Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 21 de julho de 2007.
Um juiz federal indenizou há duas semanas em US$ 1,9
milhões 600 trabalhadores de fazendas locais do vale de
Yakima, em Washington, como recompensa por tratamento ilegal por
parte da empresa Global Horizons, uma das maiores empresas de
contratação de força de trabalho do país.
O juiz avaliou como "evidências inegáveis"
que a Global Horizons, que contrata trabalhadores para duas fazendas
locais, a Valley Fruit Orchards e a Acre Farms, violou seis leis
trabalhistas federais ao contratar os trabalhadores para os pomares
de frutas do Vale de Yakima. Entre as violações
estão a demissão de trabalhadores por não
atingirem os níveis de produtividade requeridos, a trapaça
aos trabalhadores em relação aos salários
que receberiam, e informações erradas sobre as opções
de transporte disponíveis para eles.
Mesmo antes do veredicto da corte, a Global Horizons perdeu
sua licença para operar no estado de Washington por ter
descontado taxas dos salários dos trabalhadores
num estado que não aplica taxas sobre o salário.
A corte judicial avaliou que a Global Horizons e as fazendas
que a contrataram violaram leis federais ao desestimular os trabalhadores
residentes nos EUA a se candidatarem às vagas, a fim de
contratarem trabalhadores assistidos pelo programa governamental
denominado "trabalhador convidado". Estes trabalhadores
frequentemente ganham salários mais baixos e são
submetidos a um nível ainda maior de exploração
do que os trabalhadores residentes nos EUA.
Os trabalhadores estrangeiros, a maioria de origem tailandesa,
eram maltratados pela companhia e pela rede a nível mundial;
194 trabalhadores estrangeiros que foram sistematicamente enganados
e fraudados pela Global Horizons no mesmo período estão
entrando com uma ação coletiva contra a companhia.
Os trabalhadores tailandeses foram enganados ao assinarem os
contratos, pois a companhia havia afirmado, na ocasião,
que eles poderiam trabalhar nos EUA por três anos, quando,
na realidade, eles serão mandados de volta para casa depois
da primeira safra, apesar de não conseguirem, durante esse
período, recuperar o dinheiro que investiram para entrar
nos EUA.
Atualmente, 3 trabalhadores na Indonésia e 22 tailandeses
na Carolina do Norte estão movendo uma ação
contra a Million Express Manpower, tanto na Tailândia como
nos EUA, por fraude e quebra de contrato. Os abusos cometidos
pela Million Express eram tão flagrantes que alguns dos
trabalhadores que estão movendo ações ganharam
vistos temporários especiais para vítimas de tráfico
humano.
Foi dito a estes trabalhadores que eles receberiam US$ 16.000
por ano durante um período de três anos, mas receberam
apenas US$ 1.300 a US$ 2.400 cada. Como é de costume (apesar
de ser ilegal), eles tiveram seus passaportes apreendidos pelos
empregadores, ficando, assim, de mãos atadas. Alguns dos
trabalhadores não pagos foram forçados a trabalhar
na reconstrução de Nova Orleans, dormindo num hotel
sujo que não tinha luz nem água potável.
Um dos trabalhadores denunciou que algumas vezes 33 trabalhadores
eram obrigados a dormir num galpão de armazenamento ao
lado da casa dos chefes.
Os trabalhadores tailandeses permaneceram nos EUA sob a proteção
do programa governamental "trabalhador convidado" H-2A,
que substituiu o vergonhoso programa "Bracero" da década
de 1940, que trouxe centenas de milhares de trabalhadores mexicanos
para trabalhar em condições deploráveis,
sendo sistematicamente maltratados e trapaceados em relação
aos seus salários.
Todos os anos, cerca de 12.000 trabalhadores sem qualificação
são trazidos aos EUA com vistos de trabalhadores convidados.
É garantida a estadia para mais de um ano, o que pode ser
prolongado para até três anos, dependendo dos empregadores.
Ainda que 75% dos trabalhadores convidados venham do México,
um número crescente de trabalhadores tem vindo da Ásia
e, assim como os mexicanos, também procuram o setor da
construção civil ou outros serviços em busca
de melhores salários.
Os agricultores, em particular, preferem usar os trabalhadores
convidados, pois, diferentemente dos trabalhadores residentes,
eles são obrigados a permanecer com um único empregador
- o que impõe a eles salários mais baixos. Durante
curtos períodos durante a colheita, a demanda por trabalho
pode rapidamente estagnar, elevando os salários para mais
de US$ 18 por hora ou mais, de acordo com um fazendeiro entrevistado
pelo Seattle Weekly.
Como os trabalhadores convidados não podem renegociar
seus contratos, eles são utilizados pelos empregadores
para enfraquecer o poder de barganha dos trabalhadores locais,
diminuindo seus salários. Além disso, eles não
podem deixar seus empregos, mesmo que seus salários ou
condições de trabalho forem inaceitáveis.
Se eles levantarem queixas, poderão ser mandados de volta
para casa a qualquer momento, em condições financeiras
catastróficas.
Essa semi-servidão é permitida por lei, mas a
fraude sistemática endêmica ao programa de trabalhadores
convidados contribui para aumentar ainda mais esta forma de exploração.
Na maior parte dos países (incluindo a Tailândia)
é ilegal cobrar taxas para a concessão de vistos
de trabalhadores estrangeiros. Mas nos EUA, os trabalhadores que
estiverem com a documentação pendente são
obrigados a pagar altíssimas taxas algumas taxas
chegam a US$ 11.000 para conseguir entrar no país.
"Os trabalhadores receberam uma ordem por escrito para
não revelar o valor da taxas pagas por eles atualmente",
relatou para a Rádio Pública Nacional o advogado
de defesa dos trabalhadores da Carolina do Norte. "Disseram
para eles mentir", concluiu o advogado.
Alguns trabalhadores foram forçados a hipotecar a propriedade
de sua família para que conseguissem levantar o dinheiro,
esperando recuperar o valor das taxas trabalhando durante os três
anos permitidos pelo programa. Mas, ao serem enganados, muitos
trabalhadores não puderam recuperar nem mesmo a taxa inicial.
Tais circunstâncias não representam uma exceção.
"Eu diria que uma maioria substancial dos trabalhadores convidados
nos EUA é enganada em relação aos seus salários,"
disse ao New York Times David Griffith, professor de antropologia
na Universidade da Carolina do Leste.
As três ações judiciais servem para desvelar
a dinâmica do mercado de trabalho não qualificado
nos Estados Unidos. Segundo algumas estimativas, 50 a 80% dos
trabalhadores que trabalham nas colheitas são imigrantes
sem documentação, na sua maioria da América
Latina. Eles estão entre os setores mais explorados, desprovidos
de assistência médica, sem garantira de emprego,
sofrendo, além de tudo, uma constante ameaça de
deportação.
Mas estes trabalhadores podem procurar outro emprego, quando
são muito maltratados ou quando encontram melhores condições
salariais em outro lugar. Os trabalhadores convidados, ao contrário,
"não podem ir a lugar algum," disse um fazendeiro
do Vale de Yakima ao Seattle Weekly. "Eles têm um contrato
conosco e nós temos um com eles. Se eles partirem, será
nossa responsabilidade informar à Agência de Imigração
(ICE Immigration and Customs Enforcement). Eis porque o
programa trabalhador convidado funciona".