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O custo colossal das guerras intermináveis de Washington

Bill Van Auken
16 de dezembro de 2017

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Publicado originalmente em 9 de Novembro de 2017

Dezesseis anos de guerra no Iraque, Afeganistão, Paquistão e Síria sugaram 5,6 trilhões de dólares da economia dos Estados Unidos, de acordo com um novo estudo intitulado “Custos de Guerra” publicado pelo Instituto Watson de Estudos Internacionais da Universidade Brown.

Esse valor estarrecedor, que é mais do que o triplo da estimativa oferecida pelo próprio Pentágono, leva em conta custos enormes que as forças armadas dos EUA não incluem na contabilidade financeira de suas guerras. O relatório inclui custos médicos para os veteranos feridos e incapacitados, custos relacionados à guerra realizados pelo Departamento de Segurança Doméstica, e o aumento do custo de empréstimos para pagar operações militares.

O relatório “Custos de Guerra” não inclui gastos em operações militares dos EUA em outros locais no mundo, como as crescentes intervenções americanas no Chade, Níger e no resto do continente Africano, a participação dos EUA na guerra genocida liderada pela Arábia Saudita contra o Iêmen, e as operações especiais em praticamente todos os continentes.

O custo das guerras tratado no relatório supera o orçamento do Pentágono, de aproximados 700 bilhões de dólares – um gasto maior do que a soma dos gastos militares das dez potências seguintes.

Os autores do relatório reconhecem sem hesitação que o valor de 5,6 trilhões de dólares está longe de ser suficiente para cobrir a imensa matança, destruição e miséria humana causadas pelas guerras de Washington. Segundo eles:

Além disso, uma contabilidade completa de quaisquer custos de guerra não pode ser colocada nas colunas de um registro financeiro. Desde os civis feridos e deslocados pela violência aos soldados mortos e feridos e às crianças que brincam nas ruas e campos semeados com explosivos improvisados e bombas de fragmentação anos depois, nenhuma contabilidade pode cobrir o custo humano das guerras no Iraque e no Afeganistão, ou como ele se espalhou para países vizinhos, como a Síria e o Paquistão, e retorna para os EUA e seus países aliados na forma de veteranos feridos...

É claro que esses registros não são mantidos e seus números não são renovados por aqueles responsáveis por essas guerras. O General Tommy Franks, comandante dos EUA das invasões do Afeganistão e do Iraque, colocou a questão dizendo que “Nós não contamos corpos”.

Estimativas confiáveis, entretanto, têm colocado o número de vidas destruídas, apenas pela guerra americana no Iraque, em mais de um milhão, enquanto mais 175.000 pessoas foram registradas mortas no Afeganistão. Muitos milhões mais foram feridos e transformados em refugiados sem-teto.

Os trilhões de dólares gastos pelos EUA na destruição de sociedades inteiras no Iraque, Afeganistão, Líbia, Síria, Iêmen não são tratados no relatório da Universidade Brown. Entretanto, ele oferece uma visão sóbria da vasta riqueza social dos próprios Estados Unidos que se transformou em fumaça por causa de suas ações militares – recursos que poderiam ter sido investidos em educação, saúde e no aumento do padrão de vida da classe trabalhadora.

Entre os maiores custos de longo-prazo não incluídos na estimativa do Pentágono dos custos de guerra, estão aqueles associados aos danos causados sobre as pessoas enviadas para lutar nessas guerras, que retornam com problemas físicos e mentais que são inteiramente subestimados e desatendidos.

O estudo “Custos de Guerra” cita um relatório do Departamento para Assuntos dos Veteranos de Guerra, publicado em Maio, que afirma que a demanda para serviços de veteranos das guerras dos EUA no Oriente Médio e no Afeganistão aumentou 215% nos últimos sete anos. Enquanto o número de soldados feridos em combate no Iraque e no Afeganistão foi de 52.000 – com mais de 1.700 sofrendo amputações de membros e outros 6.500 com “ferimentos cerebrais profundos severos” – esse número subestima imensamente o número real. Mais de um milhão de veteranos dessas guerras estão recebendo salários por invalidez, com quase 875.000 deles com incapacidade igual ou superior a 30%.

Até Agosto deste ano, 327.000 desses veteranos foram diagnosticados com Ferimento Cerebral Traumático, enquanto aproximadamente um terço daqueles que voltaram das guerras foram diagnosticados com Estresse Pós-Traumático ou outros problemas mentais.

Refletidas nessas guerras, tanto na criminalidade com que foram iniciadas e lutadas como na maneira como foram financiadas, estão o parasitismo financeiro e as formas socialmente destrutivas de especulação que permeiam os mecanismos do capitalismo americano.

Os 5,6 trilhões de dólares das guerras dos EUA contabilizados pela Universidade Brown são quase exatamente o mesmo valor que a dívida nacional dos EUA em 2001, na véspera do lançamento de sua “guerra global ao terror”. Nos 16 anos seguintes, essa dívida mais do que quadruplicou, o que pode ser atribuído em grande parte à cascata crescente de gastos militares.

Em uma tentativa de acalmar a oposição popular às ações militares dos EUA, administrações consecutivas e o Congresso evitaram qualquer cobrança de impostos para pagar pelas guerras, que são enfrentadas utilizando forças armadas “voluntárias”, formadas em grande parte de pessoas que se alistaram por conta de dificuldades econômicas, e com dinheiro emprestado. Ao invés de incluir as guerras no orçamento do Pentágono, elas são classificadas como Operações de Contingência no Exterior, tratadas como emergências imprevisíveis depois de mais de uma década e meia de combate ininterrupto.

O preço em manter essas operações militares “fora dos livros de contabilidade” é a ascensão constante da dívida nacional americana, que será colocada com todo o peso sobre as costas da classe trabalhadora através de um ataque redobrado contra os padrões de vida e direitos sociais.

De acordo com o relatório, “Apenas os custos com juros futuros de operações de contingência no exterior estão previstos em adicionar mais de 1 trilhão de dólares na dívida nacional até 2023. Até 2056, uma estimativa conservadora é que os custos com juros serão de cerca de 8 trilhões de dólares”.

A oligarquia americana ganha bilhões em lucros da indústria da guerra. O relatório da Universidade Brown foi publicado ao mesmo tempo que Donald Trump estava na Ásia combinando ameaças de guerra contra a Coréia do Norte com o esforço de fechar acordos de vendas de armas em nome de empresas militares dos EUA. Entre os mais de uma dúzia de executivos acompanhando o presidente, estavam aqueles das gigantes indústrias de defesa, como Boeing e Bell Helicopter/Textron.

As guerras foram iniciadas e continuadas tanto por administrações Democratas quanto Republicanas. Ambos os partidos no Congresso defenderam esse método de financiá-las, enquanto votavam em estreita colaboração a favor de cada enorme orçamento que o Pentágono exigia.

Ao mesmo tempo, existe a afirmação continuamente repetida de que não há dinheiro para o sistema de saúde, a educação pública, a infraestrutura e seguridade social. As vítimas dos chamados desastres naturais, tais como os Furacões Harvey, Irma e Maria – que sofrem principalmente por causa de cortes de gastos, negligência com a infraestrutura e a pobreza em massa – foram abandonadas à própria sorte. Quase 60% das 3,5 milhões de pessoas de Porto Rico ainda estão sem energia elétrica seis semanas depois da passagem do Furacão Maria, e 20% da população não tem acesso à água corrente segura para uso.

Os cerca de 6 trilhões de dólares desperdiçados por Washington em suas guerras de agressão ao longo dos últimos 16 anos também é um valor próximo da soma da riqueza dos bilionários do mundo, que se concentram em grande parte nos EUA.

A possibilidade das múltiplas intervenções militares de Washington fundirem-se em uma terceira guerra nuclear é impulsionada por essa imensa concentração de riqueza nas mãos de uma oligarquia parasitária, que depende de ações militares no exterior e da repressão cada vez maior dentro do país para defender seu poder e privilégios.

Apenas a classe trabalhadora pode responder a essas ameaças através de sua força de mobilização independente tanto dos Republicanos quanto dos Democratas e em oposição ao sistema e ao estado capitalista.

Deve ser exigido o desmantelamento do vasto aparelho militar e de inteligência americano e o redirecionamento dos trilhões desperdiçados na matança e destruição para satisfazerem as necessidades sociais dos trabalhadores nos EUA e em todo o mundo. Isso deve ser realizado juntamente com a redistribuição da riqueza dos super-ricos para resolver os problemas urgentes de moradia, educação, saúde e infraestrutura, e a colocação dos bancos e corporações sob propriedade pública para servirem às necessidades humanas ao invés da exigência por lucro.