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15.000 vão às ruas de São Paulo contra Bush, mas “direções” hipócritas procuram preservar Lula

Por Rodrigo Brancher
10 Marzo 2007

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Com a visita do presidente dos EUA ao Brasil, diversos protestos se espalharam pelo país nesta quinta-feira, 08 de março. A data da chegada de Bush coincidiu com o dia internacional da mulher, data em que diversas organizações realizam atos em defesa dos “direitos feministas”. A coincidência, no entanto, foi bastante oportuna para os partidos governistas, que puderam sair às ruas mobilizados pelo “feminismo” e simulando um combate contra Bush.

Em São Paulo, a manifestação tomou conta da Avenida Paulista, uma das principais avenidas da cidade e um importante centro financeiro do país. Com mais de 15 mil pessoas presentes, a manifestação durou cerca de 4 horas e envolveu partidos de esquerda, organizações revolucionárias e também diversos organismos de sustentação do governo Lula, desde os partidos governistas—como o PT e o PCdoB—até a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a União Nacional dos Estudantes (UNE) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

De fato, muitos militantes do PT foram vistos durante a manifestação, sobretudo mulheres que, vestidas de lilás, falavam contra a violência doméstica, reivindicavam a igualdade entre os sexos e reclamavam das agressões de Bush no Iraque, mas não diziam uma palavra sobre Lula e seu apoio aberto à política do presidente norte-americano.

Para muitos, a presença do PT na manifestação era algo difícil de compreender. Conforme disse um manifestante à nossa reportagem, “é estranha a presença dessas pessoas do PT aqui na manifestação. Afinal, não foi o próprio Lula, do PT, quem convidou o Bush para vir ao Brasil?”

Certamente, Lula e o PT não estão contra a visita de Bush ao Brasil e à América Latina. Certamente, Lula e o PT não estão contra os acordos e negócios que Bush e toda sua comitiva de assessores vieram realizar com o governo e o empresariado brasileiros. Ao contrário, Lula, o governo e o PT estão empenhados em garantir uma visita tranqüila e produtiva ao presidente norte-americano. Sob o véu do biocombustível, escondem-se acordos que envolvem, por exemplo, o irmão de George, Jeb Bush, e mesmo o empresário Roberto Rodrigues, ex-ministro de Lula, ambos integrantes da Comissão Hemisférica de Bioenergia, um setor que deve movimentar cerca de 1 trilhão de dólares nos próximos 25 anos. Com a visita, Bush e Lula pretendem “avançar nas relações entre os dois países”, melhorando mais e mais o terreno brasileiro para atuação do capital internacional.

Mas como explicar então a presença de petistas e governistas no ato contra Bush? O que a princípio poderia parecer um processo de conflito de posições no interior do partido, na realidade se mostra como um instrumento de sustentação do próprio governo.

Desde que Lula foi em eleito, em 2002, poucas foram as vezes em que o PT e seus aliados governistas puderam sair às ruas sem colocar em risco a frágil estabilidade do governo petista. Ao contrário, diversas vezes os organismos controlados pelo Partido dos Trabalhadores receberam verbas do Estado—apelidadas de “mensalinho”—para ampliar seus instrumentos de propaganda, posicionando-se a favor do governo para bloquear a crescente insatisfação popular e os possíveis levantes contra Lula. Foi o caso, sobretudo, em 2005, no auge das denúncias de corrupção, quando o governo repassou cerca de 60 milhões de reais (US$ 25 milhões) à CUT, UNE e ao MST.

No entanto, com a diminuição acelerada do nível de vida da classe trabalhadora, com os processos de demissão em massa empreendidos por diversos setores do capital, com a taxa de desemprego em níveis cada vez mais elevados e o pífio crescimento da economia brasileira, a insatisfação dos trabalhadores cresce a cada dia, sobretudo nos grandes centros urbanos. Frente a isso, o próprio Partido dos Trabalhadores se vê obrigado a simular combate em todas as oportunidades em que este combate se torne inofensivo para o governo e para o grande capital.

Este é o caso da manifestação anti-Bush realizada na quinta-feira nas ruas de São Paulo. Apesar de aglutinar cerca de 15 mil pessoas, em geral revoltadas contra Bush e contra Lula e o PT, a manifestação teve um caráter bastante conciliador e ofereceu pouco ou nenhum perigo para a estabilidade do governo. Mesmo a vasta repercussão obtida na imprensa não relacionava a insatisfação e a revolta popular contra Bush à figura de Lula, seu anfitrião e fiel aliado. A tática adotada pelos partidos do governo e pela coordenação do ato era muito clara: com muito dinheiro e pouco apoio de massa, eles controlaram a palavra nos carros de som—impedindo qualquer fala mais combativa que envolvesse a Lula—, compraram e distribuiram estandartes em massa—fazendo-se parecerem maiores do que realmente são—e agitaram unicamente o FORA BUSH, mais uma vez preservando o governo brasileiro.

Com esse processo, garantiam uma fachada “combativa” às suas organizações, ao mesmo tempo em que não ofereciam perigo algum para o frágil equilíbrio do governo Lula, cada dia mais instável.

No entanto, essa fachada combativa só se mantém nos grandes meios de comunicação e na cabeça daqueles que há muito tempo estão trancados em seus gabinetes, muito distantes das ruas, fábricas, escolas e universidades.

A grande quantidade de pessoas aglutinadas no ato expressa, acima de tudo, a insatisfação crescente dos trabalhadores e jovens brasileiros com Bush, Lula e a política imperialista do grande capital internacional. Dentre os 15 mil manifestantes havia muitos que, organizados no bloco da Conlutas, entoavam palavras de ordem como “Fora já, fora já daqui, Bush do Iraque e Lula do Haiti”, vinculando, ainda que de forma tímida, o governo Lula à política de Bush.

Mas entre eles, havia uma ala mais combativa, aquela puxada pela corrente de juventude Negação da Negação, composta por cerca de 350 pessoas, aglutinadas entre duas faixas com os dizeres “Abaixo a aliança fascista Lula-Bush” e “Contra o acordo sujo do biocombustível”. Ao som da banda de maracatu, esses jovens protestavam entoando “Não, não, Lula e Bush Não!” e “Abaixo a repressão! Lula e Bush Não!”. Em seus estandartes, destacava-se a reivindicação da “Defesa dos direitos democráticos dos trabalhadores de todo o mundo!”. Os jovens da corrente Negação da Negação apresentavam cartazes onde apareciam as imagens de Lula e Bush como fascistas, irmãos e aliados, ambos com o bigode de Hitler, unidos para ampliar os lucros do grande capital, aumentando a exploração dos trabalhadores, a miséria e a barbárie em todo o mundo.

Por mais que Lula, o PT e o PC do B tentem sustentar a farsa e a hipocrisia que são como partidos ditos de “esquerda”, a cada dia fica mais claro para os trabalhadores e jovens brasileiros que o governo Lula governa para a burguesia, para o capital internacional e contra os trabalhadores de todo o mundo.