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Trump para o devastado Porto Rico: é preciso pagar Wall Street!

Bill Van Auken
7 de novembro de 2017

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Publicado originalmente em 27 de Setembro de 2017

Porto Rico, o território colonial dos EUA, foi devastado por um desastre que trouxe a sua população de 3,5 milhões de habitantes uma catástrofe humanitária total.

Grande parte da ilha parece ter sido atingida por uma bomba atômica. A rede elétrica, já frágil, foi em grande parte destruída, deixando milhões literalmente no escuro e sem energia para ares-condicionados ou mesmo ventiladores, enquanto Porto Rico enfrenta temperaturas de 32°C e alta umidade.

Se o número oficial de mortos permanece em 16, não há dúvidas de que muitas outras fatalidades não foram contadas, e o risco é que muitas outras pessoas, particularmente entre os idosos e doentes, alguns deles presos em apartamentos de grande altura ou pequenos condomínios isolados de auxílio, percam suas vidas.

A prefeita de San Juan, Carmen Yulin Cruz, disse à imprensa: “O que acontece lá fora é a devastação total. Aniquilação total. Pessoas literalmente ofegantes, sem ar” em meio ao calor impiedoso. Ela falou sobre pessoas sendo tiradas de suas casas em condições “próximas à morte,” incluindo pacientes de hemodiálise sem tratamento e pessoas cujos tanques de oxigênio estavam esgotados.

Ao menos 60 por cento da população está sem acesso a água limpa, e a comida é escassa. Os hospitais relatam que estão a poucos dias do fim de seus estoques de remédios, suprimentos essenciais e combustível para abastecer geradores. O lixo não está sendo recolhido, enquanto muitas ruas ainda estão inundadas. As condições estão cada vez mais propícias para surtos de doenças mortais, incluindo a cólera.

Ao menos 15 mil pessoas se refugiaram em abrigos, enquanto muitas dezenas, se não centenas de milhares mais estão acampadas em casas deixadas em ruínas e sem tetos pelos ventos de 250 km por hora do furacão Maria. Enquanto isso, cerca de 70 mil porto-riquenhos ainda estão sob risco de um possível colapso da represa de Guajataca, o qual destruiria vilas e povoados inteiros.

Os serviços de celular foram destruídos para três quartos da população. A agricultura da região foi devastada com 80 por cento dos cultivos destruídos.

As descrições das condições em Porto Rico como “apocalípticas” são tudo menos hipérboles.

Como em todos os “desastres naturais” desse tipo, o furacão Maria expôs a opressão social, pobreza e desigualdade profundas que existiam muito antes que a tempestade atingisse um território em que a taxa de pobreza está próxima dos 50 por cento, e o desemprego dos 12 porcento.

“Nós não vimos nenhuma ajuda. Ninguém colocou-se a perguntar o que precisamos ou esse tipo de coisa,” disse à Reuters Maria Gonzales, 74, no distrito Santurce de San Juan. Apontando para Condado, a área turística de hotéis e restaurantes da capital porto-riquenha, ela acrescentou: “Há bastante eletricidade lá, mas não há nenhuma nas áreas pobres.”

Cerca de uma semana após o furacão Maria atingir a ilha com toda a força de uma tempestade próxima à categoria 5, o presidente dos EUA, Donald Trump, fez seu primeiro reconhecimento público do desastre com um tuíte na segunda à noite. “O Texas e a Flórida estão indo muito bem, mas Porto Rico, que já estava sofrendo com uma infraestrutura danificada e uma dívida enorme, está com problemas profundos,” Trump tuitou. “Grande parte da ilha foi destruída, com bilhões de dólares… em dívidas com Wall Street e os bancos que, infelizmente, precisam ser encarados.”

A combinação de ignorância e arrogância contida nessa declaração é produto não apenas da perspectiva social fascistóide e patológica de Donald Trump, mas sim uma expressão da negligência criminosa, do parasitismo e do caráter predatório de todo um sistema social. A intenção aparente de Trump seria contrastar o Texas e a Flórida - ambos “indo muito bem” - com Porto Rico, o qual ele sugere que seja responsável pela catástrofe que se abateu sobre si por causa de sua situação de devedor falido dos bancos de Wall Street.

A realidade é que grandes partes das populações de Houston e da Flórida, a classe trabalhadora e os pobres, não vão “muito bem”, tendo perdido suas casas, seus carros e, em alguns casos, seus empregos, e estão lutando para obter os meios para viver.

Quanto à dívida de 73 bilhões de dólares de Porto Rico - quase o mesmo que é agora estimado em danos causados pelo furacão Maria - ela é o legado de mais de um século de colonialismo que remonta à guerra Hispano-Americana de 1898.

O assim chamado “Estado Livremente Associado” de Porto Rico (estabelecido em 1952 depois da supressão brutal de uma revolta nacionalista) supostamente deu aos porto-riquenhos o auto-governo local assim como a cidadania americana. Esta foi uma cidadania de segunda classe no máximo, no entanto, sem representação no Congresso ou o direito a votar nas eleições presidenciais.

Se naquela época Washington supervisionou o desenvolvimento, em sua “colônia perfumada”, da manufatura, principalmente de produtos farmacêuticos, têxteis, petroquímicos e eletrônicos, por meio de isenções fiscais e trabalho com baixos salários, essas medidas foram depois rescindidas quando plataformas de trabalho mais baratas tornaram-se disponíveis para o capital americano na Ásia e em outros lugares.

O auto-governo local foi abolido na prática com a criação de um Conselho de Supervisão Fiscal (CSF) apontado pelos EUA, o qual tem poder superior sobre o orçamento do território e tem a missão de impor medidas de austeridade com o objetivo de manter em dia os pagamentos aos acionistas de Wall Street e aos fundos de investimento predatórios que compraram títulos da dívida do desesperado Porto Rico.

Essa é a principal preocupação de Trump - que sangue seja espremido da rocha de uma ilha lançada um século para trás em termos de seu desenvolvimento econômico e condições sociais.

A vergonhosa incapacidade do governo dos EUA de prover auxílio adequado ao povo de Porto Rico é impulsionada por considerações sobre os lucros e interesses de banqueiros executivos bilionários de fundos de investimento. Eles já estão calculando como a devastação do furacão Maria pode ser explorada através da privatização a qualquer custo da infraestrutura pública e da extração de ainda mais super-lucros da colônia caribenha dos EUA.

Trump tentou, de forma idiota, esquivar-se de sua incapacidade de prover ajuda adequada afirmando - falsamente - que Porto Rico está “no meio de um oceano muito, muito grande.”

Ninguém pode afirmar dignamente que se Porto Rico fosse alvo de uma invasão - como o Iraque em 2003 - o Pentágono não teria a esta altura aberto seus portos e restabelecida a operação de seu aeroporto. Neste momento, suprimentos de emergência coletados por trabalhadores de Porto Rico e dos EUA permanecem em armazéns e docas em Miami e outros lugares porque o incentivo para ajudar as pessoas da ilha não está em nenhum lugar próximo daquele que impulsiona as guerras de agressão dos EUA pelo globo.

A única coisa que os EUA puderam fazer de forma eficiente foi enviar tropas e policiais para a ilha com o objetivo de suprimir a revolta social.

O desastre em Porto Rico, como aqueles em Houston e na Flórida que o precederam, tornou muito claro que nem a recuperação, e muito menos a proteção em relação a desastres devastadores como aqueles trazidos pelos furacões Harvey, Irma e Maria pode ser alcançada sem um ataque frontal às amarras exercidas pela oligarquia financeira dominante sobre a riqueza social e as forças produtivas da sociedade.

É a classe trabalhadora de Porto Rico, unida aos trabalhadores nos EUA e internacionalmente, que precisa alcançar essa tarefa através da luta revolucionária para reorganizar a sociedade sobre os fundamentos da propriedade socialista dos meios de produção e recursos mundiais.