Com a visita do presidente dos EUA ao Brasil, diversos protestos
se espalharam pelo país nesta quinta-feira, 08 de março.
A data da chegada de Bush coincidiu com o dia internacional da
mulher, data em que diversas organizações realizam
atos em defesa dos direitos feministas. A coincidência,
no entanto, foi bastante oportuna para os partidos governistas,
que puderam sair às ruas mobilizados pelo feminismo
e simulando um combate contra Bush.
Em São Paulo, a manifestação tomou conta
da Avenida Paulista, uma das principais avenidas da cidade e um
importante centro financeiro do país. Com mais de 15 mil
pessoas presentes, a manifestação durou cerca de
4 horas e envolveu partidos de esquerda, organizações
revolucionárias e também diversos organismos de
sustentação do governo Lula, desde os partidos governistascomo
o PT e o PCdoBaté a Central Única dos Trabalhadores
(CUT), a União Nacional dos Estudantes (UNE) e o Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
De fato, muitos militantes do PT foram vistos durante a manifestação,
sobretudo mulheres que, vestidas de lilás, falavam contra
a violência doméstica, reivindicavam a igualdade
entre os sexos e reclamavam das agressões de Bush no Iraque,
mas não diziam uma palavra sobre Lula e seu apoio aberto
à política do presidente norte-americano.
Para muitos, a presença do PT na manifestação
era algo difícil de compreender. Conforme disse um manifestante
à nossa reportagem, é estranha a presença
dessas pessoas do PT aqui na manifestação. Afinal,
não foi o próprio Lula, do PT, quem convidou o Bush
para vir ao Brasil?
Certamente, Lula e o PT não estão contra a visita
de Bush ao Brasil e à América Latina. Certamente,
Lula e o PT não estão contra os acordos e negócios
que Bush e toda sua comitiva de assessores vieram realizar com
o governo e o empresariado brasileiros. Ao contrário, Lula,
o governo e o PT estão empenhados em garantir uma visita
tranqüila e produtiva ao presidente norte-americano. Sob
o véu do biocombustível, escondem-se acordos que
envolvem, por exemplo, o irmão de George, Jeb Bush, e mesmo
o empresário Roberto Rodrigues, ex-ministro de Lula, ambos
integrantes da Comissão Hemisférica de Bioenergia,
um setor que deve movimentar cerca de 1 trilhão de dólares
nos próximos 25 anos. Com a visita, Bush e Lula pretendem
avançar nas relações entre os dois
países, melhorando mais e mais o terreno brasileiro
para atuação do capital internacional.
Mas como explicar então a presença de petistas
e governistas no ato contra Bush? O que a princípio poderia
parecer um processo de conflito de posições no interior
do partido, na realidade se mostra como um instrumento de sustentação
do próprio governo.
Desde que Lula foi em eleito, em 2002, poucas foram as vezes
em que o PT e seus aliados governistas puderam sair às
ruas sem colocar em risco a frágil estabilidade do governo
petista. Ao contrário, diversas vezes os organismos controlados
pelo Partido dos Trabalhadores receberam verbas do Estadoapelidadas
de mensalinhopara ampliar seus instrumentos
de propaganda, posicionando-se a favor do governo para bloquear
a crescente insatisfação popular e os possíveis
levantes contra Lula. Foi o caso, sobretudo, em 2005, no auge
das denúncias de corrupção, quando o governo
repassou cerca de 60 milhões de reais (US$ 25 milhões)
à CUT, UNE e ao MST.
No entanto, com a diminuição acelerada do nível
de vida da classe trabalhadora, com os processos de demissão
em massa empreendidos por diversos setores do capital, com a taxa
de desemprego em níveis cada vez mais elevados e o pífio
crescimento da economia brasileira, a insatisfação
dos trabalhadores cresce a cada dia, sobretudo nos grandes centros
urbanos. Frente a isso, o próprio Partido dos Trabalhadores
se vê obrigado a simular combate em todas as oportunidades
em que este combate se torne inofensivo para o governo e para
o grande capital.
Este é o caso da manifestação anti-Bush
realizada na quinta-feira nas ruas de São Paulo. Apesar
de aglutinar cerca de 15 mil pessoas, em geral revoltadas contra
Bush e contra Lula e o PT, a manifestação teve um
caráter bastante conciliador e ofereceu pouco ou nenhum
perigo para a estabilidade do governo. Mesmo a vasta repercussão
obtida na imprensa não relacionava a insatisfação
e a revolta popular contra Bush à figura de Lula, seu anfitrião
e fiel aliado. A tática adotada pelos partidos do governo
e pela coordenação do ato era muito clara: com muito
dinheiro e pouco apoio de massa, eles controlaram a palavra nos
carros de somimpedindo qualquer fala mais combativa que
envolvesse a Lula, compraram e distribuiram estandartes
em massafazendo-se parecerem maiores do que realmente sãoe
agitaram unicamente o FORA BUSH, mais uma vez preservando o governo
brasileiro.
Com esse processo, garantiam uma fachada combativa
às suas organizações, ao mesmo tempo em que
não ofereciam perigo algum para o frágil equilíbrio
do governo Lula, cada dia mais instável.
No entanto, essa fachada combativa só se mantém
nos grandes meios de comunicação e na cabeça
daqueles que há muito tempo estão trancados em seus
gabinetes, muito distantes das ruas, fábricas, escolas
e universidades.
A grande quantidade de pessoas aglutinadas no ato expressa,
acima de tudo, a insatisfação crescente dos trabalhadores
e jovens brasileiros com Bush, Lula e a política imperialista
do grande capital internacional. Dentre os 15 mil manifestantes
havia muitos que, organizados no bloco da Conlutas, entoavam
palavras de ordem como Fora já, fora já daqui,
Bush do Iraque e Lula do Haiti, vinculando, ainda que de
forma tímida, o governo Lula à política de
Bush.
Mas entre eles, havia uma ala mais combativa, aquela puxada
pela corrente de juventude Negação da Negação,
composta por cerca de 350 pessoas, aglutinadas entre duas faixas
com os dizeres Abaixo a aliança fascista Lula-Bush
e Contra o acordo sujo do biocombustível. Ao
som da banda de maracatu, esses jovens protestavam entoando Não,
não, Lula e Bush Não! e Abaixo a repressão!
Lula e Bush Não!. Em seus estandartes, destacava-se
a reivindicação da Defesa dos direitos democráticos
dos trabalhadores de todo o mundo!. Os jovens da corrente
Negação da Negação apresentavam
cartazes onde apareciam as imagens de Lula e Bush como fascistas,
irmãos e aliados, ambos com o bigode de Hitler, unidos
para ampliar os lucros do grande capital, aumentando a exploração
dos trabalhadores, a miséria e a barbárie em todo
o mundo.
Por mais que Lula, o PT e o PC do B tentem sustentar a farsa
e a hipocrisia que são como partidos ditos de esquerda,
a cada dia fica mais claro para os trabalhadores e jovens brasileiros
que o governo Lula governa para a burguesia, para o capital internacional
e contra os trabalhadores de todo o mundo.