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Apoio aos grevistas da Deutsche Telekom! Construir um movimento de massas contra a grande coalizão alemã!

Declaração do comitê editorial do WSWS
22 de maio de 2007

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia 17 de maio de 2007.

A greve dos trabalhadores da Deutsche Telekom, que teve início na semana passada e foi aprovada por 96,5% dos trabalhadores presentes na Assembléia, é expressão de uma questão política fundamental.

A direção da companhia decidiu transferir 50.000 trabalhadores para uma empresa terceirizada criada por ela própria, com o objetivo explícito de impor cortes salariais de 40% e estender a jornada de trabalho. Essa decisão revela uma nova ofensiva contra os salários e as condições de trabalho de todos os trabalhadores e prestadores de serviço da indústria.

A decisão da direção da Telekom teve o amplo apoio da Federação das Indústrias Alemãs, que espera que a administração da Telekom consiga derrotar a greve, abrindo o caminho para que todas as outras companhias imponham medidas semelhantes.

Em outras palavras: os grevistas da Telekom representam a ponta de lança da luta contra os ataques que pretendem impor o retrocesso a níveis salariais e condições de vida próprias das antigas gerações.

Ao mesmo tempo, a greve é dirigida não somente contra a agressiva administração da Telekom, mas contra a grande coalizão do governo alemão (Partido Social Democrata — SPD, União Democrata Cristã — CDU e União Social Cristã — CSU), que está apoiando a Telekom. Apesar de a companhia ter sido recentemente privatizada, o governo alemão ainda detém 32% de suas ações. Os representantes do governo fazem parte do quadro de funcionários da Telekom e estão utilizando a sua influência para aumentar a pressão, por meio de ataques sem precedentes aos salários e às condições e trabalho.

Nós chamamos os trabalhadores a apoiarem essa greve e torná-la o ponto de partida de uma ampla mobilização política contra a coalizão do governo.

O sindicato dos trabalhadores da Telekom, o Verdi, não está preparado para liderar essa luta. Ao invés disso, os dirigentes do sindicato estão procurando limitar e isolar a greve, a fim de acabar com ela. Desde o início, a greve foi organizada pelos 50.000 trabalhadores que estavam diretamente ameaçados de ser transferidos à nova empresa, enfrentando enormes perdas salariais. Isso representa somente um quinto de todos os trabalhadores da maior empresa de telecomunicações da Europa.

De fato, o Verdi já deixou claro que está preparado para assumir esse compromisso com a empresa. O sindicato não se opõe à criação de uma empresa que pague baixos salários. Reivindica somente “medidas de transição” e uma limitada forma de “proteção”, apenas para aliviar o grande sofrimento. O sindicato não tem interesse numa luta principista que se oponha às conseqüências sociais dos ataques da administração da Telekom. Ao invés disso, a questão para os burocratas do Verdi é suavizar o caminho para as propostas da Telekom e acabar com a resistência dos trabalhadores.

Com poucos dias de greve, já se pode dizer claramente: se esta greve se mantiver sob o controle dos funcionários do Verdi, estará condenada à falência.

Todo o apoio que se der à greve deve estar associado a uma luta contra a política oportunista do sindicato. Esse ataque da direção da companhia — que tem o apoio do governo — exige uma estratégia política completamente nova. A produção deve ser tirada das mãos da elite financeira e posta a serviço da sociedade como um todo.

A greve deve ser o ponto de partida de uma luta para romper com as velhas organizações de orientação nacionalista — os sindicatos e o SPD — e para unir os trabalhadores em todas as indústrias da Europa e de todo o mundo, pela reorganização socialista da sociedade.

Isso significa considerar a realidade em sua totalidade, se opondo à lógica do sistema capitalista.

A maioria social democrata na direção da Telekom

Os líderes de greve do Verdi estão atualmente reclamando abertamente da agressividade e irresponsabilidade da direção da Telekom. O presidente, René Obermann, apelidado de “Doberman”, é seu alvo principal. Não pode haver dúvidas de que Obermann reflete as características da nova geração de jovens administradores, cuja arrogância e agressividade estão ligadas a um fascínio pelo sistema americano de “lucros e recursos ilimitados”.

Todavia, há um outro fator que encorajou esse administrador de 40 anos de idade, de relativa inexperiência, a levantar esse radical programa de cortes de salários, arruinando a vida dos trabalhadores que deram décadas de seus serviços à Telekom. Obermann sabe que ele não deve temer os dirigentes do Verdi e do conselho de trabalhadores. Ele conhece bem o jogo duplo que faz o sindicato, e que os seus representantes na direção da companhia somente votaram contra o plano de reestruturação porque sabiam que a resolução seria posta em prática mesmo se eles votassem contra.

Obermann sabe bem que o atual negociador pelo sindicato, Lothar Schröder (membro da diretoria executiva do sindicato), é também vice-presidente da diretoria executiva da Telekom. Ele sabe que Schröder é bem pago para este posto e que vê os problemas da companhia com a mesma perspectiva capitalista dos diretores não sindicalizados.

Na verdade, Obermann está trabalhando como uma ferramenta direta do governo alemão. Todas as decisões estratégicas importantes relativas à Telekom foram decididas pelo governo, por meio de negociações com o ministro das finanças, Peer Steinbrück (SPD), e com o ministro do trabalho, Franz Müntefering (SPD).

Além de seis sindicalistas e representantes do conselho de trabalhadores há, na direção da Telekom, dois altos representantes do SPD. Ingrid Matthäus Maier é ex-vice-presidente da seção parlamentar (Bundestag) do SPD. Ela representa a estatal Loan Corporation for Reconstruction (KfW). O outro proeminente representante do SPD é Thomas Mirow, subsecretário de estado no departamento de finanças e braço direito de Steinbrück. Mirow desempenhou um papel chave na elaboração e implementação da estratégia de Lisboa, que tem como objetivo aumentar a competição econômica dentro da União Européia. Muitas das iniciativas de cortes nos custos trabalhistas e da reorganização da Telekom se originaram em seu escritório.

A presença de Matthäus Maier e Mirow significa que, juntamente com os sindicatos e com os social-democratas, têm a maioria dos 15 assentos na direção da Telekom e poderiam, se eles assim desejassem, derrubar a proposta da administração.

Isso demonstra o completo vazio e a total hipocrisia dos dirigentes do Verdi na greve. Seus discursos radicais nas reuniões da greve têm como objetivo somente encobrir os fatos e as suas próprias políticas oportunistas.

Extorsão com a ameaça de uma “compra estrangeira”

Desde o início da greve, Obermann aproveitou toda a oportunidade para levantar a ameaça de uma “compra hostil por um país estrangeiro” caso os trabalhadores resistissem às “reformas planejadas” e aos cortes salariais associados a elas.

Essa ameaça tem o objetivo de possibilitar aos sindicatos o enfraquecimento mais rápido possível da greve. Até agora, os burocratas do sindicato têm sempre argumentado que os cortes nos salários e a degeneração das condições de trabalho representam um preço necessário que se deve pagar para manter a produção dentro do país.

Isso é uma inversão da realidade. A degradação das condições sociais e dos salários é o prelúdio de futuros ataques que destruirão as companhias em nome do aumento dos lucros. A ameaça de Obermann — levada aos trabalhadores por meio dos sindicatos — é o mesmo que defender o suicídio como único meio de impedir uma morte inesperada. Uma rápida análise da história da Telekom já deixa claro o quão absurdo é esse argumento.

Até 1989, os serviços de telecomunicações na Alemanha eram controlados por uma autoridade federal chamada Administração Postal Federal, que estava comprometida com o “interesse público”. O desmantelamento da FPA iniciou um ano depois, por meio da sua divisão em três companhias separadas — correios, Telekom e Postbank, abrindo o caminho para a privatização das três novas empresas. A Deutsche Telekom AG foi criada em 1995. No outono de 1996 a companhia abriu ações na bolsa. Acompanhada por uma agressiva campanha publicitária, a tão falada ação-T passou a ser considerada o símbolo da nova “cultura de ações” alemãs.

Em 1998, o serviço de telefonia da companhia foi aberto ao livre mercado. Sob as condições da privatização e da cruel competição das outras companhias, os serviços de telecomunicações foram reduzidos à mera commodity, forçando os fornecedores a diminuir os seus lucros. Os novos fornecedores das telecomunicações, trabalhando com sistemas diferentes, como o “chamada a chamada”, aumentaram a pressão na Telekom. A companhia tentou superar os crescentes prejuízos expandindo os seus investimentos no exterior e assumindo o controle de diversas empresas de telecomunicações da Europa, que eram originalmente empresas estatais.

Provavelmente a mais importante compra foi a das companhias de telefonia celular americanas VoiceStream e Powertel, possibilitando à Telekom emergir como uma “jogadora mundial”. A comunidade empresarial apresentou a Telekom como uma empresa líder, que sintetizava a produtividade alemã no mundo globalizado. Na realidade, os custos das compras e investimentos feitos com a expansão internacional levaram a um rápido crescimento das dívidas da companhia, que já totalizava €67 bilhões em 2001.

Naquela época, a administração da Telekom respondeu com drásticas medidas de racionalização e com a redução de pessoal. Entre 1995 e 2005, a companhia acabou com mais de 100.000 empregos. No outono de 2003, a Telekom estabeleceu sua própria agência de serviços de funcionários (a “Vivendo”) para que assim reempregasse, pagando impostos mais baixos, aqueles trabalhadores que não poderiam ser demitidos devido ao seu tempo de trabalho e às condições legais. Dois anos atrás, a companhia decidiu executar um plano que previa o corte de 25.000 empregos até 2008.

Ao mesmo tempo, a diretoria executiva anunciou um lucro de €5,6 bilhões em 2005 — o maior da história da empresa. Naquela época, o presidente da empresa, Kai-Uwe Ricke, prometeu um crescimento de 9% nos lucros até 2007.

Uma extirpadora de bens chamada “Blackstone”

A fim de assegurar “mais um aumento nos lucros”, a Telekom contratou, na primavera do ano passado, os serviços da companhia de investimentos inglesa Blackstone Group International. Ao mesmo tempo, o ministro do trabalho, Franz Müntefering, alertava a respeito dos perigos dos fundos de investimento internacionais e das “pragas” — que compram as companhias, sugam o máximo lucro delas e depois as largam (incluindo seus trabalhadores) no lixo — o ministro de finanças alemão, Steinbrück, interveio para estimular a colaboração entre a Telekom e a Blackstone.

O governo vendeu parte de suas ações da Telekom, permitindo à Blackstone adquirir 5% das cotas. Como a propriedade das ações está dispersa entre pequenos acionistas, a Blackstone é atualmente o segundo maior acionista, perdendo apenas para o governo.

A Blackstone Group possui ações em companhias por todo o mundo, desde indústrias a serviços médicos, energia e coleta e tratamento de lixo, mídia e entretenimento, até indústrias alimentícias. Na Alemanha, comprou a grande associação imobiliária em Kiel, Wuppertal e Mönchengladbach. É representada na Alemanha por Roland Berger (consultor administrativo) e Ron Sommer, que foi na verdade o presidente da Telekom entre 1995 e 2002.

A Blackstone tem apoiado a reestruturação da Telekom desde que adquiriu as suas ações da companhia, apoiando a contratação de René Obermann como o novo presidente da empresa. Seu objetivo é o de acabar com todos os setores não lucrativos da empresa de origem estatal e manter somente aqueles que são altamente rentáveis. As propostas atuais representam apenas o início desse plano.

Uma perspectiva socialista é necessária

O Verdi tem uma responsabilidade considerável na atual situação enfrentada pelos trabalhadores da Telekom. O sindicato concordou com todos os cortes e medidas de reestruturação anteriores. Em 2001, o Verdi concordou com um novo sistema de salários, rompendo com o sistema original aplicado a servidores públicos, que inclui o aumento salarial correspondente ao número de anos trabalhados e pensões adicionais para familiares e crianças.

O Verdi não fez nada para impedir a divisão da companhia estatal em terceirizadas. Ao invés disso, fechou acordos que previam salários rebaixados, que estão sendo usados agora para pressionar ainda mais os salários. O Verdi concordou em estabelecer a agência de funcionários Vivendo, sabendo de seu papel na redução dos salários e dos direitos dos trabalhadores.

Um rompimento com os sindicatos e conselhos de trabalhadores é a condição básica para responder aos ataques realizados pela administração e a grande coalizão do governo. Os trabalhadores da Telekom devem desenvolver seu próprio comitê de greve independente do Verdi. Todas as negociações com a administração devem ser supervisionadas por representantes do comitê de greve independente. Acordos e contratos do Verdi ou do conselho dos trabalhadores feitos pelas costas dos trabalhadores, que não foram aprovados em reuniões dos trabalhadores grevistas, devem ser considerados inválidos.

Para aprofundar o conflito, o comitê de greve independente deve estabelecer relações com os trabalhadores de outros setores da Telekom, que estejam excluídos da atual disputa pela direção do Verdi. Essas relações também devem ser feitas com trabalhadores de companhias de telecomunicações de outros países europeus e de todo o mundo.

Nós apoiamos a construção de comitês de defesa contra as demissões em massa e a degradação das condições de vida em todas as empresas que forem necessárias, para transformar a greve dos trabalhadores da Telekom num amplo movimento político contra a grande coalizão. A construção destes comitês de defesa e solidariedade deve estar baseada numa perspectiva socialista internacionalista, que é resultado do caráter internacional da produção moderna e dos interesses comuns dos trabalhadores de todo o mundo. Tal perspectiva exige uma transformação socialista da sociedade, que coloque os interesses sociais acima dos interesses das grandes empresas e dos bancos.

Nós convocamos os trabalhadores da Telekom e todos aqueles que apóiam essa greve a lutar pela construção de comitês de defesa entre os trabalhadores de outras companhias. Estabeleçam contato com o comitê editorial do World Socialist Web Site (WSWS) e discutam estes artigos com os seus colegas.