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Caminhoneiros gregos desafiam ao governo

Por Stefan Steinberg
7 de agosto de 2010

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Publicado originalmente em inglês em 31 de julho.

Na sexta-feira, os caminhoneiros gregos decidiram continuar uma greve geral de cinco dias, após uma série de medidas punitivas pelo governo social democrata, do primeiro-ministro George Papandreou, buscando interromper sua ação.

A greve por tempo indeterminado começou na segunda-feira, quando 33 mil motoristas de caminhão licenciados pararam de trabalhar em protesto a uma decisão do governo de revogar seu sistema de licenciamento de caminhões. Sob o sistema existente, caminhoneiros pagam ao Estado o valor de € 100.000-200.000 para comprar uma licença de proprietário e operador de caminhão. Essas licenças podem então ser revendidas pelos proprietários.

A introdução pelo governo de um novo sistema que objetiva cortar o preço das licenças levaria à falência muitos motoristas. Haralambos Daditsios, um líder do sindicato de caminhoneiros, disse: "O e-Estado nos vendeu estas licenças, nossos trabalhos. Algumas pessoas tiveram de vender suas casas para conseguir uma dessas licenças (...). Queremos justiça".

A revogação do sistema de licenciamento dos caminhoneiros é parte de um conjunto de exigências feitas pela União Européia e pelo Fundo Monetário Internacional como condições atreladas ao recebimento do pacote de resgate de € 110 bilhões (US$ 142 bilhões) pela Grécia, acordo feito no início de maio. Em troca de uma parcela de € 9 bilhões correspondente a setembro, a UE e o FMI estão exigindo que o governo grego ataque as assim chamadas "profissões consolidadas", como a dos caminhoneiros.

Na segunda-feira, representantes da UE, do FMI e do Banco Central Europeu chegaram a Atenas para começar uma visita de duas semanas, com o objetivo de examinar os livros de contabilidade do governo grego. No mesmo dia, milhares de caminhoneiros gregos estacionaram seus caminhões no acostamento, enfileirando-se nas rodovias que conduzem a Atenas e rodovias de todo o país.

Quando a greve começou a pegar, com o combustível acabando em muitos postos de gasolina, o governo retaliou na quarta-feira e emitiu uma ordem de mobilização civil para forçar legalmente os motoristas de caminhão - principalmente aqueles responsáveis pelo transporte de combustível e bens perecíveis - a retornar ao trabalho.

A diretiva governamental ordenava que os grevistas retornassem ao trabalho ou enfrentassem a prisão. A recusa em obedecer à diretiva implica em penalidades de até 5 anos de cárcere, e a probabilidade da revogação da licença dos caminhoneiros. Em 2006, o governo de direita da Nova Democracia usou esses mesmos poderes para acabar com uma greve prolongada dos marinheiros.

Ao mesmo tempo, os distritos começaram a emitir ordens para requisitar os serviços de caminhoneiros individuais e seus veículos e retomar as entregas. O ministro de finanças e transportes grego George Papaconstantinou disse à imprensa: "Não se poderia permitir que qualquer grupo de interesse paralisasse o país", deixando claro que seu ministério apoiaria as ordens de requisição, caso a greve continuasse.

Os motoristas de caminhão desafiaram as exigências de um ponto-final para suas ações e, na quinta-feira pela manhã, cerca de 500 caminhoneiros grevistas confrontaram a polícia em frente ao ministério de transportes em Atenas. Os motoristas haviam tentado invadir o ministério em protesto contra a ordem de mobilização civil. A polícia usou gás lacrimogêneo para conter os grevistas. Na sexta-feira, os motoristas declararam estar determinados a continuar a greve.

Ao final da primeira semana, a greve havia levado a severos racionamentos de combustível por todo o país e filas gigantescas nos postos de gasolina. A mídia grega diz que mais de 95% dos postos de gasolina na área da grande Atenas estão sem combustível, assim como a maioria dos postos localizados na cidade setentrional de Thessaloniki. A situação é parecida por todo o resto do país.

Além da interrupção da distribuição de combustível, a entrega de outras mercadorias - incluindo o suprimento de alimentos para as ilhas gregas - também está sendo afetada. A disputa deve ter sérias repercussões para a indústria do turismo, que fornece 20% do PIB grego e um em cada cinco empregos. Os cancelamentos das reservas em hotéis já começaram, depois de uma série de greves e protestos dos trabalhadores em maio.

A queda na renda advinda do turismo, que alguns especialistas estimam alcançar € 1 bilhão em 2010, se soma aos outros sofrimentos econômicos da Grécia, depois da introdução pelo governo de um programa de austeridade de € 30 bilhões em maio.

A militância dos caminhoneiros é um sinal que aponta para os combates maiores do porvir. Outros grupos pertencentes às assim chamadas "profissões consolidadas" também são alvos do governo - engenheiros, advogados e farmacêuticos também serão impelidos à ação. Já neste ano, amplos setores da classe trabalhadora e juventude gregas tomaram as ruas para protestar contra as políticas do governo Papandreou.

Porém, um combate efetivo contra o governo foi sabotado em cada etapa pelos sindicatos, cujas lideranças vêm principalmente do PASOK de Papandreou e apoiaram sua candidatura. Eles negociaram os cortes com Papandreou, ao mesmo tempo em que organizavam greves periódicas para encorajar entre os trabalhadores a falsa perspectiva de que tais greves podiam fazer Papandreou limitar seus cortes sociais. Os sindicatos suprimiram toda iniciativa de luta independente, pela classe trabalhadora, contra o governo, a UE e os bancos.

Tal traição permitiu que o governo Papandreou prosseguisse com os cortes, que atingiram a população de forma devastadora.

Números recentes revelam que a economia grega encolheu 3% entre abril e junho deste ano, e os analistas antecipam que esse colapso se acelere no próximo período. A atual taxa de inflação de 5% é maior do que o esperado, e as estatísticas de inflação subirão novamente, devido ao segundo aumento sobre o imposto de bens de consumo (IVA) - uma espécie de imposto sobre vendas - ocorrido no dia primeiro de julho. O aumento do IVA grego chegou a uma taxa recorde de 23%.

Os analistas econômicos esperam que as medidas de austeridade combinadas introduzidas pelo governo reduzam o poder de compra médio em 30% neste ano.

(traduzido por movimentonn.org)

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