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Stalin, Trotsky e a greve geral britânica de 1926

Parte 1

Por Chris Marsden
20 de março de 2009

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Abaixo segue a primeira parte, de três, de palestra ministrada na escola de verão do Partido da Igualdade Socialista (Socialist Equality Party — SEP) em agosto de 2007.

A Greve Geral britânica de maio de 1926 permanece, depois de mais de 80 anos, um momento determinante na história do movimento dos trabalhadores. Suas lições são essenciais para o desenvolvimento de uma estratégia revolucionária, na Grã-Bretanha e no mundo.

A greve geral deveria ter sinalizado o início de um desenvolvimento pronunciado em direção ao socialismo revolucionário pelos trabalhadores britânicos e uma ruptura organizacional e política com a burocracia dos sindicatos e do Partido Trabalhista. A greve tinha o potencial de desenvolver-se num confronto revolucionário entre capital e trabalho. Desde os seus primeiros dias, envolveu milhões de trabalhadores, incluindo mais de um milhão de mineradores.

Ainda assim, historiadores retratam a greve como um episódio excepcional dentro de um movimento reformista, legalista e pacífico desenvolvimento que se desenvolvia nos trabalhadores ingleses — uma sociedade caracterizada por antagonismos agudos, mas que poderiam ser controlados dentro do quadro da democracia parlamentar.

Essa interpretação é auxiliada pelos escritos de historiadores do trabalho de caráter social-democrata e stalinista, que insistem que a revolução nunca foi uma possibilidade ou que, se o perigo se apresentasse, sua realização teria sido o maior desastre já abatido sobre o povo britânico. As ações incendiárias dos responsáveis, caso a revolução houvesse acontecido, ameaçariam os esforços de assegurar um acordo industrial aceitável para ambos os lados.

Como afirma um livro recente, Uma Greve Muito Britânica, 3-12 de maio de 1926, pela jornalista do Guardian Anne Perkins: "Em grande medida, a Greve Geral britânica em 1926 foi quase um produto acidental do medo da revolução; em uma atmosfera mais calma, poderia não ter havido um catalisador."

A greve foi supostamente um grande mal entendido, resultado de uma reação interna exagerada a uma ameaça que era na verdade externa.

Esse retrato é geralmente sustentado com anedotas sobre jogos de futebol entre grevistas e polícia (o que de fato aconteceu, cortesia dos líderes sindicais — os grevistas ganharam por 2 a 1), e sobre fura-greves pertencentes à um grupo cômico de estudantes. Acima de tudo, o argumento para chamar a greve de infeliz incidente está em sua curta duração e no curso de desenvolvimento subseqüente da classe trabalhadora.

De fato, era a avaliação dos perigos contidos na greve feita por representantes da burguesia britânica no governo, e não a dos intérpretes dos dias posteriores, que estava correta. Era uma avaliação compartilhada pelo Congresso e por líderes do Partido Trabalhista, que responderam vendendo a greve após meros nove dias, abandonando os mineradores, que lutaram sozinhos até a derrota.

Foi a rejeição pelo Partido Comunista de uma perspectiva revolucionária, em favor do Conselho Geral do TUC (Congresso dos Sindicatos) e em particular dos esquerdistas, que desarmaram politicamente a classe trabalhadora e facilitaram essa traição histórica. A facção de Stalin do Partido Comunista Soviético e do Comintern impuseram essa linha sobre o Partido Comunista da Grã-Bretanha (PCGB).

Stalin e seus aliados retiraram da derrota na Alemanha em 1923 a conclusão de que o capitalismo estava entrando em um período de estabilização no qual não havia chance real de um desenvolvimento revolucionário na Europa. A tarefa central era, desse modo, resguardar a União Soviética da ofensiva imperialista.

Na Inglaterra, esse rumo oportunista tomaria a forma do Comitê Anglo-Russo estabelecido em 1925 — uma aliança entre os sindicatos russos e o TUC feita para garantir o auxílio mútuo e o apoio entre sindicalistas dos dois países, opor a guerra e encorajar relações amigáveis entre a Inglaterra e a URSS.

A Oposição de Esquerda, formada por Leon Trotsky em 1923, era contrária a essa perspectiva.

Para estimar o significado da greve geral e sua traição, é necessário colocar a questão: havia ou não uma situação pré-revolucionária na Inglaterra?

Stalin negava tal possibilidade. Falando sobre sua perspectiva do socialismo em um só país e sua batalha contra Trotsky, ele declarou em 10 de fevereiro de 1926, "Ora, se a vitória da revolução no Ocidente está um tanto atrasada, nada podemos fazer, aparentemente, a não ser esperar... Há um longo, longo caminho entre o apoio dos trabalhadores no Ocidente e a vitória da revolução no Ocidente..."

Qual era a posição de Trotsky sobre a situação na Inglaterra e a política da facção de Stalin? Ele explica em sua autobiografia Minha Vida:

"O destino da Inglaterra após a guerra era um assunto de grande interesse. A mudança radical em sua posição não poderia deixar de trazer mudanças igualmente radicais em sua correlação de forças interna. Estava claro que mesmo se a Europa, incluindo a Inglaterra, restaurasse certo equilíbrio social por um período mais ou menos estendido de tempo, a própria Inglaterra poderia alcançar tal equilíbrio somente pelo meio de sérios conflitos e abalos. Eu acreditei ser possível que na Inglaterra, se comparada com todos os lugares, a luta da indústria do carvão levaria a uma greve geral. A partir disso, assumi que a contradição essencial entre as velhas e as novas organizações da classe trabalhadora e suas novas tarefas históricas seriam, é claro, reveladas no futuro próximo. Durante o inverno e a primavera de 1925, enquanto estava no Cáucaso, escrevi um livro sobre isso — Whither England? [Para Onde Inglaterra?]. O livro abordava principalmente a concepção oficial do Politbureau, em suas esperanças de uma evolução para a esquerda do Conselho Geral Britânico e de uma penetração gradual e sem dor do comunismo nas fileiras do Partido Trabalhista Britânico e dos sindicatos."

Trotsky complementou: "...dentro de alguns meses, a greve dos mineradores de carvão se tornou uma greve geral. Eu não havia esperado uma confirmação tão prematura de minha previsão."

Na introdução de 24 de maio de 1925 à edição americana de Whither England?, publicada depois como "Where is Britain Going?" [Para Onde Vai a Inglaterra?], Trotsky escreveu:

"A conclusão que eu alcanço em meu estudo é que a Grã-Bretanha se aproxima, em máxima velocidade, de uma época de grandes levantes revolucionários... A Grã-Bretanha se move na direção da revolução porque a época do declínio capitalista se assentou. E se procurarmos os perpetradores, então em resposta à questão de quem ou o que está propelindo a Inglaterra a percorrer a estrada para a revolução precisamos dizer: não Moscou, mas Nova Iorque.

"Uma resposta como essa pode parecer paradoxal. Ainda assim, corresponde inteiramente à realidade. A poderosa e sempre crescente pressão mundial dos Estados Unidos torna a problemática da indústria britânica, do comércio britânico, das finanças britânicas e da diplomacia britânica crescentemente irresolvível e dramática.

"Os Estados Unidos não podem deixar o rumo da expansão no mercado mundial, ou o excesso ameaçará sua própria indústria com um ‘golpe.' Os Estados Unidos somente podem expandir às custas da Inglaterra."

A mineração de carvão se tornou central na luta para reorganizar a economia e a vida social britânica. Havia passado ao controle governamental durante a guerra e era pesadamente subsidiada.

Frente à rigorosa competição global por mercados, ainda mais com a retomada da produção no Ruhr, os subsídios governamentais precisavam acabar — mesmo diante do risco de provocar a oposição feroz da classe trabalhadora.

O conservadorismo e gradualismo que permeavam o movimento trabalhista na Inglaterra são submetidos à crítica implacável de Trotsky. Mas ele sabia que a base objetiva desses traços — a dominação de uma aristocracia trabalhista e o cultivo deliberado da colaboração de classes pela classe dominante — entrava em colapso juntamente com a hegemonia global da Grã-Bretanha.

A radicalização da classe trabalhadora britânica já havia se manifestado imediatamente após a guerra, com três vezes mais dias de greve entre 1919 e 1921 do que nos anos do pré-guerra.

Mas essa onda militante havia se dissipado após a Sexta-feira Negra, 15 de abril de 1921, quando a liderança dos sindicatos ferroviário e do transporte renegaram seu compromisso da Tripla Aliança de entrar em greve em apoio aos mineradores. Muitos trabalhadores rasgaram seus cartões do sindicato em desprezo, decididos que nenhuma traição similar ocorreria no futuro — uma motivo chave, junto com a rejeição de qualquer processo de conciliação pelo governo, pelo qual cinco anos depois o TUC se sentiu compelido a chamar uma greve geral.

A classe trabalhadora buscou uma solução política, respondendo com um governo Trabalhista em 1924. O governo foi derrubado depois de apenas nove meses como resultado de uma caça às bruxas anti-comunista.

O temperamento militante e revolucionário da classe trabalhadora também se expressava na crescente influência do Partido Comunista da Grã-Bretanha, formado em 1920. O PCGB, que possuía apenas 4.000 membros em 1923, formou o NMM [National Minority Movement — Movimento Nacional de Minoria] nos sindicatos, que nos anos seguintes, cresceu para englobar cerca de um quarto do corpo de membros dos sindicatos e teve sucesso em eleger Arthur James Cook como líder do sindicato dos mineradores em 1924. Também formou o Movimento de Esquerda Nacional dentro do Partido Trabalhista em 1925, fazendo campanha pelo direito de afiliação e contra a expulsão Trabalhista dos Comunistas.

Os Comunistas haviam tido sucesso em tornarem-se delegados nos comitês trabalhistas e na conferência do Partido Trabalhista. Na conferência de 1923 havia 430 delegados Comunistas, e na eleição geral de dezembro de 1923 o PC elegeu nove candidatos, sete dos quais integrantes do Partido Trabalhista. Os candidatos do PC receberam 66.500 votos. O Workers' Weekly vendia então cerca de 50.000 cópias, mais que qualquer outro semanal socialista.

Enquanto Trotsky terminava Whither England?, os proprietários das minas de carvão pressionavam por um choque frontal com os mineradores. Mas o governo Conservador de Stanley Baldwin decidiu que não estava pronto, e em 31 de julho de 1925, a "Sexta-feira Vermelha," recuou e garantiu mais subsídio aos proprietários das minas de carvão para adiar as demandas por cortes salariais massivos e reestruturação.

Nos nove meses que se seguiram, a classe dominante também se preparou para o conflito com a classe trabalhadora. Estabeleceu a Organização para a Manutenção dos Suprimentos (OMS) para liderar operações quebra-greve, incluindo o treinamento de forças militares e o recrutamento de voluntários civis. A OMS se tornou uma casa oficial para praticamente todo elemento fascista e de extrema-direita na Bretanha. A Lei de Poderes Emergenciais de 1920 permitiu a prisão sem mandado de qualquer um que fosse simplesmente suspeito de um crime, e buscas sem mandado e se necessário forçadas. O secretário de estado foi capacitado a usar as forças armadas conforme julgasse necessário.

Winston Churchill era então o Chanceler de Exchequer. Ele assumiria o papel-chave no trabalho para esmagar a greve geral, junto com o secretário doméstico William Joynson-Hicks.

Em 14 de outubro de 1925, a polícia invadiu os quartéis-generais nacional e de Londres do PCGB, da Jovem Liga Comunista, do NMM e do Workers Weekly. No total, doze líderes foram presos — oito na época, quatro depois — incluindo Willie Gallacher, Harry Pollitt, e Robin Page Arnott — quase todo o birô político. Eles foram encarcerados e acusados de incitação ao motim, sob um ato datado de 1797. Permaneceram na cadeia por seis meses ou um ano, e a maioria ainda estava presa quando a greve geral começou.

Cento e sessenta e sete mineradores da Federação de Mineradores de Gales do Sul também foram levados a julgamento por conta de uma greve em julho e agosto. Cinquenta foram mandados à prisão.

A prisão dos líderes do PC evocou protestos em massa. Ocorreram marchas, uma de 15.000 pessoas, para a Prisão de Wandsworth todo fim de semana, e um comício no Queen's Hall de Londres em 7 de março, descrito pelo membro do Partido Trabalhista George Lansbury como "um dos maiores encontros já organizados em Londres". Lansbury notou que parlamentares do Partido Trabalhista usaram linguagem sediosa para desafiar o secretário doméstico a prendê-los.

Cerca de 300.000 assinaturas foram colhidas para uma petição exigindo a soltura dos 12, e um prisioneiro membro do PCGB, Wally Hannington, foi eleito para o comitê executivo do Conselho Sindical de Londres.

No coração dos avanços do PCGB estava uma linha política que direcionava o partido à classe trabalhadora e à uma disputa com a burocracia sindical e Trabalhista pela direção do movimento. Essa política se baseava na linha desenvolvida pelo Comintern em 1921 sob o slogan, "Às massas". Mas o sucesso de tal disputa dependia acima de tudo da exposição das pretensões dos representantes de "esquerda" da burocracia.

Enquanto direitistas como Walter Citrine e Jimmy Thomas da União Nacional de Ferroviários eram oponentes explícitos do comunismo, esquerdistas como Alonzo Swales da união dos engenheiros, Alfred Purcell do comércio de mobílias e George Hicks dos construtores civis afagavam o PCGB e discursavam com retórica radical e mesmo marxista para melhor enganar a classe trabalhadora.

Purcell era presidente do TUC e Bromley seu secretário. Sua eleição era medida do humor militante dentro dos sindicatos. Purcell havia se juntado ao PCGB em seus primeiros dias, junto com o líder da Federação de Mineradores, A. J. Cook. Ambos saíram logo e estabeleceram um certo grau de independência, mantendo ao mesmo tempo uma conveniente conexão com o partido, o que lhes dava credenciais esquerdistas.

Suas declarações mais radicais geralmente eram feitas com relação a questões de política externa — oposição à guerra e chamada pelo estabelecimento de relações com a URSS, questões que eles tratavam porque não os comprometiam com nada de prático e não interferiam em sua aliança com a direita. Na conferência do Partido Trabalhista de 1925, em Liverpool, que assumiu a decisão de excluir os Comunistas do corpo de membros do Trabalho, eles não disseram nada.

Foi a partir da iniciativa dos "esquerdistas" que o Congresso do TUC de 1924 decidiu enviar uma delegação para visitar a Rússia em novembro-dezembro. A visita levou à formação do Comitê (de Unidade) Anglo-russo em abril de 1925.

Trotsky não havia se oposto à formação do Comitê Anglo-russo. Era correto, disse ele, tirar vantagem da virada para a esquerda da classe trabalhadora, à qual os "esquerdistas" estavam se adaptando retoricamente. Mas a tarefa era expor os "esquerdistas" do TUC e, assim fazendo, travar uma guerra contra toda a burocracia, construindo a influência do Partido Comunista.

A linha stalinista era o pólo oposto de tal perspectiva. Como Trotsky explicou em Sobre o Esboço de Programa do Comintern em 1928, "O ponto de partida do Comitê Anglo-russo, como vimos, foi a impaciência de pular por cima do Partido Comunista, jovem e lento demais em seu desenvolvimento. Isso investiu toda a experiência com um falso caráter mesmo antes da greve geral.

"O Comitê Anglo-russo era visto não como um bloco episódico no topo que teria de ser quebrado e que inevitavelmente e demonstrativamente seria quebrado no primeiro teste, comprometendo o Conselho Geral. Não, não apenas Stalin, Bukharin, Tomsky e outros, mas também Zinoviev, viram em uma "parceria" duradoura, um instrumento para o revolucionamento sistemático das massas trabalhadoras inglesas, e se não um portão, ao menos uma aproximação em direção ao portão através do qual cavalgaria a revolução do proletariado inglês. Quanto mais longe ia, mais o Comitê Anglo-russo se transformava, de uma aliança episódica, em um princípio inviolável parado acima da luta de classes real. Isso se revelou na época da greve geral."

Para resumir, a linha de Stalin era baseada em:

1) Um profundo ceticismo quanto à possibilidade da revolução, como evidenciado por seu argumento de um novo período de estabilização capitalista.

2) Um desvio para longe da tarefa de construir um Partido Comunista, em favor de alianças oportunistas com a burocracia sindical.

3) A noção de que essas forças poderiam eventualmente ser empurradas para a esquerda por pressão militante e de que agiriam como substitutas ao partido.

4) O abandono ou diminuição da crítica aos aliados de Moscou, ao menos aos "esquerdistas", e uma recusa em retirar quaisquer conclusões práticas mesmo quando se tornava impossível permanecer em silêncio.

Zinoviev declarou em 1924, no Quinto Congresso do Comintern: "Na Inglaterra estamos agora passando pelo começo de um novo capítulo do movimento Trabalhista. Não sabemos exatamente de onde o partido comunista de massas da Inglaterra virá, se pela porta Stewart-MacManus [do PCGB — Bob Stewart e Arthur MacManus eram líderes do PCGB] ou se por outra porta."

Trotsky apresenta uma crítica paralisante à posição da facção de Stalin e seus cálculos políticos em Minha Vida:

"Stalin, Bukharin, Zinoviev — nessa questão eles estavam todos em solidariedade, ao menos no primeiro período — buscavam substituir o Partido Comunista Inglês por uma "corrente mais ampla" que tinha em sua cabeça, certamente, não membros do partido, mas "amigos," quase-comunistas, de qualquer forma bons homens e bons conhecidos. Os bons homens, os "líderes" sólidos, não queriam, é claro, submeterem-se à liderança do pequeno e fraco Partido Comunista. Era seu pleno direito; o partido não pode forçar ninguém a submeter-se a ele. Os acordos entre os Comunistas e os "esquerdistas" (Purcell, Hicks e Cook) na base de tarefas parciais do movimento sindical eram, é claro, bem possíveis e em certos casos inevitáveis. Mas sob uma condição: o Partido Comunista precisava preservar uma completa independência, mesmo dentro dos sindicatos, agir em seu próprio nome em todas as questões de princípio, criticar seus aliados de "esquerda" sempre que necessário, e desse modo, ganhar a confiança das massas passo a passo.

"Esse único caminho possível, porém, parecia longo demais e incerto para os burocratas da Internacional Comunista. Eles consideraram que por meios de influência pessoal sobre Purcell, Hicks, Cook e outros (conversas nos bastidores, troca de correspondência, banquetes, tapinhas amigáveis nos ombros, exortações gentis), iriam encaminhar, de forma gradual e imperceptivelmente, a oposição de "esquerda" ("a corrente ampla") para o rio da Internacional Comunista. Para garantir o sucesso dessa empreitada com maior segurança, os queridos amigos (Purcell, Hicks e Cook) não deveriam ser contrariados ou incomodados, não deveriam sofrer de insatisfação como alvos de críticas inoportunas, intransigência sectária etc... Mas já que uma das tarefas do Partido Comunista consiste precisamente em atrapalhar a paz e alarmar todos os centristas e semi-centristas, uma medida radical teve de ser tomada na subordinação do Partido Comunista ao "Movimento de Minoria." No campo do movimento sindical apareciam apenas os líderes desse movimento. O Partido Comunista britânico havia praticamente deixado de existir para as massas."

Essa foi a traição política fundamental da clique de Stalin. Em Lições de Outubro, Trotsky avisara:

"Sem um partido, à parte de um partido, sobre a cabeça de um partido, ou com o substituto de um partido, a revolução proletária não pode ser vitoriosa. Essa é a principal lição da década passada. É verdade que os sindicatos ingleses podem se tornar um nivelador em favor da revolução proletária; eles podem, por exemplo, até tomar o lugar dos soviets dos trabalhadores sob certas condições e por um certo período de tempo. Eles podem ter tal papel, porém, não à parte de um Partido Comunista, e certamente não contra o partido, mas somente sob a condição de que a influência comunista se torne a influência decisiva nos sindicatos."

Em um artigo publicado no Internacional Comunista logo após a Greve Geral, Problemas do Movimento Sindical Britânico, Trotsky citou passagens de sua correspondência de janeiro-março de 1926, imediatamente antes da greve, onde explicou:

"O movimento de oposição liderado pelos esquerdistas, semi-esquerdistas e pelos de extrema-esquerda reflete uma profunda mudança social nas massas."

Porém, ele continou, "A lanosidade dos "esquerdistas" britânicos junto com seu elcetismo teórico, e sua indecisão política, para não dizer covardia, torna a clique de MacDonald, Webb e Snowden senhora da situação, o que por sua vez é impossível sem Thomas. Se os chefes do Partido Trabalhista britânico formam uma rédea posta sobre a classe trabalhadora, então Thomas é a fivela na qual a burguesia insere as rédeas...

"O atual estágio de desenvolvimento do proletariado britânico, onde a enorme maioria responde com simpatia aos discursos dos "esquerdistas" e apóia MacDonald e Thomas no poder, não é, certamente, acidental. E é impossível pular por cima desse estágio. O caminho do Partido Comunista, como o futuro grande partido das massas, passa não apenas por uma luta irreconciliável contra a agência especial do capital sob a forma da clique Thomas-MacDonald, mas também pelo desmascaramento sistemático dos burros "esquerdistas" por meio dos quais MacDonald e Thomas podem manter suas posições."

Continua

[traduzido por movimentonn.org]