Xenofobia cresce 633% no País, mas nem 1% chega à Justiça
O número de casos de xenofobia no Brasil teve um aumento gritante no ano de 2015. O salto foi de 633% em relação ao ano anterior, de acordo com dados da Secretaria Especial de Direitos Humanos. A chegada de novos refugiados ao País em meio a uma crise mundial teria provocado o crescimento da intolerância. A disparada das denúncias não é acompanhada pela Justiça: menos de 1% dos casos viram processos. O medo e o desconhecimento das vítimas tornam a xenofobia um crime silencioso no dia a dia.
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"Haitianos, vocês roubam nossos empregos!". Essa foi a frase que Hudson Prohete, de 28 anos, ouviu antes de ser baleado na frente da Igreja Missão da Paz, em São Paulo. Quase um ano depois, nenhuma suspeito foi encontrado e o processo na Justiça não foi pra frente. Prohete só tem uma certeza: quer ir embora do Brasil o mais rápido possível.
Maria Faguagua, de 41 anos, era considerada uma traidora de Cuba. Jornalista, antropóloga e historiadora, era correspondente de diversos jornais internacionais e tentou refundar o Movimento Negro de Cuba. O regime dos Castros ameaçou Maria de morte. Ela decidiu fugir para o Brasil e hoje tenta contar suas histórias.
Charlyane Silva de Souza é uma brasileira convertida ao islã. Desde que se tornou mulçumana, enfrentou o preconceito contra a sua religião diversas vezes. Na prova da OAB foi proibida de usar seu hijab durante o exame. Na rua, risinhos, olhares e gritos de "mulher bomba". Mas Charlyane aprendeu a não ser silenciada.
Em um dia qualquer, sua rotina mais uma vez comparece: acorda, sai da cama quente, toma banho, se veste, toma o café da manhã, escova os dentes, vai para o trabalho (ou o estudo), volta para casa, janta ou faz um lanche, se dedica aos seus hobbies, escova os dentes, vai dormir.
Ninguém sabe de nada ainda. Há quem diga que sim, quem diga que não, e quem pense que não havia nada para ser suspenso ou negociado. No entanto, é impossível negar que a notícia de que o governo do presidente interino Michel Temer suspendeu as negociações com a União Europeia para trazer 100 mil refugiados sírios para o Brasil preocupou muita gente.
A violência é mais comum que o pão. E, no meio disso, o terrorismo de cada dia, armado ou psicológico, organizado ou não, marginal ou estatal cresce. Sua consequência? A triste realidade do crescente número de pessoas que procura pelo mundo um lugar de refúgio. Pessoas que desejam não existir em um país, mas renascer com direitos que lhes foram tomados em outro.