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A ascensão da AfD e a guinada à direita da política oficial na Alemanha

Peter Schwarz
7 de novembro de 2017

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Publicado originalmente em 25 de Setembro de 2017

Pela primeira vez desde a queda do regime nazista, um partido de extrema-direita conseguiu votos suficientes para entrar no parlamento nacional da Alemanha. Com 13% dos votos nas eleições federais de domingo, a Alternativa para a Alemanha (AfD) tornou-se o terceiro maior partido no parlamento, terminando atrás da União Democrática Cristã/União Social Cristã (CDU/CSU) e do Partido Social Democrata (SPD), que sofreu um colapso eleitoral. A CDU/CSU obteve 33% dos votos, o seu pior resultado em mais de 60 anos.

A AfD adquiriu uma influência política muito além de sua força real. Ela marcou o tom na campanha eleitoral com sua agitação pela repressão aos refugiados e o fortalecimento do aparelho repressivo do estado. Todos os partidos do establishment político alemão procuraram se contrapor à AfD com promessas de contratar mais policiais e deportar mais refugiados, reforçando assim a exigência da extrema direita. Por que votar nas versões da AfD do establishment político, com sua política chauvinista e autoritária, quando pode-se votar nela própria? A CDU/CSU perdeu mais de um milhão de eleitores para a AfD, enquanto o SPD perdeu 470.000 e o partido A Esquerda perdeu 400.000.

Considerando isso, é possível afirmar que o programa de extrema-direita da AfD não goza de suporte de massa. Mesmo entre os eleitores da AfD, 60% disseram que apoiaram o partido como um protesto e não porque apoiem suas políticas. A ascensão da AfD é, acima de tudo, o resultado da guinada à direita de todos os partidos do establishment político alemão, que, com o apoio da mídia, estão fazendo tudo o que podem para canalizar o crescente descontentamento social para a direita.

No passado, esperava-se que os partidos que se consideram de esquerda se beneficiassem de uma crise social como a que aflige a Alemanha, incluindo o enorme crescimento de empregos mal-pagos, o aumento da pobreza e de pessoas em situação de rua, a falta de habitação acessível, as condições catastróficas nas escolas e hospitais e o crescente perigo de guerra. Mas nem o SPD nem o partido A Esquerda foram capazes de fazer um apelo contra tal situação social a seus eleitores.

O SPD está politicamente falido e desacreditado. Tendo imposto o plano Hartz – uma reforma trabalhista que ampliou o trabalho temporário e terceirizado, formalizou o emprego com pequenas jornadas de trabalho e dificultou o acesso ao seguro desemprego –, cortes de impostos para grandes empresas e os ricos, e um aumento na idade de aposentadoria para 67, o SPD é o principal responsável pelos níveis escandalosos de desigualdade social.

Porém, um papel ainda mais repugnante foi desempenhado pelo partido A Esquerda. Trabalhadores há muito tempo deixaram de levar a sério sua combinação de frases da esquerda e políticas de direita. A tarefa principal do partido A Esquerda consiste em bloquear um movimento à esquerda de trabalhadores. No leste da Alemanha, onde o partido A Esquerda por muito tempo dominou, a AfD terminou em segundo lugar atrás da CDU. Lá, o partido de extrema-direita ganhou 22% dos votos. A AfD conseguiu o primeiro lugar entre os homens, com 27% do voto masculino.

A elite governante chegou a um acordo com a AfD mesmo antes do início da contagem dos votos. É apenas uma questão de tempo antes do partido de extrema direita integrar do governo.

O líder da CSU, Horst Seehofer, declarou que a AfD ganhou votos porque a CDU e CSU “deixaram aberto seu flanco de direita”. Ele prometeu que eles mudariam isso no futuro e tomariam uma “posição clara”.

O historiador Michael Wolffsohn rejeitou descrever a AfD como “nazista”. É, segundo ele, uma reação a “grandes problemas sociais”, como o fluxo de refugiados, para os quais os outros partidos não têm respostas. O cientista político Jürgen Falter advertiu contra a reação excessivamente dramática da entrada da AfD no parlamento. Longe de ser um “motivo de preocupação”, representava “uma normalização da política alemã após a nossa história”.

O repúdio dos partidos do establishment político em relação às políticas de extrema direita da AfD foi desde o início hipócrita. O caso do professor Jörg Baberowski, da Universidade de Humboldt de Berlim, é um exemplo dessa reação. Com sua agitação anti-imigrante e tendo minimizado os crimes do regime nazista, Baberowski abriu o caminho para a AfD, tendo recebido apoio unânime dos partidos do establishment político e da mídia quando o Sozialistische Gleichheitspartei (SGP, Partido Socialista pela Igualdade – Alemanha) o criticou publicamente. O SPD, que tem a presidente da Universidade de Humboldt Sabine Kunst como principal membro, e o partido A Esquerda desempenharam um papel proeminente na defesa de Baberowski. Mesmo quando um tribunal confirmou que Baberowski poderia ser descrito como um extremista de direita, eles continuaram a apoiá-lo.

O crescimento da AfD é o resultado da guinada à direita de toda a classe dominante, que está respondendo à crise capitalista global e ao aumento das tensões internas e externas com o retorno às suas tradições mais desprezíveis. Na década de 1930, associações empresariais, militares, políticos burgueses e acadêmicos reagiram à intensificação da luta de classes apoiando Hitler e sua nomeação como chanceler.

Isso deve ser tomado como um sério aviso pela classe trabalhadora. Nenhum dos partidos do establishment político, muito menos o SPD e o partido A Esquerda, estão dispostos ou são capazes de enfrentar os extremistas de direita.

Processos semelhantes estão ocorrendo em outros países europeus. Na França, a candidata de extrema-direita da Frente Nacional, Marine Le Pen, chegou ao segundo turno das eleições presidenciais. Na Áustria, a participação do Partido da Liberdade (FPÖ), de extrema-direita, no governo após as eleições de Outubro é vista como quase certa, uma vez que os social democratas e os conservadores estão preparados para incluí-lo na coalizão que assumirá o governo.

O Sozialistische Gleichheitspartei (SGP, Partido Socialista pela Igualdade – Alemanha) é o único partido que participou da eleição federal com uma plataforma de esquerda e socialista. “Com suas políticas de direita, o SPD, o partido A Esquerda e o Partido Verde abrem caminho para o crescimento do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD)”, advertiu a declaração do SGP para as eleições. “Esse partido de extrema-direita pode se colocar como uma força de oposição apenas porque nenhum partido de ‘esquerda’ do establishment político se opõe à classe dominante com uma perspectiva socialista.

A ascensão dos extremistas de direita só pode ser interrompida através da construção de um partido socialista que una os trabalhadores de todo o mundo na luta contra o nacionalismo, a desigualdade social e a guerra. Esse partido é o SGP e o Comitê Internacional da Quarta Internacional.