Mesmo enquanto a horrível destruição causada pelos furacões Harvey e Irma ainda está sendo contabilizada, o establishment político dos EUA move-se rapidamente para sua principal atividade: uma transferência de recursos massiva para a elite financeira e empresarial.
Na terça-feira, a contagem oficial dos mortos pelo furacão Irma aumentou para 12 na Flórida, além dos 37 mortos no Caribe pelo Irma e pelo menos 71 mortos no Texas pelo furacão Harvey. Até terça-feira, dois terços da Flórida, ou cerca de sete milhões de lares, estavam sem eletricidade, e muitos não verão a energia restaurada por semanas - um produto da negligência da infraestrutura social que dura décadas.
Em Flórida Keys, que foi atingida pela força total de um furacão categoria 4, 25 por cento dos lares estão completamente destruídos e outros 65 por cento estão gravemente danificados. Cidades da Flórida de Miami a Jacksonville experimentaram inundações recordes. A maioria dos trabalhadores tanto na Flórida quanto no Texas não tem seguro contra inundações e terá que tentar reconstruir seus recursos usando a escassa ajuda do governo, principalmente sob a forma de empréstimos.
A AccuWeather prevê que o custo combinado das duas tempestades poderá subir para 290 bilhões de dólares, ou 1,5 por cento do valor total de bens produzidos e serviços oferecidos nos Estados Unidos em um ano inteiro. Os furacões terão um impacto significativo na economia dos EUA, liquidando todo o crescimento antecipado entre agosto e o fim do ano.
Em meio à destruição, no entanto, os mercados de ações dos EUA estão em alta - subindo significativamente tanto na segunda-feira quanto na terça-feira. O motivo é evidente: a elite dominante está lambendo seus talheres coletivos com a perspectiva de um grande corte dos impostos empresariais e individuais para os ricos.
Durante o fim de semana, mesmo enquanto o Irma tocava a superfície da Flórida, Trump aproveitou o momento para pressionar por “cortes de impostos dramáticos e reforma tributária.” Com “o que aconteceu com o furacão,” ele disse, “eu pedirei por uma aceleração.” O secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, o ex-banqueiro do Goldman Sachs e ex-administrador de fundos de investimento (com fortuna de 300 milhões de dólares), disse na terça-feira que a Casa Branca está “super focada” nos cortes de impostos, e que a administração está considerando antecipar esses cortes para primeiro de janeiro para oferecer “um grande benefício para a economia” - isto é, para Wall Street.
A resposta no establishment político tem sido entusiasmada, de modo geral. Na noite passada, Trump ofereceu um jantar para senadores dos partidos Democrata e Republicano para discutir “reforma tributária.” Os democratas presentes incluíam os senadores Joe Donnelly (Indiana), Joe Manchin (Virgínia Ocidental) e Heidi Heitkamp (Dakota do Norte). Estes últimos acompanharam Trump no Força Aérea Um na semana passada, quando ele viajou para Dakota do Norte para discursar pedindo cortes de impostos para as grandes empresas e os ricos.
A imprensa, que apresentou a resposta criminosamente incompetente aos furacões como um modelo de boa governança, está seguindo suas instruções. O New York Times, a voz na imprensa do establishment do Partido Democrata dedicou toda a sua seção editorial na terça-feira a um editorial único: “Quer um fazer um acordo, sr. Trump?”
O Times citou o entendimento entre democratas e a administração Trump na última semana sobre uma medida de ajuda federal irrisória relacionada ao furacão Harvey ligada a uma extensão de três meses dos limites de endividamento federal e financiamento do governo. Mesmo que um acordo mais amplo possa não estar em vista, os editores escreveram, “É tentador… imaginar o que o sr. Trump poderia conquistar se pudesse enxergar além de vitórias momentâneas, táticas.”
A mais significativa das propostas do Times é em relação à “reforma tributária.” O editorial pede um “corte modesto nos impostos das grandes empresas,” uma maquiagem da proposta - repetidamente feita nas propostas orçamentárias da Casa Branca sob Obama - de reduzir impostos para grandes empresas em quase um terço, da taxa atual de 35 por cento para 25 por cento.
Como a administração Trump, o Times envolve essa proposta na retórica padrão de ajudar a “classe média.” No entanto, o objetivo principal é o mesmo: uma enorme transferência de riqueza para a elite dominante.
A disposição dos democratas para firmar um acordo com Trump não é nova. A sua primeira resposta à eleição de Trump foi de “trabalhar com” a administração (uma promessa repetida por todos, de Hillary Clinton a Bernie Sanders e Elizabeth Warren). Foi Obama que proclamou que a eleição era uma “escaramuça intra-muros” na qual todos os participantes estavam “no mesmo time.”
Nos cerca de oito meses desde a posse de Trump, as críticas dos democratas centraram-se não nas políticas reacionárias de Trump e seu secretariado de bilionários, mas em política externa. Depois do elogio feito por Trump aos neo-nazistas envolvidos na violência de Charlottesville, os democratas comemoraram a reestruturação da administração para colocá-la mais firmemente sob o controle dos generais que a dominam - acima de tudo, o novo chefe de gabinete, o general aposentado John Kelly. De fato, notavelmente ausente nas propostas do Times para Trump está qualquer referência à política externa, mesmo que o mundo oscile para cada vez mais perto de uma guerra nuclear catastrófica.
Divisões no interior da classe dominante permanecem. No entanto, se há algo em que o establishment político pode concordar, é que o custo dos furacões - e da crise econômica e social mais ampla nos Estados Unidos da qual ela é uma parte - não será paga pelos responsáveis por ele: a elite empresarial e financeira. A pilhagem da classe trabalhadora que dura décadas deve continuar, e a enorme bolha das ações deve ser inflada com dinheiro novo.
Além das considerações financeiras imediatas que motivam os movimentos dos democratas para fortalecer a administração Trump está uma consideração mais estratégica. Sua preocupação sempre foi que a hostilidade popular a Trump pudesse desencadear agitações sociais, nas quais a classe trabalhadora apresentaria seu próprio programa. Daí a promoção de uma série de questões para desviar as atenções, da campanha anti-Rússia à insistência de que os Estados Unidos estão mergulhados na animosidade racial.
Mesmo antes de as águas das inundações recuarem, a elite dominante está exigindo que os trabalhadores paguem pela série de desastres criada pelo capitalismo. A classe trabalhadora, por sua vez, precisa responder com igual intransigência e determinação. Ela deve exigir uma redistribuição massiva dos recursos dos super-ricos para recuperar todos os trabalhadores arruinados pelas inundações. As grandes empresas e bancos devem ser convertidos em empresas públicas, e a economia reorganizada sobre a base de um planejamento científico e racional, para oferecer habitação segura, o desenvolvimento de infraestrutura, e controle avançado de inundações para garantir que tais desastres nunca mais aconteçam.
A resposta do establishment político aos furacões Harvey e Irma confirmam a análise feita pelo WSWS em junho, de que “a luta da classe trabalhadora contra Trump e tudo que ele representa levantará cada vez mais urgentemente a necessidade de um movimento político de massas, independente de e em oposição tanto ao Partido Republicano quanto o Democrata, contra o sistema capitalista e o seu Estado.” A construção de uma liderança para guiar esse movimento, o Partido Socialista pela Igualdade, é a tarefa política básica.