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Honduras: estariam os EUA apoiando a eleição
do "estado de sítio"?
Por Bill Van Auken
28 de outubro de 2009
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Publicado originalmente em inglês em 19 de Outubro
de 2009
Tendo chegado em um empasse as negociações em
Honduras - entre as delegações representantes do
presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, e o regime de golpe,
liderado por Roberto Micheletti - o governo Obama pode estar se
preparando para fazer seu pedido de retorno de Zelaya ao cargo.
Ao invés disso, de acordo com relatos da mídia,
Washington estaria considerando um "Plano B", onde a
eleição marcadas para o dia 29 de novembro seria
a solução para a crise de três meses e meio
no país, independentemente na reintegração
ou não de Zelaya.
O presidente hondurenho foi afastado do cargo por um golpe
no dia 28 de junho, quando foi raptado do palácio presidencial
por soldados armados e colocado em um avião para o exílio
involuntário.
Zelaya, confinado na embaixada do Brasil em Tegucigalpa desde
o seu retorno clandestino ao país no mês passado,
mais uma vez prorrogou o prazo para a negociação
de um acordo com o regime do golpe, com mais uma rodada do chamado
Acordo Guaymuras definida para ocorrer no dia 19/10.
Enquanto que após duas semanas de negociações
ambos os lados anunciaram acordo em "95%" dos itens,
o ponto de discórdia continua sendo o retorno de Zelaya
à presidência.
O regime liderado por Micheletti está exigindo que o
regresso de Zelaya ao cargo seja baseado numa decisão do
Supremo Tribunal de Justiça hondurenho, que proferiu a
sentença original legitimando o golpe. O tribunal considerou
que a tentativa de Zelaya de organizar um referendo sobre o apoio
popular para emendar a Constituição do país
chegou a ser uma violação criminal da própria
Constituição.
Os negociadores pró-Zelaya têm combatido com uma
proposta de que o retorno do presidente eleito ao cargo seja decidido
pelo Congresso Nacional do país, que votou esmagadoramente
pela sua deposição em junho passado.
Os pontos aceitos por ambos os lados são, na maior parte,
retirados do Acordo de San Jose, produto da mediação
do presidente da Costa Rica, Oscar Arias, apoiado pelos EUA. O
acordo pretende estabelecer um "governo de reconciliação
nacional", dominado por líderes políticos e
militares do golpe, com Zelaya restaurado ao cargo durante quase
dois meses, mas despojado de qualquer poder real.
O acordo rejeita expressamente qualquer tentativa de alterar
a Constituição hondurenha, uma carta reacionária
imposta ao país no início de 1980 por uma ditadura
militar e pela embaixada americana. E apela para a formação
de uma "Comissão da Verdade", em 2010, assegurando
que não haverá julgamento de líderes, militares
e comandantes da polícia do regime Micheletti, responsável
pelo golpe de 28 de junho e pela onda de repressão que
o seguiu.
Essa repressão fez mais uma vítima com a morte
de Jairo Sánchez, presidente do Instituto de Formação
Profissional dos Trabalhadores da União (SITRAINFOP), que
ao final perdeu uma luta de 24 dias por sua vida. O dirigente
sindical foi baleado no rosto em 23 de setembro, quando a polícia
abriu fogo contra um protesto que ele organizou em sua vizinhança
contra a repressão. Ele morreu neste sábado.
Zelaya insistiu neste sábado que, ao contrário
do que a imprensa publicou, ele não havia interrompido
as negociações e advertiu contra qualquer recurso
à violência ou armas" contra o regime
do golpe. Em vez disso, ele apelou novamente para sanções
mais duras ao comércio, em especial dos Estados Unidos
e da União Europeia.
As perspectivas do governo Obama visando exercer pressão
adicional para o retorno de Zelaya ao cargo parecem extremamente
remotas. A administração e o Departamento de Estado
mantiveram-se em silêncio sobre a situação
de Honduras por semanas, mesmo enquanto Micheletti continuava
a governar o país sob estado de sítio, com manifestações
reprimidas pela polícia e tropas do exército, detenções
em massa e o fechamento da única emissora de rádio
que apoiava Zelaya.
Em vez disso, de acordo com uma reportagem publicada pela revista
Time na sexta-feira, o governo silenciou seu pedido de restauração
de Zelaya e considera agora uma ruptura com a posição
adotada por praticamente todos os governos latino-americanos.
Esses países defendem que a eleição realizada
em novembro somente será legítima se a crise do
golpe estiver resolvida e Zelaya voltar à presidência.
"Há sinais crescentes de que os EUA possam abandonar
essa condição", relatou a reportagem da revista
Time.
A revista citou um funcionário do Departamento de Estado
,que disse: "Nós sempre preferimos a restauração
da ordem democrática e constitucional em Honduras, que
inclui a restauração de Manuel Zelaya. Mas as eleições
vão se realizar de qualquer maneira, e a comunidade internacional
precisa entrar em acordo com esse fato.
Baker alarma: Honduras está "no
limite
O suporte para tal mudança na política dos EUA
também foi sinalizado por um artigo publicado no "Washington
Post" por James Baker, o secretário de Estado dos
EUA de Bush pai e uma figura importante no estabelecimento das
políticas de Washington. Foi Baker que co-presidiu o bipartidário
Iraq Study Group, que solicitou uma mudança na política
da administração de George W. Bush.
"Inquietação e protesto crescem na medida
em que a crise constitucional de Honduras continua", adverte
Baker. "Os problemas irão se agravar apenas se a comunidade
internacional se recusar a reconhecer os resultados das próximas
eleições de Honduras, agendadas para 29 de novembro".
Em uma tentativa de parecer imparcial, Baker apoiou a remoção
de Zelaya do cargo, mas criticou os líderes do golpe por
tê-lo "deportados ilegalmente" de Honduras.
"A solução?", escreve ele. "Pare
de olhar para trás. Esqueça sobre quem poderia ter
maior culpa. Olhe para frente. Nem Zelaya, nem o presidente interino,
Roberto Micheletti são legítimos para disputar a
eleição presidencial. Washington, continua ele,
deveria apoiar a eleição "sem condições
prévias" e deveria pressionar outros governos a fazer
o mesmo.
Ainda adverte: "À beira de uma guerra civil, uma
eleição livre e justa pode ser a única forma
de trazer Honduras de volta do caos. A recusa em reconhecer os
resultados das eleições de Honduras, quase certamente
prolongaria e aprofundaria a crise constitucional existente, podendo
mergulhar o país em mais violência.
As advertências de Baker contra a "violência"
- assim como as proferidas por Zelaya contra o uso de "violência
ou de armas" - expressa o receio crescente, tanto dentro
do estabelecimento político americano quanto da oligarquia
governante hondurenha, de que a resistência popular ao golpe
e à repressão subsequente deem origem a lutas revolucionárias
dentro do país, que é um dos mais pobres e socialmente
desiguais do hemisfério. 70% dos 7,7 milhões de
hondurenhos vivem na pobreza, enquanto as "10 famílias"
do país monopolizam a riqueza.
Finalmente, o apoio à eleição de 29 de
novembro pode ser visto nos círculos políticos como
um meio para que Washington retome a frente na crise de Honduras,
onde o governo brasileiro, com a hospedagem de Zelaya em sua embaixada,
assumiu um papel cada vez mais proeminente nos esforços
para mediar a disputa. O imperialismo americano dominou Honduras,
que era a república das bananas por excelência, por
mais de um século e usa o país para hospedar a sua
maior base militar na América Latina. Certamente, não
se trata de ceder sem luta para a burguesia brasileira, buscando
aumentando as aspirações regionais.
Enquanto Washington parece estar se movendo no sentido de renunciar
à sua demanda pelo retorno de Zelaya ao cargo até
mesmo como uma figura impotente para apenas dois meses, até
que o presidente eleito em novembro assuma a aceitação
por parte de Zelaya de quase todas as condições
estabelecidas pelos líderes do golpe provocou consternação
e cólera crescente entre as grandes massas que se opuseram
ao regime ditatorial.
Juan Barahona, um líder sindical e coordenador geral
da Frente Nacional de Resistência, incluído como
um dos negociadores de Zelaya no "diálogo" com
o regime Micheletti, viu-se obrigado a abandonar as negociações
por causa da oposição popular ao acordo feito a
portas fechadas.
Em particular, a renúncia, por parte de Zelya, a qualquer
luta por uma assembléia constituinte para alterar a Constituição
do país mostrou-se inaceitável para a Frente, que
emitiu um comunicado declarando seu compromisso inconciliável
com a criação de uma Assembléia Nacional
Constituinte democrática e inclusiva, que tem como seu
principal objetivo a refundação de Honduras, a fim
de superar a opressão e exploração dos setores
populares por uma elite minoritária que injustamente concentra
a riqueza criada pelos trabalhadores. Também exigiu
o fim do decreto do estado de sítio e a reabertura das
estações de transmissão fechadas pelo regime.
Ao mesmo tempo, porém, a liderança da Frente
se recusa a tirar conclusões fundamentais a partir desta
experiência, continuando a proclamar sua subordinação
política à facção burguesa no apoio
à Zelaya.
A Frente disse que tinha retirado Barahona para "deixar
o presidente Zelaya livre para substituí-lo por outro representante,
de sua confiança", e declarou: "Vamos respeitar
a decisão do nosso presidente se ele decidir assinar o
Acordo de San José, mesmo com todas as suas condições
".
Se o regime Micheletti nunca aceitar o acordo de San Jose,
estas "condições" tornariam Zelaya uma
figura impotente num regime dominado pelos políticos e
generais que o derrubaram. Seu retorno ao cargo forneceria apenas
uma "fachada democrática para intensificar a
repressão. Parece agora mais provável que o regime
cada vez mais confiante no apoio dos EUA continuará
a afogar-se em negociações até que seja capaz
de realizar eleições sob condições
de estado de sítio no próximo mês.
[traduzido por movimentonn.org]
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