Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 19 de maio de 2008.
A oposição ao acordo provisório assinado
pela UAW (Sindicato Americano dos Trabalhadores da Indústria
Automobilística) explodiu no último Domingo, numa
assembléia de centenas de trabalhadores grevistas da American
Axle em Detroit, EUA. Na última sexta-feira a UAW anunciou
que havia chegado a um acordo envolvendo mais de 3600 trabalhadores
que estiveram em greve pelos últimos 3 meses nas plantas
de Michigan e Detroit.
Um resumo do acordo foi apresentado aos trabalhadores de Detroit
- onde mais da metade da força de trabalho da American
Axle trabalha-em preparação para o voto de ratificação
pelos comitês locais 235 e 262 ainda esta semana.
Apoiadores do WSWS e do Partido da Igualdade Socialista distribuíram
panfletos convocando os trabalhadores para que rejeitassem a traição
da UAW e se organizassem contra a redução dos salários.
Os grevistas rechaçaram e vaiaram o presidente da UAW,
Ron Gettelfinger, o vice-presidente James Settles e outros burocratas
da UAW que tentavam convencer os trabalhadores de que eles não
conseguiriam um acordo melhor, caso rejeitassem o acordo proposto.
Um trabalhador rasgou uma cópia do acordo e atirou contra
os diretores da UAW enquanto os outros trabalhadores gritavam
"VENDIDOS!", durante a fala da direção
do sindicato.
O sistema de som da escola pública de Detroit, onde
acontecia a assembléia estava quebrado - algo que vários
trabalhadores acreditavam ser deliberado - e isso aumentou ainda
mais o caos. Quando os trabalhadores tomavam o microfone para
responder, suas vozes eram abafadas. Depois que vários
grevistas denunciavam o acordo, o sindicato desligou o microfone
por completo para pôr fim à assembléia.
"Se eles não tivessem desligado o microfone quando
eles desligaram, o pau ia quebrar," disse um trabalhador
ao WSWS. "Os caras tiveram a cara de pau de apresentar uma
proposta daquelas. Antes de ser enxotado, Gettelfinger subiu lá
e disse que ninguém gostava daquilo mas era o melhor que
a gente podia fazer".
Descrevendo o clima da assembléia outro operário
disse: "O pessoal estava apreensivo de ir na assembléia
mas depois a gente ficou irado com o tamanho do roubo!"
Com este acordo a American Axle vai reduzir os salários
de $28,00 para $18,50 dólares por hora para os maiores
salários da produção e $14,35 para os trabalhadores
auxiliares. Os salários serão ainda menores na planta
de Three Rivers, em Michigan onde os mais bem pagos receberão
entre $14,50 e $18,00 a hora e os auxiliares apenas $10 a hora.
Os trabalhadores recém contratados receberão
$11,50 a hora sem reajuste no salário mínimo - o
que significa que eles não receberão muito mais
que os $21,200 dólares por ano que o governo americano
considera o limite de pobreza para uma família de 4 pessoas.
Eles ainda receberão benefícios de saúde
padrão - exigindo que cada um trabalhe pelo menos 3 anos
antes de poder usar os serviços dentais e oftalmológicos.
A aposentadoria paga pela empresa será substituída
por uma previdência privada sustentada por um fundo pago
pelos trabalhadores.
A UAW ainda aceitou o fechamento da planta de Detroit e Tonawanda,
as forjas de Nova Iorque, que eliminarão 760 empregos e
o deslocamento da produção para plantas fora dos
EUA.
Outras concessões incluíram: diminuição
do auxílio médico, a empresa vai congelar a contribuição
com pensão, e o sindicato abre mão do direito de
fazer greve contra violações contratuais durante
os 4 anos do acordo.
Trabalhadores qualificados terão um corte de salário
hora de $6,00 dólares e terão classificação
de emprego consolidadas de 15 a 4. Além disso, a empresa
vai interromper o benefício desemprego se o teto de $18
milhões for atingido.
Para se livrar dos trabalhadores que ganham mais e substituir
por força de trabalho barata, a UAW negociou vários
pacotes de demissão "voluntária" incluindo
pacotes que variam de $85 mil a $140 mil dólares.
Ainda há pacotes de $105 mil dólares durante
três anos para aqueles trabalhadores que aceitarem permanecer
no emprego e ter o salário reduzido de 35% a 50%.
O resumo do acordo ainda apontava que as deduções
salariais para o sindicato não sofreriam alterações,
apesar da gigantesca perda salarial dos trabalhadores. Para agravar
ainda mais o insulto que isto significa para os trabalhadores,
a UAW apontou ainda que pagamentos em dinheiro, os bônus
e PLR seriam contabilizados como renda e assim estariam sujeitos
à dedução de 1,15% para pagar a taxa sindical.
Durante a assembléia, os diretores da UAW disseram que
caso rejeitassem o acordo os PDVs seriam retirados da negociação.
Disseram ainda que o Diretor Executivo da American Axle, Richard
Dauch não poderia ser impedido de fechar suas plantas e
deslocar a produção para o México e outros
países onde há farta oferta de mão de obra
barata.
"Eles estavam nos vendendo gato por lebre," disse
John para o WSWS. "Os trabalhadores estavam pondo tudo a
perder caso aceitassem aquele acordo. O sindicato disse que Richard
Dauch traria os pelegos fura-greve para trabalhar na firma e que
eles não poderiam fazer nada a respeito porque é
assim que a lei funciona. Durante a greve o sindicato não
deixou a gente fazer um bloqueio para impedir a retirada e mercadorias."
Numa pergunta, um trabalhador questionou o presidente do sindicato,
Gettelfinger, se ele e os outros diretores também teriam
cortes salariais iguais àqueles que eles estavam propondo
para os trabalhadores. Sem dizer nada sobre os cortes salariais,
Gettelfinger reclamou que o sindicato teria que eliminar alguns
comitês locais e que alguns cargos foram eliminados.
Uma briga que o sindicato comprou pra valer contra a American
Axle foi em defesa dos cargos de diretores e burocratas sindicais.
De acordo com o resumo do acordo, a diretoria da AA queria cortar
os fundos que eram direcionados para programas sindicais e eliminar
vários cargos de sindicalistas financiados pela empresa.
Como parte do acordo, a corporação concordou
em pagar 100% dos programas sindicais de treinamento restantes
e ainda manter os cargos de representantes sindicais que seriam
eliminados. O sindicato também garantiu o pagamento de
hora-extra para os diretores sindicais a serviço do sindicato
e promoções para os diretores locais.
Um trabalhador antigo, Walter, disse ao WSWS que os programas
sindicais eram uma gigantesca fonte de renda para os diretores
sindicais. "Enquanto a diretoria tinha o sindicato trabalhando
com ela para manter os salários baixos, cortar postos de
trabalho e coisas do tipo, ela aceitou pagar os programas sindicais
de treinamento. Tudo que a empresa queria era que os diretores
sindicais carimbassem os acordos junto com ela. Na verdade, os
programas de treinamento bancavam viagens e jantares para os altos
executivos como o filho de Dick Dauch. Eles se fartavam como porcos
gananciosos."
Ele continuou: "A primeira página desse resumo
foi um balde de água fria na gente. O sindicato só
quer se livrar do pessoal. A gente está em greve há
quase três meses e não ganhamos nada. O consenso
geral é que esse acordo será votado mas vários
trabalhadores vão pegar o PDV e dar o fora."
"A primeira página tinha uma carta do comitê
de negociação que dizia: 'Nós fizemos o melhor
que pudemos por vocês dadas as circunstâncias.' Isso
é o que a gente deve aceitar depois de ficar debaixo de
neve, queimando madeira em tonéis pra esquentar o frio
e perder nossas casas? E pior ainda, de uma empresa que não
faliu, que teve um lucro gigantesco e que está construindo
várias unidades em todo o mundo - especialmente no terceiro
mundo pra pagar salários miseráveis? De uma empresa
que o presidente enfiou milhões no bolso?"
Ao saírem da assembléia completamente indignados,
vários trabalhadores pararam para falar com o WSWS.
Paul Williams disse "Isso é um insulto a todos
nós! Nós estivemos nas ruas por meses esperando
um acordo decente. Fomos traídos pelo sindicato. O presidente
Gettelfinger e o vice James Settles cortaram nossos salários,
mas o salário deles não está sendo cortado."
Henry, um trabalhador com 14 anos de empresa disse: "Esse
acordo é horrível, mas o sindicato disse que é
o melhor que a gente vai conseguir. Eu disse pros meus colegas
da Ford que eles serão os próximos. Nós só
estamos tentando manter nossos salários num nível
decente, mas eles continuam cortando e cortando." Se referindo
ao fato de que a Europa está deslocando a produção
para os EUA para aproveitar os salários baixos ele disse:
"Hoje em dia nós estamos virando o México para
a Europa".
Trina Harris disse, "Eu espero que o pessoal rejeite o
acordo, mas eles estão passando necessidade. Eu acho que
eles compraram o pessoal, mas a gente ainda não tem nenhuma
informação. A peãozada está bem irritada".
Ela não tinha nenhuma fé de que a UAW poderia
conduzir uma votação justa. "Eu acho que eles
vão roubar na votação. Eles vão trabalhar
para garantir que eles tenham condições de passar
o acordo mesmo que o pessoal não aprove".
"Muita gente não quer aceitar o PDV, é muito
difícil achar um emprego. Dauch quer que a gente caia fora,
mas muita gente quer ficar".
John Yenson, um trabalhador experiente com 12 anos de empresa
saiu da assembléia com uma cópia do acordo. "Isso
será uma paulada pra muita gente, até mesmo para
trabalhadores não sindicalizados"
Comentando a proposta de reduzir os salários em algumas
categorias para menos de $12 dólares a hora, ele disse
"Eles contrataram alguns provisórios no verão
que ganhavam menos de $12 a hora".
"Trabalhadores experientes vão ter um corte de
$4 a $6 dólares por hora e eles querem pagar os benefícios
por semana, isso é um outro corte. A gente acabou de sair
de um contrato de 4 anos sem pagamento".
"Eu já estive em muitos contratos. Eu trabalhei
na Massey Ferguson em Chicago. Nós demos todos os cortes
salariais que eles queriam. Em um ano eles se mudaram para o Canadá
e demitiram todos os trabalhadores americanos".
"Eles tiraram todo o lucro das plantas daqui pra construir
plantas no México, Escócia e China. No México
eles ganham $40 dólares por semana."
John disse que ele pensava em votar "não",
mesmo sendo um dos que poderia pegar seguro desemprego se aceitasse
o PDV. "Eu nunca votei sim' num acordo desses na minha
vida. Qualquer um que aceite o PDV não terá mais
seguro de saúde. Eles querem que o pessoal aceite o PDV
porque assim eles podem demitir os mais velhos e pegar um pessoal
novo com o salário lá embaixo".
Chauncey Jarret, um trabalhador, disse ao WSWS "Eu não
tenho outra escolha a não ser rejeitar este acordo. Depois
de tudo que a gente lutou, eu não vou apoiar o trabalho
escravo. Não há nenhuma garantia desses empregos
se a gente aceitar o acordo."
Sobre o boato de que os trabalhadores da American Axle são
bem pagos, ele disse, "Nós ganhamos apenas uma ninharia
do lucro que eles fazem. Eu entendo o que o Dauch está
tentando fazer. Eu poderia ficar rico também se eu tivesse
uma empresa que paga salário de escravo. pra isso não
precisa de nenhuma habilidade especial. Quanto ao papel do sindicato,
a UAW se transformou numa empresa como qualquer outra."