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Greves contra cortes de empregos na Bélgica, na Espanha e na Rússia

Cresce a resistência internacional à decadência da indústria automobilística

Por Shannon Jones
3 Mayo 2007

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia 30 de abril de 2007.

Dirigentes do sindicato que representa os trabalhadores da General Motors na Europa convocaram uma greve de um dia (3 de maio) para protestar contra os cortes de emprego na planta da GM em Opel, na Antuérpia, Bélgica. A convocação da greve foi resultado do crescimento da resistência dos trabalhadores europeus às intenções dos fabricantes americanos e europeus em levar a cabo um programa de reestruturação, à custa do emprego e das condições de vida dos trabalhadores dos grandes países industriais.

No dia 26 de abril, trabalhadores na planta de Opel, na Antuérpia, iniciaram uma greve de uma semana para protestar contra os planos da companhia de demitir mais de 1.400 trabalhadores como parte de um programa de reestruturação. A administração diz que realizará as demissões ainda na primavera, por causa da queda nas vendas do modelo Astra.

A GM anunciou esse mês que planeja acabar com a produção do Astra na Antuérpia e transferi-la para plantas na Alemanha, Suécia, Polônia e Inglaterra, em meados de 2010. Em seu lugar, a companhia diz que desenvolverá modelos de carros da Chevrolet e possivelmente outra linha ainda não especificada. Todavia, a GM está planejando produzir somente 80.000 desses carros, sendo que a atual produção anual é de 220.000 automóveis, o que significa uma drástica redução da força de trabalho empregada.

O representante dos trabalhadores da GM na Europa disse que a oferta da administração de uma nova linha de carros é “insuficiente”. Ele pediu que a GM fizesse ainda um outro modelo, o que a companhia já mostrou interesse em fazer. Mesmo assim, é improvável que a introdução de um modelo adicional evitará as demissões.

Sob a legislação belga, a GM deve passar por um “período de consulta” antes de implementar demissões em massa. O sindicato, que representa os 4.500 trabalhadores da GM na Antuérpia, tem uma reunião com a administração da GM na Europa agendada para o dia 3 de maio.

Ao longo das últimas semanas, houve uma série de greves e protestos dos trabalhadores da indústria automobilística por toda a Europa.

Na semana passada, uma greve dos trabalhadores de diversas terceirizadas da Ford na Bélgica fechou a principal planta da Ford em Genk, no leste da Antuérpia. Os trabalhadores das fábricas de autopeças SLM e Lear se recusaram a aprovar um acordo proposto pelo sindicato, considerado por eles como inadequado. A greve foi a expressão da insatisfação com o aumento da intensidade do trabalho.

Em Puerto Real, Espanha, os trabalhadores na fábrica da Delphi conduziram uma série de protestos e greves contra planos de fechar a unidade, que está sendo transferida para a Polônia, com o objetivo de reduzir os custos trabalhistas. A Delphi norte-americana, que atualmente está em processo de falência, é uma fornecedora de peças para a GM. Uma passeata realizada na semana passada em apoio aos 1.600 trabalhadores da Delphi contou com a presença de 80.000 pessoas. Após a passeata, os trabalhadores fizeram uma greve de um dia, envolvendo centenas de milhares de trabalhadores na região do litoral sul, em Cadiz.

O fechamento da fábrica ameaça ainda outros 4.000 empregos em setores que dependem dela.

Na Alemanha, o sindicato de metalúrgicos IG Metall está ameaçando organizar manifestações e greves por causa do fim de um contrato com os patrões, que envolve a DaimlerChrysler, Porsche e a fornecedora de peças Robert Bosch. As atuais negociações representam cerca de 1,5 milhões de trabalhadores nos estados de Rhine do Norte-Westphalia e Baden-Wuerttemberg.

Enquanto isso, na República Tcheca, os trabalhadores da Skoda retornaram ao trabalho depois da greve realizada nas fábricas de Mlada Boleslav e Kvasiny na semana passada. A ação paralisou a produção por duas horas e meia nos dois turnos em ambas as fábricas. O motivo da greve foi a proposta de reajuste salarial feita pela Skoda, que é propriedade da Volkswagen. A ação tem um grande significado, por ser num país em que as greves têm sido praticamente inexistentes e o número de membros dos sindicatos estarem em permanente queda. A República Tcheca é considerada uma das regiões com os mais altos salários da Europa Oriental, o que é justificado pelos fabricantes em função da alta especialização da força de trabalho.

Existem sinais do surgimento de uma nova militância na Rússia. Os trabalhadores de uma planta do Ford Focus próxima a Petersburgo conduziram uma greve de um dia em fevereiro.

Os ataques que a General Motors, Ford, Delphi e outras grandes corporações automobilísticas vêm realizando contra os empregos e condições de vida dos trabalhadores europeus se somam à imensa operação de cortes de emprego conduzida pelas fabricantes de automóveis nos EUA. A General Motors cortou 34.000 empregos nos Estados Unidos somente no ano passado. A Ford, outra gigante norte-americana dos automóveis, registrou uma perda recorde no ano passado e está para eliminar 38.000 empregos e fechar 16 fábricas nos EUA.

A DaimlerChrysler está eliminando 13.000 empregos nos EUA e no Canadá e anunciou um plano para recuperar suas perdas causadas pelo Grupo Chrysler nos EUA. A Delphi está planejando o fechar ou vender 21 plantas nos EUA, ocasionando a demissão de 20.000 trabalhadores norte-americanos.

Além das demissões, os trabalhadores têm sido submetidos à redução salarial, ataques às condições de trabalho e reduções nos benefícios de saúde.

Diante destes ataques, a burocracia sindical dos EUA se recusou a realizar uma única greve ou protesto contra a enorme destruição de empregos que está devastando comunidades e regiões inteiras. Ao invés disso, a burocracia do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Automobilística (UAW) atuou como policial da administração, contribuindo na destruição deliberada de centenas de milhares de empregos. Somente no último ano, companhias automobilísticas e suas fornecedoras acabaram com 150.000 empregos.

Neste mês de abril, trabalhadores da planta de Freightliner, em Cleveland, Carolina do Norte, realizaram uma combativa greve, na véspera das demissões em massa planejadas na unidade. A companhia, uma divisão da DaimlerChrysler, demitiu mais de 1.100 trabalhadores, como parte de uma reestruturação em escala nacional que visa transferir a produção para o México. Dirigentes do UAW acabaram rapidamente com as manifestações. Apesar da sabotagem, os trabalhadores rejeitaram a proposta de um novo acordo defendido pelo sindicato na semana passada.

Em março, trabalhadores numa fábrica de auto-peças em Guelph, Ontário, no Canadá, realizaram uma greve em apoio a 200 trabalhadores demitidos, ocupando uma fábrica de auto-peças de propriedade da Collins e Aikman, em Toronto. Os trabalhadores demitidos exigiram indenização. A ação paralisou a produção na DaimlerChrysler de Brampton. A greve foi rapidamente encerrada pela intervenção do sindicato dos Trabalhadores da Indústria Automobilística Canadense (CAW).

Reestruturação global

Os últimos ataques aos empregos refletem a continuação de uma tendência dos fabricantes de automóveis de transferir a produção do oeste da Europa e da América do Norte.

Um artigo publicado no Wall Street Journal do dia 18 de abril, que tratava das demissões anunciadas pela GM na Bélgica, intitulado “De olho no leste, a GM reduz os custos na Europa”, observava que “os cortes expressam a forte tendência da GM e de outras fabricantes de automóveis do Ocidente de realizar grandes cortes de empregos nos países cujos salários são mais elevados, enquanto contratam nas regiões de baixo custo trabalhista”.

O anúncio da GM de que está cortando 1.400 empregos na sua fábrica da Antuérpia foi divulgado no mesmo dia da declaração do seu plano de crescimento na Índia. O corte de empregos na Europa Ocidental e na América do Norte faz parte do esforço da gigante dos automóveis em transferir a produção e a comercialização para áreas de baixo custo, como a Índia, China e a Europa Oriental.

Um outro artigo, intitulado “Europa Oriental se torna o centro das terceirizações”, publicado no dia 19 de abril no New York Times, observa como o bloco dos países da ex-U.R.S.S. é atrativo para as terceirizações e investimentos. “Os trabalhadores húngaros e tchecos recebem um quarto do que ganham os trabalhadores na Europa Ocidental. Na Eslováquia a proporção cai para um quinto”, diz a agência de estatística Eurostat.

“Se isso ainda não torna a região suficientemente atrativa, os governos oferecem incentivos, como a redução de impostos e subsídios para a construção das fábricas”.

Todavia, como os salários crescem em regiões da Europa Oriental, a produção está sendo levada cada vez mais para o leste. De acordo com um relatório da Associated Press, “especialistas afirmam que a transferência é súbita — em alguns lugares quase imperceptível — mas a rápida prosperidade das nações da Europa Central e do Leste pode torná-las vítimas de seu próprio sucesso, por levarem seus salários a um nível abaixo do mercado”.

Citam como exemplo o caso da Delphi, que recentemente transferiu parte da produção da República Tcheca para a Ucrânia, alegando o aumento nos custos trabalhistas. O salário médio por hora na República Tcheca é de US$ 6,00, enquanto na Ucrânia é de US$ 1,60.

O caráter global da produção automobilística indica a necessidade de uma estratégia internacional da classe trabalhadora para defender a manutenção dos empregos e das condições de vida. Os sindicatos existentes são incapazes de conduzir essa luta, pelo fato de estarem já incorporados na estrutura corporativo-governamental de “seus próprios” países. Eles atuam como agentes das corporações, impondo a reestruturação, tão necessária ao mercado capitalista.

Tanto na Europa como na América do Norte, os sindicatos se mostraram incapazes e se recusaram organizar qualquer resistência ao contínuo ataque aos empregos e às condições de trabalho. Na Europa, onde os sindicatos foram forçados, em alguns casos, a organizar manifestações contra as demissões em massa, como a greve e ocupação na planta da Volkswagen em Bruxelas no ano passado, eles procuraram limitar as manifestações a protestos que não colocavam em risco as propriedades dos monopólios industriais. Além disso, eles dividiram os trabalhadores de diversos países, colocando os trabalhadores de uma localidade contra os de outra, impossibilitando e sabotando qualquer luta efetiva. Um exemplo disso foi a atuação do IG Metall, que concordou em rebaixar as condições de trabalho na Volkswagen da Alemanha a fim de estimular a transferência dos empregos da unidade em Bruxelas para plantas alemãs (veja em Sellout at Brussels Volkswagen plant: Trade unions organize destruction of 3,200 jobs). Existem indícios de que um acordo similar esteja sendo preparado para cortar empregos da GM na Antuérpia.

Uma luta comum dos trabalhadores de todos os países em defesa dos empregos, requer a independência política da classe trabalhadora em relação aos partidos do grande capital, sejam eles democratas, liberais, conservadores ou verdes, ou os Democratas e Republicanos nos EUA, e a construção de um legítimo partido socialista de massas da classe trabalhadora.