JOÃO BOSCO E ALDIR BLANC NA VOZ DE ELIS REGINA

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• published: 14 Apr 2015
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Felizes os autores que tiveram uma Elis Regina para interpretá-los com gosto. A mistura da mineirice do músico e engenheiro João Bosco com a carioquice do poeta e médico psiquiatra Aldir Blanc, formou uma das mais bem sucedidas parcerias da MPB. Em 1970, João vem a conhecer Aldir, e é a partir daí que se tornam parceiros em mais de uma centena de músicas, verdadeiras crônicas de uma época. Versos e melodias em perfeita união. Quem ousaria falar da “ponta de um torturante band-aid no calcanhar” com tanta classe? Em 1972, Elis entraria como um furacão na vida de João e Aldir, gravando “Bala com Bala”, segunda faixa de um disco que tinha “Nada Será Como Antes”, “Águas de Março”, “Atrás da Porta”, “Cais”, “Casa no Campo”... Ufa! No ano seguinte, gravaria quatro músicas deles: “Agnus Sei” e as inéditas “O Caçador de Esmeralda”, “Cabaré” e “Comadre”. Em 1974, mais três: “O Mestre-Sala dos Mares”, “Dois Pra Lá, Dois Pra Cá” e “Caça à Raposa”. Sucesso no rádio, entrevistas, shows pelo Brasil, eles estavam nas manchetes. Sobre Elis, Aldir Blanc diria: “... a gente sempre esperava que ela pudesse escolher as nossas canções. E isso aumentava o grau de exigência”. A música "Transversal do Tempo", assim como a expressão “Falso Brilhante”, tiveram seus nomes emprestados à importantes discos de Elis, transformados em shows. Em 1979, Elis faria a 20ª e última gravação de música da dupla, a mais conhecida de todas, “O Bêbado e a Equilibrista”, que se tornaria um clássico da MPB e que seria conhecida como “hino” da anistia política, escolhida entre as 14 canções brasileiras do século pela ABL. Em um de seus versos, "sonha com a volta do irmão do Henfil", faz-se referência ao cartunista Henrique de Sousa Filho, que publicava seus desenhos no "Pasquim", o tablóide mais censurado da época da ditadura. Seu irmão, citado na música, era o sociólogo Betinho, em exílio político no exterior. Henfil relatando sobre a primeira vez que ouviu a fita cassete com os ensaios de “O Bêbado e a Equilibrista”, a convite de Elis Regina, disse que a cantora chorava o tempo todo, “talvez antevendo a importância que teria essa música, coisa que não percebi”. Pouco tempo depois, essa canção se tornaria o maior sucesso do disco “Essa Mulher”, de 1979, e ganharia o apelido de “Hino da Anistia”. A música começava a mobilizar mais gente para a causa. Os comícios que reuniam 500 pessoas, segundo Henfil, passaram a contar com 5 mil. Ele continua: “... liguei para Betinho e disse: agora temos um hino, e quem tem um hino faz uma revolução!”. Em entrevista sobre o lançamento do disco “Essa Mulher” à Rádio Nacional do Rio de Janeiro, Elis Regina comentou: “... grande parcela da população anseia encontrar um Carlitos desses e sonha não ver mais nem Marias nem Clarisses chorando”. Além de classificar a composição como o casamento perfeito da dupla João e Aldir, Elis acreditava que a canção era o retrato do Brasil de então. O mais interessante é que, embora tenha se tornado um marco do momento político brasileiro, “O Bêbado e a Equilibrista” nasceu para homenagear Charles Chaplin, que havia morrido dois anos antes do lançamento, em 1977. Em entrevista à ABI concedida em 2007, Aldir Blanc relembrou a história: “... quando o Chaplin morreu, o João me chamou na casa dele e disse que havia feito um samba, cuja harmonia tinha passagens melódicas parecidas com “Smile” (do filme “Tempos Modernos”), propositalmente construídas para que homenageássemos o cineasta. Só que, casualmente, encontrei o Henfil e o Chico Mário, que só falavam do mano que estava no exílio. O papo me deu um estalo. Cheguei em casa, liguei para o João e sugeri que criássemos um personagem chapliniano, que, no fundo, deplorasse a condição dos exilados. Não era a idéia original, mas ele não criou caso e disse: “Manda bala, o problema é seu!”. E é para homenagear essa canção tão carregada de símbolos, tão magistralmente criada e interpretada, que o canal vai redimir o único pecado deste disco que você ouve agora. Ele não traz a faixa e nós estamos acrescentando “O Bêbado e a Equilibrista” ao final, como bônus. O bêbado com chapéu coco merece essa “reverência”... 00:00:00 DOIS PRA LÁ, DOIS PRA CÁ 00:04:22 BALA COM BALA 00:07:33 UM POR TODOS 00:09:58 O CAVALEIRO E OS MOINHOS 00:12:04 OU BOLA OU BÚLICA 00:14:33 CABARÉ 00:18:25 O MESTRE-SALA DOS MARES 00:21:31 O CAÇADOR DE ESMERALDA 00:24:57 VIOLETA DE BELFORT ROXO 00:27:27 TRANSVERSAL DO TEMPO 00:29:54 CAÇA À RAPOSA 00:33:29 AGNUS SEI 00:36:54 (Bônus do Canal) O BÊBADO E A EQUILIBRISTA – Ao Vivo * OBS: Todas as músicas de autoria de João Bosco e Aldir Blanc. A exceção é “O Caçador de Esmeralda”, em que a dupla tem a parceria de Claudio Tolomei.

JOÃO BOSCO E ALDIR BLANC NA VOZ DE ELIS REGINA

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Felizes os autores que tiveram uma Elis Regina para interpretá-los com gosto. A mistura da mineirice do músico e engenheiro João Bosco com a carioquice do poeta e médico psiquiatra Aldir Blanc, formou uma das mais bem sucedidas parcerias da MPB. Em 1970, João vem a conhecer Aldir, e é a partir daí que se tornam parceiros em mais de uma centena de músicas, verdadeiras crônicas de uma época. Versos e melodias em perfeita união. Quem ousaria falar da “ponta de um torturante band-aid no calcanhar” com tanta classe? Em 1972, Elis entraria como um furacão na vida de João e Aldir, gravando “Bala com Bala”, segunda faixa de um disco que tinha “Nada Será Como Antes”, “Águas de Março”, “Atrás da Porta”, “Cais”, “Casa no Campo”... Ufa! No ano seguinte, gravaria quatro músicas deles: “Agnus Sei” e as inéditas “O Caçador de Esmeralda”, “Cabaré” e “Comadre”. Em 1974, mais três: “O Mestre-Sala dos Mares”, “Dois Pra Lá, Dois Pra Cá” e “Caça à Raposa”. Sucesso no rádio, entrevistas, shows pelo Brasil, eles estavam nas manchetes. Sobre Elis, Aldir Blanc diria: “... a gente sempre esperava que ela pudesse escolher as nossas canções. E isso aumentava o grau de exigência”. A música "Transversal do Tempo", assim como a expressão “Falso Brilhante”, tiveram seus nomes emprestados à importantes discos de Elis, transformados em shows. Em 1979, Elis faria a 20ª e última gravação de música da dupla, a mais conhecida de todas, “O Bêbado e a Equilibrista”, que se tornaria um clássico da MPB e que seria conhecida como “hino” da anistia política, escolhida entre as 14 canções brasileiras do século pela ABL. Em um de seus versos, "sonha com a volta do irmão do Henfil", faz-se referência ao cartunista Henrique de Sousa Filho, que publicava seus desenhos no "Pasquim", o tablóide mais censurado da época da ditadura. Seu irmão, citado na música, era o sociólogo Betinho, em exílio político no exterior. Henfil relatando sobre a primeira vez que ouviu a fita cassete com os ensaios de “O Bêbado e a Equilibrista”, a convite de Elis Regina, disse que a cantora chorava o tempo todo, “talvez antevendo a importância que teria essa música, coisa que não percebi”. Pouco tempo depois, essa canção se tornaria o maior sucesso do disco “Essa Mulher”, de 1979, e ganharia o apelido de “Hino da Anistia”. A música começava a mobilizar mais gente para a causa. Os comícios que reuniam 500 pessoas, segundo Henfil, passaram a contar com 5 mil. Ele continua: “... liguei para Betinho e disse: agora temos um hino, e quem tem um hino faz uma revolução!”. Em entrevista sobre o lançamento do disco “Essa Mulher” à Rádio Nacional do Rio de Janeiro, Elis Regina comentou: “... grande parcela da população anseia encontrar um Carlitos desses e sonha não ver mais nem Marias nem Clarisses chorando”. Além de classificar a composição como o casamento perfeito da dupla João e Aldir, Elis acreditava que a canção era o retrato do Brasil de então. O mais interessante é que, embora tenha se tornado um marco do momento político brasileiro, “O Bêbado e a Equilibrista” nasceu para homenagear Charles Chaplin, que havia morrido dois anos antes do lançamento, em 1977. Em entrevista à ABI concedida em 2007, Aldir Blanc relembrou a história: “... quando o Chaplin morreu, o João me chamou na casa dele e disse que havia feito um samba, cuja harmonia tinha passagens melódicas parecidas com “Smile” (do filme “Tempos Modernos”), propositalmente construídas para que homenageássemos o cineasta. Só que, casualmente, encontrei o Henfil e o Chico Mário, que só falavam do mano que estava no exílio. O papo me deu um estalo. Cheguei em casa, liguei para o João e sugeri que criássemos um personagem chapliniano, que, no fundo, deplorasse a condição dos exilados. Não era a idéia original, mas ele não criou caso e disse: “Manda bala, o problema é seu!”. E é para homenagear essa canção tão carregada de símbolos, tão magistralmente criada e interpretada, que o canal vai redimir o único pecado deste disco que você ouve agora. Ele não traz a faixa e nós estamos acrescentando “O Bêbado e a Equilibrista” ao final, como bônus. O bêbado com chapéu coco merece essa “reverência”... 00:00:00 DOIS PRA LÁ, DOIS PRA CÁ 00:04:22 BALA COM BALA 00:07:33 UM POR TODOS 00:09:58 O CAVALEIRO E OS MOINHOS 00:12:04 OU BOLA OU BÚLICA 00:14:33 CABARÉ 00:18:25 O MESTRE-SALA DOS MARES 00:21:31 O CAÇADOR DE ESMERALDA 00:24:57 VIOLETA DE BELFORT ROXO 00:27:27 TRANSVERSAL DO TEMPO 00:29:54 CAÇA À RAPOSA 00:33:29 AGNUS SEI 00:36:54 (Bônus do Canal) O BÊBADO E A EQUILIBRISTA – Ao Vivo * OBS: Todas as músicas de autoria de João Bosco e Aldir Blanc. A exceção é “O Caçador de Esmeralda”, em que a dupla tem a parceria de Claudio Tolomei.