Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 04 de Agosto de 2006.
Grandes pêsames e sua profunda tristeza pelo episódio
dos ataques aéreos israelenses em Kana enviou a chanceler
alemã Angela Merkel (CDU), em 30 de julho, através
de seu porta-voz Ulrich Wilhelm.
Dois dias depois o ministro das Relações Exteriores
Frank-Walter Steinmeier (SPD) começou uma entrevista ao
jornal Süddeutschen Zeitung com as seguintes
palavras: O que aconteceu em Kana no domingo deve encher-nos
de horror. O número de vítimas civis dos ataques
aéreos israelenses é terrível e inaceitável.
Porém, o horror na população não
é restrito aos corpos carbonizados e mutilados das crianças
em Kana, mas desperta a todos para a realidade de que este governoda
Chanceler e seu ministro das Relações Exteriores
social-democratarecusa-se a chamar pelo nome e a condenar
os terríveis crimes de guerra. A advertência de Steinmeier
endereçada ao governo israelense, baseada nos limites do
Direito de Auto-defesa de que toda utilização
da força militar deve ser proporcional, e de que devem
ser evitadas vítimas na população civil,
é completamente covarde e repugnante.
Em Kana não houve mira imprecisa ou evitou-se insuficientemente
as vítimas civis. Aqui se mirou para abater crianças
e mulheres e apressar ondas de fuga do sul do Líbano. O
terrível massacre não foi uma lamentável
exceção, mas sim torna claro o verdadeiro
caráter da agressão imperialista, pois nela até
agora mais crianças que soldados perderam suas vidas.
Um dia após a sua entrevista ao Süddeutschen
Zeitung Steinmeier bloqueou no encontro dos ministros das
Relações Exteriores europeus uma condenação
colocada aos crimes de guerra israelenses, e anulou uma declaração
conjunta com a exigência de um imediato cessar-fogo.
Pode-se dizer com toda a clareza: os pêsames e
profunda tristeza de Merkel pelas vítimas em Kana
não podem enganar que o governo alemão carrega responsabilidade
e cumplicidade em alto grau pelos crimes de guerra no Líbano.
Nada fortaleceu e encorajou mais a política de guerra americano-israelense
na última semana do que a reviravolta ocorrida na política
externa alemã.
Ninguém mais que o próprio Steinmeier, que dirigiu
no último ano uma função na chancelaria do
governo vermelho-verde, sabe melhor que a então oposição
do governo Schröder contra a guerra do Iraque era muito inconseqüente,
mas tal oposição tinha efeitos. A Alemanha na época,
e ainda hoje, não era representada com assento e voto no
Conselho de Segurança da ONU, mas a atitude negativa em
Berlim frente à ação armada no Iraque fortalecia
aqueles países no Conselho de Segurança que eram
críticos frente à pressão para a guerra por
parte dos EUA, como França, Rússia e China.
Isto impediu que a guerra contra o Iraque pudesse ter começado
com o apoio da ONU. Isto novamente não foi um fator desprezível
na mobilização da população contra
a guerra. O caráter ilegal desta guerra de agressão
ficou nítido desde o princípio e milhões
de pessoas em toda parte do mundo manifestaram-se e protestaram
contra a guerra.
Por isso, a reviravolta pró-americana na política
exterior alemã teve um significado muito grande para os
governos em Washington e Jerusalém, pois as relações
de força na política européia modificaram-se
por isso, de forma nítida, ao gosto do governo dos EUA.
Quando Angela Merkel, no último domingo, não telefonou
para o presidente francês Jacques Chirac, mas sim para o
chefe-lacaio do Pentágono na Europa, o primeiro-ministro
britânico Toni Blair, ficou claro que a Alemanha havia passado
não somente transitoriamente para o apoio à pressão
direta do presidente Bush dos EUA pela ação bélica
sobre a cúpula do G-8 em São Petersburgo.
A mudança de sentido no Spree (Rio que corta Berlim
em cujas margens está instalada a sede do governo alemão)
rumou para fortalecer as mais reacionárias políticas
de força nas relações internacionais. A forma
brutal, atrevida e arrogante com que as forças armadas
israelenses pisoteiam o Direito e as Instituições
internacionais como a ONU, até mesmo bombardeando seus
postos, está apoiada não somente na sua convicção
de que ninguém irá punir seus crimes de guerra,
mas de que o comando das forças armadas israelenses age
em aliança direta com o governo dos EUA. Pois já
era o caso desde antes.
O governo alemão mudou a página e não
enfrentou o terror dos bombardeios, mas postou-se atrás
da liderança do Governo Bush a respeito disso, de tal forma
que se deixou cair resignado, sem se sentir embaraçado,
e tendo consideração ao alto comando no Pentágono
e ao Ministério da Guerra israelense. As mortes em Kana,
assim como as vítimas anteriores e futuras no Líbano
vão, em alta medida, também na conta do governo
alemão.
Há três anos o governo alemão exigiu por
meio do Direito Internacional que parasse a agressão promovida
pelos EUA. Então o governo resistira às ambições
guerreiras em Washington e à agressão. Agora o governo
alemão virou e tornou claro que, para ele o Direito Internacional
não é mais o limite, nem constitui o critério
para suas decisões, pois quem não condena os crimes
de guerra evidentes e não leva os responsáveis à
prestação de contas torna claro com isso que não
mais aceita o Direito internacional e que não o considera
como parâmetro de suas decisões.
Sobretudo é impressionante a mudança de curso
da política exterior na liderança do SPD (Partido
Social-Democrata). Há não muito tempo atrás
que a atitude anti-guerra do Iraque era o grande show
na campanha eleitoral na Casa de Willy Brandt. No
entanto, depois que o decurso da guerra do Iraque tornou claro
que havia passado o tempo das leis e acordos internacionais, e
que o tempo novamente era de forma descarada e aberta o dos termos
imperialistas, e ficou a nu de que estes serão perseguidos
por meio do poderio militar, o SPD reagiu como sempre tinha feito
no passado: posicionou-se do lado da força imperialista
mais forte.
Fornecimento de armas para Israel
Há ainda um outro plano em que o governo alemão
carrega uma responsabilidade imediata pelos crimes de guerra no
Líbano, pois as armas israelenses provêm não
somente dos americanos, mas também da produção
alemã. Isto é verdade para todos os componentes
de alta tecnologia.
O programa de televisão Monitor em sua última
edição (27 de julho de 2006) concentrado sobre isso,
apresentou que partes importantes das armas israelenses são
fornecidas pela Alemanha ou têm origem alemã. Na
matéria dizia que: Há dias voa a Força
Aérea Israelense em ofensiva no Líbano. Partes do
controle de mira, por assim dizer das cabines dos jatos de combate
israelenses são baseados em know-how alemão, desenvolvido
e fornecido sobre um outro aparelho de uma antiga irmã
da AEG. Trata-se do instrumento de controle de mira instalado
na fuselagem do bombardeiro israelense F-16.
Também em terra lutam as tropas israelenses com
tecnologia alemã, diz a matéria novamente.
O tanque de combate Merkava forma a espinha dorsal
das tropas de solo israelenses, e seus canhões são
um desenvolvimento da firma de armamentos alemã Rheinmetall.
O tanque israelense: sem tecnologia alemã ele não
atiraria nem se moveria. Pois também o motor descende da
cultura de engenharia alemã. E a transmissão vem
da Renk-AG de Augsburgo, informaram os editores do Monitor.
Apesar do que o governo alemão afirma, de que não
autoriza fornecimento de armas à regiões em
conflito, já começou a ser preparado um cada
vez mais próximo acordo de armamentos alemão-israelense.
Israel tem grande interesse em equipar-se com o transporte de
tropas do tipo Dingo. Após nossas consultas
o governo alemão admitiu que aprovou, faz pouco tempo,
primeiro o fornecimento de um veículo para teste,
esclarece o Monitor e depois de uma consulta da redação,
se o Dingo' seria fornecido apesar da guerra,
não houve resposta do Governo.