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Grã-Bretanha

Mais de dois milhões em greve

Por Julie Hyland
7 de dezembro de 2011

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Mais de dois milhões de trabalhadores do funcionalismo público participaram ontem de uma greve de 24 horas contra o ataque perpetrado pelo governo Conservador/Liberal sobre suas aposentadorias.

A maior paralisação dos últimos 30 anos envolveu membros de 37 sindicatos em uma ação apoiada pelo Congresso de Sindicatos (TUC), que incluía professores, profissionais da saúde, funcionários públicos em geral e trabalhadores de administrações locais e de outras áreas do serviço social, todos revoltados com os planos da coligação de fazer os funcionários públicos pagar mais e trabalhar mais para receber menos em sua aposentadoria.

O governo e a mídia tentaram subestimar a greve, e o primeiro-ministro, David Cameron, descreveu-a como "miada" ao mesmo tempo que reclamava do distúrbio extensivo.

Os números provam o contrário. Apenas 13% das escolas na Inglaterra não foram afetadas pela paralisação, número próximo daqueles no País de Gales e na Irlanda do Norte. Na Escócia, menos de 2% das escolas funcionaram normalmente.

Dezenas de milhares de profissionais da saúde fizeram greve, postergando, somente a Inglaterra, 60 mil consultas e cirurgias. Também foi relatada uma grande adesão da greve nas centrais telefônicas de emergência da polícia e de ambulâncias. Os serviços de ambulância da região sudeste e de Londres declararam que só poderiam atender casos de risco de vida.

Enquanto a mídia anunciava que houve o mínimo de interrupção dos serviços em aeroportos, apesar da paralisação dos funcionários da imigração, o canal de TV Sky News relatou que o secretário de imprensa de Cameron estava entre os poucos "voluntários" que estavam trabalhando no aeroporto de Heathrow ajudando no trabalho de controle de fronteira.

Na Irlanda do Norte, nenhum trem ou ônibus funcionaram. Na Inglaterra, a maior parte dos sindicatos dos transportes não estavam envolvidos na greve mas, nos locais em que estavam, todos os serviços foram suspensos. Os túneis de Mersey em Liverpool foram fechados, assim como o sistema de metrô em Newcastle e os ferries das ilhas Shetland.?Dezenas de milhares de trabalhadores participaram de cerca de mil manifestações e atos de rua em todo o país. Apesar da cobertura extremamente hostil da mídia, os repórteres que estavam nas manifestações descreveram o amplo apoio dado pelo público.

Os trabalhadores do setor público "compareceram em massa" para a marcha na capital, relatou um jornalista do Guardian, enquanto outro em Birmingham disse que "não era fácil" "encontrar alguém que não apoiasse a greve".

Em Glasgow, Swansea, Liverpool e em muitas outras cidades, os consumidores que estavam nas ruas espontaneamente aplaudiram as manifestações. Como pesquisa de opinião, o Guardian e o Daily Mail relararam apoio popular à greve entre 60% e 90%.

Em Londres, um grupo de 200 manifestantes tentou ocupar a sede da corporação de mineração Xstrata, e foram cercados por uma forte presença policial. Uma declaração do movimento Ocupa Londres dizia que a tentativa era de ressaltar o pagamento de Mike Davies, da Xstrata, o CEO mais bem pago da lista FTSE 100 do ano passado.

No início da semana relatou-se que os salários líquidos haviam caído por 11 meses consecutivos para a maioria dos trabalhadores, ao mesmo tempo que os ganhos dos presidentes e diretores das grandes corporações aumentaram 15% no último ano.

Em outros lugares da capital, em Hackney, houve relatos de confrontos entre a polícia e grevistas e 30 pessoas foram detidas. De acordo com alguns relatos, mais de 100 policiais estavam envolvidos no confronto, que parece ter se iniciado com o uso de uma caixa de som na linha de piquete.

No governo, o ministro Francis Maude atacou a greve tachando-a de "imprópria, inoportuna e irresponsável, principalmente enquanto negociações estão sendo realizadas".

O teor desses ataques ficou claro um dia antes da greve, na voz do chanceler, George Osborne, em seu pronunciamento anual de outono ao parlamento sobre o orçamento.

Osborne admitiu que o objetivo do governo de usar medidas de austeridade, incluindo os congelamentos salariais no setor público, para pagar pelo deficit até 2015 não foi bem sucedida. O desemprego crescente e a queda na arrecadação de impostos significava que a dívida, em vez de diminuir, havia crescido em quase £30 bilhões.

A resposta do governo foi de reivindicar mais austeridade por um período ainda mais longo. Osborne salientou que a prioridade era defender o nível de confiança creditícia do Reino Unido - outro nome para os interesses parasitas do seu centro financeiro, a City of London. O país tem que "se manter à própria custa".Essa medida só mirou a classe trabalhadora.

Os cortes nos gastos públicos serão estendidos por dois anos além do prazo final original de 2015, anunciou Osborne.

O congelamento salarial do setor público, já em prática há dois anos, estava previsto para terminar no final de 2012. Mas o chanceler disse que o governo imporia um teto de 1% sobre qualquer aumento salarial por dois anos após essa data. Isso, combinado com o aumento nas contribuições para aposentadoria, acaba somando um corte efetivo de 16% sobre os salários do funcionalismo público.

Além disso, o aumento planejado na idade de aposentadoria, de 66 a 67 anos, será progressivo até chegar a 8 anos de aumento até o ano de 2028.

Separadamente, a comissão de responsabilidade orçamentária disse que mais de 700 mil empregos serão cortados no setor público devido a cortes de gastos, que por si só elevarão o número de desempregados para mais que 3,25 milhões.

O pronunciamento de outono foi direcionado aos trabalhadores de salários mais baixos, e Osborne disse que o aumento planejado nos créditos de impostos (pagos a famílias de baixa renda) será cortado.

O Guardian comentou: "O tratamento de choque de Osborne sobre os salários do funcionalismo público faz com que seja difícil de acreditar que ele, ou que qualquer outra pessoa no governo, estava falando sério quando ele pediu aos funcionários públicos que repensassem sua adesão à greve".

De fato, o pronunciamento propositalmente provocativo era uma declaração das intenções do aos mercados financeiros internacionais de que a coligação está determinada a impor seus ditames, independentemente da oposição pública. Mais de 80% da estratégia de redução do deficit depende dos cortes nos gastos públicos, e apenas 20% dos aumentos de impostos.

Osborne autorizou mais £75 bilhões de "flexibilização quantitativa" pelo Banco da Inglaterra - dinheiro público a ser injetado diretamente nos cofres dos bancos.

Entre outras medidas reveladas estava um congelamento do limite de impostos sobre os ganhos capitais, voltado para limitar os direitos daqueles empregados em pequenas empresas de declarar demissão injusta, para tornar mais fácil suas demissões.

Em artido para o Daily Mail, Max Hastings comemorou as medidas. "Criamos um modelo social para nós mesmos que não podemos mais bancar, no qual trabalhadores do outro lado do mundo produzem bens por apenas uma fração do preço cobrado no Ocidente", disse.

A devastação social que está ocorrendo na Europa - na Grécia, Itália e no restante do mundo - a mando da oligarquia financeira demonstra que não há limites para a rapina perpetrada pela elite dominante.

Contra isso, o Dia de Ação demonstrou um espírito determinado compartilhado pela classe trabalhadora. Mas o TUC não tem intenções de dirigir uma luta em defesa dos empregos dos trabalhadores, de seus níveis de vida e direitos democráticos. Há 18 meses os sindicatos consentiram em cortes e congelamentos salariais e demissões em massa.

Afinal, os sindicatos eram forçados a atuar como se fosse uma oposição. Mas a grande adesão à greve será mais irritante aos sindicatos do que ao próprio governo - principalmente quando qualquer menção feita aos levantes na praça Tahrir, no Egito, eram fortemente ovacionados no ato de Londres.

Os sindicatos continuam a implorar por "negociações reais" sobre as aposentadorias e nenhuma ação posterior está planejada. O secretário-geral da UNISON, Dave Prentis, mencionou vagamente a "possibilidade de greves em 2012". Nos bastidores, cada um dos sindicatos só está tentando costurar seu próprio acordo com o governo.

Os sindicatos buscam direcionar a revolta popular para um apoio ao Partido Trabalhista. Foi esse mesmo partido de direita que possibilitou o frenesi de sustentação dos milionários durante anos no governo e que iniciou os congelamentos nos salários do setor público e os ataques às aposentadorias.

Em respeito ao ataque sobre os empregos e condições de vida dos trabalhadores, não há diferenças entre o Partido Trabalhista e o atual governo. No parlamento, a direção dos trabalhistas, Ed Miliband, se recusou contundentemente a apoiar a greve, ao mesmo tempo que Cameron ostentava que as reformas na aposentadoria haviam sido planejadas e endossadas por John Hutton, ex-secretário da previdência e do trabalho do governo trabalhista.

Grupos de intervenção do Partido da Igualdade Socialista (SEP) intervieram nos atos por todo o país, panfletando a declaração "Por uma greve geral para derrubar o govern Cameron!".

Esse chamado foi bem recebido. Como o SEP explicou, "o TUC e os sindicatos há muito tempo deixaram de ser organizações verdadeiras da classe trabalhadora e são agora diretamente responsáveis pela terrível situação que a classe trabalhadora enfrenta agora".

"O que se faz necessário é mobilizar a força coletiva da classe trabalhadora em uma greve geral. Novas organizações de base devem ser construídas - independentemente das burocracias sindicais - para unificar todas as seções da classe trabalhadora em uma luta única para derrubar o governo. [...] Não se trata de trocar um grupo de políticos capitalistas por outro, mas de trocar o sistema em sua integridade pela formação de um governo operário.

Traduzido por movimentonn.org