segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

TIAGO IORC

Nascido há 29 anos em Brasília e radicado em Curitiba, Tiago Iorc(zeski) pode ser considerado londrino de coração. Não apenas porque residiu na capital britânica por 5 anos, mas também por sua música ser absolutamente impregnada dos maneirismos típicos do indie pop rock feito nas terras de 'Sua Majestade'. E no mais perfeito inglês.
Em 2007, já era figura carimbada em Curitiba, em muito devido ao sucesso cult alcançado por 'Scared', vencedora do tradicional festival da PUC-PR 'Revele Seu Talento', quando apresentou-se acompanhado de orquestra. Daí, caiu nas graças dos produtores das trilhas sonoras das novelas da Rede Globo, emplacando de imediato a pequena joia 'Nothing But A Song', seguida de 'Blame', 'Gave Me A Name', 'Fine' e a já citada 'Scared', além de uma belíssima versão para 'My Girl'. Por sinal, covers são um ponto forte deste jovem e multifacetado talento já que, à invejável mão autoral muito bem exemplificada nas faixas já enumeradas acima e em muitas outras, com destaque para 'No One There', 'Story Of A Man' (aqui conheci seu trabalho ainda achando tratar-se de um jovem talento do indie folk britânico), 'Unordinary Gold' e 'Patron', Iorc é capaz de dar novas e sensibilíssimas roupagens a pepitas como 'Ticket To Ride' e, até mesmo, transformar 'Morena', da Los Hermanos e sua primeira experiência em sua língua pátria, em algo novo sem que fosse necessário mexer radicalmente na estrutura da composição.
Hoje, já com 3 álbuns nas costas -o compilatório 'Let Yourself In', o experimental e radioheadiano 'Umbilical' e o um tanto derivativo 'Zeski', lançado em meados de 2013, ainda assim com alguns bons momentos, apesar de algumas poucas bobajadas como 'Música Inédita', lamentável dueto com a superestimada Maria Gadú- e uma carreira seguindo a passos firmes tanto no mercado interno quanto no exterior (chegou ao 11º lugar da parada japonesa com 'Nothing But A Song'), para onde excursiona com regularidade, Tiago Iorc tem talento de sobra e inconformismo artístico na medida certa para seguir conquistando corações e mentes. Basta manter a integridade musical demonstrada até o momento.




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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

HAKEN


Mais uma indicação de meu spacey brodim e assessor de música estranha para gente esquisita, a londrina Haken é uma belíssima surpresa no progressive rock. Inicialmente um projeto de Rick Henshall (tecladista/guitarrista da prog metal To-Mera) e dois de seus velhos amigos de escola, Ross Jennings (vocal) e Matt Marshall (guitarra), foi ganhando ares de prioridade já com a adição do tecladista Peter Jones, do baterista Raymond Hearne e de seu companheiro de To-Mera e guitarrista de origem, Thom MacLean, para o baixo. Com esta formação, lançam uma demo, 'Enter The 5th Dimension' (2008), apenas alguns meses após sua fundação e seus shows em pequenos clubs começam a sedimentar um bom público cativo.
Com as saídas de Jones e Marshall ainda em 2008 para seguirem outras carreiras, Diego Trejeida e Charlie Griffiths assumiram suas posições já com as difíceis tarefas de emendar um tour com a King's X e iniciar as sessões de 'Aquarius', seu primeiro álbum, em inícios de 2010. A excelente repercussão provocada por seu mix de old school symphonic prog com uma pegada mais pesada, muito próxima do prog metal (alguns críticos costumam mesmo classificá-los assim mas eu discordo) de bandas como Opeth, levou-os aos melhores festivais europeus e a aproveitar uma boa e prolífica fase criativa para a gravação do ainda mais surpreendente 'Visions' já no ano seguinte. As efusivas críticas - algumas classificando-o como a obra definitiva do progressivo em 2011 - aumentavam à mesma proporção que as turnês e a admiração entusiasmada de progheads.
O que já era ótimo não poderia ficar melhor? Claro que sim! E a confirmação veio em finais de 2013, com o lançamento de 'The Mountain', considerado por muitos - entre estes, Jordan Rudess e Mike Portnoy - uma pequena obra-prima do progressivo contemporâneo. Plenamente justificadas todas as loas auferidas a este trabalho, com pérolas que já nasceram clássicas, casos de 'Pareidolia' e minha prediletaça 'Cockroach King', agora com as influências inteligentemente liquidificadas e expandidas ad infinitum, com a incorporação saudável de elementos indie de bandas como dredg, Muse e Radiohead e inevitáveis citações estilísticas ao grande nome do prog na atualidade, Steven Wilson e seu Porcupine Tree. Definitivamente, um daqueles trabalhos dignos de cabeceira de uma banda, tudo leva a crer, ainda com muito a apresentar. Lamentavelmente, MacLean resolveu pedir o boné às vésperas do início da turnê de lançamento e não tem substituto anunciado até o momento.
Ainda assim, e pelo fato de que este é um ano que se promete grande para o gênero, a Haken é uma excelente aposta, quase uma barbada.




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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

FORA DO EIXO VI: YOU CAN'T WIN, CHARLIE BROWN / PORTUGAL

Há longos 3 anos fiz minha última postagem na sessão 'Fora do Eixo', normalmente dedicada às expressões musicais contemporâneas (notadamente com base no rock e pop) fora da rota EUA/UK bem como de  outros países já com larga tradição nos gêneros. Na ocasião, a escolhida foi a Ananga Ranga, interessantíssima banda portuguesa de prog/fusion. E, por coincidência, para o retorno desta sessão, novamente escolhi uma banda lusitana, me aplicada há alguns poucos anos por meu spacey brodim e emérito especialista em música estranha para gente esquisita, Maddy Lee. O surpreendente nome, baseado em um dos mais famosos episódios de The Charlie Brown and Peanuts Show, só não o é mais que o som que estes 6 malucos arrancam de suas gargantas e instrumentos diversos. De forte acento folk, mas nunca deixando-se limitar por este gênero, Afonso Cabral, Salvador Menezes, Luís Costa, David Santos, Tomás Franco de Sousa e João Gil tecem, desde 2009, um belo amálgama de influências, que vão de Nick Drake e Bon Iver a Fleet Foxes, sem deixar de fora Pink Floyd, Beach Boys, Radiohead e um toque de eletrônico minimalista, tão em evidência nesses dias.
Esta inusitada mistura faz da You Can't Win, Charlie Brown responsável por uma das mais agradáveis sensações musicais que senti nos últimos tempos. E seu último trabalho, 'Diffraction/Refraction', recém saído do forno, a credencia a voos mais altos,  muito além do circuito britânico, onde já são muito queridos e frequentemente requisitados para apresentações em alguns dos mais prestigiosos festivais e clubs.




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segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

SHARON JONES & THE DAP-KINGS-GIVE THE PEOPLE WHAT THEY WANT (2014)


Mais um petardo lançado por Sharon Jones e seus The Dap-Kings. E a 'Clementina de Jesus do funky/soul', como carinhosamente costumo me referir a essa diva do r&b devido ao reconhecimento tardio de seu enorme talento, uma vez mais, não deixa pedra sobre pedra. Mesmo ainda sob tratamento quimioterápico para um câncer no pâncreas, o que adiou por alguns meses o lançamento deste 'Give The People What They Want', seu desempenho vocal em pancadas do porte de 'Retreat!', 'We Get Along', 'Long Time, Wrong Time' e 'Slow Down, Love' é estupendo.
Obrigatório!




SHARON JONES & THE DAP-KINGS-SOUL TIME! (2011) / Re-postagem

Acho que, a esta altura, a negona de 54 primaveras eternizadas na bela aquarela aí em cima já não é novidade para ninguém. Na verdade, acho que tornou-se uma referência no funky/soul à moda antiga, atualmente tão em evidência. Com sua Dap-Kings, magistralmente liderada pelo baixista/compositor/produtor Bosco Mann, Mrs. Jones é o bastião da integridade em um gênero que agoniza mas não morre. Transmuta-se, nem sempre para o bem, e assim sustenta-se ao longo de décadas. E foi justamente para comemorar o 10º aniversário da Daptone Rec., selo já legendário pelo excelente trabalho realizado junto aos amantes do r&b de raiz, que a ideia de registrar em estúdio algumas das pérolas inéditas mais incendiárias desta autêntica 'Clementina de Jesus do soul' e sua estupenda banda em suas apresentações veio à tona. E o resultado é um dos mais belos e despojados trabalhos já lançados por estes baluartes do funky/soul em sua melhor definição. Simplesmente, obrigatório!
Entusiasmei-me tanto que fiz 2 mix diferentes para a jammy 'Genuine', em que uno suas 2 partes, e os incluí no arquivo. E se você esteve perdido em outra galáxia pelos últimos anos e não faz a menor ideia de quem estou falando e sequer soube que ela deu um showzaço em julho em Sampa, mas baixou este e gostou do que ouviu, dê uma passada rápida por aqui e conheça o restante. Não há como se arrepender.


SHARON JONES & THE DAP-KINGS / Re-postagem

Foram necessários quase 3 anos de espera por este trabalho da mais (velha?) nova diva da soul music mas valeu muitíssimo a pena. Por sinal, antes de mais nada, devo esclarecer que o 'velha' refere-se apenas ao fato de Jones ser uma veterana do cenário funky/soul, seja atuando em bandas as mais diversas ou como backing vocal em alguns importantes trabalhos do gênero. E foi exatamente assim que esta pérola negra de marcante presença em cima de um palco acabou por ser descoberta pelo baixista, compositor, produtor e empresário Gabriel Roth (aka Bosco Mann) quando convidada para um trabalho com a respeitada Soul Provider, embrião da The Dap-Kings, e acabou por gravar o vocal principal para 2 faixas que tornaram-se os únicos, mesmo que modestos, hits da banda ainda em 1997 pelo selo de Roth e Phill Lehman -Desco Recs..
Sendo Roth um purista, as desavenças com Lehman tornaram-se irremediáveis e a saída foi a criação de um novo selo. E assim, em 2000, a Daptone Recs. entra no circuito retomando um modelo operacional  e artístico muito próximo ao dos grandes selos de música negra dos 60/70, tais como Motown, Stax, etc: manter uma banda própria para servir de base para todos os seus contratados -sempre na linha soul/funky retro- e muito apropriadamente denominados The Dap-Kings. Para completar sua jogada magistral, Roth acrescenta o calor da voz daquela negona que tanto lhe havia impressionado alguns anos antes e descola um contrato como banda residente de um club na Espanha, fornecendo, assim, subsídio e unidade suficientes para a gravação de 'Dap-Dippin' With...' ainda em 2002. O boca-a-boca fez o resto e New York ficou pequena para a demanda que se apresentava. Iniciou-se, assim, uma maratona de shows por todo o mundo e somente em 2005 conseguem lançar 'Naturally', uma trauletada do mais puro funky/soul que colocou Sharon Jones e seus Kings definitivamente na rota do sucesso (recentemente, a magistral versão para 'This Land Is Your Land' de Woody Guthrie foi incluída na OST do excelente 'Up In The Air' -aqui, 'O Amor Está No Ar') e em 2006 a The Dap-Kings é intimada pela inglesa porra louca e talentosíssima Amy Winehouse a participar de seu aclamado disco 'Back To Black' e também fazer toda a perna norte-americana de sua turnê.
Em 2007 vem à tona '100 Days, 100 Nights', uma extensão do belo trabalho realizado em seu predecessor, acertadamente lançado para manter o crescente frisson em torno da negona e sua realeza no pico. Objetivo alcançado, hora de uma pequena pausa para descansar, compor, colher material e refrescar as ideias para um novo trabalho.

E este trabalho, 'I Learned The Hard Way', recém-saído do forno, chegou para alavancar de vez a carreira desta old fashioned black diva e seu nobre octeto -mas que pode chegar a 12 integrantes quando ao vivo- investindo um pouco mais na soul music mas sem abandonar o r&b em seu estado mais bruto e já emplacando a grudenta faixa-título.
É black music da melhor qualidade feita por quem ama o gênero comme il faut, valendo-se apenas de talento e equipamentos e instrumental vintage para executá-lo a contento. E soul, muuuiiito soul!
Portanto, aceitem um conselho: baixem estes cds, afastem os móveis da sala e.......

Let's Go Paaaaaaaarrrty!!!!





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