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Carta sobre "A vida e carreira do ator Corin Redgrave"

29 de abril de 2010

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A carta a seguir foi publicada em resposta ao artigo sobre o ator britânico Corin Redgrave, que apareceu no World Socialist Web Site em 12 de abril. (Veja: “A vida e carreira do ator Corin Redgrave”).

Camaradas,

Penso que o obituário de Corin Redgrave publicado recentemente por David Walsh e David North é poderoso, evocativo e esclarecedor.

O obituário lida sensível e objetivamente com a morte do ator, de um modo que me comoveu. Isso não surpreende, já que o texto lida com um momento extraordinário da história pelo qual todos nós, de uma certa idade, passamos juntos. Demos nossos primeiros passos na política naquela época, e como o obituário deixa claro, verdadeiros elementos de tragédia estavam envolvidos na crise política que engoliu Redgrave e todo o SLL/WRP na década de 1970, assim como lições inestimáveis para serem assimiladas. Já se disse em várias ocasiões que não é uma questão “de rir ou chorar, mas de entender.” O artigo cumpre muito bem esse objetivo.

Se eu tivesse que escolher um parágrafo particularmente esclarecedor, seria o seguinte: “A concepção de que a atividade artística e a política revolucionária se excluem uma à outra, que não era a política oficial do SLL, mas na prática determinou as escolhas feitas por um número de membros artistas-intelectuais, é falsa. Especialmente no caso de alguém como Redgrave, para quem atuar estava ´no sangue´, tal concepção necessariamente teria conseqüências prejudiciais e mesmo debilitantes.”

Isso é absolutamente correto. De que maneira o movimento revolucionário assimila as camadas artísticas-intelectuais que avançam para se juntarem ao movimento é uma questão extremamente importante. A concepção de uma exclusão mútua não foi sempre o caso dentro do SLL, mas a adoção crescente dessa perspectiva pela direção do WRP traria impactos negativos ao partido em vários níveis.

Eu me juntei ao precursor do WRP mais ou menos na mesma época que Corin, no início da década de 1970. Não o conhecia muito bem, mas por alguns anos tive uma relação de proximidade com dois outros artistas-intelectuais dentro da direção - o diretor Roy Battersby e o roteirista Roger Smith. Essa relação resultou de integrarmos tanto o SLL/WRP quanto o sindicato ACTT. Trabalhei na fábrica da Kodak em Harrow e junto com camaradas do local começamos a construir uma seção do partido. Roy e Roger se lançaram nessa tarefa com grande entusiasmo. Lembro que Roy fez uma série de palestras públicas sobre a Dialética da Natureza e Roger organizou aulas para a seção sobre Socialismo: Utópico e Científico, enquanto ambos faziam a venda esporádica de jornal nos portões de fábricas. Eles eram muito bons em explicar idéias complexas e torná-las mais fáceis de entender.

Essas palestras e aulas eram extremamente importantes, pois levavam a discussão para longe dos problemas imediatos dentro da fábrica e do sindicato para lidar com questões de teoria, história e ciência. Eram populares entre os membros, assim como as edições do jornal que abordavam questões internacionais relevantes acerca dos desenvolvimentos no Chile, Irlanda e Portugal.

O interior da fábrica era como uma panela de pressão. As burocracias da administração e do sindicato se uniam para tentar vitimar os trotskistas. A maioria dos trabalhadores, embora simpática, não via qualquer necessidade real de um partido revolucionário num momento em que parecia que poderiam derrubar governos simplesmente por meio de sua força sindical.

Eu me dava muito bem com esses dois camaradas e admirava-os profundamente. Ficava ansioso pelas reuniões de nossa facção na ACTT que aconteciam na casa de Roger em St. Johns Wood ou no apartamento de Roy em Maida Vale. Entre os participantes também estavam Tom Scott Robson, Peter Cox, Ken Trodd, Ken Loach e muitos outros, incluindo um jovem ator que hoje escreve uma coluna periódica para o WSWS.

Healy volta e meia também fazia uma aparição. Era extremamente empolgante e instrutivo para um jovem trabalhador fabril estar na companhia dessas pessoas. Não apenas politicamente, mas porque depois que a pauta política era esgotada, as discussões freqüentemente se dirigiam para o que para mim eram sessões de brainstorming cultural e intelectual, capazes de abrir novos horizontes.

Embora viessem de universidades e carreiras “glamorosas”, não tinham qualquer problema em se conectar com os membros da seção da Kodak. Seu comprometimento com a classe trabalhadora e a causa da revolução socialista era visivelmente sincero.

Eles não faziam concessões quanto ao atraso de consciência e não eram de modo algum condescendentes como os grupos radicais são com relação aos trabalhadores. Além de questões diretamente políticas, as percepções que eles traziam para as discussões sobre suas experiências artísticas enquanto diretores e escritores não somente aprofundaram minha compreensão política, como ampliaram enormemente meu conhecimento sobre a vida em geral. Para além de quaisquer outras considerações, tudo isso agia como uma distração agradável e instrutiva das nossas vidas nas linhas de produção da Kodak.

Eu acredito que isso acontecia nas duas direções, porque esses camaradas intelectualmente sensíveis eram capazes de absorver novas percepções através de sua próxima colaboração com uma seção vinda das linhas de produção, percepções que eles então incorporavam ao seu trabalho artístico. Na época, Roy estava trabalhando no Leeds United - um drama televisivo baseado na greve das mulheres da indústria de tecido em Leeds. Foi um dia de orgulho para a seção da Kodak quando Roy nos convidou para assistir às primeiras “prévias” no centro televisivo da BBC em Shepherd's Bush. Conforme as barreiras de segurança se abriam, meia dúzia de nós passava pelo pátio em direção ao interior do complexo de palcos e estúdios.

Na Grã-Bretanha, a classe trabalhadora tinha acabado de derrubar o governo Heath. A nacionalização da indústria cinematográfica era uma política oficial do ACTT como resultado da luta que nosso partido havia levado adiante dentro do sindicato, e agora nós tínhamos o privilégio de assistir a filmagens inéditas de um filme que logo seria visto por milhões - um filme que iria expor o papel dos stalinistas naquela greve importante. Eu me lembro de pensar: como é bom estar vivo! A peça foi ao ar em outubro de 1974, e, em minha opinião, não foi apenas a melhor da série de dramas do Wednesday Play da BBC, mas também o melhor trabalho já realizado por Roy Battersby. As influências combinadas de suas habilidades artísticas, do treinamento político marxista e do esforço para educar teoricamente trabalhadores que estavam, eles próprios, em luta realizavam plenamente seu trabalho artístico e dramático.

Embora Roy ainda fosse produzir o documentário do partido sobre o exílio final de Trotsky em Coyoacán, México, onde o grande revolucionário foi assassinado pelo agente stalinista Ramon Mercader, sua contribuição artística pareceu acabar quando Healy tornou-o “zelador” da escola do partido em Derbyshire. Em retrospecto, essa foi uma decisão ridícula, e que parece ter sinalizado para o começo do rebaixamento de artistas-intelectuais no interior do partido. Dali em diante, parece que seu trabalho artístico foi desencorajado enquanto eles eram transformados em nada mais do que funcionários.

Ainda pior, em vez de usar os artistas-intelectuais para elevar o nível cultural de todo o movimento, como ele tinha corajosamente procurado fazer no passado, Healy começou a usar camaradas como Corin e Bob Archer como sacos de pancada internos, literalmente. Isso o ajudou a criar uma cortina de fumaça para sua trajetória política cada vez mais direitista. Mas de fato esse comportamento - desculpado e justificado por Banda e Slaughter - encorajou todo tipo de sentimento antiintelectual reacionário em meio aos quadros vindos da classe trabalhadora.

Isso teve um efeito político profundamente debilitante sobre o partido, pois resultou na desmoralização tanto daqueles que eram humilhados publicamente quanto dos que eram forçados a testemunhar esses atos. Por quanto tempo os trabalhadores poderiam ter confiança num partido cujos líderes intelectuais eram aparentemente tão incompetentes e covardes?

Para sua vergonha, Healy sabia que estava jogando com as suspeitas instintivas dos trabalhadores em relação a intelectuais das classes médias. Mas, como o obituário aponta, não eram forças de classe média hostis à classe trabalhadora, mas artistas e intelectuais que fizeram sacrifícios para se unirem ao movimento proletário internacional e construir um futuro socialista.

O ataque de Healy sobre eles era mais uma indicação de que ele estava retrocedendo em sua luta de décadas para treinar marxistas, e começava a se adaptar ao discurso nacional vigente. Existe uma tradição antiintelectual forte e virulenta na Grã-Bretanha, que precisa ser consciente e continuamente combatida pela direção revolucionária e seus quadros.

Por volta do início da década de 1980, todo o WRP estava em crise, e membros do Comitê Central em Londres eram enviados para as várias regiões onde o partido estava presente para tentar apagar os focos de incêndio. Corin foi deslocado para Yorkshire e também para as regiões do Noroeste. Mas o aprofundamento da crise nessas áreas parece ter apenas pesado mais sobre sua crise política, e vice-versa. Além do mais, Battersby e vários outros deixaram o movimento nessa época. A última vez que falei com ele foi em um ato em Liverpool, 1981, e ele havia se tornado um homem totalmente cínico e amargurado.

A saída dessa camada deve ter intensificado enormemente a sensação de isolamento enfrentada pelos Redgraves, por Corin em particular. Eu tinha uma relação um pouco mais próxima com ele nessa época, devido ao fato de ter sido assinalado para ir com ele para a área de Yorkshire, que havia entrado em crise.

Um homem naturalmente tímido, ele se tornou cada vez mais introspectivo, ao ponto de passar a falar monossilabicamente - um fato marcante, considerando sua profissão. Na época eu de fato pensei que isso poderia ser uma forma de arrogância, mas agora compreendo que provavelmente era mais uma combinação de timidez com insegurança, misturados ainda a uma perda de confiança e uma confusão em relação ao seu próprio papel, assim como o papel de outros artistas-intelectuais, dentro do movimento revolucionário. Os dois primeiros fatores podem ser atribuídos aos traços de sua personalidade, mas é Healy quem carrega a responsabilidade pelos últimos dois.

Assim, embora seja irônico, talvez não seja tão surpreendente que Corin e sua irmã Vanessa tenham defendido Healy politicamente contra as críticas feitas pelo Comitê Internacional da Quarta Internacional em 1985. Na década que antecedeu a cisão, Healy havia encorajado, de modo crescente, um ponto de vista nacionalista e uma orientação na direção da burocracia trabalhista e stalinista da Grã-Bretaha.

Depois da cisão com o CIQI, Healy e os Redgraves continuaram nessa orientação instruindo seu “Partido Marxista” para a ala capitalista-restauracionista ao redor de Gorbachev e a perestroika. Desde a morte de Healy, eles foram os campeões de diversas causas célebres das classes médias. Organizaram campanhas de apoio para os presos britânicos em Guantánamo, Vanessa apoiou diversos organismos da ONU como a UNICEF, e Corin co-fundou o “Partido da Paz e Progresso”, que teve três candidatos na eleição geral de 2005. Tudo isso parecia ter o objetivo de promover a idéia de que há alguma forma de ala esquerda-liberal democrática no imperialismo britânico. Considerando sua performance nos BAFTAs [cerimônia de premiação da Academia Britânica de Cinema e Televisão], Vanessa Redgrave agora se convenceu de que essa tendência inclui ninguém menos que a Casa Real britânica de Windsor, herdeiros da mais sanguinária linhagem aristocrática da história.

Embora eu não queira exagerar, acredito que a perda desse extraordinário talento intelectual do movimento revolucionário no início da década de 1980 é um fator importante a contribuir para o baixíssimo nível cultural que vemos na classe trabalhadora britânica hoje, quando levado em consideração ao lado do papel traidor do Partido Trabalhista, dos stalinistas e da burocracia sindical. Mas esse não é um ponto sobre o qual precisamos nos alongar muito.

O sistema capitalista internacional está despencando em parafuso e um novo tsunami revolucionário está prestes a quebrar sobre o mundo com ferocidade ainda maior que aquela testemunhada no início da década de 1970. É inconcebível que isso não traga toda uma nova geração de artistas e intelectuais na direção, e para dentro, do movimento proletário revolucionário internacional. É por isso que é tão importante que todas as lições daquele primeiro período sejam assimiladas.

Saudações calorosas,

Dave Hyland

[traduzido por movimentonn.org]

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