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Trump na Ásia: o mundo à véspera de uma guerra

James Cogan
16 de dezembro de 2017

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Publicado originalmente em 6 de Novembro de 2017

A conduta de Donald Trump no Japão, o primeiro país visitado em sua viagem pela Ásia, sugere fortemente que ele está se preparando para iniciar uma guerra contra a Coreia do Norte.

O presidente dos EUA chegou ao Japão pousando na Base Aérea de Yokata, perto de Tóquio. Ao invés de iniciar sua estada encontrando-se com os líderes políticos do país, Trump escolheu discursar para um grupo de militares americanos que faz parte da força que está sendo preparada para levar adiante sua ameaça de “destruir totalmente” a Coreia do Norte com “fogo e fúria.”

Diante de militares cantando “EUA, EUA”, ele trocou seu paletó por um uma jaqueta da Força Aérea americana. Trump depois iniciou um discurso nacionalista, vociferando que os Estados Unidos possuem “a mais temida força militar da história do mundo.”

“Os guerreiros da América”, ele continuou, “estão preparados para defender nossa nação usando toda a gama de nossas inigualáveis capacidades. Ninguém - nenhum ditador, nenhum regime e nenhuma nação - deve subestimar, nunca, a determinação americana.”

Como um mafioso, Trump regozijava-se: “Uma vez ou outra, no passado, eles nos subestimaram. Não foi agradável para eles, foi?” No Japão, este comentário foi interpretado por todos como uma referência ao lançamento das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, que levou a morte de dezenas de milhares de civis.

Com suas declarações e sua conduta, Trump personifica a decadência do imperialismo americano e do cálculo criminoso de seus estrategistas, segundo o qual a destruição de mais um empobrecido país aliviará suas crescentes crises externas e internas. Nos círculos estratégicos americanos, uma guerra com a Coreia do Norte é considerada como uma forma de diminuir a crescente influência da China na Ásia e mostrar que o capitalismo americano não desistirá de sua posição de poder dominante na região e em todo o mundo.

Por mais de 25 anos, desde a dissolução da União Soviética, a política externa dos EUA tem sido a de guerras consecutivas, intrigas e conspirações para obrigar o mundo a aceitar sua dominação. Países inteiros foram devastados e milhões de pessoas foram mortas. Esse histórico deixa pouca dúvida de que os Estados Unidos, não tendo conseguido reverter seu declínio econômico, estão preparados mais uma vez para usar armas nucleares.

Uma guerra também está sendo discutida pela administração Trump como uma maneira de desviar e conter a guerra política dentro da própria classe dominante americana, que ameaça derrubar sua presidência e rachar o Partido Republicano. Essa proposta tem o objetivo de projetar para o exterior os imensos antagonismos de classe nos Estados Unidos e dissipar a explosão da luta contra a desigualdade social e as condições impossíveis de vida que enfrentam milhões de trabalhadores americanos.

O caráter complemente criminoso e insano do que não está sendo apenas considerado, mas ativamente planejado e preparado, é demonstrado em um relatório solicitado por dois congressistas dos EUA e enviado em 27 de outubro pelo Secretário de Defesa James “Cachorro Louco” Mattis. O documento, de autoria do contra-almirante Mike Dumont, diz de maneira clara: “A única maneira de localizar e destruir - com total certeza - todos os componentes do programa nuclear da Coreia do Norte é através de uma invasão terrestre.”

Dumont afirma que qualquer estimativa de vítimas é “desafiadora” porque uma guerra envolveria enorme violência militar dos EUA e seus aliados e o potencial uso de armas nucleares por ambos os lados.

Organizações independentes do Pentágono, no entanto, forneceram estimativas de vítimas. O Serviço de Pesquisa do Congresso estima o número de mortos nos primeiros dias da guerra contra a Coréia do Norte em 300.000, considerando que não sejam utilizadas armas nucleares. Pelo menos 25 milhões de pessoas nos dois lados da fronteira - ou seja, toda a população do Norte e metade da população do Sul - seriam “afetadas”.

Como o World Socialist Web Site escreveu em Setembro, a ideia de que um crime monumental de guerra como esse melhoraria a situação dos Estados Unidos é perturbadora. O WSWS escreveu que isso “transformará os EUA em um estado pária por todo o mundo, insultado por crimes sem precedentes desde a Alemanha de Hitler... As consequências políticas, econômicas e mesmo morais de tal guerra desencadeariam uma crise interna de dimensões sem precedente, questionando a própria existência dos Estados Unidos.”

Vários aliados dos EUA estão, no entanto, facilitando os preparativos e incitando Trump, seus generais e os bilionários de sua administração para uma guerra contra a Coreia do Norte. No domingo, Shinzo Abe, o primeiro-ministro ultra-nacionalista do Japão, chamou o demagogo fascista que lidera a administração dos EUA de seu “amigo maravilhoso” e saudou a aliança Japão-EUA como “inabalável”. O imperialismo japonês está explorando a histeria sobre os programas nucleares e de mísseis da Coreia do Norte para reafirmar-se como uma potência militar.

O imperialismo australiano também ofereceu apoio incondicional aos EUA, com a promessa de seu primeiro ministro de que o país participará de qualquer guerra e enviará forças para se juntar à armada naval dos três porta-aviões dos EUA que estão se reunindo na costa coreana.

Na terça-feira, será a vez da classe dominante sul-coreana mostrar sua lealdade ao imperialismo americano, permitindo que Trump discurse em seu parlamento e reitere suas ameaças em transformar a península coreana em um inferno de morte e destruição. Se a guerra começar, o governo sul-coreano do presidente Moon Jae-in entregará ao Pentágono seu exército de 625 mil soldados e 3,1 milhões de reservistas para a invasão e ocupação de Washington da Coreia do Norte.

Em seu discurso para as tropas dos EUA em Tóquio, Trump usou o termo “região Indo-Pacífico”, dizendo que Washington “se unirá a amigos e aliados para buscar uma região livre e aberta do Indo-Pacífico”. A nova designação para o Leste Asiático tem o objetivo de reforçar o recrutamento da Índia para a aliança liderada pelos EUA contra a China, juntando-se ao Japão, Coreia do Sul e Austrália.

Ao mesmo tempo que os regimes chinês e russo em grande parte concordaram com os preparativos de guerra dos EUA para evitar aumentar as tensões com Washington, eles possuem seus próprios interesses estratégicos na península coreana e na Ásia de forma mais ampla. Um ataque liderado pelos EUA contra a Coreia do Norte poderia resultar em uma intervenção da China, da Rússia ou de ambas, colocando o perigo da guerra nuclear mundial.

O capitalismo e o sistema de estados nações ameaçam a humanidade com uma catástrofe. O Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI) e suas seções nacionais estão lutando pelo desenvolvimento de um movimento internacional anti-guerra de massa baseado na classe trabalhadora e na luta pelo socialismo mundial.

Como explicamos, a mesma crise insolúvel do sistema capitalista que conduz as elites governantes em direção à guerra mundial impulsiona a classe trabalhadora internacional no caminho da revolução socialista. A urgente tarefa que se coloca agora é a construção da liderança revolucionária necessária para transmitir a esse movimento um programa e uma estratégia conscientes. É hora dos leitores e apoiadores do WSWS tomarem a decisão de se juntarem ao CIQI e ajudarem a criar essa liderança.