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Duas universidades americanas reprimem protestos estudantis anti-exploração

Por Mark Rainer
2 Mayo 2007

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Publicado originalmente em inglês em 17 de abril de 2007

Nas duas últimas semanas, protestos estudantis na University of Michigan e na University of Southern California foram respondidos com detenções ou ameaças de detenção pela administração da universidade. Nos dois casos, os estudantes estavam protestando contra o uso, na produção das roupas comercializadas na universidade, do chamado sweatshop (super-exploração do trabalho, em geral em confecções precárias na América Latina ou na Ásia).

Em 3 de Abril, doze estudantes da University of Michigan foram detidos após oito horas em um protesto, que ocupou a área de recepção da sala da reitora Mary Sue Coleman.

Os estudantes são membros da Students Organization for Labor and Economic Equality (SOLE, Organização Estudantil por Trabalho e Igualdade Econômica), uma organização estudantil na Universidade de Michigan que, de acordo com o site do SOLE, “defende a justiça social e a justiça trabalhista através de ação direta, educação e campanhas nacionalmente coordenadas”.

Os estudantes realizaram protestos na tentativa de pressionar a universidade a assinar o Designated Suppliers Program (DSP), uma série de regulamentos acerca das condições de trabalho na produção das roupas da universidade.

Logo após sua chegada às 9h, a reitora Marie S. Coleman reuniu-se brevemente com os estudantes para dizer “Nós não aceitamos demandas vindas dos estudantes”. De acordo com a porta-voz da polícia universitária Diane Brown, os estudantes foram “educados, responsáveis e absolutamente bem comportados”. Entre 18h e 19h, os estudantes foram detidos por transgressão. Eles foram liberados logo depois das 20h e estão proibidos de entrar no Fleming Building novamente.

A polícia universitária está considerando acusar os estudantes por “conduta proibida nas instituições de ensino superior, permanecendo insistentemente em dependências”, uma conduta punível com multa superior a $500,00 e trinta dias de prisão. Para justificar as detenções, Brown se referiu as novas políticas adotadas pela universidade após os ataques de 11 de setembro.

A ordem de detenção destes estudantes pela administração da University of Michigan é uma ação sem precedentes e um ataque aos direitos democráticos dos estudantes. O protesto estudantil veio após a reitora Coleman se recusar a se reunir com os estudantes para discutir a rejeição por parte da universidade do DSP. O protesto foi uma tentativa por parte dos estudantes de obter uma audiência com a reitora, e foi conduzido de forma completamente pacífica.

De acordo com Jason Bates, estudante do segundo ano e um dos detidos, as detenções foram sem precedentes. Bates disse ao Detroit News: “Ocorreram protestos antes. Essa é a primeira vez que um reitor leva alguém detido”. Em 1999, estudantes realizaram um protesto de 51 horas que não levou a nenhuma detenção.

Depois do protesto de 1999, o SOLE obteve êxito ao pressionar a University of Michigan para que esta adotasse o “Code of Conduct” (Código de Conduta) para acabar com o sweatshop, mas o código não foi cumprido. As ações do SOLE durante os dois últimos anos tiveram como objetivo pressionar a universidade a participar do DSP que o grupo afirma é “uma proposta garantindo um fim ao uso de sweatshop na produção das roupas da universidade”.

Um incidente similar ocorreu em 10 de Abril na University of Southern California. Treze estudantes realizaram um protesto do lado de fora da sala do reitor da universidade, Esteven B. Sample. Os estudantes são membros da Student Coalition Against Labor Exploitation (SCALE, Coalizão Estudantil Contra a Exploração do Trabalho) na USC. Os objetivos dos estudantes eram similares àqueles dos da universidade de Michigan—-eles queriam que a universidade entrasse para a Workers Rights Coalition para pôr fim ao uso de sweatshop na produção das roupas da universidade.

O protesto terminou após os estudantes terem sido ameaçados e pressionados pela administração. As técnicas mais inescrupulosas foram empregadas. A segurança da universidade, primeiro, confiscou a identificação dos estudantes. A cada estudante foi enviada uma carta personalizada ameaçando a imediata suspensão da faculdade e expulsão da moradia na universidade. Além disso, a administração contatou os pais dos estudantes para que eles pudessem exercer pressão ainda maior sobre os estudantes, ligando em seus telefones celulares.

Uma estudante do terceiro ano, Meher Talib, formada em relações internacionais, disse ao Los Angeles Times que sua mãe “ligou aterrorizada”. Seu pai também ligou e estava preocupado pois sua família não poderia arcar com os custos da faculdade se ela perdesse sua bolsa estudantil. Talib disse “eu me senti quase violada... que a faculdade pudesse ir tão longe para causar angústia a meus pais”.

As táticas da administração, por fim, tiveram êxito. Em seis horas de protesto, após enviar cartas com oito acusações de má conduta aos estudantes, a Universidade emitiu um ultimato: terminar o protesto ou enfrentar acusações formais. Foram dados dez minutos aos estudantes para que decidissem, e ao final renderam-se à pressão. Talib explicou ao Times “Nós todos ficamos com medo. Podia se sentir o medo na sala”.

As ações desses dois grupos estudantis, SOLE e SCALE, são parte da ampla campanha nos Estados Unidos para acabar com o uso de sweatshop na produção das roupas das universidades. A campanha começou em 1997 com o Sweat-Free Campus Campaign (Campanha Campus Sem Sweatshop), e logo depois como United Students Against Sweatshops (USAS, Estudantes Unidos Contra Sweatshops), às quais o SOLE e o SCALE são filiadas.

O USAS foi associado ao Union of Needletrades, Industrial and Textile Employees (UNITE, sindicato dos trabalhadores têxteis), uma associação membro do AFL-CIO, e compartilha com este a mesma perspectiva essencialmente nacionalista e reformista. Organizações associadas ao USAS, como o SOLE e o SCALE, realizam protestos de outros tipos a fim de pressionar as universidades a entrar no Workers Rights Consortium, que é voltado para assegurar condições apropriadas na produção das roupas da universidade.

Andrea Peters, membro da Internacional Estudantil pela Igualdade Social da University of California Los Angeles, publicou uma declaração condenando as detenções e as ameaças aos estudantes. “O ISSE não concorda com a perspectiva política dessas organizações estudantis”, ela disse, “e em particular nós não achamos que os direitos dos trabalhadores possam ser assegurados pressionando as universidades ou trabalhando com a burocracia do AFL-CIO. Entretanto, nós nos opomos fortemente às tentativas das universidades de silenciar a indignação que os estudantes sentem em relação à exploração dos trabalhadores que produzem as roupas comercializadas nos campi da Universidade”.

“Os efeitos de tais ações pela administração das duas universidades, da USC e da UM, serão de criar um clima de medo e intimidação nos campi”, Peter disse. O ISSE é a organização estudantil do Socialist Equality Party.