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Novo presidente da Ford recebeu 39

1 milhões de dólares em 2006

Por David Walsh
11 Abril 2007

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia 7 de abril de 2007.

O novo presidente da Ford, Alan Mulally, recebeu 39,1 milhões de dólares por seus quatro meses de trabalho em 2006.

A companhia, que perdeu 2,7 bilhões de dólares no ano passado, a maior perda em 103 anos de existência, está fechando 16 fábricas e demitindo 40.000 trabalhadores assalariados e temporários. As vendas da Ford no último mês sofreram uma queda de 9%, se comparadas às de março de 2006, e a venda de ações de carros e caminhões leves (das marcas Ford, Lincoln e Mercury) nos Estados Unidos ficaram em 15,4%, uma queda de 17,6% em relação ao ano passado. A bancarrota da Ford é mais um capítulo da história dos negócios das empresas automobilísticas.

Mulally, de 61 anos, veio para a Ford em setembro de 2006 — depois de passar 37 anos na Boeing — com o propósito de fazer mudanças na companhia. É questionável se ele terá capacidade de fazê-lo. De qualquer forma, mesmo se mais dezenas de milhares de trabalhadores da indústria automobilística e suas co-relacionadas perderem seus empregos e suas comunidades forem devastadas, Mulally não será prejudicado. Se ele for demitido, “não por uma boa causa” ou por “uma boa razão”, tal como uma mudança na propriedade da empresa, fusão ou falência, seu pacote de demissão será de 27,5 milhões de dólares, de acordo com o Detroit Free Press.

A Ford, em sua declaração à Comissão de Troca e Segurança, afirmou que a compensação de Mulally deve ser de 28.183.476 de dólares, incluindo 666.667 de dólares de salário (por quatro meses de trabalho), além de um bônus de 18,5 milhões de dólares (um bônus de 7,5 milhões de dólares por serviços e 11 milhões de dólares por atuação e ações opcionais da Boeing). A Associated Press e a Reuters estimaram os ganhos do novo presidente em 39,1 milhões de dólares, baseados no valor das ações opcionais, pensões, etc.

O Detroit News noticiou “outros 334.433 dólares em ‘outra’ compensação inclui itens como seguro de vida cujo prêmio é de uma vez e meia o salário anual do presidente, indenização e contribuições da companhia com seu plano 401(k). A despesa pessoal com a aeronave da Ford por parte de Mulally, de sua esposa, de familiares e convidados, foi equivalente a 172.974 de dólares, e os gastos da Ford com suas despesas de hospedagem foi de 55.469 dólares. A companhia ainda o reembolsou em 21.878 dólares em relação a tais itens”.

“O plano de pagamento é bastante agressivo”, disse ao jornal Dan Moynihan, um perito em pagamentos de executivos da Compensation Resources Inc, de New Jersey. “Isso é repugnante? Provavelmente não. É muito dinheiro? Sim”. Moynihan não indicou de que forma, a seu ver, um plano de pagamento pode se tornar “repugnante”.

Outros executivos da Ford também concederam benefícios a si próprios. O presidente da Ford na América, Mark Fields, recebeu um total de 10,86 milhões de dólares em 2006, incluindo um salário de 1,25 milhões de dólares. O presidente financeiro, Don Leclair, foi recompensado com 7,99 milhões de dólares, incluindo um salário de 1 milhão de dólares.

William Clay Ford Jr., bisneto do fundador da empresa, presidente executivo e ex-chefe executivo, não recebeu “salário em dinheiro, bônus ou outras recompensas” em 2006. Ele anunciou pomposamente que, como parte de seu acordo de maio de 2005, estava abrindo mão de compensações até que o setor automotivo da companhia voltasse a dar lucros. Todavia, sua compensação de 2006 totalizou 10.497.292 de dólares, referente à sua opção anterior e outras premiações baseadas nas ações.

O News divulgou que o presidente e chefe de operações, James Padilla, recebeu por volta de 8,7 milhões de dólares em 2006. “A bonificação de Padilla, que está disponível a outros executivos, inclui o uso da aeronave, dos carros e dos serviços de motorista da empresa, o uso de celulares, cartões telefônicos, ingressos de eventos esportivos e filiação a clubes, tudo por conta da empresa. Avalia-se que suas bonificações em 2006 giraram em torno de 147.581 de dólares, disse Ford”.

A descontrolada acumulação de riquezas pessoais pelas elites corporativas e financeiras dos EUA, na verdade, continuam avançando incessantemente.

A empresa estatal Corporate Library relatou recentemente que o crescimento anual médio dos chefes executivos foi por volta dos 10% em 2006. O aumento salarial entre os executivos das 500 companhias da S&P foi muito mais alto que aquele alcançado pelos presidentes de empresas menores, com um crescimento médio chegando a 23% nas grandes corporações, e um pagamento médio total de mais de 10 milhões de dólares.

O mais alto pagamento a um executivo em 2006 foi feito a Leslie Blodget, da Bare Escentuals Beauty Inc., uma companhia de cosméticos de São Francisco, que recebeu 118 milhões de dólares em ações opcionais.

Depois da ampla divulgação dos casos de mesquinhez, tal como o de Roberto Nardelli, ex-presidente da Home Depot, que recebeu um pacote de demissão de 210 milhões de dólares, a mídia louvou a decisão de John Antioco que, sob pressão, aceitou uma redução do bônus em dinheiro em relação ao que havia sido negociado.

A Reuters observou, ao contrário, que “Antioco não está indo embora com as mãos vazias. Seu pacote de demissão é avaliado em 24,7 milhões de dólares, sem incluir o valor de suas ações opcionais. O pagamento inclui um bônus de 3,05 milhões de dólares em 2006, que representa uma redução de 7,6 milhões de dólares em relação ao que estava previsto no contrato, além de um pagamento de 5 milhões de dólares, comparado com os 13,5 milhões de dólares que estavam garantidos no contrato”.

Outras notícias recentes de compensações de corporações: Verizon anunciou que o chefe executivo, Ivan Seidenberg, recebeu mais de 109 milhões de dólares nos últimos cinco anos; a International Paper relatou ter pago ao presidente, John Faraci, cerca de 11,3 milhões de dólares em 2006; a Cendant Corp., um conglomerado de 20 bilhões de dólares que foi dividido em quaro partes em agosto de 2006, pagará 110 milhões de dólares no pacote de demissão do ex-presidente, Henry R. Silverman; o presidente da Meridian Bioscience e seu chefe executivo receberam 1,08 milhões de dólares em dinheiro e 359.000 de dólares em ações opcionais em 2006; Charles Ergen, presidente e chefe executivo da fornecedora de antenas parabólicas Echo Star Communications Corp., recebeu um pacote de compensação equivalente a 1,4 milhões de dólares em 2006; a WellPoint Inc., fornecedora de serviços de saúde em Indianápolis divulgou em 5 de abril que o chefe executivo, Larry C. Glasscock, recebeu um pagamento total avaliado em 23,9 milhões de dólares no ano passado, e o chefe executivo da Searsm, Aylwin Lewis, recebeu uma compensação de 2,1 milhões de dólares em 2006.

De acordo com o Instituto de Economia Política, durante o período de 1992 a 2005, o pagamento médio a chefes executivos cresceu em torno de 186,2%, enquanto o salário de um trabalhador médio cresceu somente 7,2%.

Em março a General Motors e a Chrysler agraciaram seus altos executivos com milhões de dólares em bônus: o chefe executivo da GM, Rick Waoner, obteve ações restritas avaliadas em 2,8 milhões de dólares e 500.000 opcionais equivalentes a 1,4 milhões de dólares; o chefe executivo da Chrysler, Tom LaSorda, recebeu 3 milhões de dólares em compensações, incluindo um bônus anual de 1,1 milhões de dólares. As duas companhias automobilísticas perderam bilhões em 2006 e desferiram duros ataques aos empregos, salários, condições de trabalho e benefícios dos trabalhadores.

No dia 4 de abril, Mulally - o chefe executivo da Ford - compareceu a Conferência Automotiva Mundial Morgan Stanley, em New York City, que coincidii com a exposição de carros de New York. Ele disse aos jornalistas presentes e aos conselheiros de Wall Street: “Precisamos fazer o que for necessário para conseguir uma estrutura que seja competitiva e inclua todos os elementos disso — 17 ou 18% disso se direcionam ao pagamento de salários e benefícios. Temos que olhar para isso. Será uma conversa muito importante que teremos com o UAW (Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Automobilística) este ano”.

Como pode se observar em todas as declarações em Wall Street e na mídia, os salários e benefícios dos trabalhadores da indústria automobilística deverão ser rebaixados drasticamente. Sobre esse problema, a burocracia sindical tem a mesma opinião. Mulaly elogiou o dirigente do UAW, Ron Gettelfinger, observando que ele “não poderia se sentir mais satisfeito com a preocupação e eficiência” da direção do UAW em relação aos custos trabalhistas da Ford. “Eu não poderia estar mais satisfeito com a relação” com o sindicato, disse ele. Ele indicou que estava “cautelosamente otimista” em relação ao estabelecimento de um acordo mais “competitivo” com o UAW em 2007.

O Partido Democrata cumpre seu próprio papel na campanha para substituir uma geração mais velha de trabalhadores que têm salários mais altos por trabalhadores mais jovens. Richard Gephardt, ex-congressista e esperança presidencial dos democratas, “tornou-se um peça chave nos bastidores dos esforços da Ford em cortar seus custos” (CNN, 11 de setembro de 2006). A Ford contratou-o para “servir como um conselheiro e consultor especial... nas próximas negociações com o UAW no próximo verão”. Gephardt disse ao Detroit News que ele estava trabalhado com a Ford, nas palavras do jornal, “para encontrar soluções criativas para a questão dos custos trabalhistas. ‘Estamos tentando usar idéias inovadoras para tentar fazer o impossível’, disse ele”.

Na verdade, Gephardt ajudou a recrutar Mulally para a Ford. Como diretor da Boeing, Mulally contratou o ex-diretor da House Minority, no verão de 2005 para ajudar nas negociações da companhia de aeronaves com a Associação Internacional de Maquinistas (IAM). Minority apóia a guerra do Iraque e assume posições extremamente chauvinistas. Em setembro de 2005, a Boeing alcançou um acordo para pôr fim à greve que durava um mês, enquanto Mulaly e os líderes da IAM fechavam um acordo com Gephardt.

A maioria dos artigos relacionados à compensação de Mulally e a crise da Ford citam comentários de inumeráveis analistas de negócios, investidores, comerciantes de carros, executivos da Ford, concorrentes, políticos, defensores do livre mercado e professores de economia. Apenas um trabalhador é mencionado em todo o material.

O Detroit Free Press registrou a opinião de solidariedade de um trabalhador da fábrica de engenharia de Romeo (em Michigan), Brad Firmingham, um membro do UAW que trabalha na Ford desde 1978. Ele “não acha que Mulally esteja fazendo a escolha certa e não pensa que ele possa salvar a Ford. É obsceno ‘que ele receba aquela quantidade de dinheiro em seis meses de trabalho’, disse Firminham. ‘Seis meses, para quê?’”