Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,em Fevereiro de 1996.
O documento abaixo foi originalmente publicado em 21 de fevereiro
de 1986 no Bulletin, (jornal da seção americana
do Comitê Internacional da Quarta Internacional, CIQI) menos
de duas semanas após a ruptura final de relações
políticas entre o CIQI e o Workers Revolutionary Party
(Partido Revolucionário dos Trabalhadores, WRP, na sigla
em inglês). Esse documento merece ser republicado, não
só como um valoroso relato contemporâneo dos eventos
que levaram à cisão entre o CIQI e o WRP, mas também
como um testemunho histórico da clareza política
que marcou a luta do Comitê Internacional contra a traição
ao trotskismo realizada pelo Workers Revolutionary Party.
A análise preliminar que esse documento forneceu sobre
as origens políticas e o significado essencial da cisão
resistiu ao teste do tempo. A passagem de uma década reivindicou
as conclusões mais importantes do documento: Healy,
Banda e Slaughter estão politicamente mortos para o marxismo.
Períodos de intensa luta política tendem a provocar
alguns exageros; mas, nesse caso, a avaliação dos
líderes do WRP feita pelo Comitê Internacional e
a previsão de seu destino político provaram-se precisos.
De fato, tanto na velocidade quanto na determinação
com que se movimentavam para a direita, os líderes do WRP
fizeram o possível para superar as expectativas do CIQI.
Revejamos, brevemente, a evolução pós-1985
dos líderes do WRP.
Gerry Healy
Após ser expulso do Comitê Internacional, em outubro
da 1985, Gerry Healy formou uma facção do Workers
Revolutionary Party cujos membros principais eram Alex Mitchell,
Sheila Torrance e Vanessa Redgrave. Livre do comprometimento posto
sobre si pelo programa e pela tradição do Comitê
Internacional, Healy abraçou o regime de Mikhail Gorbachev,
insistindo que a Perestroika representava a realização
do programa de revolução política de Trotsky.
Nos anos finais de sua vida, a glorificação feita
por Healy das supostas tendências auto-reformantes
dentro da burocracia stalinista excedeu até aquela de Ernest
Mandel. Corinna Lotz e Paul Feldman, colaboradores próximos
de Healy, deixaram um retrato da sua degeneração
política que é, apesar das intenções
dos autores, tão incriminador quanto patético:
Gerry se impressionou com fato de Gorbachev ser o único
intelectual, desde Lênin, a se tornar o secretário-geral
do Partido Comunista soviético. Estudou os discursos e
encontros do líder soviético para entender os problemas
internos na liderança do Partido Comunista e considerou
a atitude de Gorbachev diante da classe trabalhadora como a chave
do sucesso ou fracasso da revolução política.
O encontro de Gorbachev com os trabalhadores da Associação
Fabril Izhorsky em Leningrado, relatado em detalhes pelo Pravda,
era de especial interesse. Gerry ressaltou que nenhum outro secretário
de partido havia dispensado tanto tempo ouvindo pessoas comuns
nas ruas e fábricas (Gerry Healy: A Revolutionary
Life [London: Lupus Books, 1994], pp. 160-61).
Gerry Healy combateu, por décadas, o stalinismo e todas
as forças revisionistas dentro e na periferia da Quarta
Internacional que atribuíram à burocracia soviética
uma tendência revolucionária remanescente. Mas, ao
final de sua vida, Healy tornou-se o mais vulgar dos pablistas,
fazendo várias viagens a Moscou, onde procurou construir
a base de suporte da revolução política
entre os cortesãos acadêmicos e teatrais da Perestroika.
Michael Banda
Logo após a cisão inicial dentro do WRP em outubro
de 1985, Banda ofereceu esta impressionante interpretação
da crise que havia despedaçado a organização
da qual ele fora o secretário-geral: Pela primeira
vez e possivelmente a última o partido se
dividiu não sobre problemas táticos ou programáticos,
mas sobre a mais básica questão de moralidade revolucionária.
A afirmação de Banda de que não
havia problemas políticos por trás da cisão
do WRP foi refutada pela publicação, apenas
três meses depois, do seu Vinte e Sete Razões
Pelas Quais o Comitê Internacional Deveria Ser Enterrado
[Twenty-Seven Reasons Why the International Committee Should
Be Buried]. Conforme o Comitê Internacional havia previsto
na época, o ataque de Banda contra a história da
Quarta Internacional apenas preparou o palco para seu repúdio
ao trotskismo. Não tivemos de esperar muito. Antes do final
do ano, Banda discursou a um grupo de stalinistas em Londres denunciando
o trotskismo como uma excrescência centrista,
declarando que os escritos irrelevantes de Trotsky deveriam
ocupar um lugar especial nas bibliotecas políticas ao lado
de Proudhon, Kropotkin e Bukharin. Conforme revisava suas
velhas concepções políticas, Stalin aparecia
na imaginação de Banda sob uma nova e empolgante
luz: um autocrata revolucionário, ou melhor, um Bonaparte
proletário que havia assegurado o triunfo irreversível
da União Soviética. Não foi o menor dos crimes
de Trotsky, afirmou Banda, seu ceticismo sobre a permanência
da URSS.
Se a restauração [capitalista] não
existisse, escreveu Banda, seria absolutamente necessário
que Trotsky a inventasse! Toda a história soviética
durante e após Stalin testemunha contra essa
especulação esquerdista infantil e aponta na direção
oposta.
No final das contas, o movimento trotskista não precisou
inventar nada. O colapso da União Soviética em 1991
forneceu a verificação empírica final da
perspectiva histórica da Quarta Internacional. Destruiu,
assim, qualquer resquício do equilíbrio político
de Banda. Para Banda, o fim do estado soviético fluiu não
da traição da burocracia stalinista, mas da impotência
histórica da classe trabalhadora. Assim, na rejeição
final da causa pela qual ele havia devotado 40 anos de sua vida,
Banda proclamou que o separatismo nacional, e não o socialismo
internacionalista, representava a bandeira genuína do progresso
histórico. Em conformidade com essa visão, Banda
serve hoje como conselheiro do movimento nacional curdo.
Cliff Slaughter
Poderia ser dito que a chave para o entendimento da evolução
de Slaughter durante os últimos 10 anos pode ser encontrada
nem tanto no que ele fez, mas no que ele falhou em fazer. Por
29 anos, Slaughter foi, ao lado de Mike Banda, o mais próximo
associado político de Healy dentro da liderança
da Socialist Labour League (Liga Socialista do Trabalho, SLL,
na sigla em inglês) e, de 1973 em diante, do Workers Revolutionary
Party.
Não existe registro escrito de quaisquer divergências
sérias entre Slaughter e Healy durante essas três
décadas de íntima colaboração política.
Mas, quando a crise explodiu no WRP, a única explicação
que Slaughter ofereceu foi que a responsabilidade era toda de
Healy, quem misteriosamente impôs sua vontade
sobre todos. O objetivo dessa explicação, claramente
absurda, era evitar qualquer exame detalhado das posições
políticas e concepções teóricas que
embasavam a degeneração do WRP.
Enquanto Slaughter proclamava sua intenção de
expulsar Healy e o healyismo do WRP, sua oposição
a uma análise sistemática do afastamento do partido
inglês em relação aos princípios do
marxismo apenas garantia a continuidade do processo de degeneração
política que deu sustentação à cisão.
De fato, a evolução política do WRP sob
Slaughter (que foi por 10 anos o secretário político
do partido) não é muito diferente do que teria sido
se não houvesse ocorrido a cisão de 1985-86. As
reais diferenças políticas por trás da cisão
não foram, em qualquer grau, entre Healy, Banda e Slaughter;
mas entre suas políticas cada vez mais oportunistas e seus
oponentes marxistas no Comitê Internacional. Em todas as
questões colocadas pelo Comitê Internacional no centro
de sua crítica da traição ao trotskismo realizada
pelo WRP entre 1973 e 1985 o abandono do programa da revolução
permanente, a adaptação ao stalinismo e à
social-democracia, o recuo para longe da luta contra o oportunismo
pablista a linha percorrida por Slaughter após a
cisão seguia o mesmo trajeto explorado anteriormente pelo
grupo Healy-Banda-Slaughter.
Quanto a isso, vale relembrar que, no calor da cisão,
Slaughter insistiu em etiquetar vários membros da facção
de Healy, especialmente Vanessa Redgrave, como quase-fascistas.
Quando o Comitê Internacional protestou contra esse absurdo
demagógico, sofreu uma firme reprimenda de Slaughter, que
declarou que Healy e seus apoiadores estão próximos
de toda posição fascista sobre os direitos dos indivíduos
humanos, direitos que para eles estão reduzidos a nada
pelas necessidades do partido. Se o Comitê Internacional
fazia objeção quanto a caracterização
de Redgrave e outros como quase-fascistas, era, explicou
Slaughter, por que o CIQI se opunha à nova e superior moralidade
revolucionária, com a qual o WRP pós-Healy
planejava regenerar a Quarta Internacional.
A aplicação de Slaughter dessa nova visão
moral da política encontraria sua expressão mais
avançada nos Bálcãs, onde o WRP assumiu uma
aliança política com os governos croata e bósnio
em nome de opor-se aos crimes cometidos pelos sérvios da
Bósnia apenas um dos grupos combatentes numa guerra
civil suja, instigada pelo imperialismo americano e europeu. Por
mais de dois anos, o WRP, na base de sugestões que recebeu
em encontros privados com representantes políticos e militares
dos regimes croata e bósnio, conduziu uma campanha para
pressionar o governo britânico e outras forças da
OTAN a intervirem diretamente contra os sérvios da Bósnia.
A campanha do WRP finalmente deu frutos quando a OTAN iniciou
seus bombardeios, setembro passado, e enviou milhares de tropas
à Bósnia.
Apesar de conter elementos de ironia, não foi uma surpresa
que o apoio de Slaughter à intervenção imperialista
nos Bálcãs alinhou sua política diretamente
com aquela de Vanessa Redgrave, que, durante o último ano,
serviu como enviada da UNICEF a Sarajevo.
Como explicar o encontro político entre o moralista
revolucionário e o quase-fascista? A
significação política especial do ocorrido
foi a maneira com que a Bósnia serviu como pretexto para
amplas seções da velha esquerda pequeno-burguesa
fazerem seus acordos de paz com o imperialismo. Tanto para Slaughter
quanto para Redgrave, a ruptura com o Comitê Internacional
marcou o começo de uma reinserção na estrutura
da política imperialista.
É claro que, em termos de suas relações
históricas com o movimento dos trabalhadores, Slaughter
e Redgrave são de qualidades muito diferentes. A última
não é mais do que uma celebridade radical confusa,
cuja associação com o movimento trotskista teve
meramente um caráter episódico e superficial. Slaughter,
por sua vez, teve por muitos anos um papel político significativo
na luta do movimento trotskista internacional. Suas contribuições,
particularmente os documentos que escreveu no início da
década de 1960 contra a reunificação sem
princípios do Socialist Workers Party (Partido Socialista
dos Trabalhadores, SWP, na sigla em inglês) com os pablistas,
permanecem parte da educação básica dos marxistas
de hoje. Em um desses escritos, Slaughter explicava o motivo pelo
qual a ruptura do SWP em relação ao Comitê
Internacional inevitavelmente levaria a uma capitulação
ao imperialismo:
Sem uma luta contra o revisionismo, constante renovação
e desenvolvimento dos fundamentos materialistas e dialéticos
do marxismo e do programa do partido, qualquer movimento está
em perigo de tornar-se vítima das respostas da pequena-burguesia
de esquerda ao invés de desenvolver um programa independente
para as massas, que, com o aprofundamento da crise do capitalismo
hoje acompanhada pela crise mortal da burocracia stalinista
são impelidas na direção da luta
(Introdução a In Defense of Marxism [Londres:
New Park Publications, 1966], p.xiii).
Como Cliff Slaughter escreveu bem há 30 anos atrás!
Ele não poderia ter imaginado que tais palavras poderiam
servir, um dia, ao seu próprio epitáfio político.
POR TRÁS DA CISÃO NO WORKERS REVOLUTIONARY
PARTY (WRP)
Por David North 21 de fevereiro de 1986
O Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI),
apoiado pelos internacionalistas proletários dentro do
Workers Revolutionary Party, derrotou uma tentativa da camarilha
pequeno-burguesa liderada por C. Slaughter e M. Banda de liquidar,
organizacional e politicamente, o movimento trotskista mundial.
A vinda da polícia ao local em que se reunia o Congresso
do WRP em 8 de fevereiro, sábado, para prevenir o comparecimento
de delegados legitimamente eleitos, foi o culminar de uma série
de ataques de Banda e Slaughter contra a história, o programa
e os princípios do CIQI.
Ao menos 25 policiais foram chamados ao Congresso para escoltar
Slaughter enquanto este entrava no prédio onde qual sua
facção anti-trotskista realizou um falso congresso
e completou sua ruptura com o Comitê Internacional.
Delegados eleitos de acordo com as decisões do Congresso
Especial do WRP, que ocorreu entre 26 e 27 de outubro de 1985,
reuniram-se, então, em outra localidade, onde transcorreu
o legítimo Oitavo Congresso do WRP (Internacionalista).
Como resultado de sete meses de crise política e organizacional
dentro do WRP, está claro que a corrupção
pessoal de G. Healy quem lançou a faísca
da explosão nas fileiras do partido e forçou a própria
expulsão em 19 de outubro de 1985 , foi apenas parte
de uma degeneração política muito mais profunda,
que afetou toda a direção central e acima
de tudo os colaboradores mais próximos de Healy por mais
de três décadas: Banda e Slaughter.
A publicação de Vinte e sete Razões
Pelas Quais o Comitê Internacional Deveria Ser Enterrado,
de Banda, escancara a essência política da crise
organizacional que emergiu diante da exposição dos
grotescos abusos de autoridade de G. Healy: a completa rejeição,
por parte da direção Healy-Banda-Slaughter, de toda
a fundamentação política, teórica,
programática e histórica da Quarta Internacional.
Mais uma vez, a perspectiva marxista do regime de um partido como
produto de sua linha política foi reivindicada.
Nas Vinte e Sete Razões, o secretário
geral do Workers Revolutionary Party revela não ter sido
um trotskista por ao menos uma década e se arrepende dos
anos em que prolongou sua ruptura com o Comitê Internacional.
Banda, desdenhosamente, denuncia toda a história da Quarta
Internacional como uma série ininterrupta de cisões,
traições, intrigas, estagnação e confusão.
Ele declara: É necessário ser colocado enfaticamente,
categoricamente, que a Quarta Internacional foi proclamada, mas
nunca construída. Ele ataca o Comitê Internacional,
do qual foi membro por 32 anos, como uma ilusão grandiosa,
uma manobra desprezível e uma incógnita repugnante.
Em sua primeira declaração pública desde
que foi expulso do WRP em 19 de outubro, Healy fingiu que a atual
posição de Banda havia se desenvolvido simplesmente
da noite para o dia. Ele escreveu: Nos 35 anos em que trabalhamos
politicamente juntos, ele, por vezes, discutia, mas sempre concordava
politicamente com toda grande decisão tomada nas conferências
e incontáveis Comitês Centrais e Políticos
durante aquele longo período (News Line, 8
de fevereiro de 1986). Uma acusação mais devastadora
sobre sua própria direção não poderia
ser imaginada. Tal era a natureza oportunista do regime político
interno ao WRP que Healy, conscientemente, acobertou a degeneração
de seus mais estreitos colaboradores, que caminhavam rumo à
direita pablista. Ficou claro, assim, por que Healy trabalhou
exaustivamente, nos sucessivos congressos realizados desde 1979,
para suprimir qualquer discussão séria sobre questões
de programa e perspectivas.
Em outro artigo, assinado pelo pseudônimo Paddy
ORegan G. Healy admite que enquanto Cliff Slaughter
traiu o Partido e a juventude por mais de 20 anos,
ele continuou a apoiá-lo no posto de secretário
do Comitê Internacional. O valor de tais declarações,
independentemente de sua motivação subjetiva e fracionária,
é o de exporem a nojenta podridão política
que havia se acumulado por muitos anos dentro da direção
do WRP. No lugar de relações baseadas em princípios,
prevaleceram, na direção central, as manobras cínicas
e oportunistas.
Por sua vez, o documento de Banda expõe a base política
sobre a qual ele próprio e Slaughter colaboraram com Healy
entre 1982 e 1984, impedindo que as críticas feitas pela
Workers League1 contra a linha política revisionista
cada vez mais pablista adotada pelo WRP e a filosofia idealista
de Healy fossem discutidas pelo CIQI.
Além disso, o documento explica por que, ao longo de
três meses, de julho a outubro de 1985, a direção
do WRP particularmente Banda e Slaughter suprimiu
demandas por uma Comissão de Controle que investigasse
os abusos cometidos por G. Healy contra militantes do WRP.
Sob a direção de Healy-Slaughter-Banda, o WRP
havia se tornado uma incubadora política do anti-trotskismo,
onde os princípios da Quarta Internacional, desenvolvidos
historicamente, foram abandonados e traídos. Desmoralizada
pelo caráter retraído de sua luta contra o reformismo
no movimento dos trabalhadores e crescentemente cética
diante das capacidades revolucionárias da classe trabalhadora
inglesa e internacional, a direção do WRP abandonou
a orientação proletária pela qual havia lutado
contra o Socialist Workers Party, o SWP, e sucumbiu à doença
pablista que combatera na década de 1960. No lugar da luta
paciente para penetrar a classe trabalhadora de todos os países
e construir novas seções, a atenção
da direção do WRP estava cada vez mais focada no
desenvolvimento de relações mercenárias com
nacionalistas pequeno-burgueses e regimes nacionalistas burgueses,
com o único objetivo de assegurar fundos para financiar
o trabalho do WRP na Grã Bretanha.
Ao mesmo tempo, esquecendo tudo o que eles haviam dito e escrito
sobre o anti-internacionalismo reacionário do SWP, Healy,
Banda e Slaughter trataram o Comitê Internacional com desdém
pilhando os recursos materiais de suas seções
e utilizando-as como meras adjunções de suas operações
pragmáticas. Enquanto os aspectos táticos dessas
atividades eram supervisionados por Healy, sua cobertura política
e teórica era fornecida por Banda e Slaughter.
A camarilha direitista na direção do WRP que
havia protegido Healy e que, para manter sua própria
autoridade política e a de Healy chegou ao ponto de ocultar,
por quase três anos, uma crise financeira crescente e desesperadora
dentro do partido apenas se dispôs a expulsá-lo
quando uma rebelião nas fileiras do partido tornou impossível
a continuação da farsa.
O Comitê Internacional nunca aceitou a posição
de que a crise dentro do WRP era mera questão de degeneração
pessoal de Healy e seus abusos organizacionais. Recusou categoricamente
dar um carimbo de aprovação à oposição
tardia liderada por Slaughter e Banda. Em sua primeira
resolução sobre a situação do WRP,
datada de 25 de outubro de 1985, o CIQI declarou:
Na raiz da atual crise, que emergiu com a exposição
das práticas corruptas de G. Healy e a tentativa do Comitê
Político do WRP em encobri-las, está o desvio prolongado
da direção do WRP para longe da tarefa estratégica
de construir o partido mundial da revolução socialista,
rumo a uma perspectiva e prática cada vez mais nacionalistas.
A resolução insistiu que: O primeiro passo
para a superação da crise do WRP é o reconhecimento,
por sua direção e seus membros, de que é
necessária a mais próxima colaboração
com seus co-pensadores no CIQI.
O CI propôs, para expurgar todo o anti-internacionalismo
das fileiras do WRP, que seus membros fossem re-registrados na
base do explícito reconhecimento da autoridade política
do CIQI e da subordinação da seção
inglesa às suas decisões. Na realidade, isso
significava somente que o WRP deveria agir, conscientemente, conforme
os estatutos de sua própria constituição,
onde o partido é identificado como uma seção
do CIQI.
Essa resolução foi unanimemente endossada pela
delegação britânica no encontro do CIQI de
25 de outubro. No dia seguinte, o Comitê Central do WRP
também a endossou de forma unânime. Foi aprovada
sem nenhum voto contrário pelo conjunto dos membros do
WRP em seu Congresso Especial de 27 de outubro. O CIQI tentou
apresentar esta resolução a então-minoria
dentro do WRP que apoiava Healy. A facção se recusou
a sequer considerá-la e rompeu com o WRP.
Assim, as relações políticas entre o CIQI
e a facção de Slaughter-Banda foram baseadas tão
somente nas condições internacionalistas determinadas
na resolução de 25 de outubro. A necessidade política
dessas condições emanava do fato que o CIQI colaboraria
politicamente apenas com aqueles preparados para lutar conscientemente
sob sua disciplina, para superar o nacionalismo produzido por
pressões de classe do imperialismo britânico, fonte
da degeneração do Workers Revolutionary Party.
Logo ficou claro que Banda e Slaughter haviam aceitado a resolução
de 25 de outubro simplesmente como uma manobra tática,
para ganhar o suporte do CIQI contra a facção pró-Healy.
Assim que a facção rejeitou a resolução
e rompeu com o WRP e o CIQI, Banda e Slaughter começaram
a trabalhar no sentido de repudiar o acordo com o Comitê
Internacional. A todo o momento se posicionando contra a subordinação
da seção britânica ao CIQI, eles lutaram pela
manutenção das velhas relações políticas
existentes sob Healy, nas quais o CIQI era subordinado à
prática nacionalista do WRP, enquanto este buscava um curso
cada vez mais direitista.
Mas, dentro da seção britânica, uma tendência
se formava ao redor das forças que haviam lutado contra
a tentativa do Comitê Político de acobertar os abusos
de Healy e que haviam exigido a investigação por
uma Comissão de Controle. Essas forças, lideradas
pelo membro do Comitê Central Dave Hyland, organizador do
trabalho do partido na região mineradora de Yorkshire do
Sul, recusou-se a abandonar essa demanda mesmo em face
de repetidas ameaças políticas e físicas
por Banda. Essa tendência se constituiu formalmente como
uma minoria em 9 de novembro de 1985.
A plataforma política dessa minoria clamava pelo retorno
ao Programa de Transição, a defesa da teoria da
revolução permanente, a retomada da luta contra
o pablismo, o restabelecimento da tradicional orientação
proletária do partido e a restauração do
centralismo democrático no WRP.
Ciente da prática de longa data estabelecida sob a liderança
de Healy-Banda-Slaughter, de expulsar aqueles membros que levantassem
diferenças políticas, o CIQI, em seu encontro de
5 de novembro de 1985, encaminhou uma resolução
insistindo que nenhuma medida organizacional fosse tomada pela
direção contra seus críticos antes do Oitavo
Congresso, agendado para acontecer em 8 e 9 de fevereiro de 1986.
Slaughter inicialmente fez objeção, dizendo que
a resolução era desnecessária, já
que simplesmente pedia que a liderança do WRP observasse
sua própria constituição. Mas, foi apontado
que era precisamente pelos direitos dos membros terem sido tão
consistentemente desrespeitados que tal resolução
fazia-se necessária.
No decorrer do mês de novembro ficou cada vez mais claro
que o anti-internacionalismo que prevalecera sob Healy continuava,
e que a degeneração do WRP não havia sido
controlada, muito menos revertida.
Em 12 de novembro de 1985, o Comitê Central do WRP anunciou
o fechamento do seu jornal diário, o News Line,
e sua substituição por um jornal quinzenal. Essa
decisão havia sido tomada por Banda e Slaughter antes do
encontro do Comitê Internacional de 5 de novembro, mas eles
decidiram não levantar a questão com os delegados
internacionais.
Respondendo à recusa da direção do WRP
em discutir, com seus camaradas internacionais, uma decisão
tão importante, o Comitê Central da Workers League
escreveu ao Comitê Central do WRP, no dia 21 de novembro
de 1985, o seguinte:
Estamos profundamente preocupados com o fato de que nossos
camaradas da direção da seção inglesa
do Comitê Internacional da Quarta Internacional nem ao menos
começaram a analisar as questões políticas
levantadas pela cisão, como também não confrontaram
a raiz e a natureza da degeneração que provocou
a explosão interna do WRP. Para nós, abster-se de
tal análise pressuposto para armar teoricamente
os militantes da seção manterá a cisão
ao nível de uma separação meramente organizacional
com Healy e seus apoiadores. Isto significa que O WRP continuará
se afastando, mais e mais, do trotskismo e do Comitê Internacional
da Quarta Internacional.
A fonte básica de nosso desacordo e causa do aumento
da tensão entre nós consiste em que o Workers Revolutionary
Party não está preparado para admitir, exceto de
forma verbal e platônica, a autoridade do Comitê Internacional
da Quarta Internacional. Por isso mesmo, precisamente, não
reconhece que a característica mais essencial da degeneração
política de Healy foi sua subordinação do
movimento internacional às necessidades práticas
da seção britânica. A direção
do WRP passa por um perigo real de continuar, ainda que de forma
diferente, o mesmo curso nacionalista-oportunista.
As implicações políticas da contínua
degeneração do Workers Revolutionary Party foram
claramente reveladas no encontro Moralidade Revolucionária,
realizado em 26 de novembro de 1985 no Friends Hall, em Londres.
Diante de muitos revisionistas e anti-trotskitas de todos os tipos,
Slaughter questionou, publicamente, os fundamentos históricos
do Comitê Internacional. Explorando a confusão dos
membros do WRP principalmente entre aqueles mais instáveis
e pequeno-burgueses a camarilha de Slaugther-Banda buscava,
rapidamente, um reagrupamento com forças revisionistas
e stalinistas. Simbolicamente, isso ficou evidente quando Slaughter
cumprimentou o arqui-stalinista Monty Johnestone em frente a toda
a audiência do Friends Hall.
Contrário a essa traição política,
o Camarada Peter Schwarz do Bund Sozialistischer Arbeiter (Liga
dos Trabalhadores Socialistas, seção alemã
do CIQI) escreveu ao Comitê Central em 2 de dezembro de
1985:
Tendo assistido, em Londres, o encontro de expulsão
de G. Healy de 26 de novembro, escrevo-lhe por estar profundamente
preocupado com a contribuição feita pelo camarada
Slaughter no momento. Na minha opinião, ela significa nada
menos que uma rejeição completa da história
e da tradição do Comitê Internacional da Quarta
Internacional.
O discurso, proferido pelo Secretário do CIQI
diante de todo círculo social do revisionismo inglês,
apenas pode ser tomado como uma clara indicação
de que o camarada Slaughter quer rachar o CIQI completamente e
se juntar ao pântano do revisionismo e stalinismo.
Slaughter e seus apoiadores no Comitê Central
especialmente os elementos parasitários que controlam a
ação do aparato do partido denunciaram a
carta de Schwarz como falsa. Na realidade, objetavam
porque a carta expunha muito claramente o caminho político
tomado por Slaughter-Banda. Ela tornaria claro, ao CIQI e àqueles
da tendência minoritária dentro do WRP que lutavam
pelo internacionalismo, que a camarilha de direita se movia rapidamente
para liquidar o WRP enquanto uma organização trotskista.
Em 16-17 de dezembro de 1985, o Comitê Internacional
reuniu-se para ouvir um relatório provisório preparado
por sua Comissão de Controle, estabelecida na reunião
de 25 de outubro para investigar, mas não limitada
a isso, a corrupção de G. Healy, o acobertamento
feito pelo Comitê Político e a crise financeira dentro
do WRP.
O relatório apresentou evidências documentais
detalhadas de que o WRP, sob Healy, estabeleceu relações
politicamente corruptas com os regimes burgueses do Oriente Médio
e vendeu os princípios do movimento trotskista por dinheiro.
Os documentos, que incluem a correspondência pessoal de
Healy, revelam que a direção do WRP usou, cinicamente,
a OLP (Organização para a Libertação
da Palestina) para favorecer seus próprios esquemas de
levantamento de dinheiro. Para esconder tais relações
sem princípios, a direção do WRP mentiu,
sistematicamente, às seções do Comitê
Internacional e à classe operária inglesa.
Os documentos não somente expuseram a sinistra conexão
entre as relações corruptas estabelecidas por Healy
com os regimes burgueses do Oriente Médio e a consciente
revisão do trotskismo, eles também revelaram como
a camarilha na direção do partido trabalhou sistematicamente
para proteger Healy das críticas, tanto do CIQI como do
WRP.
Na base desse relatório provisório, o CIQI declarou
que o WRP levou a cabo uma traição histórica
ao CIQI e à classe operária internacional.
Essa traição consiste no abandono completo
da teoria da revolução permanente, resultando no
estabelecimento de relações sem princípios
com seções das burguesias coloniais em busca de
dinheiro. A maioria do CIQI se negou a aceitar o argumento
subjetivo de Slaughter, de que a responsabilidade de tal traição
era somente de Healy, e insistiu que a responsabilidade
política pela degeneração nacionalista que
permitiu que tais práticas fossem executadas recai sobre
toda a direção do WRP... O CIQI não procura
culpar qualquer líder individual, mas mantém a liderança
inteira responsável.
Consequentemente, em 16 de dezembro de 1985, o CIQI suspendeu
o WRP enquanto sua seção inglesa. A delegação
do WRP rachou nessa votação, com Slaughter, T. Kemp
e S. Pirani contra a suspensão e D. Hyland a favor.
A suspensão era necessária, uma vez que o CIQI
reconheceu que a degeneração política que
produziu tal traição não havia findado com
a expulsão de Healy, e, por isso, o CIQI não poderia
fornecer sua autoridade ao WRP e assumir a responsabilidade ou
sancionar outras traições promovidas à classe
trabalhadora inglesa e internacional. A suspensão do WRP
fez com que seus membros no contingente do CIQI travassem uma
luta consciente para estancar a degeneração revisionista,
com base nos princípios históricos do movimento
trotskista.
Longe de voltar suas costas ao WRP, o CIQI elaborou detalhadamente
o que deveria ser feito para restaurar os membros da seção
inglesa ao Comitê Internacional da Quarta Internacional.
Numa resolução apresentada pelo CIQI em 17 de dezembro
de 1985, ele simplesmente convocou o WRP a reafirmar sua concordância
com os fundamentos programáticos do Trotskismo, existentes
nos Quatro Primeiros Congressos da Internacional Comunista
(1919-22); na Plataforma da Oposição de Esquerda
(1927); no Programa de Transição (1938); na Carta
Aberta (1953) e nos documentos da luta contra a falsa reunificação
do SWP com os pablistas (1963).
O final dessa resolução dizia: O CIQI e
o Comitê Central do WRP deverão trabalhar, agora,
estreita e conjuntamente para superar, o quanto antes, os problemas
decorrentes da degeneração nacionalista do WRP sob
Healy, para restaurar os princípios básicos do internacionalismo
no WRP e, assim, reincorporar seus membros ao Comitê Internacional
da Quarta Internacional. A estrutura organizacional de tal relação
deverá se basear nos princípios leninistas de centralismo-democrático,
elaborados nos estatutos da Quarta Internacional.
Slaughter, Pirani e Kemp votaram contra essa resolução.
Slaughter se negou a explicar suas divergências com ela,
o que somente reafirmava os fundamentos históricos e programáticos
do CIQI. Sua oposição confirmou que o verdadeiro
conteúdo da degeneração do WRP era o repúdio
ao trotskismo por toda a direção do WRP, agora dividida
em duas facções de direita, a de Healy e a de Slaughter-Banda.
No transcorrer do encontro do CIQI, Slaughter, respondendo
a uma acusação direta de que estaria trabalhando
conjuntamente com os stalinistas, complementou sua negativa
dizendo: E se tal coisa fosse verdade, eu jamais diria a
vocês.
Está claro, agora, que a fenda aberta entre a maioria
do WRP, dirigida por Slaughter-Banda, e o Comitê Internacional
era intransponível. Eles não apenas rejeitaram o
centralismo-democrático organizacional da Quarta Internacional,
como também eram contrários à sua existência.
Slaughter, no período posterior a suspensão,
trabalhando conjuntamente com o círculo social de professores
pequeno-burgueses colocados na direção do WRP, iniciou
uma campanha intensa de difamação do Comitê
Internacional. O alvo central desses ataques foi a investigação
feita pelo Comitê Internacional, ao longo de décadas,
sobre o assassinato de Leon Trotksy e a infiltração
de agentes da soviética GPU e da americana FBI-CIA no Socialist
Workers Party (SWP). Banda e Slaughter, que tinham tido papéis
centrais para iniciar e desenvolver tais investigações,
começaram a denunciá-la sem nem mesmo apresentar
alguma evidência, principalmente com relação
ao caso Gelfand.
Além dos propósitos fracionários imediatos,
o motivo dessa campanha era (1) facilitar uma reaproximação
política com alguns aliados pablistas do SWP e (2) trabalhar
rumo a uma reabilitação com o stalinismo, buscando
justificar a colaboração com os agentes da burocracia
soviética.
Michael Banda, que abandonou o posto na direção
do WRP em meio à crise e retornou ao Sri Lanka para passar
férias prolongadas, escreveu o longo e supracitado documento
atacando toda a história da Quarta Internacional. Ao mesmo
tempo, retomou contato pessoal com os membros do anti-trotskista
LSSP, o partido que traiu a classe trabalhadora em 1964 ao entrar
no governo burguês de coalizão de M. Bandaranaike.
O documento de Banda chegou à Inglaterra no meio de
janeiro, mas não foi mostrado para os membros do WRP ou
do CI. Ao invés disso, serviu de base para duas resoluções
feitas pela ala majoritária do Comitê Central do
WRP, em 26 de janeiro de 1986. Essas resoluções
derrubaram a resolução do Congresso Especial de
17 de outubro, que submetia o re-registro dos membros do WRP a
um reconhecimento explícito da autoridade do Comitê
Internacional da Quarta Internacional.
O conteúdo prático e político dessas resoluções
era o de declarar uma cisão com o Comitê Internacional.
Os renegados que votaram por essas resoluções atuaram
violando as decisões do Congresso Especial e manipularam
fraudulenta e conscientemente o processo de seleção
dos delegados para o Oitavo Congresso, planejado para do dia 8
de fevereiro de 1986.
De acordo com a decisão do Congresso Especial, os membros
do WRP eram limitados àqueles que se re-registraram reconhecendo
a autoridade do CIQI. Uma seção substancial dos
apoiadores da maioria, sem esconder suas visões revisionistas
e sua hostilidade ao Comitê Internacional, recusou-se a
re-registrar-se. Por volta do meio de janeiro, a facção
de Slaughter percebeu que perderia a maioria no Comitê Central
caso a eleição fosse baseada nos membros do partido,
assim definidos pelo de re-registro do Congresso Especial. Por
isso, a maioria no Comitê Central ordenou, em 26 de janeiro,
que as formas do re-registro fossem anuladas e os delegados para
o congresso eleitos com base na lista de membros ampla do partido.
As resoluções de cisão sofreram a oposição
da minoria do Comitê Central, dirigida por Dave Hyland,
que lutou para sustentar a autoridade do CIQI, assim como as decisões
do Congresso Especial.
Os renegados da camarilha Banda-Slaughter completaram sua cisão
no dia 8 de fevereiro. Quando os delegados da minoria chegaram
ao local do congresso, devidamente eleitos, foram impedidos de
entrar. A ala majoritária chamou a polícia para
reforçar a decisão. Incapazes de confrontar as posições
principistas e trotskistas da ala minoritária, a facção
Slaughter-Banda recorreu às táticas da burocracia
anticomunista.
Os delegados da minoria, representando os reais trotskistas
dentro do partido, encontraram outro local, se reuniram e legitimaram
o Oitavo Congresso do WRP (Internacionalista).
Healy, Banda e Slaughter estão politicamente mortos
para o marxismo revolucionário. Eles capitularam, vergonhosamente,
às pressões do imperialismo inglês e colaboram,
agora, com os piores inimigos do movimento trotskista. Mas seus
esforços em destruir o Comitê Internacional falharam
completamente. O CIQI e a Workers League trabalharão, incansavelmente,
para expor a política reacionária das camarilhas
de direita de Healy e Banda-Slaughter, colaborando, estreitamente,
com os verdadeiros trotskistas do WRP (Internacionalista), aqueles
que lutam agora para restabelecer, o quanto antes, a seção
inglesa do Comitê Internacional da Quarta Internacional.
anda-Slaughter, colaborando, estreitamente, com os genuntodentro
do partidoitos com base na lista de membros ampla do partido__
1 Workers League era, na época, o nome da seção
norte-americana do CIQI. Hoje ela se chama Socialist Equality
Party (Partido da Igualdade Socialista, SEP, na sigla em inglês).