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Construindo a Revolução: arte e arquitetura
soviética entre 1915 e 1935
Por Paul Mitchell
20 de janeiro de 2012
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com o autor
Real Academia de Artes de Londres, até 22 de janeiro
e na Martin-Gropius-Bau, em Berlim, de 5 de abril a 9 de julho
de 2012.
Londres e Berlim são os destinos mais recentes da turnê
de 6 anos de uma exposição de trabalhos de artistas,
arquitetos, engenheiros e fotógrafos que se inspiraram
na Revolução Russa de 1917.
A exposição contrasta imagens recentes de construções
modernistas feitas na Rússia depois da Revolução,
feitas pelo fotógrafo Richard Pare, com fotografias antigas
dos arquivos do Museu Shchusev de Arquitetura de Moscou. Também
são exibidas pinturas do acervo George Costakis do Museu
de Arte Contemporânea de Thessaloniki, da Grécia.
A Revolução de Outubro foi o produto de uma luta
internacional pelos princípios e ideais mais nobres que
durou décadas, e incluía a luta também nos
fronts artístico e cultural. Seções da intelligentsia
incluindo artistas e arquitetos reagiram à cultura
burguesa moribunda de antes da guerra, mas foi só na Rússia
que a vanguarda foi "salva" antes de se tornar oficialmente
reconhecida e politicamente inofensiva.
Havia uma onda de agrupamentos vigorosos, "genuinamente
revolucionários". Porém, os bolcheviques rejeitaram
os esforços de alguns de se tornarem representantes oficiais
da "Arte Comunista". Leon Trotsky também criticou
aquele que, rejeitando o passado artístico e as realidades
da vida soviética, buscavam transformar "arte em vida"
- liquidá-la na vida diária - em vez de ajudar uma
classe trabalhadora empobrecida e culturalmente retrógrada
a dominar as conquistas anteriores, absorvê-las e, assim,
superá-las.
A revolução fundamentou-se em uma perspective
mundial, na concepção de que as forças produtivas
haviam crescido para além do sistema de Estado-nação
e apenas os recursos da economia mundial poderiam providenciar
as bases necessárias para uma sociedade fundada sobre a
igualdade social. No entanto, no final dos anos 1920, a derrota
da classe trabalhadora mundialmente e o isolamento da União
Soviética havia levado ao desenvolvimento de uma burocracia,
dirigida por Josef Stálin. A atmosfera social que encorajou
o surgimento de uma intelligentsia marxista científica
e a experimentação ousada foi trucidada e a doutrina
antiartística e antimarxista do realismo socialista foi
imposta.
POPOVA, Liubov. Arquitetura da pintura. 1918-1919. Museu
de Arte Contemporânea de Thessaloniki, acervo G. Costakis,
Grécia.
É duvidoso que o trabalho de artistas de vanguarda como
Liubov Popova, Ivan Kliun, El Lissitzky e Gustav Klutsis, muitos
dos quais sucumbiriam moral ou fisicamente ao stalinismo, tivesse
sobrevivido não fosse por George Costakis. Um autodidata
das artes, Costakis começou a trabalhar como motorista
na embaixada grega de Moscou em 1930 e eventualmente reuniu a
maior coleção de arte soviética de vanguarda.
Costakis explicou: "Era muito difícil na época
encontrar pinturas de Popova. Alguém me apresentou a Páviel
Popov, seu irmão, que me sugeriu que fosse à casa
de seu filho adotivo. Então eu fui. A primeira coisa que
notei, ao subir as escadas para o segundo andar, foi uma pintura
de Popova em compensado que estava sendo usada para escorar a
tina que eles usavam para lavar suas roupas. Eles me mostraram
vários dos desenhos e pinturas a guache de Popova. De repente,
notei que as janelas estavam cobertas por pinturas de Popova em
compensado. Perguntei se era possível comprar aquelas pinturas
também, mas eles disseram Não, estas não,
vai chover e tudo vai ficar molhado. Traga-nos outro pedaço
de compensado que lhe daremos as pinturas'".
Temos sorte, também, que em meados dos anos 1990, o
fotógrafo Richard Pare embarcou em uma campanha para fotografar
o grande número de construções modernistas
"esquecidas" - fábricas, escolas, universidades,
garagens, clubes operários, torres de rádio, sanatórios
e conjuntos habitacionais - construídos nos anos 1920 e
no começo dos anos 1930. Caindo no que Pare chama de "negligência
maligna" durante a período stalinista, muitos agora
estão ameaçados de demolição para
abrir caminho a empreendimentos capitalistas.
Depois da Revolução, demorou alguns anos para
que a economia exaurida começasse a expandir com a Nova
Política Econômica e tornasse disponíveis
recursos suficientes para projetos de construção.
Um dos primeiros foi a Torre de Rádio Shabolovka,
completada em 1922, apesar de terminar abaixo de metade dos 350
metros planejados, devido à escassez de aço.
SHUKOV, Vladimir. Torre de Rádio Shabolovka. 1922. Fotógrafo
desconhecido. c. 1935. Museu Shchusev de Arquitetura, Moscou.
Materiais e mão de obra especializada ainda estavam
em baixa. Muitas das fotografias do Museu Shchusev mostram canteiros
cheios de cavalos e carroças, camponeses maltrapilhos com
carrinhos de mão primitivos e andaimes bambos de madeira.
As construções dão a impressão de
ser de aço e concreto, mas por detrás da superfície
há madeira, tijolos e reboco.
No entanto, um senso de espaço foi atingido, junto com
um ambiente e comunidade saudáveis, como no Clube Operário
Konstantin Melnikov de 1927 em Moscou. Beleza a inovação
combinaram-se ali com um propósito.
MELNIKOV, Konstantin. Clube Operário Rusakov.
1927. Fotografia de Richarda Pare. 1925. Cortesia de Kicken Berlin.
Por uma década ou mais, abriu-se espaço a uma
fermentação e troca de ideias em meio aos principais
arquitetos e engenheiros do exterior, inclusive Erich Mendelsohn,
da Alemanha, e Le Corbusier, da França, que eram atraídos
pela União Soviética e que trabalharam lado a lado
a seus pares para completar algumas das obras mais inspiradas
e visionárias da época.
Moisei Ginzburg foi um desses personagens. Como judeu ele teve
a educação universitária negada na Rússia
czarista e aprendeu arquitetura em Paris e Milão. De volta
à Rússia, ele tornou-se um mentor do movimento construtivista.
Seu livro, Época e estilo, de 1924, que opunha construção
(tecnologia, funcionalidade) a composição (intuição,
individualismo), transformou-se no manifesto do movimento. Acreditando
que a forma deveria derivar do propósito, os conjuntos
habitacionais, por exemplo, eram pensados para satisfazer as necessidades
do desenvolvimento socialista.
Ao mesmo tempo, Ginzburg era muito consciente da estética
e de que "diversos elementos da forma [...] engendram sensações
de satisfação e insatisfação dentro
de nós".
A maior conquista de Ginzburg foi provavelmente o Conjunto
Habitacional Narkofin, desenhado para os trabalhadores do
Comissariado de Finanças. Pilares elegantes, corredores
largos e enormes janelas de vidro duplo contribuem para aquilo
que Pare descreve como um conjunto de apartamentos de diferentes
tamanhos, restaurante comunitário, creche, lavanderia e
jardim na cobertura "extraordinariamente humanos" e
"intimistas". As fotografias de
Narkomfin tiradas por Pare em 1998 revelam um edifício
extremamente dilapidado, e as fotos mais
recentes mostram que decaiu ainda mais com as disputas que
prosseguem sobre sua posse e seu uso futuro.
A exposição explica como o período criativo
terminou entre 1932 e 1934, uma vez que a burocracia stalinista
reorganizou as associações artísticas a fim
de sufocar qualquer crítica e impor o realismo socialista.
Pare diz: "Você consegue perceber o senso de otimismo
se dissipando das obras", e isso é evidente no Sanatório
Ordjonikidze para Trabalhadores do Comissariado da Indústria
Pesada de Ginsburg, construído entre 1934 e 1937, que ainda
é uma obra extremamente modernista, mas sua experimentação
anterior já está calada, e elementos do estilo imperial
e neoclássico exigidos pelo "realismo socialista"
oficial já começam a se embrenhar na obra.
Em 1937, no I Congresso de Arquitetos Soviéticos, convocado
para confirmar o controle do Estado sobre a arquitetura e para
atacar o "Korbuzianismo" e outras tendências modernistas,
Ginsburg discursou por horas em defesa da independência
dos arquitetos. Porém, quando um anexo ao sanatório
foi construído em 1947, um ano depois da morte de Ginzburg,
mas que ele ajudou a desenhar, Pare diz que "toda a esperança
desapareceu".
"A estrutura inteira é descaracterizada, cheia
de halls e corredores sombrios. Achei impossível de acreditar
que aquilo era obra de Ginzburg, o arquiteto da luz e da transparência",
conclui Pare.
Em seu prefácio ao catálogo da exposição,
o presidente da Academia Real de Arte, o arquiteto Sir Nicholas
Grimshaw, se entusiasma com "os anos heroicos da Rússia
pós-Revolução" e com "atmosfera
daqueles anos extraordinariamente pioneiros", que levaram
a uma "manifestação excepcional" na arquitetura.
Isso parece também revelar uma mudança de sentimento
em relação ao início dos anos 1990, quando
o editor de arte do WSWS, David Walsh, escreveu
a resenha da exposição A grande utopia: a
vanguarda russa e soviética 1915-1932 no museu Guggenheim
de Nova York. Walsh apontou na época como o próprio
título da exposição era sintoma da atitude
dos curadores que tentavam ao máximo retratar o stalinismo
como a continuação inevitável e consequência
natural dos anos iniciais do regime revolucionário. Eles
diziam, acrescentou Walsh, que "qualquer noção
de arte que contribua com a mudança da realidade (ou mesmo
a própria noção da mudança da realidade
de maneira progressista) era utópica" e que "não
havia qualquer conexão entre a Revolução
e a explosão de energia criativa que ocorreu nos anos 1910
e 1920".
Essa mudança, se de fato sustentada, talvez reflita
o fim do triunfalismo que saudou a queda da União Soviética
em 1989 trazido pela crise financeira. Uma entrevista com Richard
Pare feita pelo colaborador do Site de Interligação
Socialista Mundial Tim Tower é um componente central no
catálogo da exposição e, sem dúvida,
ajudou a apontar uma perspectiva. Ela
pode ser lida aqui, assim como a resenha de Tower
da mesma exposição em Madri no verão passado.
(Traduzido por movimentonn.org)
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