Publicado originalmente e inglês no WSWS em 26 de
novembro de 2008.
As vagas promessas de "mudanças" feitas durante
a campanha eleitoral por Barack Obama desaparecem na medida em
que os cargos-chave do novo governo são preenchidos por
veteranos tradicionais da instituição política
estadunidense. Longe de acabar com a guerra externa e a política
reacionária dentro ao país, as indicações
de Obama evidenciam apenas a continuidade das políticas
do governo Bush.
Nada expressa mais a orientação reacionária
da política externa de Obama do que a manutenção
como confirmado na terça-feira, dia 25 do
Secretário de Defesa de Bush, Robert Gates. Este, que assumiu
o posto de Donald Rumsfeld ao final de 2006, é responsável
pela continuidade do derramamento de sangue nas guerras do Iraque
e Afeganistão.
Obama, que venceu a indicação presidencial do
partido Democrata com base nos eleitores contrários à
guerra a maioria deles jovens e estudantes somente
legitima, assim, a continuidade no Pentágono do homem responsável
pela guerra no Iraque nos últimos dois anos.
Gates se manterá alinhado aos que sustentam o militarismo
nos EUA. Já Hilary Clinton, que apoiou a criminosa invasão
ao Iraque e declarou que os EUA deveriam "acabar" com
o Irã caso este atacasse Israel, está prestes a
se tornar a Secretária de Estado.
O general reformado James Jones, ex-comandante da OTAN e atual
executivo da Câmara de Comércio dos EUA, será
nomeado Conselheiro de Segurança Nacional. Após
uma carreira militar de 40 anos, serviu no último ano como
diplomata especial para o Oriente Médio da então
Secretária de Estado, Condolezza Rice, conduzindo investigações
no congresso sobre as guerras do Iraque e Afeganistão.
Suas posições coincidem com as de Obama: as operações
militares dos EUA no Afeganistão e no Paquistão
devem se intensificar.
Tão significantes quanto o comentado acima são
as presentes conversas mantidas entre Obama e figuras como Brent
Scowocroft, Conselheiro de Segurança Nacional dos ex-presidentes
Gerald Ford e Bush (pai) e Zbiginiew Brzezinzki, Conselheiro de
Segurança Nacional do ex-presidente Jimmy Carter. Ambos
são duros críticos da invasão ao Iraque promovida
pela administração Bush. Mas não porque se
opõem a tal guerra, somente porque a vêem como uma
aventura militar que pode enfraquecer bastante os interesses estratégicos
e econômicos dos EUA, particularmente no Oriente Médio.
Defendem Obama na tentativa de estabelecer mudanças táticas,
mantendo o Afeganistão como base para ampliar as operações
dos EUA para uma região maior.
Em artigo publicado conjuntamente na última sexta-feira
no Washington Post, Scowcroft e Brzezinski defenderam que
as prioridades de Obama neste momento deveriam ser os processos
de paz entre árabes e israelenses, para reestabelecimento
da posição dos EUA no Oriente Médio. "Isso
possibilitaria ao governo Árabe apoiar a liderança
dos EUA na resolução dos problemas da região,
como fizeram antes da invasão ao Iraque", escreveram.
"Mudaria o clima psicológico da região, deixando
o Iraque novamente na defensiva e colocando um ponto final nessa
palhaçada".
Assim, pôr em movimento um novo round do processo de
paz no Oriente Médio seria uma nova camuflagem política
que prepararia objetivos mais sinistros no futuro. Semana passada,
outro dos altos conselheiros de Obama, Dennis Ross, discursou
em Denver em defesa de uma posição bem mais agressiva
em relação ao Irã. Criticando a administração
Bush por sua tática de "estímulos fracos",
disse que Obama estava "pronto para usar estímulos
fortes e fazer com que eles [os iranianos] percebam o que
estão prestes a perder".
Ross e outros conselheiros de Obama planejaram conjuntamente
uma série de relatórios em setembro, defendendo
a ampliação do confronto entre EUA e Irã
e ameaçando impor sanções mais duras, como
um bloqueio econômico e ataques militares às instalações
nucleares iranianas. Embora o objetivo declarado dessa estratégia
de alto risco seja induzir o Teerã a abandonar seu programa
nuclear e chegar a um acordo político com Washington, ele
carrega um claro perigo de uma nova guerra em grande escala.
Ross, que tem grande proximidade com os direitistas conservadores
da administração Bush, foi bem aberto em relação
ao potencial papel de Obama. "Quando você tem alguém
como Obama eleito presidente é muito mais difícil
demonizar os Estados Unidos", disse ele. Em outras palavras,
a administração Obama será capaz de levar
adiante políticas que o governo Bush, amplamente desprezado,
foi incapaz de implementar. Os boatos sugerem que Ross será
nomeado para um cargo de alta importância.
No Iraque, o acordo preparado entre Washington e Bagdá
implementará efetivamente o pedido de um prazo para a retirada
das tropas dos EUA, feito por Obama. Mas a delicada questão
sobre manter ou não bases militares americanas no país
ainda não foi discutida. Obama, que sempre apoiou uma presença
contínua dos EUA no Iraque, estará numa posição
muito melhor que Bush para aliviar as preocupações
a respeito de Bagdá.
No Afeganistão, o Secretário de Defesa, Gates,
anunciou sexta-feira que pretende aumentar o número das
tropas dos EUA para ampliar a guerra contra os insurgentes anti-ocupação.
O Los Angeles Times relatou na segunda que líderes
do Corpo de Fuzileiros Navais desenvolveram planos para alocar
15.000 e "combater agressivamente o Talibã, numa guerra
que, supõem eles, poderia durar anos". O aumento das
forças dos EUA no Afeganistão é acompanhado
por um número cada vez maior de ataques de míssil
contra alvos nas áreas fronteiriças do país
vizinho, o Paquistão. O último ataque, no sábado,
matou ao menos quatro pessoas.
Longe de representar o fim do militarismo estadunidense
conforme esperavam dezenas de milhões de eleitores americanos
a administração Obama se prepara para consolidar
a presença do exército americano no Iraque e para
ampliar as guerras no Afeganistão e Paquistão. A
perspectiva de uma nova e maior guerra paira no ar conforme os
conselheiros de Obama expõem seus planos de um confronto
com o Irã.
A consolidação da política externa de
Obama não é surpresa alguma para aqueles da cúpula
institucional dos EUA. Como diz o relatório da empresa
de análises Stratfor: "Os apoiadores de Obama pensavam
que sua posição em relação ao Iraque
era profundamente diferente daquela da administração
Bush. Nunca pudemos localizar claramente a diferença. O
brilhantismo da campanha presidencial de Obama foi que esteve
em convencer seus principais apoiadores de que pretendia promover
uma virada radical das diretrizes, sem jamais especificar que
diretrizes pretendia modificar e sem jamais excluir a possibilidade
de uma interpretação flexível dos seus compromissos".
Os influentes na política externa dos EUA, aqueles mesmos
que apoiaram Obama para presidente, claramente desejam estender
ao palco mundial seu "brilhantismo" e enganar todo o
povo, ao mesmo tempo em que os EUA mantêm agressivamente
seus interesses econômicos e estratégicos no Oriente
Médio e ao redor do mundo.