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A classe trabalhadora responde ao furacão Harvey

Joseph Kishore
29 de setembro de 2017

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Publicada originalmente em 31 de Agosto de 2017

A preparação oficial e a resposta do governo ao furacão Harvey têm sido caracterizadas por um nível chocante de incompetência e indiferença, desde a falta de um plano de evacuação coordenado e abrigos de emergência até o caráter completamente improvisado das operações de resgate. Enquanto Houston e outras partes do Texas inundam e o número de mortos aumenta, vários políticos, da Casa Branca às autoridades locais, gastaram grande parte dos últimos dias elogiando uns aos outros. “Vocês foram ótimos”, Trump disse ao governador, ao chefe da Agência Federal de Administração de Emergência e a outros membros do governo no Texas na terça-feira, com a esperança de que ninguém fosse perceber o que estava acontecendo ao seu redor.

A inundação, entretanto, trouxe uma resposta enorme de trabalhadores do Texas e de toda a região, que correram para se voluntariar nas operações de resgate, usando seu próprio equipamento e sem receber nada em retorno.

O New York Times, que geralmente se refere à classe trabalhadora apenas com hostilidade, escreveu na quarta-feira que “a resposta a um dos piores desastres em décadas tem sido, em muitos aspectos, improvisada.” O artigo continua: “veículos recreativos – aerobarcos, Jet Skis, barcos de pesca motorizados – deslocaram-se para ajudar as pessoas presas em suas casas, pilotados por soldadores, pedreiros, mecânicos e pescadores vestindo calções, lanternas de cabeça e capas de chuva. A classe trabalhadora, em grande parte, está sendo salva pela classe trabalhadora.”

É possível que milhares de pessoas tenham participado desses esforços para salvar aqueles que estavam presos em suas casas, muitas vezes viajando grandes distâncias. Muitos desses resgates foram coordenados por um mapa online, houstonharveyrescue.com, construído no início desta semana por um desenvolvedor de software local. Indivíduos e famílias precisando de assistência podem se cadastrar no site. Milhares fizeram o cadastro nos primeiros poucos dias de operação, e o site relatou que até quarta-feira à noite 5.000 pessoas foram “marcados como seguras”.

O site Quartz publicou que “o exército de socorristas, que também pode se registrar no site, pode então identificar facilmente os casos mais urgentes. Uma equipe de 100 telefonistas atende aqueles buscando resgate, e pode enviar mensagens de texto em massa com informações importantes. Um algoritmo evita quaisquer repetições.”

A resposta dos trabalhadores levanta questões mais amplas. Assim como o furacão Katrina e muitos outros desastres nos Estados Unidos e internacionalmente, o furacão Harvey expôs a realidade das classes sociais americanas que a mídia e o establishment político tentam acobertar. Como sempre, são a classe trabalhadora e os pobres, de todas as raças e etnias, que são mais severamente atingidos. São eles que não têm seguro, ou têm de enfrentar companhias de seguro que se recusam a pagar pelos danos. São eles que verão a mídia e os políticos da classe dominante irem embora ao mesmo tempo em que as águas recuam e as grandes indústrias retomam as operações.

Grande parte da reação da mídia e do establishment político ao desastre foi motivada pelo medo de que ele provocasse uma revolta social, incendiando as imensas contradições da sociedade americana.

Ao mesmo tempo, a resposta dos trabalhadores ao furacão expressa a fundamental consciência de classe e a solidariedade que a classe dominante trabalha tão duramente para minar. Ao contrário das alegações – promovidas em particular pelo Partido Democrata - de que a sociedade americana está dividida pelo ódio racial, as operações de emergência envolveram trabalhadores brancos, negros e hispânicos em ambos os lados - nos barcos e nas casas inundadas.

Essa resposta é uma prova poderosa de que é possível haver organizações independentes de trabalhadores e o controle dos trabalhadores, não apenas sobre as indústrias básicas e meios de produção, mas sobre todos os recursos e serviços essenciais da sociedade. Os trabalhadores têm um entendimento muito maior do que precisa ser feito do que aqueles que determinam a política governamental atualmente – a aristocracia corporativa e financeira e, além dela, os 5% ou 10% mais ricos da população.

Se os trabalhadores estivessem envolvidos nas decisões sobre como alocar os recursos, a preparação para o furacão estaria em um estágio muito mais avançado. Trilhões de dólares teriam sido alocados não para resgatar Wall Street e financiar a máquina militar dos EUA, mas para a construção do sistema de infraestrutura social. A inundação, afinal, não era nem imprevisível, nem imprevista – apenas não se planejou para enfrentá-la

A destruição da quarta maior cidade nos Estados Unidos é uma expressão de um fenômeno geral. De um milhão de maneiras, as necessidades básicas de uma sociedade moderna de massas – a preparação para desastres naturais, a distribuição de comida, o desenvolvimento dos sistemas de saúde e educação, sem falar na garantia de um salário decente para toda a humanidade – entram em conflito com a subordinação da sociedade às exigências do lucro. O domínio pelos mercados de ações garantem que tudo seja sacrificado para as figuras empresariais que estampam as capas de revista de negócios.

A necessidade do socialismo – e inextricavelmente conectado a ele, o planejamento econômico – é baseada não em sonhos utópicos, mas nas exigências concretas do desenvolvimento social.

Em todos os aspectos da vida social, a classe trabalhadora precisa assumir o controle através da organização de comitês de trabalhadores em fábricas, locais de trabalho e bairros, controlando a produção e a distribuição de recursos. Essas organizações precisam começar resolvendo as necessidades da classe trabalhadora e ser democraticamente controladas pela classe trabalhadora. Elas precisam assumir cada vez mais a responsabilidade de unificar os trabalhadores e organizar suas lutas em comum contra a classe capitalista e seus representantes políticos.

O estabelecimento do controle democrático genuíno sobre a produção e organização econômica é a base necessária para o desenvolvimento de um plano racional para substituir a anarquia do mercado e garantir que todas as decisões sejam baseadas nas necessidades socias.