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Encontro dos Ministros de Finanças do G20: promessas
vazias diante do aprofundamento das contradições
Por Chris Marsden
15 de setembro de 2009
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Publicado originalmente em inglês em nosso site no
dia 8 de setembro de 2009
A reunião dos Ministros de Finanças dos países
que compõem o G20, em Londres, na semana passada, apresentou
o esperado comunicado conjunto. No entanto, não houve acordo
sobre nenhuma proposta concreta para a reforma do sistema bancário
ou para a regulamentação dos bônus financeiros.
Em vez disso, a reunião foi caracterizada pelo aprofundamento
das tensões entre os Estados Unidos e a Grã-Bretanha,
de um lado, e as outras potências europeias, lideradas pela
Alemanha, de outro. Também foi expressa a ampla insatisfação
em relação a todo o processo, especialmente por
parte das economias emergentes do Brasil, Rússia, Índia
e China, grupo conhecido como Bric.
A conclusão da reunião e suas diversas promessas
vagas foram recebidas pelos principais comentaristas econômicos
com ceticismo e, até mesmo, com advertências a respeito
do agravamento de um desastre na economia.
O correspondente da BBC Steve Schifferes intitulou sua coluna
"Fumaça e Espelhos na reunião do G20".
Apontando para a diferença entre os resultados concretos
da reunião e o que tinha sido acordado "a princípio",
antes da chegada dos chefes de estado da cúpula do G20
a Pitsburgo (EUA) em 24 e 25 de setembro, Schifferes observou
que "sob a retórica permanecem diferenças significativas"
que "vão além da discussão um tanto
quanto superficial sobre a remuneração de executivos."
O The Wall Street Journal escreveu sobre "detalhes
ausentes" e coisas "deixadas em aberto" que "abrem
a possibilidade de divergências para as próximas
semanas".
O Economist disse que "a reunião deste fim
de semana esforçou-se para encontrar qualquer coisa nova
para dizer. O mesmo acontecerá em Pitsburgo ... "
Will Hutton escreveu no Observer, queixando-se que a causa
da crise, "o estrangulamento de uma nova oligarquia financeira
sobre a política pública mal foi tocado". Como
resultado, advertiu que "uma segunda crise potencialmente
mais grave nos espera."
A emissão de bônus aos executivos não é
um problema insignificante, como retratado por alguns comentaristas
nos EUA e na Grã-Bretanha. Isto ocorre em grande parte
porque foram as potências europeias, lideradas pela França
e Alemanha, que colocaram maior ênfase na contenção
dos bônus excessivos, no período de preparação
para a reunião e solicitaram barreiras a serem impostas
- um movimento ao qual se opuseram Washington e Londres.
Os europeus estavam, em parte, motivados pelo real impacto
desestabilizador da chamada "cultura de bônus"
no setor financeiro, que alimentou a especulação
desenfreada e a acumulação de montanhas de dívidas,
mas também pelo impacto político que tais excessos
óbvios tiveram entre os trabalhadores que, como resultado,enfrentaram
o aumento da miséria. A ministra das Finanças francesa
Christine Lagarde pediu limites obrigatórios, com o apoio
da Alemanha e dos ministros das Finanças da zona do Euro.
"O que aconteceu há 12 meses foi simplesmente horrível
para as nossas sociedades, foi horrível para as nossas
economias, e ainda sofremos as consequências", disse
ela.
Londres e Washington condenaram esta proposta como "impraticável",
sinalizando que eles não vão tolerar nada que viole
os interesses dos seus principais financiadores. Como Hutton observou,
a "cultura do bônus" opera sobretudo "no
eixo Londres/Nova York, onde os financiadores têm direito
a salários espantosos que não têm justificativa
econômica em termos de criação de valor ou
relação com a rentabilidade ... 90% dos investimentos
dos lucros bancários não é direcionado a
fortalecer os balanços ou aos acionistas em dividendos,
nem aos clientes com taxas mais baixas, nem aos contribuintes
-ele é usado como bônus aos banqueiros".
Os EUA e Grã-Bretanha viram as solicitações
por limites aos bônus como um ataque por parte da Europa
a seu setor financeiro e contrapôs que a descapitalização
dos bancos era a principal fonte de fraqueza a ser abordada. O
Secretário do Tesouro dos EUA, Tim Geithner foi pressionado
a respeito da qualidade dos ativos que os bancos têm em
seus livros em relação aos seus depósitos.
Os EUA querem impor exigências aos bancos para manter mais
capital guardado a fim de proteger o sistema financeiro global
contra o risco.
Isso foi visto pela Europa como uma ameaça particular
a seu setor bancário. O Financial Times observou:
"Mais do que para os correspondentes dos EUA., os amortecedores
de capital dos bancos europeus são compostos dos chamados
títulos "híbridos" que estão mais
para dívida do que para lucro. Analistas disseram que alguns
bancos europeus tinham encontrado o equivalente a metade dos requisitos
reguladores existentes sobre amortecedores de capital através
de títulos "híbridos".
Ao final, houve um compromisso inexpressivo em ambas as questões.
Não houve acordo para o limite de bônus. Os países
do G20 aliás concordaram com as medidas que obrigam os
bancos a divulgarem o salário e os bônus de seus
principais funcionários. Os bônus também podem
ser "resgatados" caso sejam considerados inaceitáveis.
Isto será determinado por um relatório do Comitê
de Estabilidade Financeira (FSB), que irá decidir se o
conjunto total de retiradas de dinheiro por um banco para bônus
é excessivo ou não. Nenhuma sanção
foi discutidas e nada sobre o "resgate" de bônus
foi decidido.
A reunião do G20 também acordou que todos os
bancos terão que manter maiores amortecedores de capital
até que a crise financeira tenha passado. Novamente, nenhum
detalhe concreto foi aprovado. Mesmo assim, esta proposta foi
recebida com hostilidade. O FT observou que Bernd Brabander
da Associação dos Bancos Alemães acreditava
que a apresentação de propostas "poderia colocar
os bancos europeus em situação de desvantagem competitiva".
"O pouco sobre índices de alavancagem realmente me
deixa um tanto nervoso", disse ele.
O Telegraph previu que atender essas solicitações
implicaria em "doações maiores dos contribuintes
", e que a França e a Alemanha "podem ser forçadas
a semi-estatizar vários dos seus bancos em dificuldades."
A reunião de domingo do Bank for International Settlements
(BIS), composto por 55 bancos centrais do mundo, aprovou as propostas
do G20, mas não estabeleceu um calendário para a
sua execução.
Havia uma discussão em andamento sobre os direitos de
voto concedidos à China e outras potências econômicas
no âmbito do G20, que foi arquivada. A China quer um corte
de 7% nos direitos de voto dos países europeus, e os EUA
está solicitando um corte de 5%. As propostas concretas
não serão desenvolvidas até janeiro de 2011.
A expressão mais significativa do aumento das tensões
entre as grandes potências foi o esforço exigido
pelo EUA e Grã-Bretanha para afastar as exigências
de um fim rápido para os vários pacotes de estímulo
aplicados no início da crise econômica mundial no
ano passado. Alemanha e França levaram a proposta de que
o G20 começasse a discutir as "estratégias
de saída".
Antes da reunião do G20, havia indícios de um
significativo déficit de 1,1 trilhão de dólares
no pacote de estímulo global administrado pelo Fundo Monetário
Internacional, adotado em abril. As medidas de estímulo
têm tido um caráter de auxílio ao próximo,
dirigidas para salvar as economias nacionais concorrentes das
grandes potências e canalizadas para os bolsos do grande
capital.
Mesmo assim, a chanceler Angela Merkel, da Alemanha, advertiu
contra todo perigo inflacionário a longo prazo e a ameaça
representada pelos níveis insustentáveis de dívida
pública, devido à multi-trilhões de vários
pacotes de estímulo e resgates bancários. Tendo
a Alemanha, Japão e França oficialmente saído
da recessão no último trimestre, e a China retornando
deu crescimento de 8%, houve um novo impulso às exigências
para retirar as subvenções do governo.
Os EUA e a Grã-Bretanha responderam com uma série
de advertências, que a economia global está longe
de ser segura e que o capitalismo mundial ainda está dependente
de injeções de dinheiro pagos pela classe trabalhadora.
"Ações (pelo G20) tiraram a economia global
da beira do abismo", disse Geithner. "Entretanto, nós
ainda temos desafios importantes pela frente."
O primeiro-ministro britânico Gordon Brown se refere
apenas aos "sinais preliminares de recuperação"
e advertiu que o corte nas despesas poderia causar outra "guinada
para baixo". Solicitou, assim, a plena implementação
do plano de expansão fiscal de 5 trilhões de dólares
acordado em abril . A mini-cúpula do grupo Bric de economias
emergentes também avisou que era "muito cedo"
para falar em fim da crise.
Ao final, os Ministros concordaram em continuar com o apoio
financeiro para a economia mundial até a recuperação
da recessão, após a qual iriam desenvolver estratégias
coordenadas de "saída".
No entanto, a situação real que a economia global
enfrenta é muito pior do que indica a advertência
feita por Washington e Londres. A recuperação do
valor das ações é de longe o produto de uma
injeção de fundos sem precedentes na economia, que
permitiu que a burguesia continuasse a enriquecer e ainda alimentou
uma segunda onda especulativa. É por isso que existe uma
preocupação tão grave em relação
a qualquer eventual retirada de medidas de estímulo. Enquanto
os preços das ações sobem, como resultado,
não há tal indicação de uma recuperação
na economia real.
O desemprego nos EUA já é quase de 10%, enquanto
em toda a zona euro é ligeiramente inferior , 9,5%. Como
o desemprego continua a aumentar e os salários continuam
a cair, o consumo inevitavelmente cairá. Os economistas
agora se referem a uma retração econômica
dupla neste ano e um suposto "retorno do desemprego".
O chefe do FMI, Dominique Strauss-Kahn, alertou para uma "terceira
fase da crise, na sucessão das fases financeiras e econômicas
- ou seja, altos índices de desemprego".
As medidas de estímulo implementadas até agora
representam um valor equivalente a 18% do PIB mundial. Essa vasta
soma deve continuar a ser arrancadas das costas da classe trabalhadora
através da destruição de postos de trabalho,
salários e eliminação de abastecimentos sociais
essenciais.
Escrevendo ao Guardian, Ashley Seager chamou a atenção
para o relatório do Órgão Sobre Comércio
e Desenvolvimento da Organização das Nações
Unidas (Unctad). Afirmando que o relatório "vai questionar
a medida na qual há uma genuína recuperação
econômica auto-sustentável em curso", o texto
cita Heiner Flassbeck, economista chefe da Unctad:
"Todas estas altas dos mercados são vistas como
reflexo da recuperação econômica, mas é
apenas uma outra bolha", afirma Flassbeck ao Guardian.
"Os mercados estão refletindo uma recuperação
que não existe. A deflação salarial é
um enorme perigo em toda parte e isso não está sendo
reconhecido. Os bancos foram resgatados pelo contribuinte e estão
apenas retornando à especulação no estilo
cassino que, antes de tudo, nos trouxe problemas".
[traduzido por movimentonn.org]
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