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WSWS : Portuguese
EUA ampliam vigilância militar secreta na África
Por David Brown
6 de agosto de 2012
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A administração Obama está a ampliar as
suas operações de inteligência na África
subsaariana, segundo informa uma longa reportagem publicada no
The Washington Post.
O incremento da vigilância faz parte de operações
militares que, embora se espalhem por toda a África sob
o pretexto da "guerra contra o terror", endereçam-se
em boa medida a estorvar as crescentes conexões económicas
chinesas num continente rico em recursos.
O foco da reportagem do The Post devota-se aos programas de
vigilância aérea empregados para recolher informação
de inteligência sobre grupos militantes locais. A grande
maioria destas operações levam-nas a cabo companhias
privadas, que se responsabilizam de fornecer pilotos, operadores
de sensores, analistas de inteligência, mecânicos
e intérpretes.
De acordo com a reportagem, na África instalaram-se
por volta duma dúzia de bases aéreas desde 2007.
Estas bases são pelo geral ampliações de
pequenos campos aéreos que já existiam em diversos
países africanos e usam-se para operar pequenas aeronaves,
ocultas como aviões privados e fornecidas com discretos
equipamentos de vigilância. A permissão para estas
operações habitualmente garante-a o governo local
em troca da partilha da informação de inteligência
recolhida pelos EUA.
O programa tem como alvo um amplo leque de diferentes grupos,
sob o pretexto de combater o terrorismo. Inclui-se uma indefinida
amálgama de independentistas tuaregues e islamistas no
norte do Mali, o Exército de Resistência do Senhor
(ERS) na África Central, e o al-Shabaab na Somália
do Sul. Embora se aduzam preocupações humanitárias
e a ameaça do terrorismo para justificar estas operações,
elas em realidade fazem parte duma nova disputa pela África,
com os Estados Unidos e a Europa a competirem pelos recursos naturais
da zona e buscando minimizar a influência chinesa.
Em particular, a reportagem do The Post cita dous objetivos
de crescente interesse para o exército dos Estados Unidos:
Boko Haram na Nigéria e as operações do Exército
de Resistência do Senhor no Sudão e no Sudão
do Sul. No caso da Nigéria, que fornece arredor de 8 por
cento do petróleo cru dos Estados Unidos, a motivação
económica do "antiterrorismo" fica particularmente
patente.
Mesmo desde o início das operações da
AFRICOM, os EUA estão a preparar planos para uma possível
intervenção militar na Nigéria. Em 2008,
a Academia da Guerra (War College) do exército dos EUA
sediada em Carlisle, Pensilvânia, simulou uma série
de cenários de batalha relativos a possíveis intervenções
da AFRICOM e estimou que seriam precisos 20000 efetivos para controlar
os campos de petróleo do Delta do Níger. Na conferência
da AFRICOM de 18 de fevereiro de 2008, o vice-almirante Robert
T. Moeller afirmou que o primeiro princípio da AFRICOM
era proteger "o livre fluxo de recursos naturais da África
para o mercado mundial".
Apenas um mês depois, o primeiro comandante da AFRICOM,
o general William Ward, declarou que, devido à crescente
dependência estado-unidense do petróleo africano,
o primeiro objectivo das operações sobre o terreno
seria combater o terrorismo. Embora os EUA não tenham intervindo
militarmente, o significado político dos preparativos da
AFRICOM ficou evidente quando milhões de trabalhadores
nigerianos participaram numa greve geral contra a decisão
do presidente Goodluck Jonathan de pôr fim aos subsídios
ao fuel. Jonathan usou uma série de atentados com bomba
reclamados por Boko Haram para instituir a lei marcial e suprimir
o crescente movimento grevista.
No caso do Exército de Resistência do Senhor,
o argumento da "intervenção humanitária"
agacha de forma semelhante objetivos económicos. De acordo
com o The Post, o AFRICOM anda à procura duma base no Sudão
do Sul que tanto contribuiria à caça do líder
do ERS Kony como permitiria uma maior influência dos EUA
no conflito crescente entre o Sudão e o Sudão do
Sul.
No centro do conflito sudanês aparecem os desacordos
quanto às receitas do petróleo. Desde que o Sudão
do Sul obteve a independência em 2011, o país mantém
um conflito contínuo com o Sudão pelo controlo dos
campos de petróleo na região fronteiriça
e as taxas a pagar ao Sudão, cujos oleodutos são
os únicos disponíveis para exportar o petróleo.
Em abril, enquanto o Sudão e o Sudão do Sul se envolviam
em frequentes escaramuças fronteiriças, o presidente
do Sudão do Sul, Slava Kiir, viajou à China com
o intuito de angariar apoios para a construção dum
oleoduto alternativo através do Quénia.
A China é o maior investidor na infraestrutura petrolífera
tanto sudanesa quanto do Sudão do Sul. Através do
aumento da sua presença militar, o governo estado-unidense
espera contrabalançar a influência económica
chinesa. O ano passado, durante a sua viagem pela África,
a Secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton,
declarou: "Não desejamos assistir a um novo colonialismo
na África", em referência à influência
chinesa no continente.
Em último termo os programas de vigilância aérea
usar-se-ão para alicerçar uma futura intervenção
militar. O passado outubro, Obama enviou 100 assessores militares
à África Central para trabalhar em favor da "remoção
de Joseph Kony". Na Somália, usam-se veículos
aéreos não tripulados e ataques das forças
especiais, com o mesmo efeito sangrento que no Paquistão,
Iêmen e Afeganistão. Embora o programa de vigilância
na África do Oeste e África Central esteja na atualidade
desarmado, vários cargos oficiais citados pelo The Post
salientam o potencial para expandir o programa.
De acordo com a reportagem, o AFRICOM já tinha planos
para empregar um programa de veículos aéreos não
tripulados contra a ERS, mas ele foi cancelado sem explicação.
Recentemente, porém, o Comité das Forças
Armadas do Senado autorizou 50 milhões de dólares
para expandir as operações de vigilância na
África e sublinhou a necessidade de aeronaves que possam
"sobrevoar durante longos períodos de tempo áreas
que sejam de interesse", isto é, veículos aéreos
não tripulados. Um oficial do exército dos Estados
Unidos, cuja identidade não foi divulgada, declarou a The
Post que, de eles quererem fazer voar veículos não
tripulados, "estou certo que nós conseguiríamos
tanto o necessário acesso quanto a permissão para
sobrevoar".
Tradução
do Diário Liberdade
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