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Obama e o teto da dívida

Por Patrick Martin
4 de agosto de 2011

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Publicado originalmente em inglês em 29 de julho 2011.

O impasse do Congresso em relação ao aumento do teto da dívida federal americana continuou na noite de quinta-feira, quando tanto a Câmara dos Representantes quanto o Senado não conseguiram resolver a situação. Ambos os partidos do grande capital, Democratas e Republicanos, estão comprometidos com projetos de lei que combinariam um aumento do teto da dívida para permitir que o Tesouro volte a tomar empréstimos à custa de profundos cortes nos gastos com serviços públicos.

Os projetos rivais propostos pelo representante dos Republicanos na Câmara, John Boener, e pelo líder dos Democratas no Senado, Harry Reid, são descaradamente parecidos - na quantidade do aumento do teto da dívida, no tamanho da redução do déficit, no estabelecimento de um comitê congressista bipartidário para garantir ainda mais cortes de gastos. Cada vez mais esse impasse parece deliberadamente forjado para criar uma atmosfera de crise, confundir a opinião pública e disfarçar as dimensões do ataque que ambos os partidos estão perpetrando sobre a classe trabalhadora.

Os interesses da indústria e dos bancos estão cumprindo seu papel de alardear que o governo americano poderia falhar em cumprir com suas obrigações após o prazo de 2 de agosto, estabelecido pelo Tesouro. Os preços das ações caíram por cinco dias consecutivos desde o fracasso das conversas entre o governo Obama e os congressistas republicanos, acumulando uma queda de 500 pontos no Dow Jones Industrial Average.

O Fórum de Serviços Financeiros, que representa os 20 maiores bancos de Wall Street, tornou-se o último representante das corporações dos EUA a causar alarde sobre as consequências de um default (calote) em uma declaração emitida na quinta-feira. Um calote "seria um golpe tremendo na confiança dos negócios e dos investidores", declararam os banqueiros, "piorando drasticamente nossa já complicada situação econômica".

O custo de um seguro contra calote nos pagamentos de juros sobre as contas do Tesouro quadruplicou desde o dia 17 de maio, e proprietários de títulos estão pagando mais em seguros contra perdas da dívida americana do que o fariam em relação à Turquia ou Filipinas, o dobro em relação à dívida russa e quatro vezes mais do que em relação à dívida britânica. O dólar continua sua queda de valor em relação à maioria das moedas mundiais e em relação ao ouro.

Qualquer que seja o desfecho imediato neste fim de semana, a crise do teto da dívida despiu a verdadeira fisionomia política do governo Barack Obama. Longe de defender os programas de direitos sociais, Medicare, Medicaid e Seguridade Social, estabelecidos por presidentes Democratas décadas atrás, o governo Obama deliberadamente incluiu esse programa no facão orçamentário. Sob a cobertura de difamações mútuas, a Casa Branca e os congressistas Republicanos estão colaborando politicamente para dar um enorme passo na destruição desses componentes mínimos da rede de seguridade social.

Os congressistas Republicanos, principalmente a ala de extrema-direita Tea Party, posam como os grandes opositores dos gastos federais e do "grande governo", mas eles apenas controlam a Câmara dos Representantes. Do ponto de vista constitucional, seria impossível uma Câmara controlada por Republicanos ditar políticas aos Democratas, que controlam ambos o Senado e a Casa Branca.

Os Republicanos da Câmara só podem usar o teto da dívida como uma alavanca para empurrar os cortes porque o próprio governo Obama abraçou essa estratégia como sua.

Até este ano, a extensão do teto da dívida era uma medida administrativa de rotina, levada a cabo uma dúzia de vezes apenas nas últimas três décadas. Quando um punhado de Republicanos do Tea Party sugeriram no início de janeiro, em seus primeiros dias de Câmara, que iriam demandar maiores cortes de gastos em troca de um aumento do teto da dívida, o governo Obama recusou a proposta. O secretário do Tesouro, Timothy Geithner, requereu formalmente um projeto "limpo" para teto de dívida, isto é, um projeto com nenhuma outra disposição a não ser um aumento do teto da dívida.

Isso era um acordo com longo precedente. Nenhum presidente, até Obama, jamais permitiu que o teto da dívida fosse utilizado pelo Congresso, quanto mais por apenas uma casa do Congresso, como um mecanismo para extorquir mudanças de políticas sob ameaça de cortar o acesso do Tesouro aos mercados de crédito e forçar um calote nos pagamentos do governo americano. Isso seria considerado chantagem política inaceitável por qualquer um dos dois partidos burgueses que se alternam no controle do governo americano.

O governo mudou sua posição em abril, após o conflito prolongado com os Republicanos da Câmara em relação ao orçamento do ano fiscal de 2011 que levou o governo federal à beira de um colapso. Essa crise foi usada para empurrar uma legislação na Câmara e no Senado cortando US$ 62 bilhões dos gastos atuais, o maior corte aprovado para o mesmo ano na história americana.

A Casa Branca concluiu a partir dessa experiência que o teto da dívida poderia ser usado para atingir efeitos ainda maiores. O governo Obama estava ansioso para atender às demandas que emanavam dos interesses financeiros de Wall Street e de todo o mundo de botar em ordem a situação fiscal do Estado americano. Isso significa que o enorme custo do resgate a Wall Street em 2008-2009, que transferiu trilhões em dívidas podres para os livros do governo federal, deverá agora ser contrabalançado pelos cortes nos direitos sociais dos quais dezenas de milhões de trabalhadores dependem.

Geithner sinalizou pela primeira vez essa mudança em um discurso proferido em 28 de agosto no Clube Econômico de Detroit, onde declarou que a "redução do déficit" seria a maior prioridade do governo, e defendeu um "mecanismo de coerção" para forçar o Congresso a decretar cortes de gastos de longo prazo. A isso seguiu-se a abertura de negociações, em 5 de maio, entre os dois partidos, lideradas pelo Vice-presidente, Joseph Biden, cuja pré-condição era a aceitação do pedido do porta-voz da Câmara, John Boehner, de que qualquer aumento do teto da dívida fosse acompanhado, dólar por dólar, de cortes no déficit federal projetado para 10 anos.

Obama não só abraçou a campanha de redução do déficit, como iniciou a discussão sobre cortes no Social Security, um programa em que os Republicanos estavam relutantes de tocar devido à oposição popular antecipada. o presidente Democrata deu a cobertura política necessária ao propor um ataque no benefício social mais básico e popular dos EUA.

A verdadeira atitude da Casa Branca em relação ao prazo para o teto da dívida foi demonstrada na conferência de imprensa de Obama na semana passada, quando ele estava discutindo a proposta do líder da minoria do Senado, Mitch McConnell, de autorizar o presidente a aumentar o teto da dívida unilateralmente de acordo com a quantia necessária, sem cortes de gastos vinculados. Apesar de isso coincidir com a posição tomara pela Casa Branca em janeiro e fevereiro, quando esta buscou um aumento "limpo" do teto da dívida, Obama desta vez descreveu a proposta como "a pior" das três possibilidades de resolver o impasse. Ele declarou que preferia "fazer algo grande" em relação à redução do déficit.

Enquanto os Democratas e Republicanos brigam, em parte para criar confusão, em parte para evitar serem responsabilizados, a verdadeira direção da política social americana foi soletrada claramente em um editorial de quinta-feira do Wall Street Journal. O jornal de direita derrubou o faz de conta que a redução de déficit faz-se necessária meramente para contrabalançar os "grandes gastos" do governo Obama.

Em vez disso, declarou que as origens da crise "remetem a décadas atrás", até Franklin Roosevelt, que estabeleceu o Social Security e começou a criação da "sociedade de direitos". Isso foi expandido pela criação da Medicare, Medicaid e outros benefícios sociais, os quais o bocal do capital financeiro descreve como "programas de redistribuição".

Aqui está a lógica de classes que fundamenta o ataque cada vez mais aberto sobre os programas sociais para a classe trabalhadora. Do ponto de vista dos capitalistas, todos os benefícios sociais são deduções de seus lucros, uma redistribuição à classe trabalhadora de trilhões que do contrário iriam fluir para os cofres de banqueiros e milionários. Sob condições de aprofundar a crise financeira em escala mundial, a elite dominante é levada a pegar de volta com suas garras tudo o que pode acabando com os benefícios conquistados pelos trabalhadores em lutas de muitas décadas.

Para lutar contra essa política de contrarrevolução social, a classe trabalhadora precisa, acima de tudo, de uma compreensão do caráter de classe do governo Obama e do Partido Democrata. Obama não é um progressista muito "tímido", como seus apologistas liberais do New York Times à revista Nation o pintam. Ele é o instrumento mais confiável da aristocracia financeira, totalmente devotado à defesa dos interesses de Wall Street.

Para combater esse ataque histórico às suas condições de vida, os trabalhadores devem abandonar qualquer ilusão em Obama, romper com o Partido Democrata, e construir um partido de massas da classe trabalhadora independente, baseado em um programa socialista e internacionalista.

[Traduzido por movimentonn.org]

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