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Após forte crescimento, economia mundial encontra-se no "ponto crítico"

Por Nick Beams
28 Abril 2007

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia 24 de abril de 2007.

Os últimos relatórios sobre a situação da economia mundial divulgados tanto pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) quanto pelo Banco Mundial expõem um quadro de uma expansão global inédita nas quatro últimas décadas.

O Panorama da Economia Mundial (PEM), do FMI, publicado no início desse mês, prevê que a taxa de crescimento mundial de 4,9% ocorrida no período de 2003-2006 continuará por pelo menos mais dois anos. De acordo com as estatísticas do FMI, um pico mais forte que esse só ocorreu no período de 1970-1973, quando a taxa de crescimento mundial alcançou 5,4%. Se a atual taxa se sustentar, ela representará a maior expansão num período de seis anos da economia mundial, desde 1970.

As conclusões do relatório Perspectivas da Economia Global publicadas pelo Banco Mundial em dezembro de 2006, não tem nenhuma diferença essencial em relação ao PEM. Embora o Banco Mundial indique uma perspectiva levemente abaixo daquelas levantadas pelo FMI, devido a diferenças na técnica de mensurar os dados, ele também aponta para "um forte desempenho global", em conseqüência de uma "expansão muito rápida nos países em desenvolvimento, que crescem a uma taxa duas vezes mais alta que nas economias avançadas". Isso não ocorreu apenas como resultado do impacto da economia chinesa, que cresceu 10,4%, mas foi o reflexo de todo o conjunto dos países em desenvolvimento. De modo geral, 38% do aumento no resultado global são originados nessas regiões, bem acima dos 22% da produção mundial.

O Banco Mundial observou que se os últimos 25 anos foram divididos em dois períodos - 1980-2000 e 2000-2005 - a taxa de crescimento nos países em desenvolvimento aumentou de 3,2% no primeiro período para 5% no segundo. Se, por um lado, essa aceleração não foi compartilhada por todos os países, por outro, não pode ser considerada como mero resultado do crescimento na China e na Índia.

O PEM, do FMI, traz inúmeras informações a respeito de sucessos econômicos semelhantes. A atividade econômica na Europa Ocidental teve um "momento de ganho" em 2006, tendo o PIB alcançado um crescimento de 2,6% na área do euro, quase o dobro obtido em 2005, representando a maior taxa desde 2000. "A Alemanha foi o principal propulsor, impulsionada por um enorme crescimento das exportações e um forte investimento gerado pela melhoria na competitividade e saúde corporativa nos últimos anos," afirma o relatório. Acima de tudo, a taxa de desemprego caiu para 7,6% na área do euro, o nível mais baixo em 15 anos.

Houve também boas notícias vindas do Japão, onde a economia estava virtualmente estagnada por mais de uma década, depois do colapso do mercado de ações e da bolha imobiliária ocorridos no começo da década de 1990. Apesar de um inesperado declínio do consumo em meados de 2006, "os fundamentos do crescimento econômico permanecem firmes, com a expansão dos investimentos privados - suportados por fortes lucros, planilhas corporativas de balanço saudáveis, reinício dos financiamentos bancários, e um crescimento da taxa de exportações". A expectativa é de que o crescimento real no Japão permaneça acima dos 2%.

Enquanto a taxa de crescimento na América Latina foi de 5,5% em 2006 e a expectativa para 2007 é de 4,9%, os anos 2004-2006 foram "os três anos de crescimento mais forte na região desde o fim dos anos 70".

Na chamada "Ásia emergente", a atividade econômica "continua a expandir-se a um ritmo veloz", respaldada por "um crescimento muito forte tanto na Índia quanto na China". Na China, o PIB real cresceu 10,7% em 2006, enquanto na Índia a taxa de crescimento foi de 9,2%, resultado de um incremento no consumo, investimentos e exportações.

O crescimento na Europa Oriental alcançou 6% em 2006, enquanto na Rússia a taxa foi de 7,7% em 2006, embora seja esperada uma ligeira queda, chegando a 7% em 2007 e 6,4% em 2008.

O relatório descreveu o panorama econômico para a África como "muito positivo" num cenário de forte crescimento global, incremento de fluxos de capital, crescimento da produção petrolífera num determinado número de países e o incremento da demanda por mercadorias não-energéticas. "A expectativa de crescimento real do PIB em 2007 é de 6,2%, acima dos 5,5% obtidos em 2006. Prevê-se uma desaceleração para 5,8% em 2008".

Uma preocupação que existe é se essa expansão mundial poderia ser retardada pela desaceleração da economia norte-americana, devido ao significativo declínio no mercado imobiliário. Segundo as últimas informações, a venda e a construção de imóveis ainda são os responsáveis pela queda. O estoque de casas novas não vendidas atingiu o maior nível em 15 anos. Foi estimado que durante os últimos três trimestres de 2006 a taxa de retração da construção residencial foi 1% abaixo do crescimento real do PIB nos EUA.

Com a economia dos EUA tendo "desacelerado consideravelmente durante o ano passado", a preocupação central do FMI foi "o quanto esse baixo crescimento é uma freada temporária... ou os estágios iniciais de uma queda mais prolongada". Enquanto a previsão de crescimento dos EUA foi reduzida para 2,2% (em relação à previsão de 2,9% feita em setembro passado), espera-se uma "recuperação econômica, com o aumento das taxas trimestrais de crescimento durante o ano de 2007 e a retomada de todo o seu potencial em meados de 2008".

Instabilidade Financeira

Embora seja considerado por renomados economistas como "a previsão oficial mais otimista que já vimos para a economia global," o relatório do FMI levantou algumas preocupações, principalmente em relação aos mercados financeiros.

A busca contínua por lucros crescentes resultou em grandes riscos em mercados e agentes financeiros menos conhecidos. "Se essa estratégia tem tido sucesso foi porque os mercados permanecem com tendência de alta, mas a queda nos preços, o aumento da volatilidade e o surgimento de perdas nos empréstimos podem levar a uma reavaliação das estratégias de investimentos e a um recuo dos investimentos que se tornaram excedentes. Qualquer iniciativa que desconsidere essas recomendações pode ter sérias conseqüências macro-econômicas," afirmou o FMI.

O relatório também alertou sobre a recente onda de aquisições, freqüentemente realizadas por firmas de investimentos, todas mediante a tomada de empréstimos. Ele admitiu, no entanto, que os riscos ao crescimento global "são atualmente menores que há seis meses".

Apesar de não terem uma identidade completa na análise, os dois relatórios consideraram que os maiores fatores que reforçam a tendência de crescimento econômico mundial são a integração dos mercados globais, a abertura das economias chinesa e indiana, a expansão da oferta mundial de força de trabalho e o impacto das tecnologias de informação e comunicação.

De acordo com o Banco Mundial, durante os últimos 25 anos, a integração global da economia, a diminuição brutal nos custos de transporte e comunicação, juntamente com as reduções das barreiras comerciais, associados à integração dos mercados emergentes aos mercados globais, prepararam o caminho para ganhos de produtividade.

"O comércio global explodiu desde o início dos anos 60. As exportações mundiais cresceram de um patamar de menos de US$ 1 trilhão por ano (baseado na cotação do dólar em 2000) para aproximadamente US$ 10 trilhões por ano, o que significa um crescimento anual em torno de 5,5%. O comércio global está claramente superando os resultados globais, que cresceu em torno de 3,1% durante o mesmo período. Entre 1970 e 2004, as exportações dobraram sua participação no rendimento global, representando agora mais de 25% deste. De 1970 a 1985, a elasticidade de exportações (a taxa de crescimento da participação das exportações no rendimento global) estava em torno de 1,5%, mas por volta de 1986, a elasticidade aumentou substancialmente, atingindo cerca de 2,5% uma década depois. A aceleração chegou a seu ponto máximo no colapso da Cortina de Ferro e na guinada da Índia e da China rumo à abertura de suas economias e à busca de uma estratégia baseada nas exportações. Outros países também abandonaram estratégias que conduziam ao isolamento e obtiveram um salto em suas exportações".

Na seção especial dedicada à globalização do trabalho, o relatório do FMI estima que a força de trabalho efetiva global cresceu quatro vezes durante as duas últimas décadas - um "campo de crescimento do trabalho global que está sendo acessado por economias avançadas através de vários canais, incluindo as importações de bens de consumo, a instalação de empresas em países que não impõem regulamentação alguma (para produzir mercadorias parcialmente completas), e a imigração".

A maior parte desse incremento da oferta de trabalho aconteceu depois de 1990. As regiões que mais contribuíram foram o leste asiático, como principal fornecedor de força de trabalho, e o sul da Ásia e o antigo bloco oriental, em menores proporções. Embora a maioria desse trabalho super-explorado envolve trabalhadores com um baixíssimo nível de educação, o relatório observou que a oferta relativa de trabalhadores com alto grau de educação aumentou em torno de 50% durante os últimos 25 anos, a sua grande maioria nos países avançados, mas também na China.

Nem o Banco Mundial e nem o FMI traçaram qualquer paralelo histórico, mas as vastas mudanças estruturais associadas com a última fase da globalização capitalista lembram o início do século XX, quando as taxas de lucro e o crescimento econômico dos países capitalistas avançados receberam um enorme estímulo por meio dos baixo custo das matérias-primas, minerais e outros recursos naturais que provinham das colônias.

Junto com a introdução de novas tecnologias, a vasta expansão na força de trabalho global durante as duas últimas décadas impulsionaram enormemente os lucros. Desde o início dos anos 80, estima-se que nos países capitalistas avançados a parcela do PIB dedicada ao trabalho diminuiu cerca de 8%.

As duas organizações apresentaram a última tendência de alta como uma demonstração de saúde e estabilidade do capitalismo mundial... Mas sobre isso restam inúmeras dúvidas. Nas palavras do Banco Muncial: "embora aparentemente este seja um cenário promissor, a economia global encontra-se num ponto crítico, depois de muitos anos de forte crescimento - e períodos como esses são extremamente arriscados. Sem dúvida... o último século começou com circunstâncias semelhantes, caracterizadas por um período de extremo crescimento baseado em mudanças tecnológicas e alta liquidez. Longe de continuar dessa forma, como previsto pelas lideranças econômicas daquele período, o mundo foi lançado à Grande Depressão. Assim, embora o atual desenvolvimento seja tranqüilo, um pouco de cuidado é sempre necessário".

Antes da Grande Depressão, ocorreram a Primeira Guerra Mundial, a Revolução Russa de 1917 e os levantes revolucionários através da Europa do início dos anos 20. O crescimento avassalador da economia mundial no fim do século XIX e no início do século XX e o surgimento de novas potências - Alemanha, Japão e Estados Unidos - destruiu o antigo equilíbrio internacional do século XIX, levando à guerra. E o crescimento da classe trabalhadora ocasionado por essa expansão da economia capitalista, significou o envolvimento das massas populares nas lutas políticas.

A história, logicamente, não se repete. Mas uma análise da história indica que vastas mudanças na estrutura real do capitalismo mundial, como as que agora se expressam no elevado crescimento econômico, terão um impacto de grandes proporções na esfera da política.