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Termina a greve na fábrica da Opel na Polônia enquanto a GM corta mais empregos na Bélgica

Por Marianne Arens
15 de junio de 2007

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em alemão no dia 9 de junho de 2007.

No final de maio, a General Motors Europe (GME) divulgou que cortará ainda mais empregos do que havia anunciado anteriormente na fábrica da Opel — subsidiária da GM — na Antuérpia, Bélgica. Somente neste ano, mais de 1.900 empregos serão eliminados. Além disso, 400 contratos temporários, que terminarão em julho, não serão renovados. Dos 4.500 trabalhadores empregados atualmente, mais de 2.000 serão demitidos.

Quando as demissões foram divulgadas pela primeira vez no final de abril, os trabalhadores entraram em greve e ocuparam a fábrica por duas semanas. As demissões fazem parte de um plano da GM para acabar com a produção do modelo Astra na Antuérpia até 2010. A atual produção de 225.000 veículos por ano deve ser reduzida para 120.000, concentrada num pequeno modelo off-road e num Chevrolet.

A General Motors, que ainda é a maior fabricante de automóveis do mundo, possui 15 linhas de montagem e de produção em nove países europeus, empregando cerca de 60.000 trabalhadores. Em abril, o presidente da GM Europe, Carl-Peter Forster, anunciou que o Astra não será mais fabricado na Antuérpia. Ao invés disso, ele deve ser produzido em Bochum, na Alemanha; Gliwice, na Polônia; Ellesmere, na Inglaterra; e Trollhätten, na Suécia.

A decisão faz parte de uma ampla reestruturação das operações da GM em todo o mundo, degradando assim os salários e as condições de trabalho dos trabalhadores, a fim de aumentar o lucro dos acionistas da GM. Do mesmo modo que outras fabricantes, a GM pretende aumentar a produtividade em suas fábricas e transferir parte da produção para países do leste europeu que oferecem mão de obra barata.

Nos últimos meses, a reestruturação da GM já causou a demissão de mais de 30.000 trabalhadores, tanto em suas próprias fábricas quanto nas terceirizadas. Nos últimos seis anos, 20.000 empregos foram eliminados na Europa. Com o último programa de corte de custos a companhia pretende economizar 450 milhões de euros por meio das demissões. Até 2010, o tempo necessário para produzir um veículo deverá ser reduzido para 15 horas, bem menos que as 24 horas necessárias atualmente.

O programa de corte de custos do Fórum de Trabalhadores Europeus

A administração da GM está atuando em sintonia com os “co-administradores” dos sindicatos e conselhos de trabalhadores. Para este fim, os sindicatos fundaram o chamado Fórum de Trabalhadores Europeus (European Employee Forum, o EEF). Ele é liderado por Klaus Franz, que é o presidente do conselho de trabalhadores da fábrica da Opel, em Rüsselsheim, Alemanha. Franz não é somente um funcionário do sindicato de trabalhadores alemães da engenharia, o IG Metall, e presidente do conselho de trabalhadores conjunto da Opel — ele é ainda membro do quadro supervisor da subsidiária da GM, a Adam Opel AG.

Franz e o Fórum de Trabalhadores Europeus estão pondo em prática suas próprias propostas de cortes de custos da GM. Num comunicado à imprensa, o EEF declarou a sua intenção de “cobrir o rombo financeiro estimado em 290 milhões de euros, de forma a melhorar a competitividade das fábricas”. “Futuras reduções de custos estruturais também serão analisadas quando a administração da GM nos fornecer os documentos necessários”.

Além disso, o EEF assumiu a responsabilidade de controlar, juntamente com os conselhos de trabalhadores locais, toda luta dos trabalhadores contra a reestruturação da GM e transformar a resistência em protestos vazios, com o objetivo de enfraquecê-los o mais rápido possível. Isso foi exatamente o que aconteceu em várias oportunidades: quando trabalhadores ocuparam a fábrica de Bochum por uma semana, há três anos; quando a fábrica de Azambuja, em Portugal, foi fechada no ano passado; e, finalmente, na ocupação da fábrica na Antuérpia um mês atrás.

Um dos mais desprezíveis aspectos das políticas dos conselhos de trabalhadores e do IG Metall é o fato deles tentarem colocar os trabalhadores das diferentes fábricas da Opel na Alemanha uns contra os outros, e os trabalhadores alemães contra os de outros países.

Quando a GM Europe anunciou seus planos de desenvolver e produzir um substituto do atual modelo Astra, ela declarou também que somente as fábricas mais produtivas poderiam produzi-lo. As fábricas menos lucrativas seriam fechadas. O presidente do conselho de trabalhadores de Bochum, Rainer Einenkel, comentou essa tentativa de extorsão pela GM num encontro dos trabalhados em Essen, no dia 28 de janeiro de 2005: “quem terá as maiores chances de receber a incumbência, no final da década, de produzir o novo modelo, serão aqueles que possuírem as melhores estruturas produtivas”.

Em conseqüência, Einenkel, juntamente com os conselhos de trabalhadores de outras fábricas na Alemanha, procurou melhorar estas “estruturas produtivas”, assegurando, ao mesmo tempo, que a perda de empregos seria acompanhada por “medidas apropriadas”. Antes de os trabalhadores de Bochum entrar em greve em outubro de 2004, o número de trabalhadores empregados era aproximadamente 10.000. Hoje restam somente 4.900. O último corte de custos significará a perda de mais 1.700 empregos. Caso se inclua as medidas de terceirização planejadas, somente 2.200 trabalhadores permanecerão em Bochum.

O conselho de trabalhadores procura justificar essas constantes concessões à administração com o frágil argumento de ter “assegurado” e “garantido” a continuidade da produção nestas localidades. Isso é uma farsa. O modo pelo qual estes ataques aos trabalhadores terminarão é algo mais do que evidente. Rainer Einenkel e Klaus Franz se enfrentarão em torno da competição cada vez mais acirrada entre as fábricas européias.

Numa troca de cartas entre os dois burocratas sindicais em novembro do ano passado, cada um acusava o outro de ter assinado contratos para fábricas específicas, conduzindo projetos secretos, mentindo e enganando. O primeiro a atacar foi Klaus Franz. Ele acusou Rainer Einenkel, presidente do conselho de trabalhadores de Bochum, de ter afirmado, numa reunião do comitê do EEF, que teria visto vantagens especiais a Bochum no “Pacto pelo Futuro” da GM. Einenkel reagiu imediatamente, enviando uma sarcástica resposta, tanto a Franz quanto ao presidente do IG Metall, Jürgen Peters, na qual ele acusava Franz de participar, nas últimas semanas, de um “projeto secreto” para ver se o Astra poderia ser produzido também na fábrica de Rüsselsheim.

Foi somente devido à forte pressão — pelo medo de perder o controle sobre os trabalhadores e pela preocupação com a ocupação que ocorria na fábrica da VW em Bruxelas — que os dois estabeleceram uma trégua temporária. No dia 26 de novembro, Franz enviou uma outra carta a Einenkel, queixando-se sobre “a forma, o método e o caminho pelo qual você está lidando com esta complexa situação enfrentada pelo IG Metall”.

Existem semelhanças entre os atuais acordos dos conselhos de trabalhadores da Opel com a GM Europe e aqueles dos sindicatos durante a disputa da VW. Ao final de 2006, os trabalhadores da Volkswagen ocuparam a fábrica em Bruxelas por sete semanas, a fim de impedir a transferência da produção do Golf, o que ocasionaria a demissão de metade dos trabalhadores e o possível fechamento da fábrica.

Os trabalhadores da VW foram sistematicamente isolados e abandonados pelo conselho de trabalhadores da VW na Europa e pelo seu presidente, Bernd Osterloh, que também é presidente do conselho de trabalhadores de Wolfsburg, na Alemanha. No final, a produção do Golf foi suspensa em Bruxelas e transferida para as fábricas de Wolfsburg e Mosel, porque o conselho de trabalhadores de Wolfsburg havia fechado um acordo que previa a extensão da jornada de trabalho (de 28,8 para 31 horas semanais) sem aumento do salário, além de outras concessões.

Fica evidente que Einenkel e Franz interromperam sua disputa em novembro passado para permitir que a fábrica da Opel na Antuérpia seja gradualmente destruída. A GM estima que a fábrica reestruturada na Antuérpia produzirá no máximo 120.000 veículos por ano, sendo que em 2006 a produção foi de 224.000 veículos.

A direção da Opel em Bochum se preparou para a greve de novembro. De acordo com um membro do conselho de trabalhadores de Bochum, Jürgen Schwartz, capôs, portas e outros componentes prensados que antes eram produzidos na Antuérpia, foram estocados em Bochum desde janeiro de 2006, com o objetivo de se prevenir contra uma possível greve na Antuérpia. Isso garantiria que a produção da “sua” fábrica não seria afetada mesmo com a deflagração da greve.

Luta dos trabalhadores em Gliwice

O papel de especialista em acabar com a luta dos trabalhadores, desempenhado pelos conselhos de trabalhadores, também foi demonstrado recentemente na Polônia. No dia 31 de maio — o mesmo dia em que foram anunciadas demissões em massa na Antuérpia — Klaus Franz viajou para Gliwice a fim de acabar com uma greve que ocorria na fábrica da Opel. Significativamente, ele disse que não estava ali como representante dos trabalhadores e sim como um mediador.

O conflito em Gliwice vem se estendendo desde fevereiro, quando representantes do sindicato polonês do Solidarnosc (Solidariedade) apresentaram à administração uma lista com 21 reivindicações de melhorias salariais e das condições de trabalho.

De todas as fábricas européias, Gliwice é a que apresenta o menor custo de produção. Ela foi aberta em 1998 com um investimento de 500 milhões de euros e empregando 2.800 trabalhadores, obtendo inúmeras concessões por parte da administração da cidade, o que lhe rendeu vultosos lucros. Nos primeiros dez anos, a Opel não teve que pagar qualquer imposto e nos outros dez pagará somente a taxa normal.

A classe trabalhadora desta região, formada por mineiros e trabalhadores da indústria de aço, que havia enfrentado uma severa queda do nível de vida com o colapso do regime stalinista, saudou a nova fábrica da Opel com a esperança de que as coisas finalmente iriam melhorar. No entanto, logo em seguida eles ficaram decepcionados. Raramente os investimentos trouxeram algum benefício à população. Os salários dos trabalhadores foram congelados em 700 euros (2.700 zloty) mensais, enquanto as condições de trabalho se tornaram cada vez mais difíceis. Trabalhadores jovens, mais independentes que os mais velhos, emigraram para tentar a sorte no oeste europeu.

Uma reportagem no blog dos trabalhadores da GM descreveu o representante do sindicato Solidariedade, Miroslaw Rzezniczek, de Gliwice: “dois trabalhadores deram início a processos judiciais contra problemas em seus locais de trabalho. Um deles não suportava o esforço físico exigido por seu trabalho e foi transferido para outra função, que causava mais dor, mas era mais calmo. Muitos trabalhadores experientes que ajudaram a instalar a fábrica estão indo embora. Os que permanecem se esforçam muito mais do que a própria administração. Somente os executivos estão sendo pagos de acordo com os níveis europeus”. A reportagem observa ainda que os trabalhadores temporários da Opel, empregados por meio da agência Adecco, têm que trabalhar mesmo quando estão doentes e com febre.

O sindicato Solidariedade está reivindicando um aumento salarial de 500 zloty (130 euros), o que levou os trabalhadores organizar diversas greves, a última no dia 29 de maio. Cerca de 85% dos trabalhadores participaram da greve, que durou das 13 às 15 horas, tomando uma hora das trocas de turno da manhã e da tarde. No dia 31 de maio, os trabalhadores receberam um aumento de 2.500 zloty (625 euros). Isso foi celebrado no site do Fórum de Trabalhadores Europeus como um “grande sucesso”, apesar dos salários continuarem baixos.

Além disso, Granz formou um “comitê de negociação para conflitos no local de trabalho”, que deve agir de maneira parecida ao EEF, buscando controlar os conflitos com o objetivo de isolá-los.

Aumenta a resistência dos trabalhadores

As greves em Gliwice e na Antuérpia, assim como aquela dos fornecedores da Ford SLM e Lear na Bélgica, da VW em Bruxelas e da Skoda no mês de abril, nas cidades tchecas de Mlada Boleslav e Kwasiny, sinalizam uma resistência crescente dos trabalhadores da indústria automobilística européia contra os ataques da direção das empresas aos salários e às condições de trabalho.

No dia 3 de maio, centenas de trabalhadores da GM da Europa protestaram na Antuérpia (Bélgica); em Bochum, Rüsselsheim, Eisenach, Kaiserslautern, Dudenhofen (Alemanha); em Viena (Áustria); em Ellesmere Port e Luton (Inglaterra); em Göteborg, Södertälje e Trollhättan (Suécia); em Strasburg (França); em Saragossa (Espanha); em Togliatti (Rússia) e Szentgotthardt (Hungria). Em Szentgotthardt o protesto foi aparentemente o maior desde o retorno ao capitalismo.

A integração mundial da indústria não apenas faz da estratégia internacional dos trabalhadores em defesa dos empregos e das condições de trabalho uma necessidade urgente, mas faz também com que os trabalhadores tomem consciência disso. Sem dúvida alguma, essa estratégia requer o rompimento consciente com a perspectiva nacionalista dos sindicatos. Os trabalhadores devem construir novas organizações independentes, baseadas na mais ampla democracia e comprometidas com a defesa de seus próprios interesses.