Contar histórias é quase como mentir, no mesmo sentido que toda tradução é imperfeita. Mas a traição da tradução é também criatividade, é Use your Illusion.
E a gente conta muito a mentira das viagens no tempo. Surpreendentemente, a gente conta pra nós mesmos histórias em que voltamos no tempo e alteramos o passado. Coisas do tipo “se eu voltasse pro dia que eu fiz aquela cagada, eu diria pra mim mesmo que seria melhor ir por outro caminho“. Se é mentira falar de ir para o passado, é também conveniente, faz sentido, agora… ¿Aonde mora esta trapaça?
Viajar no tempo é mentira, mas querer falar pro seu eu-de-anos-atrás que fizesse isso ou aquilo, isto não é mentira. A tensão de querer isso se sente na pele. Agora… ¿Na pele de quem?
O eu-de-semana-passada não é eu. Não é, nem mesmo, o eu que viveu semana passada. Este eu-de-antes é só uma história. Ele existe tanto quanto Papai Noel e Coelhinho da Páscoa. É nele que está toda a lorota, que está a enganação que engana a nós mesmos. E é uma mentira que encanta. É difícil não acreditar nela. E é difícil não acreditar justamente porque este eu-de-antes é tão, mas tão parecido com o eu.
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