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A OTAN continua o massacre de civis no Afeganistão

Por James Cogan
26 Octubre 2006

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia 20 de outubro de 2006.

Na última quarta-feira, num intervalo de duas horas, a Força de Assistência à Segurança Internacional (ISAF), comandada pela OTAN, que ocupa o Afeganistão, fez dois disparos de mísseis contra moradias de civis, matando 26 pessoas, entre homens, mulheres e crianças. As mortes comprovam o caráter criminoso das operações de ISAF, que representam o homicídio da população local, que reage, por sua vez, de forma hostil às forças militares estrangeiras.

O primeiro incidente ocorreu no distrito de Zhari, na província de Kandahar, onde o exército canadense alega ter matado entre 1.000 e 1.500 guerrilheiros do Taliban nos meses de agosto e setembro, numa ação denominada Medusa.

De acordo com o noticiado pela imprensa, helicópteros da OTAN dispararam mísseis em direção a três residências na vila de Ashogho, às duas horas da madrugada. Os moradores declararam que treze pessoas, incluindo quatro mulheres, foram mortas e outras quinze ficaram feridas. O governador de Kandahar, Asadullah Khalid, afirmou à imprensa que tudo indicava não haver membros do Taliban entre os mortos. Declarou ainda que “é pouco provável que houvesse algum deles na vila àquela hora”.

Algumas horas depois, mísseis foram lançados numa casa em Gereshk, uma cidade na província de Helmand. Tropas britânicas faziam parte do corpo das forças da OTAN sediadas em Helmand, que estabeleceram, durante meses, uma luta selvagem contra a resistência local.

Um vizinho da casa destruída declarou à imprensa que o ataque aéreo matou treze civis—três homens, cinco mulheres e cinco crianças. A polícia afegã, como se sabe, solicitou o apoio aéreo da OTAN durante um confronto com supostos militantes do Taliban no subúrbio da cidade. Aviões de guerra e helicópteros atiraram mísseis e lançaram bombas.

Os aviões não foram identificados em nenhum dos incidentes. Mas parecia mais ser dos EUA, ou da Inglaterra, que é responsável pela força aérea da OTAN no Afeganistão.

Na quarta-feira a ISAF admitiu a responsabilidade pelas mortes de civis em Kandahar. Numa nota à imprensa, declarou que as operações se desenrolaram na área para “deter indivíduos” envolvidos na instalação de bombas próximas a estradas contra as forças de ocupação no distrito vizinho de Panjwaii. “Foi utilizado um apoio aéreo localizado nas proximidades”, que “causou diversas mortes”.

A ISAF não explicou porque a captura de rebeldes teria exigido o disparo de mísseis em residências. De qualquer maneira, isso tem sido o procedimento padrão da ISAF. Com base na mínima suspeita de resistência, as forças norte-americanas e da OTAN fazem uso de ataques aéreos, sem levar em conta a possibilidade de morte de civis.

Centenas de afegãos foram mortos em tais ataques. Um dos mais criminosos ocorreu em maio, quando um avião norte-americano modelo A-10 bombardeou a vila de Azizi, em Kandahar, massacrando mais de 80 pessoas.

Normalmente, a quantidade de mortes de civis é ocultada pela OTAN, sob a alegação de que as vítimas eram rebeldes. Os moradores das vilas da área de Kandahar, atingida pela Operação Medusa, dizem que dezenas de civis foram consideradas pela OTAN como membros do “Taliban”. No mês passado, o fazendeiro Toon Jaan declarou à agência de imprensa canadense que 26 membros de sua família foram mortos durante o bombardeio executado pelo exército canadense na vila de Sperwan.

Esses assassinatos indiscriminados representam um significativo fator de encorajamento para os afegãos pegarem em armas contra a ocupação. O número de rebeldes aumenta sem cessar, apesar das enormes perdas que a precária guerrilha afegã sofre em qualquer enfrentamento direto com as tropas da OTAN.

Há apenas um mês, o comandante da Operação Medusa se vangloriou de ter derrotado o Taliban nos distritos de Zhari e Panjwaii, apesar de ter encontrado forte apoio local. Ele declarou que as tropas da ISAF estavam colaborando na reconstrução que garantirá “a assistência necessária aos desalojados pela recente ocupação do Taliban”.

Em 25 de setembro, o embaixador da OTAN em Kabul, Daan Everts, saudou o sucesso da ISAF como uma “evidência do nosso comprometimento em ajudar a população afegã, em absoluto contraste com os rebeldes, que se dedicam à destruição, enquanto nós ajudamos a reconstruir casas e vidas”.

Agora, as forças da ISAF na região estão sendo novamente atacadas por rebeldes locais, respondendo com ataques aéreos indiscriminados que matam pessoas, destroem casas e isolam os povoados.

Na quarta-feira, um morador da vila de Ashogho, em Kandahar, afirmou à imprensa: “se os soldados estrangeiros fossem tão inteligentes para saber que há militantes do Taliban aqui, porque eles não são capazes de perceber que havia, no momento do ataque, mulheres e crianças dormindo? Por que eles querem nos matar? Como eles podem nos ajudar a reconstruir se eles querem nos matar. Talvez eles devessem ir embora”.

Na quinta-feira, na província de Helmand, um suicida reagiu ao ataque à vila de Tajikai. Ele se lançou em meio a um comboio de veículos britânicos na principal província de Lashkar Gah e detonou uma grande quantidade de explosivos. Um marinheiro britânico morreu e outros ficaram seriamente feridos. O número de norte-americanos e aliados mortos neste ano já chega a 172—o mais alto número desde a invasão, em 2001.

O outro fator que estimula a resistência é o descontentamento em relação ao abismo social existente entre os afegãos comuns e a elite política, que cresceu em conseqüência da colaboração dada por esta última à ocupação liderada pelos EUA.

Mohammed Siddique, um oficial da instituição de caridade “Afegãos pelo Amanhã”, declarou esta semana à imprensa: “por que o governo não ajuda aos pobres? Por que as pessoas do governo e os comandantes constroem grandes mansões e as pessoas pobres ainda vivem em más condições? Por que, mesmo vindo todo esse dinheiro do estrangeiro para o Afeganistão, as pessoas continuam tão miseráveis? As pessoas dizem que o Taliban é ruim, mas dizem que o governo também é”.

A oposição popular aos invasores é muito forte. Por essa razão um alto oficial britânico que retornou do Afeganistão, o Brigadeiro Ed Butler, alertou essa semana que a resistência pode durar por mais “20 anos”. Butler declarou: “eu penso que alguém deve ter subestimado a tenacidade e a ferocidade do Taliban”.

A resposta imediata do governo Bush e do governo afegão é aumentar a violência. Os EUA, a Inglaterra e o Canadá estão pressionando outras importantes forças européias, como Alemanha, França, Itália e Espanha, para que estas enviem tropas a fim de ajudar na repressão à população afegã. Entretanto, apesar do urgente apelo feito pelo mais importante comandante da OTAN, que solicitava o envio de 2.500 soldados, após mais de um mês, nenhum reforço foi enviado.