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É só um velho português a ser chicoteado pelo filho

15 Junho, 2020

Não é um cão. Se fosse um cão as redes sociais ferveriam agora de indignação.

Não é um afroamericano a ser agredido pela polícia pois se fosse já saberíamos o nome do agressor.

Não faz parte de uma minoria a ser alvo de uma agressão daquelas logo rotuladas.

É só um velho a ser chicoteado.

Há pouco mais de um ano um homem de 83 anos foi agredido e depois obrigado a entrar  nu num contentor subterrâneo de lixo. Aconteceu em  Ribamar, Mafra. O que aconteceu depois? Houve apuramento das responsabilidades? Julgamento?

Se em vez de velhos fossem cães…

E agora como vai ser? 

14 Junho, 2020

Prometeram-nos liberdade e acabámos mais vigiados que nunca. Prometeram-nos igualdade e acabámos divididos em castas. Prometeram-nos paz e acabámos a viver em guerra connosco mesmos. O cerco fechou-se

Adeus, Google

14 Junho, 2020

Primeiro, tive que dizer adeus ao Twitter. Senti-me melhor, pelo que recomendo a todas as pessoas que o façam, nem que para o efeito optem por outros estimulantes, como cocaína.

Depois, tive que dizer adeus à HBO. Não é que tenham más séries, só péssimas decisões de marketing contrárias ao espírito original do serviço, como “contextualizar” filmes para que eu saiba que já não posso possuir um escravo para abusar, que o privilégio de ter escravos está apenas reservado às empresas de redes sociais e big data.

Agora, tive que dizer adeus à Google. Já estava um bocado farto do mundo de fantasia que gostavam de criar, como sugerirem perante uma pesquisa “European couple” mais de metade dos resultados com homens negros, algo que não me ajuda em nada a encontrar uma imagem para publicitar um centro de dia para idosos, talvez útil apenas para uma agência de viagens para mulheres solteironas de meia-idade em busca de férias na Jamaica. Não sei exactamente qual é a noção de normalidade do Google, mas a minha é baseada naquilo que mais represente a moda, não a versão idílica da distopia dos resultados. No momento em que todos os PM britânicos têm direito a fotografia menos um deles, soube que aquilo não é para mim.

E sim, se for para cancelar todos os serviços até me tornar ermita ludita, que seja. Ainda tenho os livros não censurados, como o Twain com os “nigger” e o Gil Vicente com o parvo, o tal que teve acesso ao paraíso por, ao contrário destas empresas tecnológicas, ser desprovido de malícia.

Os fascistas de hoje chamarão a si mesmos anti-fascistas

13 Junho, 2020

Começo a ter profundas saudades de um tempo em que as mulheres podiam ser mulheres e gostar de tudo o que entendessem. Ficar em casa a tomar conta da família ou trabalhar fora a ajudar o marido. Fazer carreira ou simplesmente não fazer absolutamente nada. De querer ter uma família patriarcal, monoparental ou não ter família nenhuma. Sem pressões. Sem rótulos. Em total liberdade de escolha e não por imposição.

Tenho saudades do tal piropo que fazia parte do engate e a quantidade de piropos que conseguíamos arrancar dizia-nos tudo sobre o nosso “sex apeal”. E ninguém via “assédio sexual”  nisso.

Da nostalgia dos tempos de elegância da mulher e do homem. Do glamour. E não da valorização do maltrapilho e desleixo. Do Festival da canção que era mesmo da canção e não da aberração com letras parvas. Dos Globos de Ouro que eram do cinema e não da imposição da agenda política “progressista”. Dos sexos definidos pela natureza e não por uma ideologia que criou uma miscelânea de mais 71 géneros de coisa nenhuma.

Saudades das escolas ordeiras, sem violência, sem sinais de vandalismo, sem armas brancas, sem tráfico nem consumo de drogas. Onde o ensino era rigoroso e só se passava por mérito. Onde a escola era para aprender – a 4ª classe valia mais do que hoje o 10º ano – porque a educação, da boa, já vinha de casa,  e se algum aluno se esquecesse de respeitar um colega, um funcionário ou a professora, levava uma valente sova ao chegar a casa.

Do respeito pelos mais velhos, da cultura do cuidar dos mais fracos e da solidariedade pelo próximo que era ensinada desde cedo com o exemplo dos próprios pais a cuidarem dos seus entes e a darem esmola a quem precisava sem pedirem nada em troca.

Da transmissão de valores que vinha do berço. Da valorização do trabalho como forma de independência. Da não vitimização por não ter mas antes aprender a aceitar as adversidades lutando para conquistar. Frustrar e privar para dar valor ao que se tem. Das palmadas de amor em criança birrenta. Das boas maneiras que se não as respeitássemos levávamos um carolo logo ali sem que os pais fossem presos. Onde não se retiravam crianças aos pais por serem pobres menos ainda por corrigir com um tabefe. Da noção dos nossos deveres muito antes dos direitos.

De um tempo em que as sociedades eram mais sustentáveis porque nos era ensinado a valorizar tudo o que tínhamos. Onde nos negavam quase tudo para termos apenas o essencial que era preciso estimar para durar muito. Porque o consumismo era desperdício e poupar era a palavra de ordem que levávamos muito a sério a vida toda.

De um tempo em que havia ordem pública e segurança. Onde não se batia em policias, médicos, enfermeiros, professores ou juízes. Onde os criminosos não eram desresponsabilizados, nem vitimizados e muito menos tratados como hospedes em cadeias.

De um tempo em que as pessoas viviam mais remediadas mas mais livres. O que tinham era delas e não dos bancos. Havia menos depressões, menos ilusões, menos bancarrota pessoal. Eram genuinamente mais felizes. Não ambicionavam o que não podiam alcançar e eram gratas por tudo o que tinham. Sabiam que era com trabalho que conquistavam os sonhos, que ninguém lhes daria nada sem esforço por isso trabalhava-se desde cedo para alcançar objectivos. Ninguém vivia à sombra de ninguém.

Era assim no tempo dos meus bisavós, avós, pais e depois no meu, mas em poucas décadas transformou-se nesta ditadura de desconstrução social por uma falsa liberdade onde só podemos ser o que eles consideram ser correcto e o correcto não é ser-se defensor de valores.

Se não estivermos de acordo, ofendem-se, ostracizam. Porque hoje tudo é ofensa. Tudo é racismo. Tudo é extremismo de direita. Tudo é homofobia. Tudo é xenofobismo. Tudo é violação ou assédio sexual. Tudo é crime. A menos, claro, que se esteja do lado do criminoso ou do ofendido ou da agenda progressista de desconstrução social.

Tudo o que outrora era uma sociedade de valores defendida por pessoas de bem, hoje é “fascismo” quando é a própria sociedade destes intolerantes que não percebe o fascismo deste comportamento doentio de imposição do pensamento único. Que não percebe que há mais liberdade numa sociedade defensora de valores que numa ditadura social de pensamento único.

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A direita, ai a direita

12 Junho, 2020

Esta coisa da “direita” cansou-me. Esgotou-me e tornou-me misantropo, o que também pode ser motivo para agradecimento. E cansou-me porque querer nunca quer nada para si própria, só para os outros, coitadinhos, incapazes de lutarem eles próprios pelo que querem. Eu passo a explicar:

“É preciso casamento gay, mas não é para mim – Deus me livre! – é para quem tiver o infortúnio de não ser tão viril quanto eu”.

“É preciso aborto, mas não é para mim, é para quem não consegue engolir a pílula do dia seguinte porque não há aulas práticas de educação sexual”.

“É preciso liberalizar drogas, mas não é para mim, que já acho que a comida tem toda sal a mais, é para um amigo, coitado”.

“É preciso eutanásia, mas não é para mim, é para os desgraçadinhos como o Ramón Sampedro (pista: ele já não precisa)”.

“É preciso prostituição de montra, com factura, tudo legal, com IVA e pagamento de IRS, mas não é para mim, é para pessoas estúpidas que pretendem trocar um chulo pelo estado”.

“É preciso programas escolares adequados, mas não é para mim, é para os pobres que têm que frequentar escolas públicas; para mim só os livros ‘grátis’, se faz favor”.

“É preciso não mencionar a guerra/as estátuas pintadas/a maioria dos assuntos, porque enquanto houver uma criança da Palestina descalça não nos podemos focar em assuntos pouco importantes”.

Feitas as contas, a “direita” é tal e qual o Sócrates. Razão tinha ele: o líder que a direita sempre quis. Se bem que o computador Magalhães teve um nome dado por um racista (a sério, devia ser, e se não era ele que se queixe ou passa a ser).

A Soeiro Pereira Gomes traz a casa?

12 Junho, 2020

O restaurante ontem estava vazio, não tínhamos clientes, mas tínhamos uns manjericos de papel e uma fita amarela dos santos populares para assinalar a data e tornar a rua um pouco mais colorida, mas até isso o polícia disse que era preciso retirar”, conta. O argumento da polícia era que a fita amarela e os manjericos (de papel) iriam atrair “multidões”

Precisa-se: manjericos com bandeirinhas do PCP e quadras de canções de vanguarda. Fitas com o símbolo da CGTP. Fogareiros de preferência com símbolos da URSS.

 

Camões, salva-nos desta apagada e vil tristeza

12 Junho, 2020
Aquela cativa
Que me tem cativo,
Porque nela vivo
Já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
Em suaves molhos,
Que pera meus olhos
Fosse mais fermosa.

Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas
Me parecem belas
Como os meus amores.
Rosto singular,
Olhos sossegados,
Pretos e cansados,
Mas não de matar.

U~a graça viva,
Que neles lhe mora,
Pera ser senhora
De quem é cativa.
Pretos os cabelos,
Onde o povo vão
Perde opinião
Que os louros são belos.

Pretidão de Amor,
Tão doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.
Leda mansidão,
Que o siso acompanha;
Bem parece estranha,
Mas bárbara não.

Presença serena
Que a tormenta amansa;
Nela, enfim, descansa
Toda a minha pena.
Esta é a cativa
Que me tem cativo;
E. pois nela vivo,
É força que viva.