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A Cúpula dos EUA e China
Por Barry Grey
25 de janeiro de 2011
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Por trás da pompa e das sutilezas diplomáticas
que dominaram a visita do presidente chinês Hu Jintao a
Washington, está o crescimento das tensões entre
as duas maiores economias do mundo.
Ao contrário do que a mídia dos EUA noticiou,
exaltando a administração Obama e retratando Pequim
como o agressor, o principal responsável pelo aumento da
tensão no leste asiático são os Estados Unidos.
Desde que a secretária de Estado Hillary Clinton declarou
há 18 meses que os EUA estavam "de volta ao leste
asiático", Washington trabalhou incansavelmente para
isolar a China e conter sua influência crescente na Ásia
e internacionalmente.
Este processo envolveu um ataque triplo - econômico,
diplomático e militar. Apenas um mês atrás
o mundo estava tenso com medo da eclosão da guerra na Península
Coreana. A Coreia do Sul, com apoio e participação
dos EUA, realizou um exercício militar nas mesmas águas
onde um exercício semelhante no mês anterior levou
a Coreia do Norte a abrir fogo contra uma ilha sul-coreana, matando
dois fuzileiros navais sul-coreanos e dois habitantes civis.
Sob pressão da China, a Coreia do Norte retirou sua
ameaça de retaliação militar, em face de
tal provocação. Isso, no entanto, não alterou
a política dos EUA de alimentar as tensões na Ásia
a fim de manter o domínio dos EUA em detrimento da China.
O impasse entre as Coreias do Norte e do Sul foi o mais recente
dentre uma série de crises na Ásia Oriental envolvendo
incidentes navais obscuros que foram utilizados, sob a direção
dos Estados Unidos, para demonizar a Coreia do Norte e seu principal
aliado, a China.
No último mês de julho, a secretária de
Estado Hillary Clinton interveio em conflitos de longa data entre
a China e seus vizinhos a respeito das ilhas no mar da China Meridional,
alinhando contra a China e declarando que a "liberdade de
navegação" no Sul da China era um interesse
vital dos EUA. Esta é uma ameaça direta ao controle
chinês sobre as rotas marítimas que são críticas
para o seu comércio e segurança.
Só na semana passada, os EUA realizaram um exercício
naval com a Coreia do Sul no Mar Amarelo, implantando os aviões
nucleares Carl Vinson.
Apesar de tais provocações, Obama insistiu na
coletiva de imprensa conjunta com o presidente Hu, na quarta-feira,
que os Estados Unidos receberam bem a ascensão da China.
Ao mesmo tempo, reiterou as exigências dos EUA de que a
China precisa aumentar a taxa de câmbio de sua moeda e retirar
subsídios para as suas indústrias, a fim de fornecer
um " nível de concorrência justo" para
as empresas americanas. Ele também criticou a situação
dos direitos humanos na China.
A coletiva de imprensa cuidadosamente planejada permitiu apenas
duas perguntas para cada um dos repórteres americanos e
chineses. Obama deixou os repórteres dos EUA expressarem
abertamente sua hostilidade em direção a Hu e à
China.
Ben Feller, da Associated Press perguntou como Obama poderia
justificar uma aliança com um país "conhecido
por tratar tão mal o seu povo, por usar da censura e da
força para reprimir as pessoas."
A pergunta reflete a indignação seletiva e hipócrita
da mídia americana sobre práticas anti-democráticas.
Essas questões nunca são feitas a Obama, que não
tem absolutamente nenhuma legitimidade para repreender a China,
apesar da mão repressora do regime, ou qualquer outra caso
de direitos humanos.
Obama, apesar de tudo, manteve o gulag de Guantanamo aberto,
ordenou o assassinato de supostos terroristas, incluindo um cidadão
americano, confirmou o "direito" do presidente de aprisionar
as pessoas por toda a vida sem um julgamento, continuou a prática
de "entregar" pessoas para países que praticam
a tortura; rejeitou a acusação de torturadores da
era Bush, expandiu a espionagem doméstica, e está
atualmente tentando destruir o WikiLeaks e Julian Assange por
expor as mentiras e os crimes do imperialismo dos EUA.
O segundo repórter dos EUA, Hans Nichols da Bloomberg,
perguntou na coletiva como Obama iria acalmar os receios dos parlamentares
que veem a China como "uma ameaça econômica",
e perguntou em seguida o quanto a "desvalorização
da moeda" da China prejudicou os esforços da Casa
Branca para criar empregos e diminuir o desemprego nos EUA.
Os EUA manteve o discurso de que a China está manipulando
e desvalorizando sua moeda, a fim de reduzir o preço das
suas exportações e obter uma vantagem comercial
injusta. Na verdade, o maior manipulador de moeda, de longe, é
os Estados Unidos. Ao manter as taxas de juros perto de zero e
eletronicamente imprimir centenas de bilhões de dólares,
os EUA maciçamente desvalorizam o dólar, barateando
suas exportações em relação a rivais
como a China, Japão, Coreia do Sul, Alemanha e Brasil.
Também está inundando o mundo com hot money,
forçando para cima as taxas de câmbio de uma série
de países, alimentando a inflação e criando
bolhas de ativos. A China, como resultado, foi atingida com o
aumento da inflação, forçando a elevar suas
taxas de juros duas vezes no últimos meses.
Em um discurso na semana passada, antes da cúpula, o
secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, ampliou
a demanda econômica de Washington, sugerindo que a China
poderia ganhar um maior acesso ao mercado e à tecnologia
dos EUA apenas se, além de forte aumento da sua taxa de
câmbio, reduzisse o papel do estado na economia, acabasse
com as políticas de "discriminação contra
empresas dos EUA", e removesse as preferências por
empresas nacionais.
Em outras palavras, a China deve abrir a sua economia com a
exploração desenfreada do capitalismo americano
e aceitar o estatuto de colônia econômica.
O secretário de Defesa, Robert Gates, em discurso no
Japão, na sexta-feira, convocou Tóquio a expandir
sua força militar e reforçar a sua cooperação
militar com os EUA, louvando a decisão do Japão
de desviar o foco de suas forças para o sudoeste de suas
ilhas ou seja, virada para o continente chinês. Ele também
invocou o tratado de segurança entre Japão e EUA
de 1960, que obriga os EUA a defender militarmente o Japão,
na ocasião de um conflito armado entre ele e a China.
A aberta histeria anti-China, por ocasião da visita
de Hu foi deixada para deputados e senadores dos dois partidos.
O líder democrata do Senado, Harry Reid, chamou Hu de "ditador"
e se recusou a comparecer ao jantar na Casa Branca em sua honra
na noite de quarta-feira. O orador republicano John Boehner também
boicotou o evento.
O senador Charles Schumer (democrata de Nova York) apresentou
um projeto com alvo na China, que iria impor tarifas punitivas
sobre "os manipuladores de moeda" e proibir empresas
destes países de receber contratos do governo dos EUA.
"Esta legislação envia uma mensagem para a
China que diz que estamos fartos com a intransigência do
seu governo sobre manipulação da moeda", declarou
ele, acrescentando: "Se você se recusar a jogar pelas
regras, vamos forçá-lo a fazê-lo."
O New York Times escreveu em editorial: "Para Obama, os
principais itens incluem: manipulação cambial da
China, a sua autorização para a Coreia do Norte
e o Irã, o seu abuso dos direitos humanos, e seu recente
desafio à supremacia naval americana no Pacífico
ocidental (...) o Sr. Obama deixou claro que ele não vai
ficar parado enquanto a China tenta intimidar seus vizinhos".
O Wall Street Journal em seu editorial levantou a perspectiva
de uma guerra com a China e a III Guerra Mundial, escrevendo:
"Mas a nova truculência da China está mais uma
vez aumentando a preocupação de que Pequim tenha
a intenção de dominar sua região e desestabilizar
a ordem mundial, tanto quanto a Alemanha no Kaiser há um
século."
Na verdade, como os vazamentos do WikiLeaks mostraram, a secretária
de Estado, Hillary Clinton, e o então primeiro-ministro
da Austrália e atual ministro das Relações
Exteriores, Kevin Rudd, discutiram a necessidade de se preparar
para a eventualidade de uma guerra com a China.
O relatório deste ano do Comando das Forças Conjuntas
dos EUA - um guia estratégico para possíveis ameaças
e compromissos militares futuros dos EUA - inclui o seguinte aviso:
"O caminho que a China escolher irá determinar muito
sobre o caráter e a natureza do século 21 - se será
'mais um século sangrento' ou um século de cooperação
pacífica."
O perigo de uma guerra entre os EUA e a China, que quase certamente
se transformaria em uma conflagração mundial, está
enraizado nas profundas mudanças na economia mundial e
no equilíbrio mundial de forças: a ascensão
da China ao se tornar a segunda maior economia do mundo e o declínio
da posição econômica global dos Estados Unidos.
O imperialismo norte-americano se tornou cada vez mais violento
com o uso da força militar para compensar seu declínio
econômico, e não tem nenhuma intenção
de ceder pacificamente para a China o domínio da Ásia
ou em qualquer outra região.
A única resposta para o crescimento do militarismo,
em geral, e o papel incendiário do imperialismo dos EUA
em particular, é a luta para unir a classe trabalhadora
internacionalmente na luta pelo socialismo.
[Traduzido por movimentonn.org]
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