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UAW - Escândalo de corrupção corporativa se espalha para a Ford e a GM

James Cogan
16 de dezembro de 2017

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Publicado originalmente em 4 de novembro de 2017

O sindicato United Auto Workers (UAW), dos Estados Unidos, é foco de um escândalo que revelou um relacionamento corrupto e incestuoso com as grandes três empresas de automóveis do mundo.

No final de julho, uma acusação federal foi revelada detalhando acusações contra altos funcionários do UAW e um executivo corporativo da Fiat Chrysler (FCA). Na terça-feira, a Detroit News informou que o FBI está adicionando a Ford e a General Motors em suas investigações sobre uma rede de subornos interligados através de centros de treinamento operados conjuntamente pelo UAW e as empresas automobilísticas.

As acusações envolvendo a FCA revelaram que os principais executivos da UAW receberam mais de US$ 4,5 milhões em pagamentos de dirigentes da empresa. O dinheiro foi supostamente transferido através do centro de treinamento conjunto e lavado através de várias instituições de caridade, centros infantis e lares de idosos. Os dirigentes do sindicato gastaram o dinheiro destinado ao treinamento de trabalhadores consigo mesmos e com seus parentes, comprando móveis, jóias, roupas de grife, férias internacionais e outros itens de luxo.

Os acusados até agora incluem Monica Morgan, a esposa do ex-vice-presidente da UAW, Holiefield; o ex-negociador do UAW, Virdell King; O negociador líder da Chrysler, Al Jacobelli; e o analista financeiro da Chrysler, Jerome Durden. Durden e King se declararam culpados de acusações de corrupção como parte de um acordo com os promotores. Embora não tenha sido acusado, o vice-presidente da UAW para a , Norwood Jewell, também está envolvido, já que alegadamente recebeu presentes comprados com dinheiro roubado por outros funcionários.

De acordo com uma reportagem do Detroit News, a investigação agora está se expandindo para outros executivos do UAW, incluindo o vice-presidente da UAW para a GM, Cindy Estrada, que supervisionou o centro de treinamento da UAW-GM e seu antecessor, Joe Ashton.

Embora seu nome não tenha sido citado com destaque na reportagem do Detroit News, o vice-presidente da UAW para a Ford, Jimmy Settles, que supervisiona o centro de treinamento UAW-Ford, também é suspeito. Todos esses dirigentes supervisionam suas próprias instituições de caridade com verbas no valor de centenas de milhares ou milhões de dólares.

As revelações de que os principais funcionários do UAW receberam pagamentos diretamente dos executivos da empresa não são nenhuma surpresa para quem tem acompanhado as operações do UAW. Durante décadas, o UAW e as outras organizações que se auto-intitulam "sindicatos" funcionaram como instrumentos de gestão corporativa. Não são "organizações dos trabalhadores", mas sim de empreiteiros de mão de obra barata e de uma espécie de força policial industrial que trabalha para suprimir qualquer oposição dos trabalhadores, que afirma representar.

No caso do UAW, esta relação é particularmente evidente. Enquanto o UAW foi formado nas batalhas amargas e insurrecionais lideradas por trabalhadores socialistas na década de 1930, anos depois passou a ser dominado por uma burocracia capitalista e nacionalista. Na década de 1980, o UAW e o aparelho sindical AFL-CIO reagiram ao declínio do capitalismo americano e à contra-revolução social lançada pela classe dominante integrando-se mais de perto à administração corporativa, aceitando sucessivos acordos e concessões. Os tais "centros de treinamento" envolvidos no escândalo de corrupção foram criados então, servindo como forma de financiamento secreto para executivos sindicais.

Nos últimos anos, o UAW, liderado por executivos envolvidos em escândalos de corrupção, recorreu à fraude para adotar as medidas exigidas pelas empresas.

O acordo de 2015, em particular, foi abalado pela oposição explosiva dos trabalhadores do setor, incluindo a primeira derrota de um contrato nacional apoiado pelo UAW desde 1982 (na Fiat Chrysler). O contrato que foi promovido na FCA e, em seguida, na GM e na Ford incorporou medidas de contratos anteriores, incluindo um sistema de salários de vários pisos, salários de fome e o uso ampliado de mão-de-obra temporária e cortes nos programas de saúde e aposentadoria.

Tais contratos foram implementados através de suborno e propinas, tornando-os legalmente inoperantes. Também há alegações de que houve fraude eleitoral por parte do UAW para aprovar o contrato da Ford na votação final, em 2015.

O World Socialist Web Site desempenhou um papel central na mobilização e organização da oposição aos tais contratos de 2015. Advertimos na época que "o maior obstáculo para unir a classe trabalhadora era o United Auto Workers e os outros sindicatos". Verificamos que "importantes executivos sindicais recebem centenas de milhares de dólares, maquiam os salários e as despesas derivadas de contribuições e de dinheiro desviados do fundo de greve com a remuneração de suas posições em conselhos corporativos, operações conjuntas de gestão trabalhista e de assistência da saúde dos aposentados da UAW ".

Em resposta à oposição dos trabalhadores, a UAW contratou a empresa de relações públicas Berlin Rosen para melhorar a sua imagem e impedir os trabalhadores de usar as mídias sociais. O presidente da UAW, Dennis Williams, denunciou "grupos externos" que "gostam de agitar as pessoas" por ajudar a derrotar o acordo da FCA.

O dirigente da AFL-CIO em Detroit, Bruce Miller, falou em "abutres da WSWS vestidos de roupas vermelhas que pregam seu amor pelos trabalhadores enquanto defendem os inimigos dos trabalhadores". No entanto, Miller não disse nenhuma palavra acerca destas as acusações de corrupção ou se estas mudam sua avaliação sobre quem de fato age "em nome dos inimigos dos trabalhadores..."

Dada a atual campanha liderada pelo Partido Democrata e pelas agências de inteligência dos EUA, que alegam a interferência russa para "semear divisões" nos EUA, numa tentativa de justificar um regime de censura à Internet, deve-se lembrar que foi o UAW que começou a empregar o termo "notícia falsa" (ou fake news) para atacar o WSWS e os trabalhadores de automóveis ao usar as mídias sociais para compartilhar informações e coordenar a oposição ao contrato de 2015.

O resultado desta operação pode ser visto nas condições enfrentadas pelos trabalhadores deste setor. No mês passado, um trabalhador temporário da Ford, Jacoby Hennings, de 21 anos, aparentemente cometeu suicídio após ser penalizado na empresa por atraso. Um relatório da polícia, adquirido pelo World Socialist Web Site, mostra que Hennings morreu depois de buscar ajuda no UAW. O desespero de Hennings é uma aguda demonstração de um fenômeno quase universal entre os trabalhadores do setor automotivo e em toda a classe trabalhadora, que enfrenta trabalho precário e temporário, horas incertas, salários baixos e uma completa ausência de direitos e/ou assédio moral.

As empresas, os sindicatos e todo o establishment político temem muito que os trabalhadores possam romper com o estrangulamento dos sindicatos para avançar nos seus próprios interesses. O ex-promotor federal Peter Henning disse à Detroit News: "Se as empresas estão comprando paz dos trabalhadores ao corromper as lideranças sindicais, isso deve ser considerado como algo bastante preocupante. Isso pode dar a entender que os líderes sindicais apenas se preocupam consigo mesmos. Isso pode irritar os trabalhadores e levar a uma insurgência ".

Uma insurgência é precisamente o que é necessário. Sob condições de crescente tensão internacional, aprofundamento da desigualdade social, deportações em massa e violência policial, não há dúvida de que o próximo período envolverá o surgimento de uma luta social de grande escala envolvendo milhões de jovens e trabalhadores. O escândalo do UAW é mais uma prova de que, nos sindicatos, os trabalhadores não enfrentam seus representantes, mas seus inimigos mais determinados.

Os trabalhadores precisam de novas organizações para promover seus interesses contra as corporações maciças que controlam os partidos políticos, a mídia, os tribunais, a polícia e os sindicatos. Novas organizações - locais de trabalho e comitês nas vizinhanças- baseados no princípio da luta de classes e que buscarão reunir diferentes camadas e setores da classe trabalhadora para aproveitar sua força em uma luta comum contra o sistema capitalista.