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Conflitos dentro da classe dominante dos EUA se intensificam após Flynn declarar-se culpado

Andre Damon
10 de março de 2018

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Publicado originalmente em 7 de Dezembro de 2017

Ao longo da semana passada, o feroz conflito político dentro da classe dominante nos Estados Unidos entrou em uma nova etapa. Logo após o ex-Conselheiro de Segurança Nacional de Trump, Michael Flynn, declarar-se culpado na sexta-feira, a mídia está novamente tomada com discussões sobre possíveis maneiras para remover Trump do poder.

Na segunda-feira, o New York Times publicou um editorial, “Sim, o presidente pode obstruir a justiça”, respondendo a alegação do advogado de Trump de que “o presidente não pode obstruir a justiça porque ele é principal responsável pela aplicação da lei nos EUA. Citando artigos anteriores de impeachment elaborados contra Richard Nixon e Bill Clinton, o Times disse que o precedente se aplica igualmente, se não mais, à Trump.

Todo o quadro da argumentação do Times contra Trump gira em torno da investigação, liderada pelo Procurador Especial do Departamento de Justiça, Robert Mueller, sobre um suposto envolvimento russo na eleição americana de 2016. Depois de conseguir uma declaração de culpa de Flynn, a investigação de Mueller está agora direcionada diretamente ao círculo mais próximo de Trump, incluindo seu genro Jared Kushner e seu filho Donald Trump Jr., assim como ele próprio.

Em sua ligação para o diretor do FBI na época, James Comey, para abandonar o inquérito sobre Flynn no começo deste ano, o Times escreve, Trump “tentou derrubar uma investigação sobre os laços da sua própria campanha aos esforços do governo russo de deslocar a eleição de 2016 a seu favor”.

O editorial ecoa a linguagem da senadora pela Califórnia do Partido Democrata, Diane Feinstein, que disse domingo no programa “Meet the Press”, da rede NBC: “eu acho que o que estamos começando a ver é a união das partes de um caso de obstrução da justiça”.

O fato de Mueller estar agindo para construir um caso contra Trump foi indicado por notícias nesta semana, que diziam que ele intimou a abertura do histórico financeiro de Trump com o Deutsche Bank, criando a especulação de que poderia forçar a renúncia de Trump ao ameaçar processá-lo pelos seus negócios empresariais antes de ter entrado na Casa Branca.

Outro possível caminho levantado pelos críticos de Trump dentro do establishment político e da mídia é o uso da 25a emenda da Constituição dos EUA, que permite o gabinete presidencial remover o presidente se ele estiver tão debilitado que seja “incapaz de executar os poderes e deveres do seu governo”.

Na semana passada, a colunista conservadora do Washington Post, Jennifer Rubin, reiterou sua proposta anterior de invocar a emenda, citando notícias de que Trump continua a acreditar que Obama não nasceu nos EUA, e que ele afirmou que a voz na fita “Access Hollywood” publicada durante as eleições de 2016 não era sua. Se ele acredita em tais coisas, Rubin escreveu, seria a prova de que está “mentalmente e emocionalmente incapaz de realizar seus deveres (que requerem que o sujeito perceba e processe a realidade) e já teria passado há muito tempo o momento dele sair”.

Está claro que uma facção significativa da elite dominante concluiu que Trump deve ser removido do cargo, de uma forma ou de outra.

Não há, entretanto, um pingo de conteúdo democrático ou progressista nessa campanha. Os conflitos em Washington são conflitos dentro da classe dominante, entre a administração de Trump – que está dependendo cada vez mais de forças de extrema-direita e fascistas – e os elementos poderosos do aparelho militar e de inteligência com os quais o Partido Democrata está alinhado.

De maneira significativa, o congressista democrata Al Green tentou emplacar uma votação na Câmara dos Representantes que pedia o impeachment de Trump, que foi rejeitada esmagadoramente por democratas e unanimemente por republicanos. Diferente da investigação de Mueller, a proposta de Green era baseada na defesa pelo presidente de supremacistas brancos em Charlottesville e seu retuíte de vídeos anti-muçulmanos postados anteriormente por fascistas britânicos.

A líder democrata Nancy Pelosi deixou claro que os votos dos democratas contra a medida refletiam não seu apoio à Trump, mas seu desejo de levar adiante sua campanha de acusações de “conluio” de Trump com a Rússia, dizendo que “aqueles inquéritos (os de Mueller) devem continuar”.

Mesmo enquanto intensificaram seus esforços para rotular Trump de traidor e agente russo, os democratas evitaram qualquer oposição às suas políticas de direita. Ao mesmo tempo em que o Congresso age para aprovar a proposta de reforma tributária de Trump – um recado para a elite financeira que vai permitir realizar grandes cortes na Seguridade Social, no Medicare e Medicaid – os democratas não fizeram nada para se opor à sua aprovação. Eles não realizaram quaisquer reuniões discutindo o seu conteúdo e não convocaram quaisquer manifestações.

Ao invés disso, a disputa dos democratas com Trump é centrada na preocupação de que sua administração minou os interesses fundamentais de política externa do imperialismo americano. A realidade do declínio geopolítico dos Estados Unidos sob Trump foi revelada por dois eventos recentes – o acordo entre a Rússia e o Egito que autoriza a Rússia estacionar aviões em bases aéreas egípcias e a declaração do Ministro da Relações Exteriores da Alemanha, Sigmar Gabriel, de que o papel “protetor” dos Estados Unidos sobre a Europa “está começando a desmoronar”.

A caça-às-bruxas sob alegações de assédio sexual orquestrada pelos meios de comunicação ligados ao Partido Democrata, particularmente o New York Times, faz parte do mesmo processo. Trata-se um esforço para mobilizar seções da classe média-alta a favor da agenda da elite financeira e do aparato militar e de inteligência baseado em uma campanha profundamente antidemocrática e reacionária. Faz parte da campanha de “interferência” russa, que tem sido utilizada não apenas para atacar Trump, mas materializar um regime de censura da internet e supressão do descontentamento social nos EUA.

O surgimento de ferozes conflitos dentro de todos os estados é a expressão, entretanto, de uma doença mais profunda, para a qual a classe dominante não possui solução. Se os críticos de Trump na classe dominante fossem bem sucedidos em removê-lo, isso não resolveria a crise do regime burguês que os EUA estão cada vez mais imersos. Colocaria no poder um governo ainda mais controlado pelo aparelho militar e de inteligência, comprometido em continuar a ofensiva contra a classe trabalhadora e aumentar a escalada militar com a Rússia.

Um conflito completamente diferente está se desenvolvendo entre a classe dominante e a classe trabalhadora. Três bilionários agora controlam mais riqueza do que metade da população mais pobre nos Estados Unidos. A ampla massa da população está sofrendo com uma crise cada vez maior – dívidas massivas, empregos de baixos salários, uma epidemia de drogas em expansão, e outras manifestações da enorme tensão social nos EUA. O sistema financeiro, inflado pela injeção inacabável de dinheiro, está à beira de outro colapso, parecido com a quebra de Wall Street de 2008, com consequências incalculáveis.

Mesmo enquanto atacam furiosamente umas às outras, o que todas as facções da classe dominante temem acima de tudo é que a crise provocará a radicalização política da classe trabalhadora.

Trabalhadores e jovens buscando se opor à administração Trump precisam evitar o profundamente doente e reacionário Partido Democrata como a peste.

O WSWS escreveu em sua perspectiva de 13 de Junho, “Golpe palaciano ou luta de classes: a crise política em Washington e a estratégia da classe trabalhadora”, que a conclusão política essencial que se tira da situação política nos Estados Unidos é que “a luta da classe trabalhadora contra Trump e tudo que ele representa levantará urgentemente a necessidade de um movimento político de massas, independente e oposto aos republicanos e democratas, contra o sistema capitalista e seu estado. Essa tendência objetiva de desenvolvimento social precisa ser desenvolvida como uma estratégia consciente da luta da classe trabalhadora”.

O Partido Socialista pela Igualdade está lutando para construir tal movimento, baseado no programa socialista de expropriar a riqueza da oligarquia financeira e reorganizar a sociedade sobre uma base socialista e igualitária. Nós chamamos todos os nossos leitores a se juntar e construir o PSI.