Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em alemão
no dia 9 de junho de 2007.
No final de maio, a General Motors Europe (GME) divulgou
que cortará ainda mais empregos do que havia anunciado
anteriormente na fábrica da Opel subsidiária
da GM na Antuérpia, Bélgica. Somente neste
ano, mais de 1.900 empregos serão eliminados. Além
disso, 400 contratos temporários, que terminarão
em julho, não serão renovados. Dos 4.500 trabalhadores
empregados atualmente, mais de 2.000 serão demitidos.
Quando as demissões foram divulgadas pela primeira vez
no final de abril, os trabalhadores entraram em greve e ocuparam
a fábrica por duas semanas. As demissões fazem parte
de um plano da GM para acabar com a produção do
modelo Astra na Antuérpia até 2010. A atual produção
de 225.000 veículos por ano deve ser reduzida para 120.000,
concentrada num pequeno modelo off-road e num Chevrolet.
A General Motors, que ainda é a maior fabricante de
automóveis do mundo, possui 15 linhas de montagem e de
produção em nove países europeus, empregando
cerca de 60.000 trabalhadores. Em abril, o presidente da GM
Europe, Carl-Peter Forster, anunciou que o Astra não
será mais fabricado na Antuérpia. Ao invés
disso, ele deve ser produzido em Bochum, na Alemanha; Gliwice,
na Polônia; Ellesmere, na Inglaterra; e Trollhätten,
na Suécia.
A decisão faz parte de uma ampla reestruturação
das operações da GM em todo o mundo, degradando
assim os salários e as condições de trabalho
dos trabalhadores, a fim de aumentar o lucro dos acionistas da
GM. Do mesmo modo que outras fabricantes, a GM pretende aumentar
a produtividade em suas fábricas e transferir parte da
produção para países do leste europeu que
oferecem mão de obra barata.
Nos últimos meses, a reestruturação da
GM já causou a demissão de mais de 30.000 trabalhadores,
tanto em suas próprias fábricas quanto nas terceirizadas.
Nos últimos seis anos, 20.000 empregos foram eliminados
na Europa. Com o último programa de corte de custos a companhia
pretende economizar 450 milhões de euros por meio das demissões.
Até 2010, o tempo necessário para produzir um veículo
deverá ser reduzido para 15 horas, bem menos que as 24
horas necessárias atualmente.
O programa de corte de custos do Fórum
de Trabalhadores Europeus
A administração da GM está atuando em
sintonia com os co-administradores dos sindicatos
e conselhos de trabalhadores. Para este fim, os sindicatos fundaram
o chamado Fórum de Trabalhadores Europeus (European
Employee Forum, o EEF). Ele é liderado por Klaus Franz,
que é o presidente do conselho de trabalhadores da fábrica
da Opel, em Rüsselsheim, Alemanha. Franz não é
somente um funcionário do sindicato de trabalhadores alemães
da engenharia, o IG Metall, e presidente do conselho de trabalhadores
conjunto da Opel ele é ainda membro do quadro supervisor
da subsidiária da GM, a Adam Opel AG.
Franz e o Fórum de Trabalhadores Europeus estão
pondo em prática suas próprias propostas de cortes
de custos da GM. Num comunicado à imprensa, o EEF declarou
a sua intenção de cobrir o rombo financeiro
estimado em 290 milhões de euros, de forma a melhorar a
competitividade das fábricas. Futuras reduções
de custos estruturais também serão analisadas quando
a administração da GM nos fornecer os documentos
necessários.
Além disso, o EEF assumiu a responsabilidade de controlar,
juntamente com os conselhos de trabalhadores locais, toda luta
dos trabalhadores contra a reestruturação da GM
e transformar a resistência em protestos vazios, com o objetivo
de enfraquecê-los o mais rápido possível.
Isso foi exatamente o que aconteceu em várias oportunidades:
quando trabalhadores ocuparam a fábrica de Bochum por uma
semana, há três anos; quando a fábrica de
Azambuja, em Portugal, foi fechada no ano passado; e, finalmente,
na ocupação da fábrica na Antuérpia
um mês atrás.
Um dos mais desprezíveis aspectos das políticas
dos conselhos de trabalhadores e do IG Metall é o fato
deles tentarem colocar os trabalhadores das diferentes fábricas
da Opel na Alemanha uns contra os outros, e os trabalhadores alemães
contra os de outros países.
Quando a GM Europe anunciou seus planos de desenvolver
e produzir um substituto do atual modelo Astra, ela declarou também
que somente as fábricas mais produtivas poderiam produzi-lo.
As fábricas menos lucrativas seriam fechadas. O presidente
do conselho de trabalhadores de Bochum, Rainer Einenkel, comentou
essa tentativa de extorsão pela GM num encontro dos trabalhados
em Essen, no dia 28 de janeiro de 2005: quem terá
as maiores chances de receber a incumbência, no final da
década, de produzir o novo modelo, serão aqueles
que possuírem as melhores estruturas produtivas.
Em conseqüência, Einenkel, juntamente com os conselhos
de trabalhadores de outras fábricas na Alemanha, procurou
melhorar estas estruturas produtivas, assegurando,
ao mesmo tempo, que a perda de empregos seria acompanhada por
medidas apropriadas. Antes de os trabalhadores de
Bochum entrar em greve em outubro de 2004, o número de
trabalhadores empregados era aproximadamente 10.000. Hoje restam
somente 4.900. O último corte de custos significará
a perda de mais 1.700 empregos. Caso se inclua as medidas de terceirização
planejadas, somente 2.200 trabalhadores permanecerão em
Bochum.
O conselho de trabalhadores procura justificar essas constantes
concessões à administração com o frágil
argumento de ter assegurado e garantido
a continuidade da produção nestas localidades. Isso
é uma farsa. O modo pelo qual estes ataques aos trabalhadores
terminarão é algo mais do que evidente. Rainer Einenkel
e Klaus Franz se enfrentarão em torno da competição
cada vez mais acirrada entre as fábricas européias.
Numa troca de cartas entre os dois burocratas sindicais em
novembro do ano passado, cada um acusava o outro de ter assinado
contratos para fábricas específicas, conduzindo
projetos secretos, mentindo e enganando. O primeiro a atacar foi
Klaus Franz. Ele acusou Rainer Einenkel, presidente do conselho
de trabalhadores de Bochum, de ter afirmado, numa reunião
do comitê do EEF, que teria visto vantagens especiais a
Bochum no Pacto pelo Futuro da GM. Einenkel reagiu
imediatamente, enviando uma sarcástica resposta, tanto
a Franz quanto ao presidente do IG Metall, Jürgen Peters,
na qual ele acusava Franz de participar, nas últimas semanas,
de um projeto secreto para ver se o Astra poderia
ser produzido também na fábrica de Rüsselsheim.
Foi somente devido à forte pressão pelo
medo de perder o controle sobre os trabalhadores e pela preocupação
com a ocupação que ocorria na fábrica da
VW em Bruxelas que os dois estabeleceram uma trégua
temporária. No dia 26 de novembro, Franz enviou uma outra
carta a Einenkel, queixando-se sobre a forma, o método
e o caminho pelo qual você está lidando com esta
complexa situação enfrentada pelo IG Metall.
Existem semelhanças entre os atuais acordos dos conselhos
de trabalhadores da Opel com a GM Europe e aqueles dos
sindicatos durante a disputa da VW. Ao final de 2006, os trabalhadores
da Volkswagen ocuparam a fábrica em Bruxelas por sete semanas,
a fim de impedir a transferência da produção
do Golf, o que ocasionaria a demissão de metade dos trabalhadores
e o possível fechamento da fábrica.
Os trabalhadores da VW foram sistematicamente isolados e abandonados
pelo conselho de trabalhadores da VW na Europa e pelo seu presidente,
Bernd Osterloh, que também é presidente do conselho
de trabalhadores de Wolfsburg, na Alemanha. No final, a produção
do Golf foi suspensa em Bruxelas e transferida para as fábricas
de Wolfsburg e Mosel, porque o conselho de trabalhadores de Wolfsburg
havia fechado um acordo que previa a extensão da jornada
de trabalho (de 28,8 para 31 horas semanais) sem aumento do salário,
além de outras concessões.
Fica evidente que Einenkel e Franz interromperam sua disputa
em novembro passado para permitir que a fábrica da Opel
na Antuérpia seja gradualmente destruída. A GM estima
que a fábrica reestruturada na Antuérpia produzirá
no máximo 120.000 veículos por ano, sendo que em
2006 a produção foi de 224.000 veículos.
A direção da Opel em Bochum se preparou para
a greve de novembro. De acordo com um membro do conselho de trabalhadores
de Bochum, Jürgen Schwartz, capôs, portas e outros
componentes prensados que antes eram produzidos na Antuérpia,
foram estocados em Bochum desde janeiro de 2006, com o objetivo
de se prevenir contra uma possível greve na Antuérpia.
Isso garantiria que a produção da sua
fábrica não seria afetada mesmo com a deflagração
da greve.
Luta dos trabalhadores em Gliwice
O papel de especialista em acabar com a luta dos trabalhadores,
desempenhado pelos conselhos de trabalhadores, também foi
demonstrado recentemente na Polônia. No dia 31 de maio
o mesmo dia em que foram anunciadas demissões em massa
na Antuérpia Klaus Franz viajou para Gliwice a fim
de acabar com uma greve que ocorria na fábrica da Opel.
Significativamente, ele disse que não estava ali como representante
dos trabalhadores e sim como um mediador.
O conflito em Gliwice vem se estendendo desde fevereiro, quando
representantes do sindicato polonês do Solidarnosc
(Solidariedade) apresentaram à administração
uma lista com 21 reivindicações de melhorias salariais
e das condições de trabalho.
De todas as fábricas européias, Gliwice é
a que apresenta o menor custo de produção. Ela foi
aberta em 1998 com um investimento de 500 milhões de euros
e empregando 2.800 trabalhadores, obtendo inúmeras concessões
por parte da administração da cidade, o que lhe
rendeu vultosos lucros. Nos primeiros dez anos, a Opel não
teve que pagar qualquer imposto e nos outros dez pagará
somente a taxa normal.
A classe trabalhadora desta região, formada por mineiros
e trabalhadores da indústria de aço, que havia enfrentado
uma severa queda do nível de vida com o colapso do regime
stalinista, saudou a nova fábrica da Opel com a esperança
de que as coisas finalmente iriam melhorar. No entanto, logo em
seguida eles ficaram decepcionados. Raramente os investimentos
trouxeram algum benefício à população.
Os salários dos trabalhadores foram congelados em 700 euros
(2.700 zloty) mensais, enquanto as condições de
trabalho se tornaram cada vez mais difíceis. Trabalhadores
jovens, mais independentes que os mais velhos, emigraram para
tentar a sorte no oeste europeu.
Uma reportagem no blog dos trabalhadores da GM descreveu
o representante do sindicato Solidariedade, Miroslaw Rzezniczek,
de Gliwice: dois trabalhadores deram início a processos
judiciais contra problemas em seus locais de trabalho. Um deles
não suportava o esforço físico exigido por
seu trabalho e foi transferido para outra função,
que causava mais dor, mas era mais calmo. Muitos trabalhadores
experientes que ajudaram a instalar a fábrica estão
indo embora. Os que permanecem se esforçam muito mais do
que a própria administração. Somente os executivos
estão sendo pagos de acordo com os níveis europeus.
A reportagem observa ainda que os trabalhadores temporários
da Opel, empregados por meio da agência Adecco, têm
que trabalhar mesmo quando estão doentes e com febre.
O sindicato Solidariedade está reivindicando um aumento
salarial de 500 zloty (130 euros), o que levou os trabalhadores
organizar diversas greves, a última no dia 29 de maio.
Cerca de 85% dos trabalhadores participaram da greve, que durou
das 13 às 15 horas, tomando uma hora das trocas de turno
da manhã e da tarde. No dia 31 de maio, os trabalhadores
receberam um aumento de 2.500 zloty (625 euros). Isso foi celebrado
no site do Fórum de Trabalhadores Europeus como um grande
sucesso, apesar dos salários continuarem baixos.
Além disso, Granz formou um comitê de negociação
para conflitos no local de trabalho, que deve agir de maneira
parecida ao EEF, buscando controlar os conflitos com o objetivo
de isolá-los.
Aumenta a resistência dos trabalhadores
As greves em Gliwice e na Antuérpia, assim como aquela
dos fornecedores da Ford SLM e Lear na Bélgica, da VW em
Bruxelas e da Skoda no mês de abril, nas cidades tchecas
de Mlada Boleslav e Kwasiny, sinalizam uma resistência crescente
dos trabalhadores da indústria automobilística européia
contra os ataques da direção das empresas aos salários
e às condições de trabalho.
No dia 3 de maio, centenas de trabalhadores da GM da Europa
protestaram na Antuérpia (Bélgica); em Bochum, Rüsselsheim,
Eisenach, Kaiserslautern, Dudenhofen (Alemanha); em Viena (Áustria);
em Ellesmere Port e Luton (Inglaterra); em Göteborg, Södertälje
e Trollhättan (Suécia); em Strasburg (França);
em Saragossa (Espanha); em Togliatti (Rússia) e Szentgotthardt
(Hungria). Em Szentgotthardt o protesto foi aparentemente o maior
desde o retorno ao capitalismo.
A integração mundial da indústria não
apenas faz da estratégia internacional dos trabalhadores
em defesa dos empregos e das condições de trabalho
uma necessidade urgente, mas faz também com que os trabalhadores
tomem consciência disso. Sem dúvida alguma, essa
estratégia requer o rompimento consciente com a perspectiva
nacionalista dos sindicatos. Os trabalhadores devem construir
novas organizações independentes, baseadas na mais
ampla democracia e comprometidas com a defesa de seus próprios
interesses.