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Por trás da disputa sobre o novo presidente do FMI
Por Nick Beams
24 de maio de 2011
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A prisão do director do FMI, Dominique Strauss-Kahn,
e sua subsequente renúncia deram início a uma batalha
entre as grandes potências sobre a nomeação
de seu sucessor.
As potências europeias estão insistindo que o
novo diretor seja europeu, apresentando a ministra das finanças
da França, Christine Lagarde, como possível candidata.
Esse apontamento alinha-se com a prática que tem prevalecido
desde a fundação da instituição em
1944, por meio da qual um europeu encabeça o FMI enquanto
sua organização irmã, o Banco Mundial, é
dirigida por um americano.
Um fator ainda mais potente do que a tradição
é a crise financeira da zona do euro. A chanceler alemã
Angela Merkel declarou que a situação atual
pede um candidato europeu, dados os graves problemas pelos quais
passa o Euro.
O secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, inicialmente
defendeu que o atual vice-diretor geral, John Lipsky, assumisse
o cargo ao menos interinamente e a nomeação do antigo
funcionário do Tesouro, David Lipton, no lugar de Lipsky.
Depois ele divulgou uma declaração que pedia um
processo aberto que leve a uma rápida sucessão.
Os assim chamados países em desenvolvimento - incluindo
a China, Índia, Brasil e África do Sul - também
estão reivindicando um processo aberto, insistindo que
a estrutura do FMI deve mudada de acordo com as variações
na economia mundial. o ministro das finanças da África
do Sul, Pravin Gordhan, disse que os europeus devem estar
atentos às mudanças no mundo.
Em meio à crise provocada por Strauss-Kahn, esses assuntos
foram enfatizados em um relatório publicado nesta semana
pelo Banco Mundial que apontava grandes mudanças por vir
na estrutura da economia mundial - mudanças que significam
que o conflito sobre quem será o novo comandante do FMI
é apenas mais de várias mudanças que estão
a caminho.
Projetando as tendências até o ano 2025, o relatório
Horizontes do desenvolvimento mundial abre com a observação
de que abrangentes mudanças estão em andamento
na economia mundial com a crescente influência
de mercados emergentes [...] preparando o terreno para uma economia
mundial de caráter cada vez mais multipolar.
Na era do pós-guerra, a ordem econômica mundial
era construída sobre um conjunto complementar formado
por acordos econômicos e de segurança entre os Estados
Unidos e seus principais parceiros, com os países em desenvolvimento
cumprindo um papel periférico, moldando suas políticas
tendo em vista o benefício do dinamismo de crescimento
dos países desenvolvidos.
Aquela era foi enterrada. O relatório apontou que, enquanto
que o crescimento econômico nos próximos 15 anos
seria consideravelmente menor do que os níveis atingidos
em 2010, as economias emergentes irão [...] se expandir
coletivamente em uma média de 4,7% ao ano (mais do que
o dobro da média de 2,3% do mundo desenvolvido) entre 2011
e 2025.
Como resultado, o relatório estimava que até
2025 as seis maiores economias emergentes - Brasil,
China, Índia, Indonésia, Coreia e Rússia
- iriam ser responsáveis por mais do que metade de todo
o crescimento global. Centros de crescimento mundial surgiriam
entre as economias emergentes e em desenvolvimento, trazendo à
tona um mundo multipolar.
Essas mudanças terão implicações
de longo alcance para o sistema monetário internacional.
De acordo com o relatório, o cenário mais
provável [...] é o de um sistema de múltiplas
moedas centrado no dólar americano, no Euro e no renminbi
[moeda chinesa, também conhecida como Yuan]. Nesse
cenário, o dólar perderia sua posição
de inquestionável moeda internacional até 2025,
abrindo espaço para um papel internacional a ser cumprido
pelo euro e o um papel emergente ao renminbi.
O relatório quase descartou um cenário alternativo
de uma única moeda-reserva multilateral administrada pelas
maiores potências, porque isso requereria que países
protecionistas de suas políticas monetárias abrissem
mão de seu controle total. Em outras palavras, um
esquema desse tipo de uma moeda global iria afundar nas barreiras
dos interesses nacionais das maiores potências, assim como
ocorreu com uma proposta similar de John Maynard Keynes, o líder
da delegação britânica nas negociações
que fundaram o FMI 1944.
O relatório apontou que uma terceira alternativa - a
continuação do atual sistema baseado no dólar
americano - faria persistirem as causas dos descompassos globais
que levaram à crise financeira.
O cenário sugerido no relatório em relação
a um sistema global de três pernas é que este não
traria estabilidade à economia. Pelo contrário,
sob tal sistema ocorreria uma mudança imediata no sentido
da formação de blocos de comércio e investimentos
baseados nas três principais moedas. Como o próprio
relatório observou, na ausência de controles internacionais
coordenados das flutuações cambiais, a tendência
seria de países forjarem uma aliança com um
dos países de moeda principal, por meio de uma união
monetária ou paridade cambial a fim de reduzir os
riscos financeiros.
Em outras palavras, a emergência de uma economia global
multipolar irá recrear, de forma ainda mais explosiva,
a situação que se ergueu em 1930. Lá, o mundo
foi dividido em blocos monetários e comerciais rivais,
promovendo intensos conflitos econômicos que levaram, eventualmente,
à Segunda Guerra Mundial.
É claro que o relatório do Banco Mundial não
apresenta as implicações de sua própria análise.
Isso seria impensável para uma organização
cuja principal função econômica e política,
junto com o FMI, é a de policiar as demandas das elites
financeiras e corporativas e reforçar a concepção
ideológica fundamental de que não há alternativa
à ordem capitalista.
Mas a classe trabalhadora internacional ignorará as
implicações desses processos a seu próprio
risco. Os fortes movimentos das placas tectônicas da economia
mundial atingiram um novo pico de intensidade a contradição
entre o desenvolvimento mundial das forças produtivas e
a divisão do mundo em Estados-nações capitalistas
rivais.
Esta contradição conduz a burguesia a uma luta
cada vez mais frenética de cada um contra todos, nos mercados,
lucros e recursos, levando em última instância ao
conflito militar e a uma ameaça á própria
civilização humana. Ele só poderá
ser resolvido sobre bases progressistas pela classe trabalhadora
internacional por meio da luta pelo poder político e pelo
estabelecimento de uma economia socialista planificada mundial
que derrube as fronteiras do obsoleto sistema baseado em Estados-nações
e lucros.
As mudanças para as quais o Banco Mundial apontam são
as mais importantes para a economia mundial desde que a emergência
da Alemanha, Japão e Estados Unidos acabou com a hegemonia
do imperialismo britânico no início do séc.
XX. Essas mudanças levaram a uma quebra da ordem capitalista
mundial em 1914 e a três décadas de guerras e revoluções.
Um novo período de guerras e revoluções se
inicia, no qual a pré-condição fundamental
para a vitória da classe trabalhadora é a construção
de uma nova direção revolucionária socialista.
Esta é a perspectiva do Comitê Internacional da Quarta
Internacional.
(traduzido
por movimentonn.org)
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