A recente revelação de que o governo dos EUA
mantém a preparação e planejamento já
avançados de uma operação de bombardeio ao
Irã, que inclui o possível uso de armas nucleares,
manifesta grave ameaça numa situação internacional
de já crescente instabilidade.
O imperialismo norte-americano embarcou numa trajetória
que, se não impedida, levará o mundo a uma catástrofe
histórica, que fará a Segunda Grande Guerra Mundial,
comparativamente, parecer algo insignificante.
Que tal ato possa ser cogitado pela Casa Branca de Bush já
é o suficiente para chocar e horrorizar todos aqueles que
estão preocupados com o destino do mundo e o futuro da
humanidade. Pouco menos de seis décadas depois do imperialismo
dos EUA ter realizado os primeiros bombardeios atômicos
contra Hiroshima e Nagasakiinfligindo horrores que as gerações
que se seguiram juraram que jamais se repetiriamWashington
está considerando ativamente o uso de tais terríveis
armas mais uma vez, agora sem provocação real ou
mesmo prova verossímil de uma futura ameaça. Tal
ato teria o efeito de incriminar definitivamente os Estados Unidos
como país e como sociedade.
Esses planos não são apenas reais, como já
estão em andamento, segundo confirmação de
Seymour Hersh em artigo publicado na revista New Yorker
assim como no TheWashington Post. As preparações
incluem a designação de tropas para operações
especiais dentro do Irã para visualizar alvos e a realização
de exercícios aéreos nos céus do Mar da Arábia,
simulando batalhas com mísseis nucleares contra instalações
nucleares iranianas.
A ameaça da guerra apenas se intensificou desde a publicação
desses artigos, com o anúncio do governo iraniano de que
teve sucesso no enriquecimento de urânio para seu programa
de energia nuclear. Teerã mais uma vez insistiu que esse
programa serve apenas para usos pacíficos, e especialistas
confirmaram que seu desenvolvimento ainda deixa o Irã longe
de ser capaz de produzir o urânio enriquecido no grau necessário
à fabricação de armas nucleares.
Há sem dúvida pouca cautela nas atitudes tomadas
pelo governo de Teerã que, na discussão sobre confrontação
nuclear, está perseguindo seus próprios objetivos
políticos de curto prazo, utilizando o ressentimento nacionalista
de uma larga porção do povo iraniano com relação
às provocações dos EUA, como meio de distração
das tensões sociais e políticas dentro do próprio
Irã. As ações das facções burguesas,
que controlam o governo iraniano, não fizeram nada para
defender o povo do Irã da ameaça da guerra. De fato,
essas facções fazem o jogo da direita militarista
que controla a Casa Branca.
Cálculos políticos domésticos têm
um papel proeminente na nova maquinação bélica
dos EUA. O colapso do apoio popular para as políticas de
Bushele próprio manifestação de uma
crise profundamente enraizada nos EUAencorajou o governo
a embarcar em outra campanha militar de agressões como
meio de atrair a opinião pública e suprimir a oposição.
Previsivelmente, o governo Bush respondeu ao último
anúncio de Teerã engrenando suas ameaças
belicosas. A secretária de Estado Condoleezza Rice disse
12 de abril que o Conselho de Segurança das Nações
Unidas deve dar " passos decisivos" contra o Irã
para "manter a credibilidade da comunidade internacional".
E acrescentou: "não podemos deixar que essas atitudes
continuem".
O Secretário de Defesa Donald Rumsfeld descreveu o Irã
como "um país (...) que patrocina terroristas".
E continuou: "é um país que indicou um interesse
em ter armas de destruição em massa".
O governo está seguindo um roteiro virtualmente idêntico
àquele usado na corrida para a guerra no Iraque, com um
obscuro e pouco substancioso alerta sobre uma suposta ameaça
iminente pelas "armas de destruição em massa"
que apenas podem ser impedidas por uma mudança no regime
daquele país iniciada pelos EUA. Mais uma vez, Washington
está dispensando, como algo inútil, o monitoramento
das Nações Unidas sobre o programa nuclear iraniano.
Poucas dúvidas restam de que, com a quase certa recusa
da Rússia, China e talvez de outros membros do Conselho
de Segurança de legitimar a ação militar,
a Casa Branca de Bush vá novamente declarar a ONU irrelevante,
e embarcar na sua própria ação unilateral.
Falando a uma platéia na John Hopkins School of Advanced
Internacional Studies, Bush repetiu sua belicosa denúncia
contra o Irã feita em 2002, quando disse que este paísjuntamente
com a Coréia do Norte e o agora ocupado pelos Iraqueconstitui
um "eixo do mal".
Bush declarou que sua estratégia em relação
ao Irã foi baseada numa "doutrina preventiva".
Para a linguagem estatal internacional, uma guerra preventiva
é uma guerra de agressão com o objetivo de prevenir
que um rival aumente seu poder ou consiga um avanço estratégico
no futuro. Após o precedente estabelecido pelos julgamentos
dos líderes nazistas, em Nuremberg, isso é considerado
crime de guerra.
O The World Socialist Website já ressaltou os
paralelos existentes entre as políticas utilizadas pelo
governo dos EUA e os métodos implementados pelos líderes
do III Reich alemão nas décadas de 1930 e 40. O
claro desprezo pelas leis internacionais, a agressão militar
na base de falsos pretextos, o uso de força exagerada contra
vítimas relativamente sem poder são comuns a ambos
os regimes. Alguns de nossos leitores podem ter considerado tais
comparações exageradas. Mas com as últimas
revelações acerca dos planos dos EUA contra o Irã,
tal complacência não é mais sustentável.
Existe um poderoso elemento de inconseqüência e
mesmo insanidade na ameaça dos EUA ser capaz de usar armas
nuclearespela primeira vez no planeta desde a Segunda Grande
Guerrapelo suposto propósito preventivo de impedir
que o Irã desenvolva a tecnologia para produzir essas mesmas
armas nucleares.
Petróleo e vantagem estratégica
Sublinhando essa aparente loucura, todavia, está uma
clara política que vem sendo seguida pelo imperialismo.
Como no Iraque, o motivo principal por detrás das ameaças
de guerra contra o Irã não são as armas de
destruição em massa, mas o petróleo. O programa
nuclear iraniano não é, na realidade, visto por
Washington como uma grande ameaça. Assim como no Iraque,
armas de destruição em massa funcionam como casus
belli para a ação militar com outros objetivos.
Não apoiamos o esforço do governo iraniano na
obtenção de armas nucleares, partindo do princípio
de que em nenhum sentido elas contribuem no avanço da luta
dos trabalhadores no Irã ou em qualquer outro lugar na
mesma região. Todavia, mesmo se o Irã estivesse
adquirindo armamento nuclear, isso não teria uma maior
significação militar, dada a gigantesca força
que detém os EUA.
O Irã está, afinal de contas, cercado por países
que possuem tais armasRússia, Israel, Paquistão,
Índiasendo que alguns deles as obtiveram com apoio
aberto de Washington. Não tivesse a ditadura do Xá
do Irã (Reza Pahlevi), apoiada pelos EUA, sido derrubada,
o programa nuclear que ela iniciou, com o apoio direto de pessoas
como Cheney e Rumsfeld, já teria há muito produzido
bombas nucleares.
O governo americano está simplesmente explorando a ignorância
popular e uma mídia condescendente com relação
à situação para criar uma cortina de fumaça
por detrás da qual esconde interesses definidos. O Irã
possui a segunda maior reserva de gás natural do mundo,
além de ser o quarto país no planeta em reservas
de petróleo. Existem previsões que tais reservas
produzirão ainda por algumas décadas, mesmo após
o término do petróleo na Arábia Saudita.
Além do mais, Washington está diante de um fato
político grave: o Irã começa a emergir como
o principal beneficiário da intervenção dos
EUA no Iraque, ameaçando a tentativa americana de estabelecer
uma hegemonia sobre o Golfo Pérsico e sobre os recursos
energéticos estratégicos da região.
Vê-se uma ameaça ainda maior aos interesses norte-americanos
no estreitamento dos laços do Irã com a Rússia,
China e Europa. Washington não tem nenhuma intenção
de permitir aos seus rivais econômicos que tirem vantagens
de sua política de sanções econômicas
contra o Irã. Os laços entre Irã e Rússia
são vistos como um impedimento à tentativa norte-americana
de controlar as enormes reservas de petróleo e gás
das antigas repúblicas soviéticas da Ásia
Central.
A ameaça de uma guerra de agressão contra o Irã
e o uso de armas nucleares expressam a crise histórica
do capitalismo norte-americano e mundial, e o desequilíbrio
acelerado dentro de todo o sistema de estados nacionais capitalistas.
Este desequilíbrio e o seu produto maléfico, o risco
de uma nova guerra mundial, foi exacerbado tanto pelo colapso
da União Soviética como pelo relativo declínio
do capitalismo dos EUA em relação à economia
mundial.
Dentro da oligarquia dominante norte-americana, estes desenvolvimentos
paralelos criaram uma estratégia consensual de exploração
da superioridade militar do imperialismo dos EUA com a intenção
de reorganizar a economia mundial em função dos
interesses dos bancos norte-americanos e corporações
transnacionais. Isso significa a tomada de posições
e recursos estratégicoscomo no Golfo Pérsicoe
o uso do militarismo e da guerra para impedir a emergência
de qualquer rival, mesmo regional, que coloque em risco a busca
norte-americana pela hegemonia global.
Busch negou os planos relatados sobre o uso de armas nucleares,
porém, há ampla evidência de que, no meio
político norte-americano, o que antes era impensável
agora é visto como uma opção viável.
Um artigo publicado na última edição da Foreign
Affairs, revista que reflete a visão norte-americana da
política externa do país, coloca a possibilidade
de uma guerra nuclear na qual os EUA poderiam sair vitoriosos,
baseados nos avanços tecnológicos de seu sistema
armamentista e na deterioração do arsenal nuclear
da ex-União Soviética.
"Hoje, pela primeira vez em mais de 50 anos, os EUA estão
no limiar da obtenção da primazia nuclear",
diz o artigo. " Provavelmente logo será possível
aos Estados Unidos destruir os arsenais nucleares de longo alcance
da Rússia ou da China".
Um ataque nuclear contra o Irã, país que tem
fronteiras com a Rússia, representaria um primeiro teste
desta estratégia. Serviria não apenas para devastar
o Irã e infligir uma destruição em massa
da população civil, como também permitiria
ameaçar Rússia, China e qualquer outro poder que
se coloque no caminho das metas imperialistas norte-americanas.
Os EUA estão se movendo em direção que
inexoravelmente caminha para uma grande e catastrófica
guerra que tiraria a vida de milhões de pessoas. Em relação
à próxima ação de agressão
militar norte-americana, a questão não é
"se", mas apenas "quando".
O Iraque já mostrou que dentro da estrutura política
atual dos EUA, não há meios para bloquear esta ameaça.
Com as novas ameaças ao Irã, o Partido Democrata
dos EUA permaneceu em silêncio absoluto.
Em seu artigo no New Yorker, Hersh cita um membro da Câmara,
que teria dito que "não há nenhuma pressão
do congresso" contrária ao lançamento da guerra.
Nenhuma seção do Partido Democrata convocou a
realização de audiências públicas para
discutir as implicações políticas, militares,
legais e morais dos planos de uma guerra que pode envolver o uso
de armas nucleares. Não há nenhuma razão
para acreditar que o congresso e os democratas não serão
tão cúmplices deste novo ato criminoso quanto o
foram da invasão e ocupação do Iraque.
Bastante sintomático da reação dos "liberais"
foi o editorial do New York Times da última terça-feira
(11 de abril), com a complacente manchete "Fantasias militares
sobre o Irã".
"O congresso e a sociedade precisam impulsionar um debate
nacional sério, que na realidade nunca aconteceu antes
da invasão do Iraque", o Times declara, notando
que o governo está fazendo ameaças de uma "ação
militar futura em uma linguagem que por vezes faz lembrar os pronunciamentos
feitos antes da invasão do Iraque".
O chamado do editorial a um "debate nacional sério"
em uma nova guerra de agressão reflete precisamente a linguagem
usada pelo Times nos meses prévios à invasão
do Iraque. Naquela época, o jornal insistiu para que o
governo continuasse a perseguir uma justificativa pseudo-legal
para a guerra, e propos um debate para preparar a opinião
pública para a invasão. No entanto, o jornal apoiou
a ação do governo mesmo quando a Casa Branca ordenou
a invasão sem o apoio das Nações Unidas.
O último editorial faz uma advertência sobre as
possíveis conseqüências desfavoráveis
dos ataques aéreos contra o Irã, no que se refere
às tropas norte-americanas no Iraque; questiona também
se esses ataques realmente conseguiriam "destruir todo o
aparato nuclear iraniano" e descreve uma guerra contra o
Irã como uma "loucura temerária". Mas
o jornal não denuncia claramente a perspectiva de ataques
aéreos ofensivos e o possível uso de armas nucleares
como o que essas coisas realmente são: crimes de guerra.
Claramente, os editores vêem essas ações como
possibilidades reais.
Estado policial no interior do país
As implicações destas possíveis ações
de guerra para a própria sociedade norte-americana são
assustadoras. Os ataques sem dúvida iriam provocar retaliações,
o que seria usado por Washington para intensificar dramaticamente
a "guerra ao terror", sob a forma de uma escalada militarista
no exterior e a eliminação dos direitos democráticos
básicos, no interior dos EUA.
O uso de armas nucleares pelos EUA iria provocar horror e revolta
na população norte-americana, e uma massiva oposição.
O governo responderia com repressão direta. A perspectiva
do povo americano enfrentando uma ditadura fascista-militar como
subproduto de um ataque militar como este é bastante real.
As novas ameaças de guerra contra o Irã revivem,
mais do que nunca, como única alternativa para esta época
histórica: socialismo ou barbárie. A luta contra
esta nova ameaça e contra a guerra que continua no Iraque
apenas pode ser sustentada pelos trabalhadores norte-americanos,
unidos aos trabalhadores e oprimidos de todo o mundo. É
necessário assumir a forma de uma luta política
contra a oligarquia financeira norte-americana e os seus partidos
políticos.
O grande perigo é que a crise capitalista e os seus
subprodutos, como o militarismo e a guerra, estão se desenvolvendo
muito rapidamente, enquanto os meios políticos de se opor
àqueles estão muito atrasados. Isto precisa ser
superado através de um reconhecimento consciente da contradição
entre a gravidade enorme das questões colocadas e a ausência
de qualquer alternativa política dentro do sistema capitalista
americano de dois partidos políticos.
Um novo movimento de massas revolucionário, embasado
na unidade internacional da classe trabalhadora, precisa ser levado
adiante, erguendo uma ampla luta pelo socialismo mundial e contra
o já obsoleto sistema dos estados nacionais sobre o qual
o imperialismo ainda se sustenta. O SEP (Partido da Igualdade
Socialista) e o World Socialist Website lutam para estabelecer
os fundamentos políticos indispensáveis para o desenvolvimento
de tal movimento.