Resisti o quanto pude mas o desejo de uma vez mais abrir minha humilde residência a Jeff Beck, digo, Deus, por aqui foi mais forte. Como resistir a uma guitarra que grita, chora, mente, ora, dissimula, sussurra, goza, silencia-se, esmurra,...e tudo isso com a mais precisa das dinâmicas e valendo-se de timbres perfeitos e fraseados surpreendentes? Impossível! Com Jeff Beck julgo-me sempre diante de uma verdadeira entidade.
O disco em si, a despeito da bela capa, não tem a excelência de seus mais célebres registros. Mas se pensarmos que este novo trabalho é o tão ansiosamente aguardado registro em estúdio de seu retorno a uma sonoridade mais orgânica, em muito graças a uma cozinha -Tal Wilkenfeld nas 4 cordas e Vinnie Colaiutta esfolando sua Gretsch Signature- demolidora, só temos motivos para comemorações. Sim, porque se dependesse de Jason Rebello -putaquelosparió! que vistes neste herege que o julgais tão digno de perfilar em seu exército, ó Senhor!-, um dos tecladistas com o estilo mais sem graça que já ouvi, a empastelação seria total.
É claro que a velha fórmula utilizada para aproximar o cracaço Carlos Santana dos braços do povo foi fartamente utilizada aqui, com a presença da exuberante voz de minha diva máxima Joss Stone em duas faixas arrasadoras -embora nada supere a versão definitiva para 'I Put A Spell On You' pela Creedence Clearwater Revival- e ainda a rockabilly avant-garde irlandesa Imelda May arrebentando em 'Lilac Wine' e a novata e chatinha para dedéu Olivia Safe, mas sem os exageros cometidos pelo chicano.
E o que dizer de 'Hammerhead' e 'Serene'? Se a primeira é uma síntese perfeita de tudo que o espetacular 'Guitar Shop'(89) tinha de melhor, a outra parece saída de um take perdido de 'There & Beck' de 80. E o cara ainda manda a versão acachapante de 'Somewhere Over The Rainbow' com que costuma encerrar seus set-lists nos últimos anos.
Tá esperando o quê? Baixe, ouça e...corra para adquirir o seu original! O meu já está a caminho!
RS
MU