

                — Eu lhe disse…

                — Mas… Ainda não se explicou, Logan. O que quer comigo?

                — O que eu quero? Eu já lhe disse… Eu posso te ajudar e você pode me ajudar. Proponho um trato.

                — Um… trato? Que tipo de trato?

                — A Gentleman’s deal, of course. What else could it be?

                — Fom you? Anything.

                — Está bem, já entendi, Major. Nada de enrolações com o senhor, não? Então, está bem, eu vou lhe ajudar a capturar o Earl of Rubis.

                — Por que vai me ajudar? O que vai ganhar com isso?

                — Ora… não está claro? Eu quero a Princesa.

                — A Princesa?? Está se referindo à…

                — Exatamente. Yokoyama Reiko.

                — Por quê? O que quer com a Princesa?

                — Exatamente o fato de ela ser a Princesa. Stevani casou-se com ela para que ele assumisse o posto de daimyo do feudo de Himeji, um grande produtor de Arroz e que possui uma pequena e considerável fortuna em diamantes. Porém, pelo fato de ele ser estrangeiro, não permitiram tal fato, e passaram o governo para uma outra família, de parentesco próximo com os Yokoyama, mas que não são os donos legítimos das terras. – Tomando o sakê – Eu pretendo tomar as terras de Himeji para mim.

                — Acaba de me dizer que os estrangeiros não podem se tornar governantes oficiais de uma região, então como pretende fazer isso?

                — Ora, da mesma forma como sempre fiz… com miai.

                — Miai??? Pretende se casar com ela?? Não estou entendendo onde quer chegar.

                — Não pretendo me casar com ela. Mas sim… Uma outra idéiazinha que me ocorreu no momento…

                — Logan! – O Major levanta-se exaltado – Desde o início…!!

                — Se eu já sabia? Sim, eu já tinha algumas peças montadas deste imenso quebra-cabeça.

                — Mas como…?

                — Tudo no seu devido tempo, meu caro Major. Agora… Faça a sua parte… Que eu faço a minha. Estamos entendidos?

                — Sim Logan, eu já entendi. Não me trate como um dos seus subordinados.

                — Que bom então que somos amigos, meu caro Winters. Não queira que eu seja seu inimigo. Agora… – Levantando-se – Preciso tratar de um assunto no Templo de Inari. Fique à vontade, chamei alguém para lhe fazer companhia…

    Nisso, a porta se abre e Tenshi entra no recinto. Ela curva-se ao ver os dois senhores e se desculpa:

                — Por favor, queiram me desculpar… Temo estar atrasada para a reunião…

                — Não se preocupe meu querido Anjo do Oeste… Você chegou na hora certa. Por favor, queira explicar ao nosso mais novo colaborador os próximos passos. Eu a verei em breve…

                — Por favor, Logan-sama… “Fique bem”.

                — Obrigado Anjo… “Que Deus esteja sempre olhando por nós”.

    Logan vai embora, acertando a conta com a Oba-san. Ela, ao entregar o recibo, entrega com uma pequena dobra na ponta direita, e Logan brinca:

                — Parece que está com uma “orelha de burro” aqui na ponta, Oba-san… ^^

                — Oh…!!! É verdade… Perdoe essa velha distraída… ohohohohoh…!!

                — Está tudo bem, Oba-san, afinal… Isso é só para fins de consulta, não é mesmo…?

                — Se desejar que eu faça outro para você…

                — Não há necessidade Oba-san. Apenas… Cuide bem de meus amigos, sim?

                — Como desejar, Logan sama…

                — Muito agradecido Oba-san.

    Logan sai do recinto e segue para o Templo de Inari. Lá, Souji finalmente terminou de cuidar dos jardins do templo:

                — Ah… Terminei!

                — O senhor fez um ótimo trabalho! ^^ – Diz Katsumi, com um largo sorriso – O senhor aceitaria um chá como agradecimento?

                — Ah, muito obrigado Katsumi-san, isso seria de muito bom grado!

                — Ah!! ^^ Por favor, sirva-se Souji-kun!! ^^

                — Obrigado… Katsumi-san. ^^

    Souji tomava o chá devagar, e a manga de seu gi mostra alguns machucados em seus braços. Katsumi pergunta-se o que era aquilo…

                — Ah… Obrigado pelo chá… Estava realmente muito saboroso. – Agradece com um sorriso.

                — Por… por nada… – Um pouco corada. – Ah!!! Obrigada pela ajuda, Souji-kun!!! – Entrega a ele um pacotinho – Aqui está o seu pagamento pelo serviço. Não é muito, mas… é o que eu posso oferecer…

                — Por favor… Não precisa… – Fecha o pacotinho nas mãos dela – O fato de eu poder estar aqui… Oferecendo essas flores à Inari-sama… Já é o bastante para mim.

    Souji vê a carruagem negra de Logan se aproximar e levanta-se num pulo. Logo, a carruagem encostou e Logan o chama para dentro dela.

                — Ahn… Até logo, Katsumi-san. – E entra na carruagem.

                — Até… logo… Ah!!! Souji-kun!!!!

                — …?

    Katsumi solta os cabelos e lhe entrega o laço que estava amarrando-os. Souji sorri e agradece:

                — Obrigado… ^^ Usá-los-ei para prender os meus cabelos também.

                — Mas… eles são cor-de-rosa…

                — Ah… Não tem… problema… Até logo!!

    Soujirou entra na carruagem e Logan lhe diz, com seu tom frio de voz:

                — Está atrasado.

                — Perdoe-me meu senhor.

                — Que não se repita. Está pronto para a sua missão… Yami?

                — Sim senhor.

                — Ótimo. Se quiser… Pode deixá-la sobreviver. Porém… Não sei até quando ire permitir que se aproxime…

                — Senhor…?

                — Você vai se casar, Okamura. Em breve.

                — ….Sim senhor. Mas se me permite… quem será minha noiva?

                — Uma princesa Souji. Assim como você sempre quis…

    Quick post

    Oi pessoal! Feliz 2009 e tudo mais akilo que desejamos para nós mesmas XD

    Como hoje é o meu dia resolvi dar uma prévia do que talvez esteja no ar hoje à noite… ou quem sabe amanhã…ou depois… Enfim… em janeiro vamos ter (ou pelo menos eu) alguns especiais e quem sabe neste anos poderemso ter novidades^^- Espero que tenham tido boas festas! e
    aguardem!

    SPOILER

    Raposa Mafiosa – Capítulo 05: Brothers And Sisters

    “Então ele tem uma família…” pensava Dominique largada na poltrona de casa. Depois da grande surpresa de Marcello ter finalmente acordado, Dominique não pensava em outra coisa senão o que fazer agora que ele acordou. E apesar do laptop em cima da mesinha a encarar furiosamente dizendo “Você tem um porrada de trabalhos para entregar!!!!”, ela o ignorava conscientemente.

    Seu dilema agora era o que fazer com um paciente acordado… Ainda mais um que ela adoraria estudar o caso enquanto estudante de medicina. Mas como uma jornalista investigativa com consciência social ela pretendia localizar a família dele e deixar aos cuidados da mesma.

    – Hunf… eu localizo a família dos outros, mas a minha tenta me matar¬¬” – pensou alto.

    Como se tivesse ouvido a reclamação da dona o computador que linha desligado a tela , liga de novo e mostra justamente a imagem congelada de Eleanor na moto. Os cabelos longos e ruivos tingidos chicoteando o ar. sob o capacete, Dominique podia imaginar o sorriso sádico da irmã que tanto adorava, e agora não podiam nem conviver.

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